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Capítulo 09: O destino é mestre em nos pregar surpresas

Nunca seja tão gentil
Que você se esqueça de ser inteligente
Nunca seja tão inteligente
Que você se esqueça de ser gentil

Nunca seja tão educada
Que você se esqueça do seu poder
Nunca exerça tal poder
Que você se esqueça de ser educada

Marjorie - Taylor Swift

Cheguei em Carmel três horas depois de deixar São Francisco.

O percurso não levaria muito mais que duas horas se eu não tivesse feito uma rápida parada em um posto de gasolina no meio da estrada para tomar café da manhã e ir ao banheiro.

Como saí de casa às seis da manhã, bebi somente uma xícara de café. Não consigo comer tão cedo porque me causa um leve enjoo. Além de não sentir fome alguma nesse horário.

Então, só depois de me abastecer estive preparada para continuar a viagem e finalmente, aqui estou eu. Com as costas e braços doloridos? Com certeza. Mas, ao mesmo tempo realizada enquanto observo a cidade através da janela do carro.

O movimento dos habitantes na entrada de Carmel é pequeno, o que já era esperado por mim, levando em conta a quantidade da população. Menos de 5 mil pessoas vivem aqui, porém, com o começo das férias de verão, a previsão é que alguns turistas também venham passar alguns dias ou até semanas aqui. Assim como eu, em partes.

Talvez seja justamente essa sensação de aconchego de uma cidade pequena que estou precisando, afinal. Crescer em uma das mais populares do estado foi maravilhoso, mas tudo sempre é tão corrido que quase nunca temos tempo para apreciar as pequenas belezas da vida.

Como, por exemplo, casinhas repletas de decoração, perfeitas para tirar fotos, o ar puro e sem poluição, os passarinhos cantando e algumas crianças correndo e brincando — aparentemente de amarelinha — pelo chão feito de pedras das ruas.

Abro a minha porta e salto para fora do carro, pegando a minha bolsa no banco do carona e aperto o botão, acionando o sensor e trancando-o. De acordo com o GPS, ainda há uma distância consideravelmente grande até a pousada onde irei ficar, mas tenho planos de conhecer um pouco do lugar que será minha morada até o começo de setembro.

Felizmente voltarei para casa antes do dia dezoito, a data do meu aniversário. Não gostaria nem um pouco de passá-lo longe da minha família.

Assim que começo a caminhar, observando admirada as construções e a natureza, sentindo o suave cheiro de maresia do mar, — que não está tão longe daqui, presumo — meus pensamentos imediatamente se voltam as lembranças do primeiro final de semana que passei aqui, quase sete anos atrás. Muitas coisas mudaram nesse longo período, principalmente eu.

A Blair de quinze anos sequer imaginava que sua vida mudaria drasticamente alguns anos depois.

Apesar desse triste fato, não desanimo porque a nostalgia é boa demais para que o dia fique em ruim. Ainda nem são dez horas da manhã e, poder voltar aqui para finalmente colocar em prática o que aprendi estudando da biologia marinha é a motivação suficiente que preciso.

Não permitirei que nada estrague esse primeiro dia aqui.

Quando sinto, subitamente algo agarrar meu calcanhar, fazendo uma rápida e aguda dor se espalhar pela minha perna esquerda, percebo que falei cedo demais.

É só pensarmos que nosso dia está começando bem e não pode ser estragado que algo acontece. Até mesmo uma bola cruza repentinamente o seu caminho para lhe atingir.

Contenho um grunhido enquanto levo as mãos até a perna, massageando o local atingindo e me arrependo rapidamente de não ter calçado um par de tênis de cano alto. Talvez eles impedissem essa colisão.

Me apoiando apenas na perna direita, ergo a esquerda — o que me faz ficar numa posição toda e com pouco equilíbrio — e avalio o estado, percebendo que apesar do susto e da leve dor que já passou, não deixou um machucado.

Volto a apoiar os dois pés no chão quando vejo alguém correndo até minha direção.

Semicerro os olhos quando noto que esse alguém provavelmente não possui muito mais do que um metro e vinte de altura e quase tropeça em uma das pedras no chão enquanto entra em uma batalha com o cachorro que segura pela coleira no pescoço, — que se torna gigante ao seu lado — aparentemente porque ele deseja escapar do seu aperto.

— Eu já disse que você tem que se comportar, Blue! — reclama com o pobre golden retriever, que no mesmo instante baixa as enormes orelhas, obedecendo a dona. O que me surpreende — A mamãe não vai me deixar te levar pra passear de novo se fugir de mim.

Pressiono os lábios, contendo um sorriso que insiste em escapar. Que garotinha extremamente fofa e mandona!

