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Capítulo 11: Garotas confiantes podem conquistar o mundo

Você não precisa se desculpar por ir embora e crescer

Você pode ver o mundo
De acordo com as estações
Onde quer que você vá

Matilda - Harry Styles

— Quantos anos você tinha mesmo quando veio para cá pela primeira vez? — ouço Atlas questionar, enquanto caminhamos pela rua feita de paralelepípedos.

Assim que ele prometeu a sua irmã que amanhã terão um momento para passear juntos, deixamos o Beckham's e começamos a andar pelas ruas de Carmel.

Claro, isso depois dele pedir licença para mim e ir até sua casa — que segundo ele fica a poucos metros do restaurante — buscar uma camiseta branca para vestir, já que ainda estava sem nenhuma por ter estado surfando na praia.

Confesso que, ao mesmo tempo em que agradeci internamente por Atlas ter lembrado desse detalhe e corrido para mudá-lo, — provavelmente porque sairíamos sozinhos, já que antes ele parecia não estar se importando — fiquei um pouquinho decepcionada por ter perdido aquela visão.

Mas, o lado positivo era que pelo menos os braços fortes e cheios de músculos dele continuaram em evidência. Seria, de fato uma pena ser privada disso.

Paro de andar subitamente quando percebo para onde meus pensamentos estão me levando. Mas o que está dando em mim?!

Céus, eu nunca fui assim! Nem mesmo quando estava na adolescência, com os hormônios a flor da pele e começando a achar garotos bonitos e me interessar por eles. Era um pouco mais fácil desviar os olhares e disfarçar.

Então, se quando mais jovem eu conseguia fazer isso, posso muito bem aplicar essas técnicas agora que estou mais velha, certo? É só pensar que é apenas mais um cara bonito e simpático que logo essa leve atração sumirá em um passe de mágica.

Podemos até nos tornar algo como amigos durante a minha estadia aqui. A família Beckham-Jones está sendo gentil e atenciosa comigo até o momento e com certeza manterei essa relação amigável até retornar à São Francisco.

Alguns dos meus planos para essa nova temporada na minha vida são conhecer pessoas novas e me aventurar mais. E, será isso o que farei. Só não será envolvendo o campo amoroso ou alguma coisa parecida com isso.

Atlas caminha mais dois passos até perceber que parei repentinamente de acompanhá-lo e vira-se para trás, buscando meu olhar e o motivo de eu ter feito isso.

— Aconteceu algo? — pergunta, confuso.

Nego imediatamente e, sem querer inventar uma desculpa porque, jamais admitirei um dia em voz alta que o acho bonito, — mesmo que seja óbvio e não somente um achismo meu — adianto-me ao responder

— Eu estava fazendo quinze anos. Foi o presente de aniversário que ganhei dos meus pais na época. — conto.

Ele não diz nada, como se estivesse esperando que eu dissesse mais alguma coisa.

Volto a caminhar e ele me acompanha, andando ao meu lado.

Já havíamos andado por boa parte da cidade e o sol estava cada vez mais forte, fazendo assim um pouco de suor escorrer pelo meu rosto. Provavelmente já deve passar do meio dia, o que explica o calor estar tão intenso agora.

Passamos as últimas horas com Atlas me mostrando algumas lojas de acessórios praianos, sorveterias, lanchonetes e restaurantes. Claro, sem nunca deixar de enaltecer o seu próprio. Isso que eu chamo de fazer marketing do seu próprio negócio.

Para duas pessoas que pouco se conhecem, até que conseguimos manter um diálogo consideravelmente longo. Não comentamos muito sobre nossas vidas pessoais. Notei que em nenhum momento seu pai biológico foi mencionado, apenas seu padrasto. Assim como eu preferi não falar sobre meu pai e minha mãe.

Focamos somente em assuntos superficiais e os outros membros da nossa família. Falei da Eva, pedi desculpas em nome dela e ele disse que estava tudo bem. Comentei também sobre o Danny e Atlas disse em tom de brincadeira que, se algum dia esses três se juntassem, o caos estaria instaurado na Califórnia.

Quando percebe que não falarei mais nada por enquanto, ele faz outra pergunta:

— Você que preferiu a viagem? É porque eu sei que muitas garotas tem preferência por festas enormes e parecidas com bailes de princesas. — dá uma risadinha fraca.

Faço uma careta, mas logo rio também.

