Capítulo 07: Coragem para dar o primeiro passo
Esse capítulo é dedicado especialmente a MoonS2323.
Obrigada por todo o seu apoio, incentivo e motivação que tem me dado durante esse processo de escrita da história.
Amo você, amiga. <♡
***
Nunca é tarde para voltar para o meu lado
As estrelas em seus olhos brilharam mais intensamente em Tupelo
E se você está cansada de ser conhecida por quem você conhece
Você sabe, você sempre me conhecerá, Dorothea (uh, uh)
Dorothea - Taylor Swift
Inspiro todo o ar que consigo para dentro dos meus pulmões e o solto lentamente, tentando reunir uma coragem que eu pensava que tinha, mas que aparentemente me enganei completamente.
—Vamos lá, Blair. Você consegue! — me encorajo, olhando-me através do espelho da minha penteadeira — Um, dois, três e...
Antes de falar o "já", eu passo a tesoura entre os fios de cabelo que estavam presos em um enorme rabo de cavalo para facilitar o processo e vejo-os caírem ao mesmo tempo no chão.
Automaticamente fecho os olhos, com medo de olhar o meu reflexo novamente e descobrir que meu cabelo está curto demais, totalmente torto ou que possivelmente fiquei careca.
Sinceramente, não sei muito bem aonde estava com a cabeça quando, em um momento de impulso decidi que eu teria capacidade o suficiente para realizar um corte no meu cabelo. Poderia ter ido a um salão de beleza ou até mesmo pedido para Alyssa quando ela chegasse do trabalho, mas não o fiz.
Acho que, na minha cabeça fazia sentido eu ser a pessoa que faria isso. Não se tratava apenas de uma mudança radical no visual, se tratava também de memórias antigas, vivências antigas e principalmente, uma versão antiga minha que eu queria me desapegar enquanto estivesse fora.
Estava na hora de uma Blair com um pouco mais de personalidade assumir o comando.
Por isso, enfim criando coragem, abro um dos olhos para observar o que fiz. E o que vejo quase me faz tombar para trás levando a cadeira junto comigo.
— Blair! Você por acaso viu a minha bolsa perdida por aí? Aquela da Louis Vuitton. Não a encontrei no meu closet e eu preciso muito dela porque... — ouço a voz potencialmente alta da minha amiga e colega de apartamento gritar e antes que eu possa responder algo como resposta, a porta do meu quarto é logo empurrada.
— Minha Nossa Senhora... Quem é essa mulher que está aqui na minha frente e o que ela fez com a minha amiga?
Viro o pescoço em sua direção, antes mesmo de assimilar totalmente o que acabei de fazer.
— Gostou, Aly? Decidi mudar um pouco o visual — dou de ombros, como se não estivesse surtando internamente — Ah, e sobre a sua bolsa, você precisa ser mais específica. Qual da Louis Vuitton? Aquela de oncinhas? A preta? Ou a cor de rosa?
Ela revira os olhos e caminha até mim. Aproveito esse momento para voltar o olhar para o espelho e observo atentamente cada detalhe do meu novo cabelo. Os fios loiros, antes longos e que alcançavam praticamente a minha cintura agora estão curtos e caem acima dos meus ombros.
Apesar de estranhar a novidade e imediatamente sentir falta de como ele era antes, abro um sorriso vendo que combinou perfeitamente com o formato do meu rosto. Tenho a impressão de que ganhei mais personalidade e uma dose de coragem extra com essa mudança radical.
— A bolsa é a de oncinhas, engraçadinha. Mas ela não importa agora, e se eu não a encontrar, posso comprar uma novinha e idêntica — sorri de lado — Ainda estou muito chocada com o que estou vendo aqui. Você ficou ainda mais linda, amiga. Mas nunca imaginei vê-la sem seu típico cabelo de Rapunzel. Quando decidiu cortá-lo?
Pego a tesoura apoiada na bancada da prateleira e estendo para a minha amiga.
— Pode acertar as pontas irregulares para mim? — peço.
Ela assente e se posiciona atrás da minha cadeira, me pedindo para manter a cabeça reta enquanto corta os fios levemente tortos. Não são muitos, mas como não sou nenhuma profissional, não ficou exatamente perfeito. Mas, tudo bem também.
— Eu tomei a decisão hoje mesmo quando estava na empresa. Achei que estava na hora de desapegar. Mas e você? Demorou hoje. — observo, já que em alguns dias ela costuma chegar por volta das dezoito horas e já são quase vinte.