— Eu acho que ele entendeu o recado muito bem, uh? — dou uma piscadinha, me aproximando somente um passo dela.

Posso ser uma pessoa com boas intenções e que jamais faria mal a uma criança, mas, ainda assim não passo de uma estranha e ela não me conhece. Prefiro ser cautelosa para que não se assuste.

A menina, que não deve ter mais do que seis anos ergue os olhos do seu animal de estimação para enfim me encarar e só então consigo observá-la melhor.

Seus olhos são castanho escuro, como o seu cabelo. Sua pele é bronzeada e ela está usando um belo vestidinho preto com estampa de florzinhas. Uma gracinha.

— Desculpa, moça bonita. Eu não queria te acertar com a bolinha amarela — aponta com um dos dedinhos para a bola que correu para um pouco atrás de nós — Ele não quis ir buscá-la hoje. Acho que ficou encantado ao ver o quanto você se parece com uma princesa que nem se importou.

Dou risada do seu comentário.

— Não sou nenhuma princesa, mas obrigada — faço uma reverência rápida com a mão e dou uma rápida corridinha para pegar a bola do seu cachorro — Você também é muito bonita. E o Blue também.

Quando o nome do golden retriver sai dos meus lábios, tenho a sensação de deja vu de já tê-lo escutado em algum lugar. Só não me recordo exatamente quem me disse ou quando.

A garotinha abre um enorme sorriso e joga os longos fios do cabelo comprido para trás, fazendo uma carinha convencida. Observo que ela já perdeu alguns dos dentes de leite, exceto por aqueles da arcada superior.

A acho mais fofa exibindo as suas janelinhas. Se é que é possível.

— Agradeço o elogio. Meu papai e meu irmão dizem o mesmo para mim todos os dias. — conta, parecendo feliz com o fato.

Mesmo não a conhecendo, sinto-me contente por saber que tem boas figuras masculinas na sua vida que a admiram e a faz enxergar sua beleza.

Me abaixo um pouco para ficar o mais próxima possível da sua altura e estendo uma das mãos para ela.

— Eu sou a Blair — sorrio, colocando uma mecha do cabelo curto para trás da orelha — E você? Como se chama?

— Meu nome é Olive, mas todo mundo me chama de Oli. — estende a sua pequena mão também, apertando com delicadeza a minha.

Basta dizer apenas isso e, automaticamente meu cérebro se recorda de onde, de quem e quando escutei o nome Blue. E agora, o nome Olive também.

"— Então creio que o nome possua outro significado. — deduzo.

— Ah, ele tem. Foi em homenagem ao mar. Eu moro praticamente de frente a praia e como a Olive, a minha irmã é completamente apaixonada por ele e pela cor azul, ela o chamou de Blue quando o encontramos ainda filhote. — explica."

Arregalo os olhos, em choque enquanto continuo cumprimentando a pequena Olive em minha frente. Só pode ser uma grande e surpreendente coincidência, certo? Porque, de todos os lugares a duas de distância de São Francisco o Atlas tinha morar justamente em Carmel?

Não é possível, é?

— Moça bonita que se chama Blair? — Oli separa nossas mãos e estala os dedos em frente ao meu rosto, o que me desperta do rápido transe que entrei — Por que se assustou de repente? Viu algum fantasma?

Me levanto novamente e passo as mãos pela calça de cor bege que uso, em um movimento desajeitado e nervoso. De todas as possibilidades, de tudo que imaginei que poderia ver ou encontrar nessa viagem, em momento algum passou pela minha cabeça reencontrar Atlas Beckham. Ou melhor, encontrar sua irmã e o animalzinho de estimação.

Depois que nos vimos pela primeira e última vez, tive plena certeza de que nossos caminhos nunca mais se cruzariam. Digo, ele deixou bem claro que não morava na mesma cidade que eu, então deduzi que as chances eram praticamente nulas.

Mas, aparentemente Deus, o universo ou o destino decidiram que seria uma ótima ideia me fazer estagiar na mesma cidade em que ele mora.

Senhor, Alyssa vai surtar quando eu contar!

Minha melhor amiga com certeza terá uma síncope de felicidade quando for comunicada dessa grande novidade. Já estou até vendo que tipo de comentários aquela desajuizada fará...

— Oh não, Liv! Não vi nenhum fantasma algum, pode ficar tranquila — sorrio — Posso te chamar assim? Você disse que todos lhe chamam de Oli, então pensei em chamá-la de outro jeito.

Sei que, muito provavelmente eu não deveria estar colocando apelidos em uma criança que acabei de conhecer e muito menos começar a criar um vínculo com ela, já que nosso contato será pouco ou inexistente por aqui. Entretanto, não posso evitar.

