Video chamada
ROSA
No dia seguinte, como o prometido, Gini foi me buscar, passamos na cafeteria e mesmo com os olhares estranhos, incrivelmente eu me senti menos mal, hoje. Talvez eu acabasse sendo como a Gini e me acostumasse com isso.
Gini estava olhando algo no celular dela, com intensa curiosidade e eu me aproximei.
— O que é isso?
— Olha só, Rosa! – Ela virou o telefone para mim e então eu vi uma espécie de campeonato. Mas as missões me pareciam um tanto quanto violentas.
— É um programa de TV? — Eu perguntei e ela concordou com a cabeça.
— Assim, não é de TV, mas é uma parada que acontece com uns ricaços. Eles se reunem para ver as pessoas participando de umas missões. A pessoa que vencer, ganha uma bolada em dinheiro!
— Hm... parece interessante. Mas você não acha que essas coisas aí parecem meio bárbaras?
Ela olhou para as imagens e fez beicinho.
— Mais ou menos. Eu não sei se teria coragem nem de assistir, mas é incrível como as pessoas fazem de tudo por dinheiro, né?
— É verdade. Eu não sei muito das coisas, mas tem gente que faz de tudo para alcançar os seus objetivos, ainda que isso machuque alguém.
— Você falou tudo, Rosa. Pessoas mesquinhas são assim, mesmo — ela olhou de novo para o celular — Eu iria não pela grana, mas por curiosidade, mesmo.
— Eu não sei...
O sino da entrada tocou e nós duas nos viramos para ver quem entrava. Era a primeira vez desde ontem.
Uma senhora de cabelos quase brancos entrou. Ela se vestia formalmente e o olhar dela era severo.
— Ah, droga! — Gini disse e eu senti o desconforto dela. Ela conhecia aquela senhora. Bom, olhando bem, ela tinha os olhos parecidos com os de Gini.
A mulher olhou para mim de cima a baixo, como que me estudando, porém eu não poderia afirmar se ela achou bom ou ruim o que viu.
— Genevieve! — Ela falou e olhou para Gini.
— Vovó...
— O que ainda faz nesse lugarzinho esquecido pelos deuses, menina?
"Deuses? Diferente..."
— Vovó, por favor! Eu já falei que não vou embora!
— Gini, a sua mãe está morta de preocupação!
— Então, por que é a senhora aqui e não ela?
A pergunta de Gini pegou a idosa de surpresa, deixando-a desconfortável.
— Você sabe que a sua mãe não se dá bem com viagens!
— Só quando é do interesse dela. Aí ela viaja que é uma beleza!
— Como pode falar assim da sua mãe? E...— ela me olho com desdém – Na frente de estranhos!
Só então em me dei conta de que ainda estava ali, quando de fato, aquilo não era para os meus ouvidos!
— Ah, com licença! — Eu disse, mas Gini segurou a minha mão.
— Vovó, por favor... Acho melhor a senhora não perder mais o seu tempo. Além disso, eu preciso atender aos clientes.
A avó ela soltou uma risadinha desdenhosa ao olhar em volta.
— Essa espelunca não tem clientes, Gini. Aqui você só gasta dinheiro! — Ela me olhou novamente e eu entendi o recado: Gini estava gastando grana comigo.
Eu olhei para Gini e ela soltou a minha mão. Eu não queria ficar ali para ouvir esse tipo de coisa! Eu fui lá para fora e fiquei perto da porta. Não demorou muito e a idosa saiu da livraria com um semblante frustrado. Ela me olhou e torceu o nariz.
Eu não sei se ouvi errado, mas ela falou em "cachorro". Mas não era possível! Ela caminhou até o meio fio, onde um carro super chique parou e um homem, um chauffeur, saiu e abriu a porta traseira para a avó de Gini.
Eu respirei fundo e entrei.
— Desculpa, Rosa — Gini disse antes mesmo de eu fechar a porta atrás de mim. Ela estava sentada no balcão, olhando para baixo e balançando as pernas — A minha avó ás vezes pega pesado. Perdão.
— Você não tem clientes mesmo, não é? — Eu perguntei e ela ergueu o olhar — Eu estou só te dando despesa.