— Estava analisando um dos novos casos que chegou até mim hoje. Um casal está interessado em adotar uma bebê órfã, mas há alguns empecilhos. Sem que eles esperassem, surgiu um parente distante e essa pessoa quer lutar pela guarda da menor. — explica.
Imediatamente entendo a situação.
— Isso significa que...
— Significa que a chance deles ganharem a causa diminuiu consideravelmente agora. Um juiz vai analisar o caso e uma assistente social fará visitas na casa de ambos os interessados pela criança. Se esse familiar, mesmo que distante tenha os mínimos requisitos para necessários para cuida dela, ele ganha o direito da guarda. Ainda mais porque o casal interessado ainda não está casado.
Solto um suspiro.
— Espero que o juiz decida o que for melhor para a bebê. Seja com um parente ou com pais adotivos, o que importa é que ela tenha uma boa vida e seja feliz.
— Eu também penso dessa forma, mas tudo irá depender da lei agora — diz, terminando com o meu cabelo em seguida e me entregando a tesoura - Irei entrar em contato com o casal o mais rápido possível e conversar com eles sobre as chances que temos.
— Vai dar tudo certo. — tento ser positiva.
Aly termina de acertar o corte e coloca a tesoura na bancada, e manda-me virar em sua direção para analisar o resultado final.
— Não é que eu levo jeito para cortar cabelos também? — se gaba, levantando o meu queixo com sua mão enquanto admira seu trabalho — Já posso começar um curso de cabeleireira e ter mais uma profissão. Olha que máximo!
Gargalho alto com seu convencimento exagerado. Mas, ela tem mesmo razão. Meu cabelo conseguiu ficar ainda melhor com as suas habilidades especiais.
— Obrigada, Lyssa. Eu amei. — agradeço, me levantando em seguida e sacudindo todos os vestígios dos fios loiros espalhados por minhas costas e braços antes de ir até a área de serviço atrás de uma vassoura e pá.
Enquanto atravesso o corredor de paredes brancas impecáveis e genéricas do apartamento, me perco em lembranças do tempo que passei morando aqui e, só agora me dou conta de que também sentirei falta dessa minha casa. Estamos há menos de um ano vivendo aqui, visto que esse também é o tempo que Alyssa se formou e voltou definitivamente a morar em São Francisco novamente.
Colecionamos boas memórias aqui, como as noites que intitulávamos como "noite das garotas" e aproveitávamos para nos entupir de pizza de brigadeiro, — a minha favorita — muita pipoca e sorvete enquanto assistíamos séries e filmes antigos. Pelo menos em duas dessas vezes chamamos Evangeline para participar e se divertir conosco. Minha prima ama, porque nesses dias ela tinha liberdade para passar a noite acordada sem ninguém para reclamar.
Não possuo dúvidas de que os próximos meses serão bons e me trarão muitos aprendizados, mas não posso negar que a minha vontade é de colocar minha melhor amiga e a Eva escondidas na mala e levá-las comigo para Carmel.
Mas, também facilitará muito se eu finalmente começar a socializar e fazer alguma nova amizade na cidade. Por mais que saiba e goste de passar um tempo sozinha com meus devaneios e pensamentos, preciso admitir que, pelo menos nessa viagem eu gostaria de me aventurar e sair dessa zona de conforto em que vivo há tantos anos. Acho que não seria nada ruim.
Quando volto para meu quarto, com a vassoura e pá em mãos, vejo minha amiga encarando a enorme mala cor de rosa em cima da cama de casal e uma mochila azul turquesa do lado.
— O que foi? — pergunto ao notar seu olhar desconfiado.
— Vai levar apenas isso? — indaga, surpresa.
Dou de ombros e me aproximo da penteadeira, começando a varrer a sujeira que meus cabelos causaram.
— Acho que sim. Creio que será o suficiente para a minha estadia lá.
Alyssa, ainda sem acreditar, arregaça as mangas da camisa branca social que veste e simplesmente sobe em cima do meu colchão e abre a mala, fazendo uma vistoria dos itens que estou levando.
Não me importo com sua intromissão e curiosidade, afinal já estamos acostumadas a nos meter na vida uma da outra e sei que seu jeito um pouco afobado é exagerado não passa apenas de pura preocupação.
— Como você só está levando uma bolsa, Blair? Só uma! — exclama, indignada — E para piorar, nem é da Louis Vuitton!
