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Capítulo 06: Promessas que podem ser cumpridas

Eu só queria que você soubesse que essa sou eu tentando
Pelo menos estou tentando

This Is Me Trying - Taylor Swift

Peguei a carona para o meu apartamento com meu tio minutos depois de ter desistido de gritar com Evangeline para fazê-la me explicar que raios de ideia era aquela.

Em seguida, corri em disparada de volta para o quarto e troquei o pijama. Eu havia colocado o mesmo vestido preto da noite anterior, já que não tinha mais nenhuma outra roupa minha por lá. O que me lembrou de separar algumas peças de roupa que não uso com tanta frequência para deixar na casa da minha avó no caso de uma emergência como a da noite passada.

O caminho até lá estava sendo mais rápido do que o de costume. Meu prédio não fica muito longe da casa de dona Eleonor e meu tio, apesar de muito prudente e consciente na estrada, estava o fazendo ainda mais rápido do que o de costume dessa vez. Ultrapassando os 100km/h em uma via consideravelmente movimentada às seis e quarenta da manhã.

Sim, eu realmente havia me arrumado em tempo record! O que não me impediria de chegar alguns minutos atrasada na aula, afinal precisava tirar o vestido que usava porque de forma alguma apareceria no campus da universidade parecendo que havia acabado de sair de uma festa.

Não demorei a estranhar a pressa de Nicholas e a forma como ele encarava o caminho a sua frente através do vidro da sua Mercedes, como se estivesse irritado e pensativo antes mesmo do dia mal ter começado.

Diferente do seu irmão, ele não costumava ficar calado por muito tempo, então logo tratei de acabar com todo aquele silêncio sufocante.

— Está tudo bem, tio? — questiono.

Ele nega com a cabeça.

— Estou pensando no que aconteceu ontem — explica — Talvez o Ethan tenha razão. Eu não posso permitir que a Evangeline continue se comportando dessa forma. O acidente de ontem poderia ter sido muito pior. E ainda tem a empresa...

— Eu sei, é realmente muita coisa para se considerar. Mas vocês já tentaram se colocar no lugar dela? A Eva está crescendo e tentando se encontrar. É normal que tenha alguns comportamentos mais rebeldes. Ainda mais depois do que aconteceu nos últimos anos na nossa família.

— Você também enfrentou esses momentos difíceis e nunca agiu dessa forma, Blair — rebate de imediato — Por Deus, você perdeu a sua mãe! Poderia ter se revoltado, aprontado, mas não. Sei que era um pouco mais velha do que minha filha é agora, só que a sua maturidade sempre foi impressionante.

Apenas esboço um sorriso triste enquanto observo a luz do sol iluminando o começo daquele novo dia.

— Não pode comparar duas meninas que tiveram vidas diferentes, tio. Podemos ter crescido na mesma família, mas vivenciamos coisas diferentes. Lidamos com esses acontecimentos de maneiras diferentes porque somos pessoas diferentes. Eva se revolta quando algo a incomoda porque é assim que ela demonstra os seus sentimentos. Já eu me isolo ou então, coloco um sorriso no rosto e finjo que está tudo bem.

O carro fica em silêncio por um longo minuto.

— Já parou para pensar que... — engoli em seco, tentando não deixar a voz embargar automaticamente com as lembranças que invadiram minha mente — Que talvez eu estava sem forças alguma para reagir? Que estava em um poço tão profundo de dor que nem gritar suplicando por socorro me ajudaria?

Sua mão livre, aquela que ele não usava para segurar o volante envolve a minha, — que estava apertando o estofado do banco com força — como se tentasse me transmitir algum conforto.

Ou só dizer sem palavras que de alguma forma me entendia, que pelo menos tentava entender.

— Você foi e continua sendo tão forte, peixinha — ele diz e logo noto que agora era a sua voz que começava a falhar — Desculpe-me por ter lhe comparado com a sua prima. Eu só... não sei como lidar com essa nova fase dela, entende? A única criança que eu vi crescer até agora foi você e como mesmo disse, vocês duas são completamente diferentes.

Assinto.

— Por que não conversam amigavelmente com ela e tenta entendê-la? Pode ser que Evangeline esteja só querendo ser ouvida e compreendida agora. — sugiro.

Ele olha rapidamente para mim.