— Quais garotas lhe passaram essa impressão? — ergo uma sobrancelha, curiosa com a resposta.

— A Olive, é claro. Mesmo que ainda falte muitos anos para esse momento chegar, ela sonha com um grande dia de princesa com vestidos rodados e carruagem. — ele sorri ao contar e só consigo reparar na sua genuína alegria ao mencionar a irmã, assim como o fez quando me falou dela pela primeira vez.

É perceptível que Atlas ama incondicionalmente sua irmã caçula. E que, com toda certeza faria de tudo para vê-la bem.

Também é inevitável não me questionar se seria assim com o meu irmão também, caso tivesse nascido. Se ele me enxergaria como um porto seguro e como alguém que poderia sempre contar — como Liv claramente o enxerga — e se eu sentiria um amor incondicional por ele.

— Deveria ter imaginado. Ela realmente parece amar o universo das princesas. Até fui comparada com uma assim que cheguei aqui, acredita? — rio.

Aquela garotinha é realmente uma figura. Mesmo tendo ficado envergonhada com seus comentários desprovidos de coerência e completamente sinceros, não fui capaz de me irritar com ela. Foi até engraçado.

Menos pela parte que eu e seu irmão começamos a ficar tão vermelhos que mais parecíamos dois tomates.

— Acredito. E, ela não mentiu nem um pouco no que disse. — Beckham afirma, soando sincero.

O olhar que me lança também é uma comprovação e, torço profundamente para que minhas bochechas não fiquem vermelhas mais uma vez.

Ele não está fazendo o que acho que está fazendo, está?

Sem permissão, minha mente começa a se perguntar com qual das princesas — desde as reais, até as fictícias da Disney — Atlas acha que eu me pareço.

Permaneço em silêncio, exibindo apenas um sorriso tímido em resposta.

Após esse pequeno momento, Atlas indica a fachada de uma rua a nossa frente, onde dois estabelecimentos estão localizados. Uma confeitaria com as paredes azulejadas na cor turquesa e com duas mesas do lado de fora. A placa colocada no chão indica que vendem donuts e outros doces variados.

Já ao seu lado, separados apenas por um portão dourado, — que talvez leve para o depósito de um dos estabelecimentos — ali está a pousada onde irei ficar.

— Você vai ficar na Joanna's In ou em outro lugar? — ele pergunta, olhando para os lados da pequena pista asfaltada antes de fazer um sinal com a mão para que possamos atravessar.

O sigo até onde sou levada primeiro: a confeitaria.

— Irei ficar aqui mesmo. Como adivinhou?

O rapaz sacode os ombros largos, passando na minha frente e abrindo a porta de vidro, permitindo que eu passe primeiro.

O lanço um sorrisinho agradecido por sua gentileza e entro no lugar.

— Geralmente os visitantes preferem ficar na pousada da senhora Simmons quando vem para Carmel. Por causa da proximidade com a praia. — explica, soltando a maçaneta da porta quando vê que não há mais risco dela bater.

Assinto.

— Faz sentido. Eu a escolhi por esse motivo mesmo. — respondo simplesmente, parando ainda no meio do estabelecimento, sem saber muito bem o que fazer.

E, sem fazer ideia do motivo pelo qual fui trazida aqui.

— Você vai fazer algum trabalho próximo a praia, não é? — Atlas solta a pergunta, sendo direto.

Arregalo um poucos olhos ao voltar a encará-lo, vendo-o caminhar alte o balcão repleto de recipientes com guloseimas.

A primeira coisa que vem na minha cabeça é o questionamento e a desconfiança de como ele sabe disso.

Até que, a mais provável resposta surge como uma lâmpada acesa, me fazendo cruzar os braços e exibir um sorriso presunçoso.

— Você sabe que eu estudo biologia marinha. — constato, apoiando o quadril no encosto de uma das cadeiras cor de rosa, como quase tudo aqui, de maneira despojada. Não havia contado essa parte da minha vida.

Acabei, sem querer deixando de fora o motivo de estar aqui. Apesar que ele já deve suspeitar depois de suas prováveis pesquisas.

Atlas coloca o cotovelo sobre o balcão e leva a mão a nuca, parecendo sem jeito ao ser descoberto.

— É, eu acabei descobrindo depois de...

— De me stalkear? — indago, um pouco desacreditada e contendo uma risada — Quem diria que faria isso, Atlas Beckham.

Ele levanta uma das sobrancelhas escuras.