Olive Beckham — se ela for realmente essa Olive — é simplesmente uma das crianças mais fofas que já tive o prazer de conhecer. Ela só perde esse posto para o Danny atualmente.

Mesmo tendo a ciência de que sou uma completa estranha, a garotinha abre outro sorriso banguela. Acho que o maior e mais animado que a vi exibir para mim até agora.

— Eu gostei, moça bonita! — se anima, também me chamando por esse mais novo apelido — Você é nova aqui? Nunca te vi no restaurante da mamãe. Todo mundo que mora aqui já comeu lá.

Franzo as sobrancelhas.

— Quer dizer então que a senhorita tem uma família dona de um restaurante? — arregalo os olhos.

Geralmente, as crianças se animam e se divertem quando fazemos algo relativamente simples parecer grandioso. E, nesse caso, tecnicamente é a segunda opção mesmo. Atlas não deixou nenhuma pista a respeito disso na nossa breve conversa após o desastre do evento beneficente.

Ela acena em concordância.

Aham! Eu até ajudo ela a cozinhar, sabia? — conta, parecendo muito orgulhosa de si mesma — Já sei fazer bolinhos e drinks!

— Quantos anos você tem mesmo? — questiono, porque ela parece ser inteligente e esperta demais para alguém que, com certeza não tem mais do que sete anos.

— Seis — levanta cinco dedos da mão direita e um da esquerda para me mostrar — E você?

Resolvendo copiar seu gesto, mostro dois dedos de uma mão e mais um na outra.

Olive arregala a boca.

— Você tem quase a mesma idade do meu irmão! — dá pulinhos de alegria e rodopia ao redor do próprio corpo, fazendo o pobre Blue começar latir e rodar junto consigo.

Gargalho da sua estranha animação.

— Isso é tão legal assim? — pergunto, sem entender porque isso é tão bom.

— Claro que é, Blair! Você é só um ano mais nova do que o Atlas, pode namorar com ele!

Meu corpo fica estático ao ouvi-la pronunciar o nome dele. Tudo bem, eu tinha 99% de certeza de que essa menina é a irmã do rapaz que ajudei na festa há um mês. Mas, comprovar isso faz um friozinho diferente surgir na minha barriga e logo trato de afastar pensamentos que eu definitivamente não deveria ter. Obviamente é apenas uma coincidência.

Sim, eu acredito em Deus e que Ele sempre faz os melhores planos para nós. Porém, isso não pode fazer parte dos seus planos.

Ou será que pode?

Balanço a cabeça, tentando afastar esses devaneios intrusos. Isso é ilusão da minha cabeça e, eu não estou a procura de um cara aqui em Carmel. 

Mesmo que esse possível cara seja bonito, educado e gentil.

— Não é assim que funciona, pequena — começo a explicar carinhosamente para que entenda — Não temos que namorar uma pessoa só porque ela tem a mesma idade que a nossa. Ainda mais nesse caso, onde eu mal conheço o seu irmão e...

Ela interrompe minha fala.

— Então você já viu o meu irmão antes?! 

Abro a boca para respondê-la, mas dessa vez, quem corta a minha fala não é a criança bem na minha frente.

Ergo o pescoço para visualizar a imagem do homem que se aproxima de nós — ou melhor, da Olive — e se posiciona na frente do seu corpo de uma forma protetora. Como se estivesse mostrando que está preparado pata defendê-la de quem quer que ouse

— Oli, quem é ela? — ele pergunta, se abaixando para ficar o mais próximo que pode da sua altura, já que é bastante alto.

E forte também. O jovem que aparenta ter menos de vinte e cinco anos aparenta ter um metro de altura e os músculos visíveis em sua pele negra não passam — nem um pouco —  despercebidos.

— A moça bonita que vai namorar com o meu irmão, Dy! — sorri, batendo palminhas.

Esboço um sorriso nervoso, que mais deve se assemelhar a uma careta e logo trato de me apresentar corretamente ao rapaz. Antes que ele pense bobagens.

— Me chamo Blair Coleman. E não, eu não irei namorar o irmão dela. — rio sem graça, optando por utilizar o sobrenome da minha família paterna, porque mesmo não tendo a intenção me exibir ou mostrar o meu status social, acredito que sempre é útil em situações como essa.

Se ele me reconhecer de algum lugar, há uma mínima e pequena chance de que fique menos receoso ao me ver próxima da Olive. Não sei ainda quem é, mas é nítido que se conhecem e que possuem alguma ligação.

O tal "Dy" semicerra os olhos castanhos, inclinando a cabeça levemente para o lado.

— Blair Coleman? A filha do CEO da Coleman Advocacy? — pergunta, retoricamente, sem se apresentar de volta. Por esquecimento ou por estar preocupado demais por confirmar com

Assinto.