— Vocês conversaram, não foi? — arqueia uma das sobrancelhas grossas, desconfiado.

Espero que seja apenas sua intuição falando e não que signifique que ele tenha escutado alguma parte da minha conversa com a Eva — ou então, os meus gritos quando aquela maluquinha saiu correndo.

— Sim. E eu entendi o lado dela, apesar de concordar completamente que a atitude de ontem foi errada. Só que um erro não a define. Não quer dizer que ela seja a pior garota do mundo, tio — pontuo — Um pouco mimada em algumas atitudes às vezes? Talvez. Ainda mais levando em consideração a posição social dela. Mas, um pouco de carinho e atenção nunca será demais. Eva pode estar sentindo falta disso.

— Acha que eu e Corine não somos carinhosos o suficiente com ela? — ouço a apreensão genuína em sua pergunta enquanto espera por minha resposta.

— Talvez, mas sei que nunca fariam isso propositalmente. Só que precisam se lembrar que os dois filhos de vocês necessitam de atenção. Não é porque a mais velha deixou de ser uma criança que tem que ser deixada de lado e deixar de ser uma prioridade na vida de vocês.

Observo-o assentir.

— É. Ethan estava certo, afinal... — suspira profundamente — Passei quatro anos o criticando sendo que estava fazendo quase a mesma coisa com a minha filha.

Aperto sua mão de volta com a minha.

— Ainda há tempo de mudar. Basta querer e se esforçar para isso.

Ele precisou separar nossas mãos quando chegamos na rua que nos levava direto ao condomínio que eu moro e diminui a velocidade quando nos aproximamos do meu prédio.

— Seu pai também vai perceber o que anda fazendo e mudar, Blair — disse quando estaciona a Mercedes — É só questão de tempo.

Não o respondo quando abro a porta e a empurro, saltando para fora do carro.

Antes de de me afastar e ir para a entrada do prédio, falo:

— Que não seja tarde demais para a gente quando ele decidir acordar para a vida, então — me preparo para fechar a porta e aceno com uma das mãos em despedida — Obrigada pela carona, tio Nick!

Pela primeira vez no dia o vi abrir um sorriso.

— Tenha um bom dia de aula, peixinha! — acena de volta.

Depois de ter guardado o Ipad dentro da bolsa, me dirigi para fora da sala.

A última aula do dia havia acabado há alguns minutos, porém eu decidi ficar por mais um tempo sozinha na sala enquanto resolvia a pequena burocracia da minha hospedagem em Carmel.

Como lá é uma cidade pequena, não tem muitos hotéis. E a maioria dos lugares para ficar por um tempo são pousadas. Então aproveitei que uma delas, a mais próxima da região da praia onde farei os trabalhos na área costeira — e alguns submersa no mar — com a equipe responsável e meus colegas de estágio está com alguns quartos disponíveis e já reservei o meu.

Pelo o que vi no site, não é nada grandioso, mas será espaçoso e confortável o suficiente para acomodar uma única pessoa por três meses. Provavelmente só ficarei por lá para dormir e cumprir com a minha obrigação virtualmente na empresa, porque durante o dia estarei na praia trabalhando.

Também pretendo conhecer alguns pontos turísticos, como um aquário enorme que fica em outra cidade do condado de Monterey. Vai ser nostálgico relembrar momentos de quando estive ali com a minha família. Quando ela ainda estava completa.

Empurro a armação transparente do óculos de grau que estou usando quando sinto-a escorregando pelo meu nariz. Apesar de preferir usar entes de contato quando estou fora de casa, terei que esperar alguns poucos dias até que as novas que encomendei fiquem prontas.

Posso sobreviver até lá sem elas.

— Coleman? — uma voz masculina familiar me faz desviar os olhos do corredor das salas de aula em minha frente e virar para trás.

Suprimo a expressão de espanto — que deve ter se assemelhado muito com uma de pavor — e me forço a parecer amigável mesmo desejando internamente sair correndo.

— Noah! — sorrio nervosa, surpresa por sua aparição repentina, mas aceno rapidamente para ele.

Meu colega — se é que ainda posso chamá-lo assim — dá alguns passos em minha direção, aparentemente prestes a me abraçar, mas automaticamente dou um passo para trás, impondo uma pequena distância entre nós.

