Capítulo 23
Acaricio sua bochecha, chegando cada vez mais perto de seu lindo rosto, sinto seu cheiro suave, mas doce, que me lembra morango. Sinto sua pele macia enquanto a toco no rosto, seus olhos se fecham e tudo parece mágico. E como em um passe de mágica Henrique chega naquele momento estragando o que quer que fosse acontece entre nós dois. O odeio imediatamente por isso, não sei se a teria mesmo beijado mas gostaria de ter tido a chance, na verdade eu tive, por um minuto eu tive, mas desperdicei esse momento.
Sophie abre seus belos olhos castanhos quando ouve os passos se aproximarem e então o clima se desfaz instantaneamente.
—Então, gente...- Fala ele, se detendo ao perceber que atrapalhou algo. - Desculpem, eu estava no celular e acabei me distraindo.
—Pode nos deixar sozinhos por alguns minutos Henrique? -Peço, um pouco irritado pela sua presença nesse momento.
—Claro. Desculpem novamente. -Diz ele e caminha para longe de nós. Agradeço mentalmente por isso, pois mais tarde reclamaria dessa interrupção.
Sophie que até então se manteve calada, está nesse momento com o rosto vermelho, mordendo seus lábios ansiosa. Lábios esse que eu gostaria muito de ter beijado minutos antes... Me pergunto em que ela está pensando.
—Sophie, por mim estamos bem. Mas como você se sente, acha que podemos continuar amigos? -Pergunto, querendo deixar tudo as claras.
—Claro que sim Gabriel. Eu estava preocupada que você não quisesse mais minha amizade. - Diz ela.
—Te quero por perto, não só agora. Te quero por perto sempre. -Falo, querendo que ela saiba que me faz bem, também quero fazer ela se sentir da mesma forma.
Ela apenas baixa a cabeça, tentando esconder seu lindo rosto cobertos de sardas que nesse momento estão ainda mais evidentes devido ela ter corado. Me pego a admirando, não lembro de ter visto garota mais linda que Sophie nesse momento.
—Gostaria de poder te ver...-Diz ela repentinamente.
—Eu também queria que isso fosse possível. Não para que você pudesse me ver, mas que pudesse enxergar ao nosso redor, esse parque é lindo. -Digo, percebendo que sim, esse é um parque muito bonito.
E então eu noto, o quanto reclamei por nada até então. Estou em uma cadeira de rodas, não posso andar, mas ainda sim tenho minha visão, posso enxergar coisas que a Sophie nunca poderá, essas lindas árvores ao nosso redor, o sol se pondo atrás das montanhas, as lindas borboletas que por aqui sobrevoam, são coisas simples, mas belas, que ela nunca verá novamente. Me pego querendo fazer algo por ela, querendo poder dá novos olhos para essa garota maravilhosa.
—Sophie, sua cegueira é irreversível? -Pergunto, curioso e por um momento esperançoso.
—Eu só fui a dois médicos desde o acidente, um na cidade onde morei e depois quando eu cheguei aqui. Ambos falaram que meu caso não tem solução. -Explica, um pouco triste e me arrependo imediatamente de ter perguntado.
—Desculpa Sophie. Não queria te deixar triste, apenas saber mais sobre tudo isso. Nunca tive uma amiga cega. -Digo, esperando que ela me compreenda.
—Que isso, tudo bem, é normal sua curiosidade. -Responde sorrindo e então meu coração acelera mais uma vez e sinto uma vontade louca de beija-la. Mas não quero apressar as coisas, temos muito tempo ainda.
—Você quer tomar um sorvete? -Pergunto querendo mudar de assunto.
—Com certeza, nada melhor para encerar essa tarde gostosa. -Responde sorrindo e levando do banco de praça.
Como a vida é ironia, ela pode andar, mas eu não, em contrapartida eu posso enxergar e ela não, não consigo imaginar qual é o pior, ambos nos completamos e nos ajudamos. E espero que seja sempre assim, não consigo imaginar minha vida sem os lindos sorrisos dessa garota, ou o brilho intenso de seus olhos. Uma coisa simples, uma amizade verdadeira, não saberia dizer o que somos verdadeiramente, a única certeza que tenho é que quero isso por muito tempo.
Acordo cedo aquela manhã, mesmo sendo minha folga combinei de ir visitar Sophie. Minha amiga queria me contar os detalhes do seu passeio com Gabriel no dia anterior, sabendo como sou curiosa ela disse que só me falaria tudo se eu fosse encontrar com ela. E claro eu não recusei, afinal eu queria ver minha amiga.