— O que? É inacreditável que eu pesquise sobre alguém que tem uma vida pública na Internet? — devolve.

Pressiono os lábios e ergo as mãos em falso sinal de rendição.

— Não, essa parte não é tão inacreditável. Mas saiba que eu não tenho a vida tão pública assim, está bem? A fama é mais direcionada ao meu pai, afinal ele é o chefe da empresa.

— E você é a filha dele. O que te faz sucessora daquele patrimônio inteiro. É certo que será reconhecida pelas pessoas.

Dou de ombros.

— Talvez. Mas, não tente direcionar a conversa para outro rumo. Você estava sim pesquisando sobre mim — aponto — Ficou curioso com o que? Sobre mim?

Depois de lançar essa última indagação, percebo que estou sendo um pouco mais direta e desafiadora do que normalmente costumo ser com pessoas que pouco conheço. Principalmente com aquelas que troquei apenas algumas palavras até o momento.

É, de fato tem algo bastante estranho acontecendo comigo hoje. Contudo, não sei está sendo de todo ruim.

Atlas aparentemente desiste temporariamente de chamar o responsável por esse lugar — que, por algum motivo não veio atender seus novos clientes ainda — e caminha até onde estou, se aproximando novamente.

Ele para em minha frente e levanto um pouco o queixo para encará-lo nos olhos. Deduzo que seja, mais ou menos uns quinze centímetros mais alto do que eu.

— Precisei pesquisar sobre a família responsável por me contratar, mais especificamente o seu pai — explica, baixando o olhar para meu rosto — Porém, não encontrei muita coisa com você até, confesso, fazer uma rápida pesquisa do seu nome no Google.

Mordo os lábios, contendo o sorriso.

— Como eu disse: um stalker. — dou uma piscadinha.

Ele revira os olhos, mas sorri. Por incrível que pareça, suas bochechas não estão coradas de vergonha dessa vez.

— Só quis saber mais da garota que me ajudou no final da festa, apenas isso. — diz somente, como se não fosse nada grandioso.

E bom, de fato não é mesmo. Mas, foi estranhamente interessante saber que ele sentiu um pouco de curiosidade para descobrir mais alguma coisa sobre mim.

— E você gostou do que descobriu? — arrisco a pergunta.

Ainda me encarando e estando a alguns centímetros de distância de mim, Atlas parece puxar o ar para dentro dos seus pulmões antes de me dar uma resposta.

— Em sua maioria, sim. — apenas isso, sem detalhar o que exatamente ele gostou e o que não foi totalmente do seu agrado.

Disfarço a pequena decepção pela falta de mais informações e, só então quebro a nossa troca de olhares quando escuto o barulho inconfundível de passos apressados no ambiente.

— Já estou indo, tia! — uma voz, inconfundivelmente feminina soa de repente e nós dois nos viramos na direção de uma porta branca no canto esquerdo do estabelecimento que , só agora notei que estava ali — Não precisa esperar por mim para almoçar hoje. Quero dar uma volta pela cidade e rever meus amigos.

Franzo as sobrancelhas. Quem é o dono ou dona dessa confeitaria e por que estou tendo a impressão de que o rapaz ao meu lado conhece a pessoa?

Antes que eu possa continuar seguindo essa de raciocínio e possíveis teorias, uma mulher — provavelmente a dona da voz alta e decidida — gira a maçaneta dourada da porta e a abre, caminhando na direção da entrada da loja, que está pouco atrás de onde estamos.

Seus incrivelmente cabelos longos e com mechas onduladas parecem voar quando ela dá uma corridinha apressada e para abruptamente no lugar, o que faz os fios caírem bagunçados em seu rosto e ombros bronzeados.

Contudo, não é o comprimento do seu cabelo que mais chama a minha atenção, mas sim a cor.

Ele é inteiramente tingido de um tom azul escuro, porém com a raiz verde, como se estivesse desbotando aos poucos. A cor combina com seus olhos esverdeados.

— Isla? — escuto a voz de Atlas e viro a cabeça para encará-lo, vendo que está observando a jovem que deve ter mais ou menos a nossa idade com surpresa, curiosidade e, consigo até visualizar um brilho de felicidade em suas íris.

Levanto a sobrancelha e apoio as mãos na cintura, confirmando minha teoria de que ele conhece a provável proprietária do estabelecimento.