Sua expressão antes animada por me ver murcha um pouco e quase me sinto culpada. Mas então me lembro que estou que estou fazendo isso para não partir um pouco mais o seu coração e disperso esse sentimento.

— Fazia tempo que não mais nos víamos pelo campus. Senti sua falta. — assume, colocando as mãos no bolso da calça jeans escura.

Encaro o homem branco, de olhos esverdeados e com curtos fios de cabelo ruivo em minha frente sem saber ao certo o que dizer.

A última vez que nos vimos foi no começo do semestre, há quase nove meses atrás e, desde então nossos caminhos ainda não tinham se cruzado em nenhum momento. O fato de eu cursar biologia marinha e ele arquitetura certamente interferiu nisso, pois temos aulas em lugares diferentes da USF.

O que foi algo bom, porque eu não saberia como o encararia todos os dias depois de negar seu pedido de namoro em um dos melhores restaurantes de São Francisco que, para piorar, estava lotado de clientes nos observando como atentos telespectadores de um momento que era para ser de comemoração e não de constrangimento.

— Pois é — pressiono os lábios, sem graça — Estudando muito?

— Oh, sim. Ainda tenho mais semestres pela frente, diferente de você que já se formará esse ano, certo?

Assinto.

— Sorte a minha. — dou uma risada aliviada. Seria bom me formar logo, me ver livre da faculdade e me dedicar de uma vez por todas à minha vocação.

O único ponto não tão positivo será precisar começar outra graduação. Uma que não faz meus olhos brilharem nem um pouquinho.

Mas se é pelo bem da família e da Coleman Advocacy, o farei, mesmo não muito feliz. Acho que isso faz parte da vida adulta. Assumir obrigações que não lhe satisfazem para cumprir com um propósito.

Mesmo depois de terem se passado dois anos daquele fatídico pedido de namoro, Noah Smith ainda me lança um olhar cheio de significado, que ao invés de me desconcertar e me fazer corar como antes, só me faz querer ir embora devido ao constrangimento que eu sentia pelo que tinha feito.

Ok, jamais aceitaria namorar com alguém por quem não sabia se retribuía os mesmos sentimentos. Eu gostava do Noah, havíamos nos tornado amigos em pouco tempo e sua companhia foi uma das poucas que tive nessa faculdade devido a minha mania de viver isolada e me afastar de pessoas que não sejam a minha família — isso inclui a Alyssa.

Só que com o tempo, nossa amizade acabou se tornando algo a mais e quando notei, nós dois já estávamos trocando beijos as escondidas como dois adolescentes. O que, apesar de ter acontecido repentinamente em uma tarde ensolarada enquanto tomávamos sorvete nos bancos de uma praça, não foi do dia para a noite.

Mesmo tendo sendo criada rodeada de amor e afeto, relacionamentos amorosos nunca foram o meu ponto forte. Como contei a Evangeline, meu primeiro beijo só ocorreu no final dos meus dezessete anos, durante o baile de formatura do high school.

Eu sei, parece emocionante e romântico ao mesmo tempo, porém, nunca namorei com o garoto. Estávamos apaixonados um pelo outro, ele era gentil comigo, mas tinha a sensação de que a possibilidade de um relacionamento sério jamais duraria por muito tempo. Sua família tinha planos de se mudar para a Itália, enquanto eu permaneceria aqui, focada na entrada da faculdade e nos meus estudos. Lidar com uma relação a distância seria muitíssimo complicado para duas pessoas tão jovens e com metas diferentes.

É, parece que eu costumo ser a midnight rain de diversos sunshines por aí...

Então, quando Noah admitiu estar se sentindo atraído por mim, — fato esse que eu já havia percebido, mas preferi manter a informação e disfarçar até que confessasse — não foi uma surpresa. Como ainda não tinham sentimentos mais sérios envolvidos e eu também me sentia da mesma forma por ele, não me importei em ficarmos por alguns meses.

Até que as coisas evoluíram entre nós e, finalmente percebi que poderia estar gostando dele, então me assustei, porque tive medo de que passasse de um simples "gostar" e um dia ele acabasse indo embora também. 

Então, ao invés de dar voz ao que sentia e permitir que meu coração pudesse amar alguém, decidi acabar de uma vez quando fui pedida em namoro, afirmando — mesmo sendo uma mentira — que tudo o que tivemos não passou de um lance sem compromisso e que não me via em um relacionamento com ele.