— Não, Rosa! — Ela saltou do balcão e veio em minha direção — Não é isso! Eu tenho clientes, eles só... não vem aqui.
Eu franzi o cenho.
— Gini, se os seus clientes não vem até a loja, por que você não mantém um negócio na internet? Não seria melhor pra você do que manter esse lugar?
— A loja é minha, Rosa. Os dois andares. Eu moro lá em cima — Ela disse — Isso aqui não é alugado. A despesa que tenho com esse lugar é ínfima. Vale a pena estar rodeada de livros do que sentada na frente do computador.
Eu conseguia concordar com aquilo.
— Hmm... quer que eu limpe a loja, então? Eu sei que ela tá super limpa, mas... eu preciso fazer jus ao meu salário.
— Rosa... eu prefiro que me faça companhia. Somos duas aves sozinhas aqui nessa cidadezinha.
Vendo a avó de Gini, eu podia entender por que ela quis se mudar para um lugar tão distante.
Então, a campainha na porta tocou novamente e, dessa vez, não foi uma idosa, mas sim...
— Gareth?
— Você conhece o gatinho? — Ela perguntou, ajeitando os cabelos. Ah, sim, humanas eram facilmente atraídas por lobisomens. Inclusive muitos que se mudavam para as cidades grandes estavam sempre rodeados de fêmeas dessa espécie.
— Rosa! – ele disse e eu senti um calafrio na espinha. Kurt o havia proibido de me chamar assim. Mas então... Kurt não estava ali. Kurt não estava comigo, não é mesmo?
— Oi, Gareth! — Eu disse e Gini me deu um leve cutucão — Essa é a Gini.
Ela estendeu a mão para ele, o sorriso mais largo do que nunca.
— Prazer — ela falou numa voz doce e colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha. Gareth olhou para ela de um jeito diferente e sorriu também, meio de lado. Ele tava flertando com ela!
— O prazer é todo meu! — Ele disse e eu pude ver as intenções sujas dele! Ok, talvez não fossem sujas, talvez eles até formassem um casal de verdade, mas... Bom, eram sujas, sim.
— O que faz aqui? – Eu perguntei, mais do que curiosa.
— Eu gosto de passear.
— Você é da comunidade onde a Rosa morava? — Gini perguntou e ele concordou com a cabeça — Por acaso as pessoas bonitas estão todas se escondendo lá?
Eu fiquei super sem graça, mas Gareth gargalhou.
— Nem todos. Afinal, você está aqui.
Sim, ele estava flertando. Aquele safado! Mas se ele achava que ia tirar uma casquinha da minha amiga e fugir, estava muito enganado.
— Gosta de ler? — Gini perguntou e ele balançou a cabeça de um lado para o outro.
— Desculpe, linda, não é a minha praia.
Eu vi o sorriso dela falsear um pouco. A resposta dele a desagradou e o cheiro de excitação dela estava começando a esvair. Gareth também sentiu isso.
— Mas... não quer dizer que eu não esteja aberto a saber mais dos seus livros – Isso pareceu ganhar Gini de novo. Eu revirei os olhos.
Gareth e ela ficaram conversando e eu acabei me perdendo em pensamentos, sem prestar atenção ao que eles diziam, até que Gareth colocou a mão no meu ombro.
— Oi?! — Eu perguntei e ele sorriu estranho.
— Eu to indo nessa. Eu fico feliz de saber que tá morando aqui na cidade.
— Na verdade, eu não moro aqui, não — Eu o corrigi.
— Ah... tá morando onde, então? No meio do mato? — Ele riu, mas como eu não disse nada, ele me olhou sério e então desviou o olhar para Gini, que concordou com a cabeça — Mas... caramba!
Ele foi embora, Gini e eu permanecemos na loja, e na hora da saída, passamos em uma outra lanchonete.
— O hamburguer daqui é uma delícia! – Ela cochichou para mim e, sem surpresa alguma, as pessoas se comportaram exatamente como na cafeteria.
— Vai querer aprender a andar de bike hoje?
Ela perguntou entre uma mordida e outra do sanduiche. Não ficamos lá para comer. Aparentemente, o ambiente era mais pesado do que na cafeteria.
