Capítulo XXV
O sol se pôs pouco tempo antes do jantar ser servido e os marujos foram se deitar depois de saciados, já eu me sentei perto do mastro para esperar a minha suposta companhia.
Estaria dizendo uma grande mentira se afirmasse que não passei o dia todo pensando na Ayla e na Eva.
Meu sorriso durante nossa conversa não foi falso, eu realmente estou feliz pela Ayla voltar para sua terra, mas o fato delas terem de se afastar de mim para isso é algo doloroso demais.
Por que fui me apegar tanto a elas?
O tempo passou e ela não apareceu, até pensei que havia desistido ou esquecido, mas assim que esse pensamento cercou minha mente, Ayla apareceu com a Eva adormecida em seus braços.
— Desculpe o atraso, tive que esperar ela dormir para evitar questionamentos. - falou quando me levantei.
— Sem problemas. - respondi sorrindo ao pegar a menina.
Carreguei Eva até chegar em meu quarto, depois deitei seu corpo na minha cama de forma que ela se sentisse mais confortável. Graças a Deus, a menina estava cansada demais e o sono profundo não deixou-a acordar com toda aquela movimentação.
Depois de fechar a porta, caminhei ao lado de Ayla até a parte mais alta do convés, onde ficava a roda do leme.
— Existe mais uma coisa sobre navegação que acho importante te explicar. - falei depois de subirmos as escadas - O sol nasce no leste, então se posicionar seu braço direito em direção a ele, sua parte frontal vai corresponder ao norte, consequentemente, o sul se encontra atrás de você e o oeste na direção do seu braço esquerdo, onde o sol se põe. - ela assentiu - Essa é a regra básica de todos os navegantes, mas muitos deles não saberiam interpretar meus mapas se utilizassem somente ela.
— Achei que as regras de navegação fossem as mesmas para todos.
— E são, mas uma vez, conversando com um senhor que também era navegante, aprendi uma forma diferente de formar rotas.
Me posicionei de forma que a lua se encontrasse, exatamente, no lado esquerdo do meu corpo.
— Está vendo aquela sequência de estrelas que tem o formato de gancho? - apontei para o céu e ela assentiu - Sempre posiciono minha mão abaixo da última estrela para medir, hipoteticamente, quão distante ela está do mar. - coloquei a mulher de costas em minha frente - Assim...
Posicionei seu corpo e sua mão da forma correta, até que ela entendesse o que eu havia explicado. Depois de mostrar, expliquei qual o significado dessa distância baseado nos cálculos que havíamos feito mais cedo.
— Um pouco confuso, mas é interessante. - disse sorrindo.
— Considero como um jeito mais garantido de navegar. - afirmei virando seu corpo de frente para o meu - E a última lição, é o chamado da minha tripulação: o assobio. Sempre que usá-lo e estiver perto de algum dos marujos, eles vão encontrar você.
— E como faz?
— Dobre a língua até encostar no céu da boca, depois coloque o polegar e o indicador desse jeito. - demonstrei - Aí é só assoprar!
Ela tentou repetir o processo, mas diferente de mim, não teve sucesso. Ambos rimos do som engraçado que ela fez ao tentar assobiar.
— Me chamou até aqui pra ficar rindo de mim?
— Na verdade, não. - sorri de leve e peguei dois envelopes do bolso do casaco - Também queria te entregar isso.
— O que é?
— Sua carta de Alforria e a da Eva assinadas e seladas por mim. - ela me olhou com os lábios entreabertos - Estão livres agora!
Fiquei surpreso ao sentir seu abraço repentino, mas apertei seu corpo assim que minha ficha caiu.
Naquele momento senti uma confusão muito grande de sentimentos. Ao mesmo tempo que me encontrava feliz por ela mais uma vez, meu coração se apertava por imaginar que aquela poderia ser a última oportunidade de tê-la em meus braços.
— Nem sei o que te dizer. - disse sorrindo ao levantar a cabeça para me encarar - John, você não tinha obrigação nenhuma de fazer tudo que têm feito por mim nesses últimos dias. Sinto que preciso te agradecer, mas não sei como.
— Eu sei como. - passei o polegar por sua bochecha - Me beija?
A Ayla não esperava meu pedido, por isso sua expressão mudou, mas não pensei em retirar o que havia dito. Eu queria muito aquilo e, mesmo que ela negasse, me sentiria aliviado por tentar.
E, para a minha surpresa, ela não negou.