— A própria — aponto para meu peito — Já ouviu falar de mim?

— Meu amigo trabalhou para um evento da sua família no mês passado. — diz simplesmente, não dando mais dicas se Atlas lhe disse mais alguma coisa sobre aquele dia.

Ou, se comentou sobre mim.

Acabo pela primeira vez me perguntando se ele pensou em mim depois daquele dia, assim como eu fiz.

Não que eu tenha sido emocionada ao ponto de ter me lembrado dele durante o mês inteiro. Obviamente não foi esse o caso. Somente pensei em Atlas e no seu sorriso fofo com covinhas por mais alguns dias, mas logo ele foi naturalmente saindo da minha cabeça.

Até agora.

— Entendi — digo por fim, fazendo um rápido carinho na cabeça do cachorrinho, que de pequeno não tem nada — Bom, eu tenho que ir agora. Acabei de chegar na cidade e ainda não me instalei na pousada que irei me hospedar.

— Aonde você vai ficar?

— Na Joana's Inn. — respondo, não me preocupando muito em dar satisfação da minha vida a um estranho.

Carmel é uma cidade muito pequena. Tenho certeza que todos os habitantes aqui se conhecem e sabem quem não é daqui e está de passagem. Contar que estou temporariamente aqui vai se tornar um hábito, pelo visto.

— Joana's Inn? — Olive se manifesta, largando a coleira do golden retriever, deixando o cão aos cuidados do adulto ao seu lado e puxa uma das minhas mãos — É a pousada que fica a duas ruas da minha casa e do restaurante da mamãe! Conta para ela, Dylan!

O cara, que agora sei que se chama Dylan não faz nenhuma movimento que indique que vá se aproximar da garotinha que grudou em mim para me afastar dela. Acho que ele percebeu que não tenho intenção alguma de fazer algo contra ela.

— É verdade, senhorita Coleman. A pousada em que ficará está a apenas duas ruas do Beckham's, o restaurante próximo a praia da sra. Jones. — confirma.

O sobrenome da mulher me faz franzir o cenho. Ela não é conhecida pelo mesmo nome que o do seu empreendimento e principalmente, do seu filho mais velho?

A não ser que esse não seja mais o sobrenome que use para se apresentar a sociedade...

— Mas que coincidência... — comento, ainda assimilando todas as coincidências desse dia que está só começando

— Sim! Você pode comer lá todos os dias e me ver, sabia? Todo mundo gosta muito de mim por aqui. — a pequena conta, feliz com o fato de gostarem dela.

Mas a pergunta é: quem seria capaz de não gostar de uma criaturinha fofa como essa?

Não contenho o sorriso.

— Eu ia adorar te ver todos os dias, Liv — seguro sua mãozinha e a faço dar uma voltinha, o que faz seu vestido rodar junto com ela — Pode me mostrar onde fica?

Seus olhinhos castanhos quase brilham.

— Claro que posso! Vamos te levar até lá agora mesmo. Assim, você poderá ver o Atlas de novo e falar com ele!

Solto um suspiro, tentando disfarçar que a chance de vê-lo me deixa um pouco mais animada do que deveria.

Mas, talvez não seja nada demais, certo? É só cumprimentá-lo dessa vez é quando o ver pelo restaurante, caso eu realmente faça as minhas refeições diárias lá e prontinho! Sem caras bonitos ameaçando se infiltrar em meus pensamentos novamente.

Levanto uma sobrancelha quando ouço o grandão em minha frente soltar rápida uma lufada de ar, parecendo não gostar muito da ideia da garotinha.

Estou começando a achar que ele não só está preocupado com ela, mas que também não gostou muito de mim.

Será que falei alguma coisa que não deveria?

Ou pior: será que seu amigo me descreveu negativamente para Dylan ao ponto dele sequer se apresentar direta e corretamente para mim?

Porque, ao meu ver, só isso explicaria a sua falta de simpatia.

— Ok, vamos apresentar o restaurante e a dona Elena a você — diz por fim, provavelmente fazendo menção a sra. Jones — E antes que eu me esqueça, sou Dylan Scott, um dos melhores amigos do Atlas, o cara que foi derrubado por sua prima adolescente, caso não se lembre mais dele.

Não disfarço a surpresa estampada na minha face. Ele sabe seguir o básico da educação e se apresentar, afinal. Porém, a alfinetada não passou despercebida por mim.

É notório que Dylan fez esse último comentário acreditando que eu não me recordava mais de Beckham porque ele não era relevante ou importante de ser lembrado para mim.

Parece que a visão que ele formou de mim é de uma garota rica, herdeira de uma das famílias mais conhecidas do estado e que esnoba as pessoas por ter tudo o que deseja aos seus pés.