Reviro os olhos com o seu drama e jogo os fios de cabelo diretamente na lixeira que mantenho em baixo da escrivaninha que mantenho no cômodo.
Em seguida, caminho até a última porta do guarda-roupa e procuro entre as roupas um objeto de que preciso. Quando o encontro, arrasto a porta para fechá-lo e ando até minha amiga.
— Bom, eu sempre preferi a Chanel, de qualquer forma. — sorrio provocativa e estendo o que busquei para ela — Tome, pegue.
Ela franze as sobrancelhas escuras perfeitamente feitas.
— O que é isso?
— Um presente para você — balanço a pequena caixa em minha mão direita — Não é nada comparado as suas amadas bolsas de grife, mas garanto que é tão valioso quanto.
A garota sorri, surpresa e pega a caixinha da minha mão, apressada para descobrir o que há dentro.
Assim que a abre, observo atentamente seus olhos castanhos se semicerrarem brevemente enquanto encara o presente. E, quando se dá conta do que é do que ele representa, vejo o sinal de uma lágrima ameaçando cair, mas ela a contém.
— Eu não acredito nisso - dá uma risada, desacreditada — Eu sequer fazia ideia de que vendiam um colar como esse...
Aly tira o colar da caixa, levantando-o no ar, me fazendo olhar mais uma vez a joia dourada com uma flor amarela, imitando um crisântemo. O primeiro presente que dei para ela quando tinha quatro anos.
— E não vendem mesmo. Eu pedi para fazerem exclusivamente para você — explico — Como sei que adora objetos únicos e exclusivos, imaginei que fosse gostar desse.
Com sua mão livre, minha amiga puxa a minha, fazendo-me ir até ela abruptamente e me prende em um abraço apertado, quase nos derrubando em cima da mala.
Rimos juntas e devolvo o abraço, apertando meus braços ao redor do seu pescoço, ficando só um pouco na ponta dos pés por ser alguns centímetros mais baixa.
— Ainda não estou acreditando que você lembra que me deu uma flor parecida com essa, só que real, no dia do meu aniversário há o que? Dezessete anos atrás? — quis saber.
— Como eu poderia me esquecer? Minha professora quase teve um ataque quando sumi. — contenho outra risada.
Nos separamos e ela segura as minhas mãos.
— Você sempre conseguiu dar um jeito de fazer o que acredita e isso não mudou agora que se tornou adulta. Estou tão, mas tão orgulhosa de você. — abre um sorriso, com os olhos brilhando. Mas, sem derramar lágrimas. O momento não é triste, afinal.
Não é uma despedida, apenas um até logo. Só é em partes doloroso porque é a primeira vez que sou eu a ir embora em busca dos meus sonhos.
— Também sinto muito orgulho de você. E, sei que vai conseguir ganhar esse novo caso. Por mais complexo que seja.
— E você, senhorita Summers Coleman... — levanta o meu braço, me fazendo girar ao redor do próprio corpo e tropeçar em meus pés — Trate de abalar as estruturas daquela cidadezinha pacata. Faça-me o favor de voltar com um relatório digno de nota mil dos professores e, como um presente do seu retorno, traga-me um cunhado.
Arregalo os olhos com seu pedido, quase engasgando com o ar.
— Não pode estar falando sério. — rio.
Essa garota é inacreditável.
— Ah, mas eu estou. Três meses são o suficiente para se apaixonar e começar a namorar, Blair. Pode muito bem viver isso pela primeira vez num condado belíssimo e encantador.
— Já me apaixonei e fiquei com outras pessoas antes, sabia? — levanto uma sobrancelha.
— Uhum — murmura — E com qual deles você realmente se permitiu ceder ao que sentia e viver um amor?
Pressiono os lábios, sem responder. É, eu me rendo.
— Viu?! Você precisa disso, amiga.
— De um homem? — faço uma careta — Acho que precisar é uma palavra muito forte, não acha?
Ela me dá um peteleco na testa com suas unhas enormes.
— Não estou falando disso, senhorita que finge odiar homens — revira os olhos — Estou falando de se permitir sentir algo por alguém sem medo de acabar dando errado. Sabe, não é porque seu pai se afastou quando mais precisou que todos farão com isso com você, não sabe?
Abaixo o olhar, recebendo suas palavras como um tapa forte e dolorido, porque sei que possui razão.
— Sei que nem todos farão isso comigo, só os...