— Eu não sei como você não tem medo de comer o que eles preparam para você. Eu li que tem gente que... cospe na comida do cliente que não gosta.
Ela riu.
— Eles não chegam a tanto. Pelo menos um pouco de respeito pelo cliente eles tem. Além disso, eu sou uma cliente costumeira. Gostem de mim ou não.
— Por que não cozinha em casa?
— Eu, cozinhar? Rosa... Eu vivo em cima de uma livraria. Por acaso quer que eu incendeie tudo?
Digamos que eu não tive muita dificuldade com a bicicleta e Gini ficou toda orgulhosa, como se eu fosse filha dela. Foi engraçado.
— Pronto, agora você pode pegar a minha bike e usar. Assim vai demorar menos tempo e você tem mais liberdade. Pode zanzar por aí, não só na floresta.
— Obrigada!
— Nada! Ah, por sinal, quando é o seu aniversário?
— Em alguns dias.
— Quando? Seja mais específica ou eu não poderei fazer uma festa surpresa.
Eu apertei os olhos para ela.
— Mas aí não é mais surpresa se você tá me dizendo que vai mesmo fazer uma festa.
— Vamos lá, Rosa, não estrague a vibe!
— Em três dias.
Eu fui embora depois disso e os próximos dois dias foram tranquilos, sem intercorrências. Sem visitas na loja. De nenhuma espécie, mesmo!
Na manhã do meu aniversário, eu acordei com o meu celular tocando e pensei que era Gini, mas não, era Kurt. Eu não esperava que ele fosse entrar em contato comigo.
— Parabéns, meu amor! — ele falou e aquela voz rouca, sexy dele me fez sentir coisas, não só no meu coração mas também no meio das minhas pernas.
— Kurt!
— Amor, perdão não estar aí com você em corpo, mas estou em alma.
—Eu sei.
— Eu te amo, muito!
— Eu também te amo, Kurt. E sinto a sua falta.
— Nem me fale nisso — ele choramingou — Eu soube que está trabalhando numa livraria. Eu fico feliz. Eu sei o quanto ser independente é importante pra você. Por isso que eu preparei uma surpresa.
— Kurt... que surpresa?
— Por que não troca de roupa e vai lá fora?
Eu parei de me mover.
— Como sabe que eu preciso trocar de roupa? – Perguntei.
— Hmm, só um palpite, mesmo. Já dormimos várias vezes juntos e acordamos juntos, também. Sei como você dorme e eu não te quero com esses pijamas que mostram tudo, do lado de fora da casa.
É claro que ele sabia exatamente onde eu estava ficando.
— Na verdade, eu estou nua — Falei de maneira a provocá-lo. Era difícil controlar isso e eu ouvi um rosnado do outro lado da linha.
— Eu quero ver – ele disse roucamente.
— Hmmm, mas a aniversariante sou eu.
Ouvi um farfalhar de tecido e logo, ouvi um bipe no meu ouvido.
— Dá uma olhada.
A voz dele era safada e eu sabia o que ele estava me mandando. Abri a mensagem, claro. Imenso, as veias estavam mais do que saltadas. Hmm, eu queria tanto poder abocanhá-lo!
— Que gostoso, amor — Eu falei, já passando a mão pelo meu corpo.
Nós fizemos sexo por telefone, de novo. Era impossível resistir a ele.
Quando terminamos, ele me mandou tomar banho com a câmera ligada e eu o fiz Estávamos em ligação de vídeo. Para a minha sorte, era domingo e eu não precisaria ir até a loja.
Ver Kurt se masturbando na minha frente era maravilhoso. Eu sabia que doeria mais ainda quando desligássemos, mas que se dan*. Eu o queria!
— Agora que você está decente, vá até lá fora — ele ordenou, ainda na ligação por vídeo. Os olhos dele estavam faiscando.
Quando eu abri a porta, dei de cara com uma bicicleta, com capacete e tudo o mais.
— Kurt... esse tipo de bicicleta é muito cara!
– Por favor, não me faça essa desfeita, amor. Eu sei que você tem usado bicicleta e não quero que fique sem segurança. Essa daí é muito boa para terrenos como o da floresta.
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