A garota, que já havia o reconhecido — esse foi o motivo para ter parado de andar abruptamente, suponho — arregala os olhos, abrindo um sorriso largo e radiante.

— Cabeça de alga! — exclama, feliz e jogando-se na direção dele em seguida, fazendo seus corpos se chocarem e Atlas precisar se firmar no chão para não derrubar os dois.

Pressiono os lábios com a expressão assustada que visualizo em seu rosto, sentindo uma pequena vontade de rir dessa cena um tanto quanto engraçada.

E levemente desconcertante. Afinal, estamos falando de um óbvio reencontro que estou assistindo como uma mera telespectadora, sem saber o que fazer ou o que dizer. Isso se devo fazer ou falar algo.

Talvez eu devesse ir embora e adiar o tour pela cidade no momento? Poderia usar a desculpa de que as minhas malas ainda estão no meu carro e que preciso me instalar na pousada, que por acaso está justamente aqui do lado.

Também, inevitavelmente temo estar me intrometendo, mesmo que sem querer, em uma possível relação amorosa.

A família de Atlas demonstrou com todas as letras não ter conhecimento de nenhuma namorada e que ele estava solteiro, já que a pequena Olive tentou a todo custo unir nossos caminhos em apenas cinco minutos de conversa que tivemos. No entanto, talvez Bekcham já esteja saindo com alguma pessoa e só não quis contar até que seja oficial. Não é?

Certo, eu estou mais uma vez teorizando cenários que podem nem ser verdadeiros. Mas o que posso fazer se minha mente não para um minuto sequer e já começa a formular ideias muitas vezes absurdas?

Acho que preciso rever a questão de ter praticamente abandonado a terapia há um ano quando retornar à São Francisco. Não parece ser muito saudável inventar histórias na minha cabeça antes de ter completa certeza do que está acontecendo.

— Meu Deus, quando foi que você voltou? Por que não nos avisou? — ele indaga, segurando-a pelos ombros quando enfim se separam do abraço apertado que estavam trocando.

A jovem — que agora sei que se chama Isla — dá de ombros e retira o óculos escuro da gola de sua regata preta e coloca-o no topo da sua cabeça. Esse movimento a faz erguer o braço direito, fazendo-me perceber um enorme desenho tatuado por toda aquela região.

Semicerro os olhos, tentando discernir os traços rabiscados em sua pele discretamente. Não demoro muito a notar que se trata do desenho de um por do sol na praia, sumindo no meio das ondas do mar com três golfinhos saltando da água em sequência.

Imediatamente fico apaixonada pela tatuagem, o que me faz soltar um "uau" impressionado e admirado, fazendo o plano de ser discreta escorrer pelo ralo.

— Quis fazer uma surpresa dessa vez, projeto de surfista número um. — explica, dando dois tapinhas em seus braços para que Atlas solte seus ombros sutilmente e vira-se para me analisar com uma sobrancelha erguida, reparando na minha presença naquele cômodo.

Ergo uma mão, acenando discretamente, tentando ser simpática.

— Ah! Deixe-me apresentar vocês duas. Blair, essa é a Isla Barks. E Isla, essa é a Blair...

— Summers. Me chamo Blair Summers. — interrompo a apresentação de Beckham no mesmo instante, estendendo a mesma mão que havia erguido anteriormente para cumprimentá-la.

Não sei exatamente o que me fez tomar essa decisão. Talvez tenha sido motivada pelo impulso momentâneo, somada pelo fato de que não quero ser imediatamente associada a Coleman Advocacy e logo ser resumida a filha do CEO da empresa.

Aqui, em Carmel eu quero ser somente mais uma estudante que está em busca de aprimorar seus estudos analisando e trabalhando com o ecossistema marinho.

E, apesar de ter consciência de que o sobrenome da minha família materna antigamente me lembrava de que fui rejeitada por todos eles somente porque minha mãe se recusou a abrir mão de mim, quero usá-lo ao me apresentar aqui. Vai ser como criar um novo nome, uma nova identidade.

A garota de cabelos azuis abre um pequeno sorriso depois de me escrutinar de cima a baixo e une nossas mãos, dando um aperto suave e rápido.

Arrisco um olhar breve para o cara que observa nossa pequena interação, vendo-o com as sobrancelhas escuras erguidas, provavelmente por ter me escutado dizer outro sobrenome e não o usual Coleman.