Ah, se ele soubesse que o que eu mais desejo não se trata de coisas materiais e que o dinheiro pode comprar...

Sorrio de lado, contendo a irritação crescente por mais uma vez alguém me enxergarem de uma maneira completamente diferente de quem realmente sou e estendo minha mão cordialmente em sua direção.

Espero pacientemente que também levante a sua para me cumprimentar devidamente.

Enquanto isso, um comentário ácido e provocativo quase teima em escapar dos meus lábios, mas o reprimo, sabendo que seria grosseiro e até mesmo um pouco inconveniente.

Se fosse Alyssa no meu lugar, certamente não seria tão gentil. É o que penso.

Assim que segura minha mão direita com a sua levemente, para soltá-la o quanto antes, dou alguns passos para trás e aponto na direção de onde vim, onde o meu carro está estacionado.

— Posso dar uma carona a vocês. Sei que estamos a alguns minutos de distância da pousada e, consequentemente do restaurante. — comunico.

Como eu já imaginava, sua primeira atitude é negar a minha oferta com um aceno de cabeça.

Mas que carinha teimoso!

— Não precisa se preocupar, senhorita Coleman. Posso levar a Olive a pé mesmo, é bem perto. O Blue não gosta muito de carros. — justifica sua resposta usando o golden como desculpa.

Por que tenho a impressão que esse cão adoraria o rápido passeio?

— Bom, você é quem sabe. — dou de ombros, não insistindo novamente.

Posso muito bem chegar até o restaurante Beckham's seguindo o GPS, assim como farei para encontrar a pousada.

— Não, Dylan! Nós vamos com a Blair de carro sim! — a pequena Olive intervém, sendo mais persuasiva do que eu com sua voz infantil e olhar extremamente fofo — Eu só ando de jipe com vocês pra lá e pra cá todo dia. Quero saber como é entrar em um carro de verdade. Por favorzinho!

Pressiono os lábios, contendo o riso com sua insistência exagerada. Porém, decido ajudá-la. Não sou capaz de negar nada para crianças.

Se ela quer vir comigo, teremos que convencer o grandão aqui.

— Vamos lá, Scott! Você não pode negar o pedido de uma garotinha tão fofa como essa, uh? —  faço um biquinho, segurando a mão pequena dela e pegando a coleira do Blue na outra antes que ele possa contestar ou me impedir — Uma carona não vai fazer mal.

Dylan revira os olhos, o que me faz pensar que irá continuar ignorando nossos pedidos, mas sou surpreendida por sua resposta final.

— Que fique bem claro aqui: será apenas hoje que faremos isso, ok? — frisa, encarando a irmã caçula do seu melhor amigo — E, em hipótese alguma você deve aceitar caronas de estranhos sozinha.

— Mas a da Blair pode, né? Eu já até sei o nome dela, então não é uma estranha. — pergunta inocentemente, inclinando a cabeça para olhá-lo, já que a diferença de altura dos dois é, no mínimo grande.

Não seguro a risada dessa vez. Até mesmo Dylan parece não estar se aguentando com os comentários dela.

— Falarei com seus pais para que lhe expliquem o verdadeiro conceito de "estranhos".

Oli dá de ombros e larga a minha mão quando aponto para a direção que devemos ir e dispara a correr em nossa frente, puxando Blue novamente consigo e me deixando sozinha com seu amigo.

— Não pense que a família dela deixará que mantenham tanta proximidade. Você ainda é uma estranha, Blair Coleman. Ser de uma família rica e possuir status não lhe torna uma pessoa confiável.

O encaro por cima do ombro.

— Você pode até ter um bom ponto. Mas, eu definitivamente não preciso provar nada para ninguém. E isso inclui você. — é tudo o que digo enquanto caminho até onde estacionei meu carro anteriormente.

Por Dios! Parece que a minha estadia aqui vai ser mais movimentada do que pensei a princípio.

Blue simplesmente adorou o passeio de carro. Provando que o rabugento estava errado e, eu certa.

Os três — sim, estou incluindo o cachorro — foram sentados nos bancos de trás, com Scott fazendo um esforço quase sobrenatural para manter o enorme golden retriever em seu lugar, já que ele estava doido para saltar pela janela.

Foi visível notar a sua felicidade quando a brisa tocava-o. Blue latia de animação enquanto balançava a língua, completamente agitado, o que o deixou ainda mais fofo.

Se eu pudesse, o teria para mim. Nunca tive um animal de estimação na infância que não fosse peixes em pequenos aquários. Mas, já presenciei e ouvi falar de como cachorros são amigos fiéis ao ser humano.

Estaciono a BMW assim que o GPS — e a vozinha estridente e animada de Olive — me avisa imediatamente que acabamos de chegar na frente do restaurante.

