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Acordo

KURT

Eu caminhei até o meu escritório, de onde o cheiro diferente estava vindo. Era feminino, sem sombra de dúvidas. E aquele era o cheiro de uma fêmea de alto ranking.

Na porta do escritório, uma mulher loira, alta, estava de costas para mim. Ela percebeu a minha presença, é óbvio e então se virou. Os olhos eram acinzentados.

— Alfa Kurt, eu suponho? — Ela perguntou. A forma como ela me olhou e falou indicavam que ela era uma mulher prática e orgulhosa.

— Sim. Quem é você? — Não adiantava eu dizer que não era eu, não é mesmo? Além da aura e do cheiro de Alfa, a cicatriz se tornou uma marca registrada, minha. Infelizmente.

Ela abaixou a cabeça de maneira educada e respeitosa.

— Giselle Starling, filha de Gregório Starling. Sou a herdeira Alfa do Yellow Stone Pack.

Ah, a última candidata da lista dada pelo Conselho. Curioso, pois as fêmeas, filhas de Alfas, não saiam por aí zanzando a seu bel prazer, não sem serem muito bem acompanhadas, pelo menos, além da autorização do Alfa.

— E a que devo a honra, Senhorita Starling?

Ela me olhou de maneira resoluta, o queixo levemente erguido, mas não por desrespeito, e sim por orgulho.

— Eu sei que o meu pai pretende recebê-lo para tratarem sobre casamento. Eu não tenho gosto nessa união, porém, acredito que possamos fazer um acordo.

Eu levantei a sobrancelha. Um acordo? A filha do Alfa Gregório veio até mim, pessoalmente, pedir acordo? Essa era nova...

— Fale — Eu disse e apontei para o escritório. Acordos não deveriam ser tratados em corredores onde qualquer um poderia passar e ouvir.

Ela anuiu com a cabeça e entrou pela porta que eu abri. Assim que ela se sentou, eu fechei a porta e me sentei atrás da escrivaninha. Claro, mandei notícia aos outros de que poderiam começar a comer sem mim, pois eu tinha algo a resolver. Não seria justo deixá-los com fome.

— Bom, como eu disse, há um interesse de unir os nossos bandos. O senhor precisa de uma esposa e de um herdeiro. Eu... Eu vou ter que me casar com alguém...

Levantei a mão.

— Perdão por interrompê-la, mas... Quantos anos você tem?

— Vinte anos — Ela respondeu, secamente.

— Você é nova... Não deveria estar esperando pelo seu companheiro predestinado aparecer?

— Não. Pois isso não vai fazer diferença — Ela falou e eu percebi que ela pareceu incomodada — Se ele não for um Alfa, o meu pai não permitirá a união. Portanto, se eu vou ter que me casar com alguém, eu pretendo me casar com alguém com quem eu possa me entender.

— E você acredita que você e eu poderemos ter isso? — Ela nem me conhecia! Além disso, corria à boca miúda, eu sabia muito bem, que eu era um Alfa cruel, sanguinário. Eu já até tinha ouvido que eu matava fêmeas e bebia o sangue delas... Nem sei como começaram a falar isso de mim, uma vez que eu jamais levantei a mão para uma fêmea!

— Foi por isso que eu vim aqui. Para que pudéssemos conversar. Chegar a um acordo que agradasse a ambos.

— Entendo — Movi o maxilar — E qual seria a sua proposta? Sim, porque eu não creio que a senhorita sairia de casa sem algo em mente, não é?

— Correto. As coisas aconteceriam assim: o senhor pediria para me cortejar, o que nos compraria tempo, para que nenhum de nós case de imediato. Nos conheceremos e, caso seja bom para os dois, nós nos casaremos — Ela se aproximou mais da beirada da cadeira, a fim de se inclinar para a frente — Eu não tenho esperanças amorosas, senhor. Eu só não quero um casamento ruim. Eu sei que a sua médica é uma humana e que humanos fazem inseminação artificial. Poderíamos nos utilizar disso. Você terá o seu herdeiro e nós dois viveremos em paz. Não precisamos ser amantes.

Eu queria rir. É, eu não queria uma esposa, mas se eu viesse a ter, eu queria uma com a qual eu pudesse me aliviar, afinal, eu não pretendia procurar outra fora da união.

E eu sabia que as fêmeas tinham suas necessidades. Portanto, Giselle iria sentir falta, em algum momento.

— E se eu não concordar? — Eu perguntei — Eu gosto de relações físicas, senhorita Starling.