— É um prazer conhecê-la — Isla diz, separando nossas mãos e piscando para mim em seguida, fazendo-me franzir o cenho — Garota, você é muito, muuuito gata! Espero que já tenham tem dito isso antes.

Solto uma risada.

— Obrigada. Você também é muito bonita — agradeço, devolvendo o sincero elogio — Gostei da sua tatuagem, aliás.

Aponto para o desenho sublinhado com tinta preta em seu braço, sendo colorido por tintas coloridas.

Barks abre um sorriso orgulhoso, evidenciando as poucas sardas que há ao redor do seu nariz, a deixando com uma aparência meiga.

Também noto que ela usa um piercing no nariz. Uma pequena argola prateada.

Confesso que gostei do seu visual um tanto descontraído e ousado. Sei bem que sair do comum e do que é esperado pela sociedade causa olhares e comentários muitas vezes desagradáveis e desnecessários. No entanto, Isla não parece ser alguém que se incomode com isso.

Acabo levando a mão aos próprios fios do meu cabelo, pensando que gostaria de parecer tão confiante e contente com a minha aparência. Sei que sou bonita, atraente e me sinto assim muitas vezes. Porém, em alguns momentos, sinto como se faltasse alguma coisa em mim. Algo marcante, além da coragem de cortar o cabelo tão curto. Algo que representasse e mostrasse quem sou de verdade e transmitisse confiança.

— Ela é linda mesmo, não é?! Fiz para eternizar o meu amor pelo mar e coloquei os golfinhos para representar a minha futura profissão.

Inclino a cabeça.

— E qual é?

— Biologia marinha. — responde.

Arregalo a boca, em total surpresa.

— Você está brincando? — abro um sorriso tão largo que sinto minhas bochechas doerem.

— Não brincaria com isso. Por quê? — franze o cenho.

— Porque eu também estudo biologia marinha.

Agora é a vez de Isla abrir a boca em choque e dividir o olhar entre Atlas e eu, aparentemente sem saber quem deve encarar.

— Em primeiro lugar, eu gostaria de saber porque não fui comunicada por você ou por algum dos seus amiguinhos que está namorando novamente — levanta o dedo indicador para mostrar — E, em segundo, mas não menos importante: por que diabos não me disse que a garota cursa a mesma área que eu?!

Faço uma careta involuntária ao ouvir sua voz alterada e indignada. No mesmo momento me lembro de Alyssa e dos seus dramas quando não lhe conto o que acontece na minha vida de imediato.

— Eu não estou namorando, Isla. É claro que te contaria se estivesse! Que tipo de amigo você pensa que sou? — Atlas cruza os braços, voltando a se aproximar de mim.

Isla o ignora e olha para mim, parecendo buscar minha confirmação.

— Então você não namora com ele?

Balanço a cabeça em negativa.

— Estou de passagem por aqui. Ficarei aqui por alguns meses e depois voltarei para a minha cidade natal. — conto brevemente.

A garota assente, mas ainda me encara, como se tentasse descobrir mais alguma coisa.

— Por acaso você está aqui para o estágio? — questiona.

Semicerro os olhos.

— Como você... — interrompo minha própria fala, estalando a língua — Esquece. Acho que já sei a resposta.

Ela ri, quase desacreditada.

— Seremos colegas, então. Vou gostar de conviver com você e poder fofocar do senhor certinho aí — aponta para o amigo que está ao meu lado agora — Como se conheceram? Ou melhor, como você ainda não tentou conquistá-la, babaca? É melhor agir logo antes que perca para a concorrência.

— Se você fizesse parte da concorrência, com certeza eu já teria perdido as minhas chances. — ele brinca.

Encaro-o de soslaio. Isso foi mesmo uma brincadeira, certo? Não é como se Atlas quisesse de fato uma chance.

— Então é melhor você ficar esperto, Beckham. — dá uma piscadinha.

Rio do falso olhar sedutor que Isla lança para mim.

— Ok, eu amei conhecer você e a confeitaria. Tudo aqui é muito bonito, mas realmente preciso ir. Tenho que me hospedar na pousada ao lado e me preparar para segunda-feira.

— Ah, é claro! Também preciso ir. Quero aproveitar meus dias de folga antes de começar essa nova etapa da faculdade, que por sinal também é a última. — a garota de cabelos azuis faz um biquinho.

Aceno em concordância.

Sinto uma mão forte segurar meu ombro de repente e olho rapidamente para Atlas, sentindo o ar ficar preso nos meus pulmões por um momento.