— Homens, eu sei — balança a cabeça em concordância — Já te disse que deveria buscar terapia para esse seu daddy issues, Blair. Não pode esperar que Ethan simplesmente acorde um dia e volte magicamente a agir como antes de tudo, porque, mesmo que ele decida mudar, o estrago na sua cabecinha aí já foi feito.
— Acho que você já tem uma possível terceira profissão em vista, Howard. — ironizo, me afastando dela e volto até minha mala nada discreta para terminar de guardar o que preciso.
O que, definitivamente, não é uma bolsa da Louis Vuitton.
— Até que eu gosto de psicologia, sabia? Mas, com certeza prefiro lidar com todo aquele clima pesado e caótico do tribunal. Quem sabe você não encontra alguém que trabalhe nessa área lá em Carmel e te convença a voltar para a terapia, hum? — sugere.
— Primeiro um namorado, agora um psicólogo? Eu estou indo trabalhar ou refazer a minha vida? — questiono.
— Talvez os dois? — abre os braços.
Resolvo ignorá-la e volto o olhar para dentro da minha mala, visualizando um objeto novo que não estava entre todas as camisas, shorts e vestidos que havia colocado nesse compartimento.
Sinto todo o sangue do meu corpo se concentrar em minhas bochechas quando noto que o objeto misterioso não é nada mais, nada menos que uma embalagem de...
— Alyssa! — ralho, horrorizada — O que raios significa isso aqui?
Não costumo falar palavras de baixo calão, mas a vontade que sinto agora é de xingá-la usando todos os palavrões possíveis e em todas as cinco línguas nas quais sou fluente. Quatro e meia, na verdade. Ainda confundo algumas palavras em alemão, mas é só questão de voltar a praticar o idioma.
A maluca da minha melhor amiga cobre a boca com as mãos, sufocando um riso ao ver o meu estado alterado e prestes a voar no pescoço dela.
Sacudo o tenebroso pacote laminado com a ponta dos dedos e estico na direção dela, tentando o manter o mais longe possível de mim como se fosse um inseto venenoso.
Ela está maluca se pensa que levarei isso na viagem.
— Essa é apenas uma embalagem poderosa e poderosa que possui 99% de eficácia em te prevenir de doenças e de me fazer ser tia tão cedo. — explica, sorrindo largamente sem a menor vergonha na cara.
Solto um grunhido irritado e, com raiva, arremesso a embalagem em sua direção, agarrando em sua testa, vendo-a fazer uma careta com a possível dor que causei.
Bem feito!
— Agradeço a sua preocupação, querida amiga, mas pode ficar para você —sorrio meigo, ou ao menos tento e falho miseravelmente — Acho que fará um uso melhor do que eu.
Alyssa gargalha.
— Depois não me ligue dizendo que eu não lhe avisei.
Balanço a cabeça negativamente e depois de colocar um boné de cor azul clara na mala, puxo o zíper, finalizando-a com tudo que precisarei não primeiros dias e semanas. Com o tempo, comprarei o resto.
— Acredite quando digo que me apaixonar é me relacionar com alguém está no último tópico da minha lista, Aly. Ou melhor, nem está na lista. —deixo claro para que entenda.
— Veremos, Blair... veremos... — cantarola, indo até a porta do cômodo e abrindo-a, mas logo volta a me encarar — Obrigada mais uma vez pelo presente. Foi o melhor que eu poderia ter ganhado.
Sei que ela não está se referindo somente ao colar, porque o que mais possui são jóias banhadas em ouro como essa, mas sim ao significado por trás, o que representa para nós duas.
Ao invés de lhe responder algo fofo, resolvo provocá-la um pouco.
— Diferente de você, eu sei como presentear uma amiga decentemente. — pisco um dos olhos.
Já com a corrente em seu pescoço, —que acabou de colocar sozinha — ela faz um coração ao unir as duas mãos.
— Eu também te amo, sua loira careta. — e solta um beijo no ar, deixando o quarto em seguida.
Sorrio, negando com a cabeça, sem conseguir me conter. Por que eu sou amiga dela mesmo?
Mais um capítulo publicado, pessoal!
Esse foi um pouco mais curto porque precisei dividi-lo em duas partes.
A segunda será postada na terça-feira.
Nosso casal (que ainda não é um casal) se encontrará novamente antes do capítulo 10. Estou ansiosa para mostrar esse momento a vocês.
Espero de coração que estejam gostando da história. Não esqueçam de deixar seus feedbacks sobre o que estão achando.
Até mais!!
🐟🐚🌊
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