Capítulo 21
Ao entrar em casa sinto as pequenas mãozinhas me envolverem e pego meu irmãozinho no colo o envolvendo em um abraço de urso, matando a saudade que me consumia.
—Sow, que saudade!! Eu sabia que você voltaria logo pra casa! Você tá bem? -Pergunta Eduardo em meus braços.
—Estou ótima meu amor, melhor agora que estou em casa. E você? Precisa me contar tudo que aconteceu em minha ausência. -Informo a ele que dá uma sonora gargalhada, som envolvente que preenche meus ouvidos e aquece meu coração, me levando a sorrir ainda mais, como se isso fosse possível.
Coloco meu pequeno no chão e me encaminho para dentro de casa, senti falta do meu lar, o cheiro de rosas de minha avó chega a meu nariz e eu me sinto muito melhor do que eu imaginei estar ao chegar em casa.
Gabriel apenas nos deixou, não quis nem entrar, algo que eu achei estranho mesmo nunca tento trazido ele em casa, queria que ele soubesse que era sempre bem vindo, mas como eu imaginava ele disse que estava com uns problemas em casa e precisava ir. Mesmo querendo muito perguntar o que estava acontecendo, não tive coragem, o medo foi mais forte e eu me acovardei apenas confirmando com a cabeça, garantindo que estava tudo bem, mesmo apreensiva e preocupada com ele eu deixei pra lá, sabendo que certamente seria o melhor.
Sento no sofá e ouço o barulho da tv ligada em um desenho qualquer que provavelmente o Edu assistia.
Sinto o acento ao meu lado afundar um pouco e o aroma do meu avô chega até mim e eu sorrio.
—Olá, querida. -Diz ele me abraçando de lado.
—Oi vovô. Sentiu minha falta? -Pergunto sorrindo, o abraçando também.
—Mais é claro! Essa casa não é a mesma sem você.-Responde me abraçando mais forte dessa vez. -Além do mais eu não aguento mais assistir esses desenhos com seu irmão, essa função é sua.
Solto uma gargalhada com essa afirmação, levando meu avô a rir junto, e noto o quanto senti falta de casa, da minha família, dessas risadas e dos momentos especiais que eu vivo ao lado de cada um, e novamente meu coração fica quentinho, com o cheiro de lar, com o aroma de café que vem da cozinha, com meu irmão brincando com seus carrinhos arranhando o piso, com mamãe e vovó conversando e rindo na cozinha, me sinto feliz e preenchida ao lado de pessoas que me amam e que eu amo também, enfim, estou em casa.
Sophie teve alta. A melhor notícia que eu poderia receber hoje e em muito tempo. Eu estava imensamente feliz, ainda me sentia culpada com o que havia acontecido a minha amiga, nada me tirava da cabeça que se eu estive com ela nada disso teria acontecido. Mesmo com todos dizendo que eu não tinha como saber, que não tinha culpa de nada, eu não acreditava nisso. Eu tinha sim uma parte de culpa nesse acidente e nunca me perdoaria se algo de ruim acontecesse a Sophie.
A primeira coisa que faço ao sair do trabalho é pegar um Uber e ir até sua casa, vi minha amiga ontem no hospital e ela me falou que provavelmente teria alta em breve, mas ainda sim queria visitá-la, quero que ela saiba que vou estar do lado dela sempre. Sophie é minha melhor amiga, uma amiga que eu nunca tive e que eu valorizo demais.
O motorista para em frente a casa de seus avós, a própria Sophie me enviou o endereço por mensagem e eu desço do carro, batendo a porta do carro, me encaminho para a casa da Sophie.
Bato a porta e um garotinho de cabelos castanhos me recebe com um olhar curioso.
—Oi, você é a Camille? -Pergunta e eu confirmo. -Puxa, você é bonita.
Eu dou risada da espontâniedade da criança que acabou de me ganhar, então Dona Amélia aparece na porta.