— Você não pode ir sem antes levar uma das melhores guloseimas de toda a cidade. — diz, caminhando até o balcão, indicando os doces coloridos e confeitados.

— Eu agradeço a gentileza, mas não precisa...

— Isla! Você está esquecendo seus fones de ouvido. — outra voz feminina diz, enquanto abre a mesma porta que provavelmente dá para os fundos do estabelecimento e caminha até a jovem, que acredito ser sua sobrinha devido a forma como se referiu a mais velha anteriormente.

A mulher de cabelos platinados, nitidamente também tingidos e com uma pele ligeiramente pálida para alguém que mora em uma cidade praiana entrega o headphone a garota, que agradece rapidamente, colocando o aparelho de cor preta ao redor do pescoço.

— Senhora Barks! — o rapaz ao meu lado tira sua mão direita do meu ombro para cumprimentar a mulher, que recusa o aperto de mão e o puxa para um abraço caloroso.

— Já disse que não existem formalidades entre nós, rapaz. Sou tia Ingrid para você — encara-o seriamente, apontando um dedo — E essa menina bonita ao seu lado? Não me diga que está namorando e não me contou.

— De novo não. — resmungo, ouvindo Atlas dizer exatamente a mesma coisa ao meu lado enquanto esfrega as têmporas com a ponta dos dedos após se afastar da mulher.

— Essa é a última vez que digo isso: eu não estou namorando com ninguém. Ela se chama Blair e está aqui para estagiar, assim como sua sobrinha, tia Ingrid. — ele suspira, parecendo cansado de precisar dizer isso a todo momento.

Sem pensar muito, apoio minha mão levemente em seu braço, sentindo os músculos da sua pele em meus dedos.

Ele realmente é forte.

Seus olhos castanhos me fitam no mesmo segundo, parecendo surpresos pelo toque repentino.

Sinto um pequeno arrepio percorrer meu braço conforme, inconscientemente deslizo minha mão pelo seu antebraço, sentindo algumas de suas veias saltadas.

Parecendo sentir essa mesma sensação estranha que eu, como se fosse uma corrente de energia conectando a nós dois, Beckham entreabe os lábios, me encarando com a mesma intensidade que provavelmente o encaro, sem cortar nosso contato visual.

Sinto muito por toda essa situação. Acho que minha família e os meus amigos precisam ter um pouquinho mais de filtro.

Reviro os olhos, sorrindo de lado.

— Não tem problema, eles são divertidos. Mesmo nos fazendo passar vergonha.

Atlas esboça um pequeno sorriso, parecendo gostar do meu comentário.

De relance, o vejo estender a mão, levando-a para perto da minha, que ainda está acariciando seu braço. Porém, um arranhar de garganta — nitidamente falso, percebo — nos arranca desse transe em que nos envolvemos, me fazendo dar um sobressalto e colocar uma pequena distância entre nós.

O rapaz esconde as mãos nós bolsos da bermuda, aparentando descontentamento ao apertar os lábios rosados um no outro.

— Bom, sendo assim, é um prazer conhecê-la, querida Blair. — Ingrid me puxa para um abraço, tão apertado quanto o que havia dado em Atlas.

Mesmo surpresa com o gesto repentino, retribuo-o ao rodear suas costas com meus braços.

— O prazer também é meu, dona Ingrid.

Ela abre um sorriso.

— Em breve espero ouvi-la me chamar de tia também.

Rio, me desvencilhando dela. Todos aqui estão sendo tão simpáticos e acolhedores comigo que me questiono se não estou em uma realidade paralela.

— Ingrid, pode embrulhar os melhores doces da casa para viagem? Tenho certeza de que a Blair irá adorar experimentá-los — Atlas pede a mulher — Pode adicionar o valor na minha conta, por favor.

A mais velha assente e faz menção de se afastar para ir até o balcão preparar o pedido, mas o sussurrar tão baixo de Beckham — que mais parece so um movimentar de lábios, porque nem mesmo eu que estou próxima dele escuto — a faz parar no lugar por alguns segundos antes de, enfim voltar a caminhar.

Viro-me para ele em um sobressalto, prestes a dizer mais uma vez que não precisa se incomodar, que eu mesma posso pagar pelos doces depois se precisar. Porém, penso melhor e vejo que ele parece fazer mesmo questão de fazer essa gentileza para mim.