Soa um pouco cruel e provavelmente isso é uma pauta que deveria ser levada a minha psicóloga, caso eu ainda tivesse uma. Parei de frequentar as sessões com a Luna logo depois de "terminar" com o Noah, porque simplesmente não queria ter que lidar com mais essa questão. Trabalhar e aceitar a morte da minha mãe, mais a distância do meu pai já eram dolorosas o suficiente. 

Não queria passar pela dor para aprender e crescer, mesmo no fundo sabendo que ela é necessária e que só me tornei a mulher que sou hoje graças a ela. Mas, sendo sincera? Trocaria tudo o que conquistei até aqui por um último abraço, uma última conversa com a mamãe. Para que tudo voltasse a ser como era antes.

— Blair? — ouço a voz de Smith me chamar e balanço a cabeça, voltando a focar nele. Havia me esquecido completamente de que ainda está em minha frente — Está tudo bem? Você ficou... estranha e com o olhar distante de repente.

Dou de ombros, sem força alguma para forçar mais um sorriso e aperto a alça da bolsa no meu ombro direito, respirando fundo enquanto desvio rapidamente o olhar para o meu par de all star cor de rosa em meus pés. A universidade é um dos ambientes que me permite ser menos formal e mais eu mesma. E genuinamente, adoro isso.

— Estou sim, eu só acabei me perdendo em alguns pensamentos. Sabe como é, último ano da faculdade, mudanças... — digo, sem querer me explicar muito.

Não posso deixar que confunda as coisas quando já se passaram anos.

— Compreendo. Mas, se você estiver precisando espairecer, jogar conversa fora e beber um pouco, é só me falar. Ainda deve ter o meu número. — dá um sorriso de lado.

Jogo o rabo de cavalo para trás dos ombros.

— Na verdade, não tenho mais. 

Noah ri.

— Você continua a mesma pelo visto, Blair. É impressionante.

— Espero que seja um elogio. 

Acabo rindo também.

— Ah, com certeza é — dá uma piscadinha e a expressão surpresa que surge em meu rosto é instantânea, o que faz ele fazer uma careta — Foi mal, não pude evitar. Você pode até estar namorando e eu estou aqui, praticamente dando em cima de você.

Ele ainda continua sendo gentil e educado como antes, mas não posso permitir que isso continue. O que nós dois tínhamos acabou há anos, não posso deixá-lo acreditar na possibilidade remota de voltarmos a ficar juntos e ter algo oficial dessa vez.

Pensando nisso, decido ser o mais clara possível novamente. Mesmo que acabe magoando-o, será melhor do que deixá-lo ter esperança. Até porque, já se passou um bom tempo desde que tudo aquilo aconteceu. Não tem motivos para ele continuar nutrindo os sentimentos que parece ter por mim.

Pelo menos deveria funcionar desse jeito.

— Não estou namorando, Noah. Mas, isso não significa que eu esteja interessada em um relacionamento agora — digo, tentando soar o mais delicada possível — Você é incrível, tenho certeza de que um dia alguém especial verá isso.

Eu vi, mas fui medrosa e fugi por medo de onde esse sentimento poderia me levar.

Balanço a cabeça para tentar afastar esse pensamento e sorrio levemente para ele. Noah tenta retribuir meu sorriso, porém, é perceptível que não está muito satisfeito com a conclusão da nossa rápida interação. 

— Tudo bem, Blair. Eu entendo — fala, parecendo realmente compreender, apesar dos pesares — E espero que também encontre alguém especial que a faça perceber que não precisa fugir.

Faço uma careta. Não esperava que ele fosse dizer na minha cara que fugi dele. No entanto, não levo para o pessoal. É a verdade, afinal.

— Quem sabe, não é?

— É… quem sabe.

Três semanas depois...

A minha última semana em São Francisco antes da viagem para Carmel está sendo mais agitada do que o esperado.

Mais de vinte dias se passaram desde o evento beneficente promovido pela Coleman Advocacy, mas as coisas ainda não haviam voltado ao normal na minha família.

Graças a Deus não aconteceu mais nenhuma confusão que pudesse resultar em uma discussão que afetaria os nervosos de todos nós. No entanto, se o clima familiar já não estava sendo um dos melhores, tudo desmoronou após a festa.