Ela ainda não havia voltado para a empresa, seu Renato disse que ela poderia descansar mais um mês, mesmo ela insistindo que já se sentia bem, nosso chefe não permitiu e eu me senti aliviada, minha amiga deveria se recuperar totalmente antes de voltar ao trabalho. E pelo visto ela estava fazendo melhor, saindo para se divertir também junto do Gabriel. Fiquei feliz por ela, e torcia para que tudo desse certo entre eles. Gabriel apesar de irresponsável, era um bom homem, na realidade não poderia dizer que ele continuava irresponsável. Me pareceu bem maduro quando o vi pela última vez no hospital, ele foi ver Sophie e isso tinha de significar alguma coisa, ele não estava pensando apenas nele, talvez estivesse mudando, quem sabe?
Minha mãe entra na cozinha me tirando de meus pensamentos, enquanto estou preparando meu café, pela manhã sempre preciso da minha dose de cafeína para começar bem o dia.
—Bom dia mamãe. -Cumprimento, tentando trazer um pouco de paz para nossa casa. Eu e mamãe moramos sozinhas desde que eu nasci, meu pai morreu quando eu ainda estava em seu ventre e desde então somos apenas nós duas.
—Bom dia filha...-Diz ela, sentando na cadeira. Parecendo mais pálida que todos os outros dias.
—Você tá bem mãe? -Pergunto preocupada.
—Vou ficar filha. Não dormi muito bem noite passada...Camille...-Começa ela e sem querer ter mais uma discussão com minha mãe, principalmente quando ela claramente não está bem eu dou um beijo de despedida e vou saindo da cozinha, mas antes ouço sua voz abafada dizendo:
—Camille, espere! Preciso te dizer...-Então eu fecho a porta de nossa casa e ligo meu celular enviando uma mensagem para Sophie, dizendo que já estou a caminho.
❤️❤️❤️
Chego a casa de Sophie em meia hora, com o Uber que peguei é rapidinho o único impedimento era o trânsito que estava uma loucura.
Bato a porta e sou recebida por Dona Amélia que me convida a entrar, então o cheiro de café chega até meu nariz e tenho vontade de tomar mais um pouco, comi se não tivesse bebido uma caneca enorme antes de sair de casa, se bem que deixei ela em cima da mesa pela metade, quando fugi de minha mãe. Ultimamente as coisas têm ficado cada vez mais difíceis. Está sendo complicado lidar com minha mãe e sua insistência sobre algo que ela criou nem sei o porquê, uma mentira, isso que era tudo aquilo.
Então acompanho Dona Amélia até a cozinha onde encontro Sophie sentada conversando com sua mãe.
—Bom dia Sophie. -Cumprimento dando um beijo em sua bochecha.
—Oi Camille. Vem cá, senta aí. -Diz ela e então me acomodo na cadeira ao seu lado.
Conversamos animadamente, eu, dona Amélia, Sophie e dona Olga. Rimos e por um momento esqueço os problemas que me aguardam em casa.
Até que Sophie me leva para seu quarto, para termos mais privacidade. E ela me conta detalhadamente tudo que aconteceu na tarde de ontem.
—E você acha que ele ia mesmo te beijar? -Pergunto chocada. Não que eu não esperasse isso, Sophie é linda. Mas Gabriel era tão problemático e me preocupava o fato de ele magoar minha amiga de alguma forma.
—Não sei. Mas se não fosse eu fiz papel de boba porque fechei meu olhos e tudo! -Diz ela dramática.
—Não...-Levo a mão a testa, ainda mais chocada e acabando dando uma gargalhada sonora.
—Amiga, não ri da minha tragédia...A situação é seria aqui, olha meu estado!! -Diz ela exagerada, fazendo gracinha, então eu rio mais ainda e ela se junta a mim, rimos até a barriga doer e eu me sinto bem, como não me sentia a muito tempo.
❤️❤️❤️
Passei o dia todo com Sophie, volto para casa apenas no final da tarde, não sei se porque estava amando cada momento com minha amiga ou se estava evitando minha mãe, talvez um pouco dos dois. Mas, ao chegar em casa e abrir a porta meu queixo cai, pois quem eu encontro na sala da minha casa é uma pessoa que nunca passou pela minha cabeça está aqui nesse momento, ele levanta do sofá passando a mão na testa enquanto eu fecho a porta e pergunto ao homem abatido a minha frente;
—O que o senhor está fazendo aqui Seu Renato?
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