Então, deixo de ser teimosa e não tento fazê-lo mudar de ideia.

—  Obrigada, isso é bem gentil da sua parte. — agradeço, entrelaçando minhas mãos na frente do corpo.

Ele somente dá um sorrisinho.

— Não tem de quê, Summers. — responde, testando o meu sobrenome que seus lábios ainda não haviam pronunciado.

Novamente sinto aquela sensação percorrer meu corpo, como se fosse um pequeno e breve choque elétrico se espalhando por toda parte apenas ao escutar sua voz, em um tom um pouco baixo do que antes, quase sussurrado dizendo meu nome, como se o cantarolasse.

Respiro fundo. Por que gostei tanto disso e por que achei tão atraente?

— Aqui está, meu bem. A especialidade da casa e os mais vendidos por aqui — a mulher que também tem olhos verdes, porém mais escuros do que os da sobrinha diz ao parar em minha frente, me estendendo uma embalagem decorada — Espero que goste e volte em breve.

— Muito obrigada. Tenho certeza de que vou gostar — digo, sorrindo suavemente e me dirijo as duas mulheres — Foi um prazer conhecê-las.

Isla joga uma mecha do cabelo colorido para trás do ombro, exibindo uma pintinha que há nele.

— Nos vemos por aí em breve, futura colega — diz, passando por mim e dando um cutucão na barriga de seu amigo — Até mais tarde, cabeça de alga. Avise aos nossos amigos que quero encontrá-los na praia à noite, como nos velhos tempos.

— Passarei o recado, pestinha. — responde-a, bagunçando seu cabelo com uma das mãos, o que a faz grunhir e lhe desferir um tapa.

Barks abre as portas de vidro, mas para antes de passar por elas volta e volta a nos encarar.

— Talvez já tenham te chamado, mas irei te convidar para se juntar a nós também, Blair. Preciso de companhias femininas por aqui, só convivo com brutamontes. — faz uma careta engraçada.

— O Brandon me disse para aparecer por lá, onde ele está trabalhando com o Dylan, mas não sei se conseguirei ir — sorrio sem graça, apertando a embalagem de doces entre os dedos — Tenho que organizar algumas coisas durante o resto do dia e quero descansar um pouco depois.

A jovem solta um muxoxo, mas assente, compreendendo.

— Tudo bem, podemos marcar algo outro dia quando estiver com mais tempo, pode ser?

— Por mim tudo bem. — afirmo, mesmo sem ter total certeza disso.

Brinquei com Brandon antes que cobraria a bebida que ele prepara para mim quando aparecesse no bar hoje á noite. Porém, não sei quando e se de fato irei me reunir com eles, agora com a Isla incluída.

Geralmente interajo mais de maneira formal com pessoas da minha idade, já que a maioria faz parte do mundo dos negócios e alguns ali costumam apenas fingir ser simpáticos. Converso vez ou outra com colegas de turma e da universidade, mas nunca chegamos a construir uma amizade muito significativa e profunda.

Céus! Eu passei mesmo boa parte da minha juventude sendo solitária demais e só mantendo contato com minha melhor amiga.

Sei que preciso mudar isso e fiz uma promessa que tentaria ser mais sociável. Isso só não precisa acontecer literalmente hoje.

Prefiro deixá-los curtir o momento sozinhos, já que aparentam ser amigos de longa data e estavam há algum tempo sem se ver. Uma quase estranha no meio deles provavelmente só atrapalharia as conversas e interações.

Após ouvir minha resposta, Isla acena com a mão, se despedindo de nós.

— Já estou indo também — anuncio aos dois que ainda estão aqui — Obrigada pelos doces, Atlas. É muito gentil da sua parte.

Ele faz um gesto despreocupado com a mão.

— Não poderia deixar de trazê-la aqui e perder a oportunidade de provar os melhores doces de Carmel. — sorri, estampando as covinhas que acho adoráveis.

— Eu lhe mandaria uma mensagem dizendo o que achei deles depois, mas como não tenho o seu número... — comento distraidamente, percebendo só depois como isso pode ter soado como uma indireta e pedido de que eu quero ter o seu número de telefone.

Arregalo os olhos e balanço a cabeça, já pronta para retirar o falei quando quando Atlas encosta sua mão rapidamente na minha.

— Me dê seu celular. — pede.