Deixo o carro, sendo seguida pelos meus dois "companheiros de viagem", pegando somente a carteira e meu celular ao invés de levar a bolsa comigo. Não irei demorar aqui, então o essencial irá servir.

— Blair, você não vem? — Olive questiona quando me vê parada no pequeno lance de escadas feitas de madeira que dá acesso ao Beckham's.

É possível sentir o cheiro do mar daqui, assim como enxergar uma parte dele. De fato é um estabelecimento bem localizado e com uma uma bela vista para algumas lojas e casinhas coloridas.

— Estou indo, pequena — sorrio docemente para ela — Só irei avisar a minha família que cheguei bem.

A garotinha abre seu sorriso banguela e assente, dizendo que irá me esperar lá dentro e corre em direção ao local, agora soltando Blue de sua coleira — ironicamente azul — e deixando-o livre para ir aonde quiser agora que está livre.

Ao contrário do que pensei, ele não segue sua mini dona. O golden retriever, próximo aos degraus onde estou começa a latir sem parar e, antes que eu possa assimilar sua reação estranha, o cão dispara para a direita, na direção oposta da que viemos.

Que o levará direto a praia, já que estamos a uns três minutos dele.

Estranho sua atitude, mas como a Olive e o Dylan não se importaram ou se incomodaram, dou de ombros e admiro a entrada do restaurante antes de adentrar nele.

Sua fachada é totalmente feita de uma madeira escura e retocada detalhadamente com tinta. A placa onde tem escrito "Beckham's" é amarela e noto que há algumas luzes de led nas letras, provavelmente para serem acendidas ao anoitecer e atraiam a atenção dos clientes.

Volto os olhos para o aparelho em minha mão e desenho o padrão de tela, desbloqueando-o. Em seguida, acesso o aplicativo de mensagens e procuro pelo contato que quero enviar a mensagem primeiro. Como pouco nos falamos, demoro um pouco até encontrar nossa conversa.

O seu nome ainda está escrito como "papai", junto de um coração azul ao lado. Clico nele e digo vagamente que cheguei.

Tinha sido esse o seu pedido, então estou o fazendo, por mais que sinta vontade de iniciar uma conversa verdadeira. E, deixarei para falar com os demais quando já estiver no conforto da pousada. Conheço a família que tenho e, sei muito bem que dona Eleonor e Evangeline jamais se contentariam com breves e curtas mensagens.

Piso os tênis brancos que estou calçando nos degraus, empurro a porta dupla de vidro e logo me deparo com o restaurante por dentro, sendo seguida de longe por Dylan.

Olho rapidamente ao meu redor, vendo algumas pessoas sentadas nas mesas comendo petiscos de frutos do mar, mas o meu olhar logo é atraído para a minha mais nova amiga, que está conversando com uma mulher atrás do balcão alguns metros a frente. Pela aparência e maneira como observa a garotinha, deduzo que seja sua mãe, a famosa sra. Jones.

— Mamãe, essa é a moça bonita com quem eu fiz amizade agorinha. — Olive diz, apontando para mim quando aproximo-me dela, que está sentada em um dos bancos altos em frente ao balcão.

Aceno para a mulher de expressão simpática, compridos cabelos castanhos, assim como os da sua filha — que deve ter no máximo quarenta anos — e apoio os cotovelos no balcão.

— Então você é a Blair — fala, ajeitando apressadamente o avental verde que usa por cima do vestido de alças branco, dando um sorriso simpático, do qual retribuo — Seja bem-vinda a Carmel. Está de viagem, correto?

— Ah, sim. Vim a trabalho, na verdade. Cheguei não faz muito tempo. — conto.

— Você deve estar com fome — presume, já se adiantando e caminha até uma porta, que provavelmente leva a cozinha — O que você gosta de comer, querida?

Dou de ombros.

— Pode ser alguma torta salgada, se tiverem. Ou qualquer outra especialidade. Fiquei sabendo que a senhora tem o restaurante mais popular da cidade.

Ela sacode a mão.

— É uma gentileza dos cidadãos e da minha maior fã, mas também existem outros restaurantes que servem pratos deliciosos por aqui — direciona o olhar doce para sua caçula — E, pode me chamar somente de Elena. Não estou tão velha assim, apesar de já ter um filho com mais de vinte anos. Acredito que tenha a mesma idade que ele, inclusive.

Contenho uma risada. E lá vamos nós com o papo das idades iguais novamente...

— Tenho vinte e um anos, dona... Elena — corrijo-me.

— Eu estava certa, viu só?! Apenas um ano mais jovem que o meu Atlas — diz — Irei pegar um pedaço de torta para você. Gosta de suco de limão?

Assinto.