—Entre, Camille, vamos não fique aí na porta meu bem. -Convida a dona da casa e logo estou entrando em uma casa muito charmosa, com flores por toda parte, paredes cor de creme. Um clima familiar rodeia a sala e eu me sinto aconchegada assim que sou recebida por uma família sorridente e alegre ao ter a minha amiga de volta ao lar. Me pego sorrindo também, feliz por Sophie ter uma família tão especial. E mesmo sem seu pai, que ela perdeu a pouco menos de 3 anos ela é feliz. Não posso dizer que eu não sou, mas o fato de nunca ter conhecido meu pai me machuca muito, nunca tive uma figura masculina, e no dia dos pais eu nunca tive como levar o meu para a escola, e sempre escrevi cartinha para ele, todas guardadas em uma caixinha embaixo da minha cama, cartas estás que meu pai nunca irá ler, mas que eu me sentia bem aí escrever, como se dividisse os acontecimentos mais bobos do meu dia a dia com ele.
Sophie me tira dos meus devaneios ao me perguntar algo. Já estou a alguns minutos com sua família e me sinto bem nostálgica.
—O que você disse Sophie? - Pergunto, voltando minha atenção para a garota ao meu lado.
—Eu perguntei se tá tudo bem com sua mãe? No outro dia você disse que ela tava estranha.- Minha amiga pergunta, claramente preocupada, Sophie pode até ser cega mas é muito sagaz, consegue notar facilmente quando uma pessoas está aérea ou passando por problemas, como eu nesse momento.
Minha mãe continua querendo me falar sobre algo absurdo. E eu não consigo dá bola, porque mesmo não parecendo, isso mexeu muito comigo. Mas não quero preocupar minha amiga, não em um momento que ela está tão feliz com sua família e acabou de sair de uma situação péssima.
—Ta tudo bem sim, mamãe as vezes fica estranha, mas é o efeito dos medicamentos, você sabe. -Desconverso, torcendo para que ela aceite minha explicação e esqueça o assunto.
—Tudo bem. Mas, qualquer coisa eu estou aqui, você sabe. Pode se abrir comigo.- Diz ela ainda seria.
—Eu sei sim minha amiga. -Respondo sorrindo, pois acredito em suas palavras, que sei serem verdadeiras, não é como no passado, quando eu achava que tinha amigos, mas na verdade nunca tive um sequer. São pequenas coisas, e mágoas que eu carrego em meu peito, que por vezes retornam para me assombrar, são fantasmas do meu passado que eu quero esquecer.
❤️❤️❤️
Ao chegar em casa aquela noite, encontro minha mãe sentada no sofá da sala a minha espera. E minha cabeça começa a latejar com o que estar por vir. Pois sei exatamente por que ela está me esperando, e sinceramente não tô com clima nenhum para esse assunto agora.
—Filha, precisamos conversar. -Diz ela mais uma vez, ouço essa frase a semana inteira e não sei quando minha mãe vai cair na real e perceber que ela está machucando a si mesma e a mim também.
—Mãe, se for sobre o assunto absurdo do meu pai novamente, por favor poupe sua saliva. Porque eu não quero ouvir mais nada sobre isso. -Sou direta, querendo que ela entenda meu lado também.
—Seu pai quer encontrar você Camille. E agora é definitivo. Eu estou apenas te comunicando. Você precisa encarar a verdade filha. Pare de fugir...-Fala minha mãe e então eu perco o pouco de paciência que me resta.
—Fugir? Você vem me falar de fugir, quando claramente foi você que mentiu pra mim a vida inteira, por que se o que você tá falando for verdade então quem fugiu aqui não fui eu mãe! -Respondo, saindo da sala e indo para meu quarto batendo a porta atrás de mim, coisa que nunca fiz em minha vida. E lágrimas descem pelo meu rosto quando eu sento atrás da porta fechada e deixo toda a frustração e dor acumulada saírem de dentro do meu peito.
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