Soltando um risinho desacreditado, vendo que não tenho como escapar sem ser grosseira ou chata, — até porque, no fundo, ter seu contato não seria tão ruim assim — busco o Iphone na minha bolsa, que, coincidentemente está com uma capinha de um Donut cor de rosa e entrego-o para ele após desbloqueá-lo e lhe entregar.

Atlas abre um sorriso largo ao notar esse detalhe e começa a digitar seu número na opção de "criar novo contato" que eu já havia selecionado.

— Pronto! — me entrega novamente o aparelho e guardo-o na bolsa novamente — Agora poderá me mandar a mensagem mais tarde.

Sorrio de lado, sentindo-me vermelha sem nem saber direito o motivo. Não é como se estivéssemos flertando ou algo parecido. Ele apenas está sendo gentil comigo e estou retribuindo tentando ser legal. Nada além disso.

Entretanto, não posso negar que apreciei bastante o seu gesto de me trazer até aqui só para comprar alguns doces para mim.

— Bom, então até mais tarde, Atlas — enfim me despeço, dando alguns passos em direção a saída — Prometo que volto para te dizer o que achei dos doces também, Ingrid. Estarei só a alguns metros de distância.

A mulher que aparenta ter por volta de quarenta e cinco anos sorri gentilmente para mim, entendendo que me referi a pousada ao lado onde ficarei.

— Irei esperar por você, hein?! Não costumo esquecer facilmente de promessas.

Empurro a maçaneta da porta, já colocando o pé para fora do lugar quando ouço Atlas me chamar.

Viro-me para ele.

— Já tem aonde almoçar hoje? Digo, você acabou de chegar aqui e provavelmente não conhece muitos lugares além do Beckham's — atrapalha-se um pouco ao falar, como se não quisesse que eu interpretasse errado o seu óbvio convite — Se quiser, pode aparecer lá daqui a pouco. A Olive adoraria que almoçasse com ela.

Prendo um sorriso. Será que a Liv adoraria minha companhia?

Penso por um momento. Não havia pensado nisso ainda, admito. Acho que nem me lembraria até que começasse a sentir fome mais tarde e precisasse sair para procurar algo.

— Na verdade, não tenho. Mas acho que não terei tempo para ir até lá nas próximas horas. — justifico, dizendo a verdade.

Além de precisar até meu carro, me instalar no meu mais novo quarto, terei que responder todas as mensagens da minha melhor amiga e família que acredito já ter recebido. Só avisei meu pai até agora, então se ele não passou o recado, todos os outros podem estar preocupados.

Isso se não surgiu nenhuma novidade de última hora na empresa e a Heather queira que eu analise.

— Eu deixarei na recepção da senhor Simmons então. — diz, como se nem ao menos tivesse parado para pensar nisso.

Rio, mas dessa vez um leve toque de nervosismo está presente na minha risada. Primeiro os doces e agora o almoço?

De qual livro esse cara saiu?

— Não precisa se incomodar, sério. Não morrerei de fome por atrasar um pouco o horário do almoço. — tento fingir indiferença, por mais que por dentro já esteja quase surtando.

Atlas cruza os braços na frente do corpo.

— Eu insisto.

Imito sua posição, demonstrando que não vou ceder. Posso estar levemente tentada a aceitar, mas prefiro não incomodá-lo com uma bobagem dessas. Posso me virar sozinha.

— Eu também insisto. — levanto o queixo, desafiando-o.

Revirando os olhos escuros, Beckham caminha até onde estou — literalmente no meio da porta do estabelecimento — após dar um abraço rápido na proprietária e tia da sua amiga.

Apenas deixo de vez o lugar quando ele passa por mim, quando encostando nossos corpos devido ao pouco espaço livre.

— Pedirei que ela lhe avise quando eu deixar seu almoço lá. — avisa, parando por alguns segundos só para me encarar e depois volta a andar de novo, seguindo na direção do restaurante da sua família. Sem me dar nenhuma chance de contestar.

Abro a boca, em choque e levemente irritada por ter perdido essa pequena batalha com aquele cara que descobri que pode ser um baita teimoso quando quer.

Olá, pessoal! Como estão hoje?

Aqui estamos com mais um capítulo. Espero que tenham gostado.

Peço que não se esqueçam de deixar seu voto e comentário. É muito importante para a história e me ajuda a saber se estão gostando.

Nos vemos no próximo capítulo. Qualquer coisa os avisarei no quadro de mensagens.

Um beijo, se cuidem e até logo!

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