— Já volto, querida. Com licença. — pede, entrando na cozinha.

Puxo o banco ao lado de Olive para sentar e me pergunto como uma criança do tamanho dela conseguiu subir nele sem ajuda.

— Sua mãe parece ser legal. — digo para ela.

A menina termina de puxar a água de coco com o canudo e olha para mim.

— Ela é a melhor mãe do mundo e eu a amo esse tanto, oh — abre os braços o máximo que consegue para simbolizar e quase derreto de fofura — Sua mamãe também é legal como a minha?

Esboço um fraco sorriso, sendo acometida pelas lembranças.

— Ela era muito mais do que legal, Oli. Minha mamãe era a melhor pessoa que já conheci e eu também a amava do tamanho do universo.

Seus olhinhos se semicerram, confusos.

— "Era"? Isso quer dizer que ela não é mais tão legal como antes?

Batuco minhas unhas curtas no balcão. Como falar da forma certa de morte com uma criança?

— Tenho certeza que ela ainda é, só que não mais aqui — começo a explicar — Minha mãe ficou dodói e foi para o céu há alguns anos. 

Olive encolhe os ombros e, hesitante, estica a pequena mão para segurar a minha.

— Não fica triste, Blair. Sua mamãe agora é uma estrelinha e cuida de você junto com o Papai do Céu. Mas se quiser, a minha mãe pode te adotar. Ela é bonita e gostou de você. Eu vi.

Sorrio, me sentindo tocada com a sua meiguice e inocência.

— Eu agradeço, pequena — digo, apertando delicadamente sua mãozinha — Só que já estou grande demais para ser adotada, não acha?

Ela nega depressa.

— Ah, não tá nada! Mas ela pode ser sua... Como é que os adultos chamam a mãe do namorado de alguém mesmo?

— Chamam de sogra, sua curiosa — Scott a responde, dando a volta pelo balcão enquanto carrega alguns caixotes. De onde foi que eles surgiram? — E pare de querer arranjar uma namorada para o seu irmão, muito menos de empurrar a Coleman para ele.

Liv estala a língua.

— Você também precisa namorar, Dy. Tá muito irritado esses dias — revira os olhos — Não quero que o Atlas fique igual. Por isso quero que ele namore.

Os latidos altos de Blue interrompem a resposta que Dylan diria — com certeza protestando a fala da pequena Beckham, devido a sua expressão indignada — quando ele entra correndo no estabelecimento.

Ele parece muito contente e animado com algo.

— Ei, garoto! O que foi? — chamo ele com um gesto de mão.

Me surpreendendo, Blue atende ao chamado e vem até minha direção, lambendo meus dedos com sua língua enorme.

— Então quer dizer que você está tentando arranjar uma namorada para mim, tartaruguinha? — uma voz masculina diz, divertida.

E, certamente não é a Dylan ao nosso lado.

Sinto algo se remexer na minha barriga ao reconhecê-la e mesmo já prevendo esse encontro quando esbarrei com Olive e Blue, não consigo evitar me sentir nervosa e estranhamente feliz por escutá-lo novamente.

Não imaginei que meu corpo reagiria dessa forma a ele.

Apoio as mãos na lateral do banco e viro-me rapidamente, me deparando justamente com o rapaz que encontrei há exatamente um mês atrás e tive a certeza de que não nos veríamos novamente.

Bom... até agora.

Meus olhos o escrutinam dos pés até a cabeça. Seus cabelos castanhos estão encharcados e ele está usando uma bermuda listrada azul, sem camisa alguma cobrindo seu tronco, exibindo o abdômen muito bem definido.

Algumas gotas de água escorrem por seus ombros e braços e ele segura uma prancha amarela de surf com as mãos.

Ele surfa?!

Forço-me a não soltar um suspiro admirado. Minha nossa, ele está ainda mais bonito do que quando nos vimos pela primeira vez!

Não acreditei que fosse possível.

Só depois de praticamente secá-lo inteiramente com o olhar, me dou conta de que também estou sendo observada. Mas, parece que ele nem ao menos notou porque está tão ocupado quanto eu fazendo o mesmo.

Sim! Ele me encara de uma forma tão intensa que, por um momento, até sinto minhas pernas fraquejarem um pouco.

Ok, eu não sei mais como lidar ou o que fazer quando um homem bonito e extremamente atraente me observa dessa forma.

Será que deveria ter pedido algum conselho para Alyssa? Ela é um pouco doida, mas entende muito mais do que eu sobre isso.

Além do olhar de surpresa, encantamento e diria até que admiração, há um brilho de reconhecimento em suas íris escuras, mostrando claramente que se recordou de mim também.

— Blair?! — pronuncia meu nome, arregalando os olhos e abrindo um contido sorriso surpreso — É você mesmo?