Os olhos da mulher à minha frente percorreram meus lábios pouco antes dela ficar na ponta dos pés para conseguir alcançá-los. Tive que esperar sua boca encostar na minha para acreditar que aquilo era real.
O beijo levemente desajeitado era indício de inexperiência, mas assim que segurei seu rosto para lhe dar uma direção, ela acertou o ritmo fazendo nossas bocas se encaixar de forma perfeita.
Suspirei fortemente quando isso aconteceu.
O beijo se tornou mais intenso, tanto que tirei minha mão de sua bochecha para levá-la até sua nuca. Minha outra mão se encontrou livre para explorar e apertar sua cintura exatamente da forma que havia imaginado tantas vezes.
Quando fiquei sem ar, desci os beijos para seu pescoço em um ritmo lento para não assustá-la, mas sem tirar minha mão de sua nuca ou de sua cintura.
Eu queria mantê-la o mais próximo possível de mim.
Sua respiração entrecortada e ofegante ecoando quase dentro do meu ouvido foi o gatilho perfeito.
Consegui manter o controle dos meus movimentos, sem acelerá-los, mas ao lembrar das cenas que imaginei na sala de navegação, senti o volume dentro da minha calça aumentar.
O problema foi que, assim que sua barriga encostou nesse volume, ela se afastou como se tivesse se assustado. Parei com os beijos no mesmo instante que percebi seu corpo tenso.
— Tá tudo bem? - perguntei quando ela evitou me encarar - Ei, sou só eu, lembra?
— Eu sei, mas é que... - disse com a voz embargada - Me desculpe.
— Quer parar? - perguntei e ela, finalmente, me olhou.
— Se pararmos agora, não vamos ter tempo para continuar depois. - sorri e voltei a acariciar seu rosto.
— Não quero que se sinta obrigada a fazer isso. Quero que se entregue para mim, Ayla!
— Mas...
— Não precisamos ter pressa. - interrompi - Mesmo que não tenhamos tempo nessa vida, teremos na próxima. Não me importo de te esperar até lá, minha dama!
Ela sorriu e depois encarou meus olhos por um bom tempo.
— Vou sentir sua falta, capitão! - assumiu.
— Eu navego de acordo com as estrelas. Se algum dia quiser me encontrar, basta segui-lás!
Depois da minha fala, Ayla voltou a me abraçar com força e eu apenas retribui o aperto.
Não vou negar, a muitas noites tenho dormido com meu corpo ardendo em chamas por aquela mulher, mas eu jamais seguiria em frente sem a certeza de que ela se sentia tão à vontade quanto eu.
Por ela, eu não me importaria de esperar semanas, meses ou anos, mas confesso que trocaria até minha vida como navegante apenas por mais alguns dias ao seu lado.
— Tá com sono? - perguntei ao vê-la bocejar e a mesma assentiu - Quer dormir no meu quarto? - ela semicerrou os olhos e eu sorri - Estou apenas tentando ajudar. Do contrário, terá de levar a Eva até o dormitório.
Esperava uma reação hostil baseada em desconfiança e já preparei mais algumas justificativas, mas não.
— Tudo bem, navegante. - disse entrelaçando nossos dedos.
Andamos de mãos dadas até meu quarto lentamente enquanto conversávamos sobre a Eva e seu jeito inigualável. Era até difícil dizer qual de nós dois ficava mais feliz por falar daquela garota.
Quando chegamos na porta, aproveitei que nossas mãos estavam unidas e puxei seu corpo para próximo do meu.
— Seria abuso demais te pedir outro beijo? - ela sorriu e eu segurei levemente os cabelos de sua nuca - Só mais um.
Novamente ela tomou a iniciativa de me beijar. O segundo foi ainda melhor que o primeiro, mas quando senti meu coração acelerar demais, eu mesmo parei.
Entramos no cômodo depois de alguns selinhos de despedida e, depois de deitarmos na cama, ela abraçou a Eva como e escorou a cabeça em meu peito.
A menina abraçou o corpo de Ayla até deitar a cabeça em sua barriga, fazendo-a ficar exatamente entre nós dois.
Acariciei o rosto de Ayla ao mesmo tempo que fazia carinho nos cabelos de Eva, por isso não demorou muito para que as duas fossem completamente tomadas pelo sono.
Fiquei tão feliz com aquela cena que aproveitei o tempo e a luz da lua que atravessava a janela para analisar e guardar aquele momento em minha memória.
Talvez não volte a se repetir, mas ainda assim será minha preferida.
*Relevem os erros, por favor.*
Depois de TRINTA E CINCO capítulos o beijo deles saiu.
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