— Isso não seria impossível — Ela falou após suspirar — Mas, caso eu não seja útil nesse ponto, eu não me importo que o senhor busque saciar as suas... Necessidades. Só peço discrição.

— E você?

— O que tem eu?

Eu me inclinei para a frente, colocando meu braço em cima da mesa, olhando nos olhos cinzas dela.

— Você vai sair por aí com outros machos? — Balancei a cabeça de um lado para o outro — Eu não quero isso. Nenhuma fêmea minha vai andar com outro macho.

— Se eu quiser algo, falarei com o senhor. Não o "trairei".

Eu concordei com a cabeça.

— Eu vou pensar. Devo visitar o seu bando na próxima semana, de todo jeito. Assim, lhe darei uma resposta.

— Certo. Obrigada por me receber.

Ela se levantou e estendeu a mão para que eu a apertasse. Eu o fiz e percebi que ela tinha um aperto forte. Giselle Starling era, de fato, uma mulher de fibra. Comparada com as outras fêmeas da lista, essa era de longe a que tinha a melhor personalidade. Pelo menos, era o que me parecia naquele momento.

Ela se retirou. Eu ainda fiquei no escritório por alguns minutos mais, pensando. Thorin permaneceu calado, o que era incomum. Ele adorava dar a opinião dele, por mais inconveniente que pudesse ser.

Finalmente me levantei e fui para a cozinha. O almoço com certeza já havia terminado e eu não seria um sacana, fazendo me servirem lá na sala de jantar.

Depois de comer, fui para o meu quarto, tomei um banho e relaxei. No dia seguinte eu voltaria aos meus treinos.

A noite foi repleta de sonhos com uma certa fêmea de cabelos castanho-arruivados. E, com ela, a maldita que destruiu o meu coração. Eu acordei de péssimo humor.

— A Dra. Mahler quer falar com você — Finn disse quando estávamos na academia.

— Sobre o quê? — Só poderia ser sobre uma pessoa e Finn pensou o mesmo, me dando um olhar de deboche — Eu vou falar com ela depois do treino.

— Certo. Mas por favor, vê se não deixa a gente morrendo de fome de novo!

— Você anda muito atrevido, Beta.

Ele deu de ombros. Abusado! Mas tudo bem, eu dei o troco durante o treino. Ele saiu dali acabado.

Após tomar banho, eu fui para o hospital e Thorin deu as caras.

"Ela é tão bonita!", ele falou, e eu podia senti-lo mexendo a cauda, feliz.

"Nem pense, Thorin. Eu não vou encostar naquela ômega"

"Se você diz...", ele falou e sumiu de novo. Sério, eu não sabia o que estava havendo com aquele lobo!

Rosamund parecia ser uma boa moça e eu não iria me aproveitar dela. Sim, me aproveitar, porque eu dormia com as fêmeas, mas o meu coração estava completamente fechado. Para alguém que sofreu como ela — bastava olhar para a pobre criatura — era injusto que eu apenas usasse o corpo dela.

A Dra. Hanna apenas queria me mostrar como Rosamund se recuperou muito bem em 24h. Eu agradeci e enquanto andava pelo corredor, a vi do lado de fora, sentada no banco, rodeada de flores.

"Você deveria falar com ela, seu mal-educado!"

Eu me deixei levar pelo conselho de Thorin e fui falar com Rosamund. Eu mal me aproximei e já pude sentir a diferença no ar. Ela era, inegavelmente, um calmante para mim. Curioso...

— Rosamund!

Ela se virou para mim e sorriu. O rosto dela estava menos machucado. Isso me alegrou. O corpo dela se recuperando mais rápido.

— Alfa Kurt!

— Eu soube que você está bem melhor. Eu fico contente — Thorin me disse para perguntar se ela se juntaria a nós. Eu neguei, ele continuou e eu notei que estava fazendo papel de idiota, parado ali, sem falar nada com Rosamund, enquanto debatia sobre fazer ou não o que Thorin pedia — Ah... Você em breve vai poder participar das nossas atividades.

— Atividades? — Ela perguntou, confusa, inclinando a cabeça de leve para o lado.

— Sim. Como membro da alcateia — Minha respiração ficou parada na minha garganta. Eu não entendia o motivo, mas parecia que eu estava tendo uma conversa muito séria e definitiva com ela.

Eu vi o rosto dela murchar e ela olhar para o lado. Isso era um mau sinal.

— Sobre isso... — Ela falou e levou a mão ao braço, tímida, movendo os lábios — Eu... Eu não vou ficar.


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