Levanto-me e coloco as mãos na cintura, contendo a vontade de mexer nos fios agora curtos do meu cabelo.

— Acho que sou eu sim — digo, soltando uma risadinha e tento fazer uma piadinha — Espero ainda ser reconhecível, mesmo com o cabelo curto.

Seu sorriso, antes pequeno se torna maior e Atlas entrega a prancha que segura para um jovem loiro que está ao seu lado — que assim como ele, também veio da praia e provavelmente também surfava — e em seguida se aproxima de mim.

— Creio que você continue sendo a mesma Blair que conheci há semanas atrás — diz, com as mesmas bochechas vermelhas de vergonha de quando nos cumprimentamos pela primeira vez — E eu gostei do seu cabelo novo.

Sorrio de lado e, dessa vez sem me conter, coloco uma mecha para trás da orelha.

Estou começando a achar que o garoto em minha frente não é o único que está com as bochechas coradas.

— Ah, meninos! Vejo que já conheceram a nova visitante da cidade — ouço a voz de Elena — Aqui está sua torta, querida. Espero que goste de atum.

Quebro o contato visual que estava mantendo com Atlas e volto-me para a mãe dele, agradecendo pela comida e o suco que me entrega.

— Na verdade, eu já a conhecia, mãe. Foi para a família dela que trabalhei no mês passado. Aquele evento que te falei que terminou de um jeito um tanto... inusitado.

— Inusitado foi pouco... — Scott sussurra, mas escuto mesmo assim.

Aparentemente, os outros presentes aqui também.

— Pare de ser um resmungão, Dylan! — o rapaz loiro manda — Onde está sua educação?

O amigo levanta os braços em sinal de rendição.

— Mas eu não fiz nada! — se defende.

A irmã caçula de Atlas salta bruscamente de onde estava sentada, quase me matando do coração quando o banco se vira para cair em sua direção.

Seguro-o rapidamente e recebo um olhar agradecido de seu irmão, que também notou o que quase aconteceu.

Ele continua mantendo o mesmo sorriso nos lábios avermelhados. As vezes mais tímido, outras vezes mais expressivos e menos acanhados.

O de agora é um dos tímidos, o que, porém, não impede de suas covinhas ficarem visíveis.

Já havia pensado isso antes, mas elas são capazes de o deixar ainda mais fofo e meigo.

— Fez sim! Você estava implicando com a Blair e dizendo que ela não iria namorar com o Atlas! — a pequena Olive exclama em voz alta e arregalo os olhos, desejando poder cavar um buraco nesse chão e me jogar dentro.

Por que raios ela quer tanto que logo eu namore o seu irmão? Não é possível que não existam outras garotas na vida dele. Não mesmo.

Certeza que dezenas de jovens vão até a praia apenas para ver ele e o amigos surfarem. Não é como se eu fosse ter uma chance.

Não que eu queira uma chance, porque definitivamente não quero.

Não viajei com esse propósito. Nós praticamente nem nos conhecemos!

O cara loiro — que não faço ideia de como se chama — engasga em uma risada alta enquanto se apoia nos ombros de Dylan, que o empurra levemente para o lado, ainda emburrado.

Já o assunto da conversa — assim como eu — está com as bochechas tão vermelhas e obviamente não são efeito somente do sol que estava tomando.

Contudo, ainda há um pequeno sorriso contido em seu rosto. Não como os de antes, — tímidos e depois mais largos — porque esse está aparentando achar graça de toda essa conversa. Mesmo que ainda se envergonhe pelo jeito sem filtro da sua irmãzinha.

— Blair, você mal chegou e já está tornando esse lugar mais divertido do que nunca! — o desconhecido de cabelos lisos loiros e olhos azuis diz, se animando com a pequena confusão que pode está começando a se instaurar aqui graças a miniatura de cupido que arranjei.

Encolho os ombros e desvio o olhar para Olive, fugindo a todo custo dos olhos castanhos que continuam me encarando.

Se Atlas continuar me olhando assim, as coisas vão ficar um pouco difíceis.

— É... Parece que se depender dessa criaturinha aqui, a diversão estará garantida mesmo — digo — E, o meu possível atestado de óbito ocasionado por um ataque de vergonha também.

Ela faz uma careta.

— O que é um "óbito"?

Cidade de Carmel-by-the-sea, ou apenas "Carmel":

(a maioria das imagens retiradas da internet são reais da cidade e mostram, em partes como ela é de fato).

Sim, Carmel é uma cidade que existe na vida real e fica localizada no Condado de Monterey, no estado da Califórnia. Segundo dados de anos anteriores, sua população conta com mais ou menos três a quatro mil habitantes.

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