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G L O S S Á R I O
Abamama: forma respeitosa de a princesa dirigir-se ao seu pai, o rei.
Wang jeonha: Sua majestade real, o rei.
Sejabin: princesa herdeira.
Gongju: princesa.
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PASSA DAS OITO DA NOITE e, apesar de estarmos parados no meio da rua a poucos metros de distância do palácio, ainda não retornei. Sinceramente, essa é a menor das minhas preocupações.
Observo fixamente seu rosto e ele me encara de volta. Nem sei há quanto tempo estamos assim, apenas duas pessoas estáticas e atordoadas, flutuando numa nuvem de desesperança, saudosos pelos dias em que tudo se resumia a tardes ensolaradas no parque Yeouido.
— Jae Ho é seu nome verdadeiro? — Pergunto.
Ele nega.
— Você ainda pretende me matar?
— Não! Sun Hee, não diga bobagens.
— Quando soube da minha real identidade?
— Desde o momento em que te vi. O serviço de inteligência do norte tem uma foto sua.
Eles têm? Como é possível?
— O que faremos agora, Jae Ho? — Minha voz some num sussurro.
— Você precisa voltar...— Ele murmura de volta.
— Você vai... deixar o país?
Ele não responde.
Segura minha mão e a acaricia com o polegar, fazendo movimentos circulares.
— Me leve com você. — Suplico, fazendo com que ele me olhe cheio de receio e dor.
— Não posso fazer isso, Sun Hee.
— Então se case comigo. Podemos consertar as coisas. Abamama é o Wang jeonha dessa nação, tenho certeza que ele vai encontrar uma solução.
— Você sabe melhor do que eu que o parlamento jamais aprovaria. Não deixariam a sejabin unir-se a um ex-espião norte coreano. E mesmo se eu obtivesse refúgio no consulado, ganhando autorização para residir no país, as pessoas daqui sempre enxergariam em mim a figura de um inimigo.
— Isso é besteira! Você não pediu pra nascer lá! Não pediu pra ser obrigado a se alistar e ter que embarcar nesse tipo de...missão.
— O mundo não funciona assim, Sun Hee. Além disso, seria considerado um traidor em meu país, provavelmente mandariam soldados para me matar.
— Não! Você está errado. Vamos dar um jeito, tem que haver um jeito e... e...
Jae Ho me puxa pra perto de si e me abraça com tanto desespero que recomeço a chorar.
— Você estaria disposta a desistir do título de sejabin para seguir um homem sem nome como eu? Minha Gongju, por favor... — Ele deposita beijos em meu rosto. — Eu nunca a obrigaria a isso. — Ele seca minhas lágrimas com mais beijos. — Acha que não sei que você fugiria comigo se eu pedisse? Mas não posso. Não, não suportaria o remorso de faze-la sofrer por minha culpa quando nem mesmo tenho perspectivas quanto ao que me aguarda no futuro.
— Por que não, Jae Ho? — Deixo escapar um soluço. — Me explique! Não sente nada por mim?
— Eu sabia que era errado me aproximar de você, mas não consegui evitar. Algo se acendeu dentro de mim e fui tomado por sentimentos que nunca sequer havia me atrevido a experimentar. Você me deu felicidade, Sun Hee, me deu mais do que já recebi em toda minha vida. Só que nós... nós... me desculpe, por favor, me desculpe... — Ele me abraça ainda mais apertado e esconde o rosto entre meus cabelos.
Sei que está chorando e, nesse momento, compreendo que há um limite que não se deve ultrapassar. Não se trata do que eu quero ou do quanto o amo. Existem circunstâncias que inevitavelmente fogem do nosso controle e eu ainda não possuo força nem influência suficiente para modificar esse quadro.
Peço que ele levante a cabeça e olhe pra mim. Analiso-o atentamente, tomando o cuidado de decorar cada ângulo de seu rosto, cada curva de sua boca, cada pequena pinta em sua pele.
Memorizo como seus olhos cintilam quando está comigo e como sua pele reage quando o toco.
Absorvo o tamanho e a aspereza de suas mãos, o roçar de sua barba por fazer, a ternura de seus lábios.
Traço com o dedo o contorno de sua clavícula e o relevo de seus músculos.
Inspiro profundamente e sorvo cada nota de sua fragrância. É doce e imprevisível, tenra e indomável.
Quando ele fecha o espaço estre nós, abraço-o uma última vez. Ele mal se afasta e já sinto os efeitos da sua ausência. Não sei como me despedir. Como se diz adeus ao seu primeiro amor?
— Nos vemos amanhã no parque Yeouido? — É tudo que consigo colocar em palavras.
Ele sorri tristemente.
— Sim. Amanhã.
E então, antes que nos arrependamos, ele se distancia, dobra a esquina e desaparece na escuridão.
Cambaleante, dirijo-me ao palácio sem me preocupar em disfarçar, porque, daqui em diante, não pretendo mais me esconder atrás desses muros. Irei honrar peso desse título. Farei valer a dor da renúncia.
Tornarei esse país um lugar que não condena uma pessoa pelas suas origens, uma nação compassiva com nossos semelhantes isolados na opressão do governo ditatorial do norte, um lar para o qual Jae Ho possa um dia retornar.
Antes de adentrar pelo portão Gwanghwamun¹, contemplo uma última vez o local onde, minutos atrás, chorávamos nosso último adeus. Para qualquer um que passar por ali amanhã, será apenas um espaço de concreto, cinza e sem vida. Mas, para nós, significará tudo.
Seja feliz, sussurro desejosa de que minhas preces o alcancem onde quer que ele esteja.
Meu coração esperará por você todos os dias até o cair da noite no nosso lugar secreto.
F I M
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¹Portão Gwanghwamun:
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