Meu pai se distanciou ainda mais de nós, — e eu nem achava que isso era possível — passando apenas a falar comigo quando estávamos na empresa e por mensagens através de e-mails formais e genéricos sobre assuntos relacionados ao trabalho. O que triplicou nas últimas semanas.

Era como se ele estivesse me enchendo de trabalho antes da viagem a Carmel para me sobrecarregar. Estranhamente, eu agradecia silenciosamente por isso.

Se eu conseguir adiantar boa parte das responsabilidades do meu papel na Coleman, terei mais tempo para me dedicar da forma que desejo ao real motivo da minha ida até o Condado vizinho. Então, não estava chateada ou brava com ele.

Pelo menos não por isso.

Mas sim pelo fato dele sequer ter designado um minuto do seu dia para me mandar uma mensagem normal. Sem todas aquelas formalidades de chefe e funcionária e algo mais parecido com uma relação de pai e filha — mesmo que não a tenhamos mais de verdade.

Não que ele fosse de perguntar sobre o meu bem-estar com frequência, é claro. Ethan raramente fazia isso, até porque, eu sempre dizia que estava bem, mesmo não estando. Em momento algum quero que pense que estou querendo chamar a atenção e atrapalhar sua obrigação de comandar a nossa empresa.

Hoje, inclusive, é um dos dias em que a minha cabeça parece que vai explodir em milhares de partículas. O barulho dos saltos cor de rosa que uso parece estar martelando os meus tímpanos enquanto caminho até o elevador, com o objetivo de chegar até o quinto andar, onde fica o setor dos secretários — lugar em que trabalho os auxiliando com toda a papelada, contratos com sócios e compromissos que meu pai e meu tio devem comparecer.

Falando neles, a relação andava a pior possível. Se antes já não estavam tão próximos, depois da última atitude de Evangeline, agora eles nem fazem mais questão de fingir se suportar.

Enquanto Ethan ainda culpa a sobrinha pelo desastre do evento que foi criado por sua falecida esposa, Nicholas devolve plenamente a sua raiva, só que pelo fato — palavras que ouvi sair da sua boca enquanto conversávamos com dona Eleonor — dele ser um covarde que não admitia que precisava e que já deveria ter buscado ajuda, ao invés de despejar sua dor em todos ao seu redor.

Querendo ou não, concordei silenciosamente com meu tio, porque ele realmente estava certo. Seu irmão mais velho que é muito cabeça dura para admitir que não está bem e que ainda não superou a quantidade de perdas que teve em sua vida em dois anos.

Primeiro, foi o meu avô devido a complicações em decorrência de um ataque cardíaco. Pouco tempo depois, a descoberta do câncer que surgiu no corpo da minha mãe e, por causa dessa maldita doença, não só a perdemos como também ao meu irmão que nem cheguei a conhecer.

Tudo o que sabemos dele é que era um menino. August havia sido o nome escolhido pelos meus pais batizá-lo, o que nunca ocorreu efetivamente, é claro. Mas, me sinto um pouco feliz sabendo que mesmo em seu curto período de existência dentro da barriga da nossa mãe, ele teve um nome, foi muito amado e desejado pela família inteira.

Os médicos nos disseram, que mesmo que Alexia não tenha começado a quimioterapia durante a gravidez, — decisão essa que ela bateu o pé firmemente para não tomar, porque se recusava a prejudicar seu bebê de alguma forma, mesmo que fosse para salvar sua própria vida — sua doença, de certa forma impactou em seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, não temos como ter uma certeza absoluta.

Talvez August já não tivesse chances. Talvez ele não resistisse mesmo se ela não tivesse desenvolvido um tumor. Talvez...

São muitos "talvez", muitos "e se". Acho que são essas diversas possibilidades que correm meu pai de pouquinho em pouquinho desde aquele ano até hoje, quatro anos depois.

Não posso dizer que não choro, que não sinto e sofro um pouco todos os dias pela partida precoce deles, porque seria a maior mentira de todas. Nos primeiros dias após a morte dela, pensei que não aguentaria. A dor era insuportável e parecia esmagar os meus órgãos de uma só vez. Nada parecia ajudar. Nem o abraço mais confortador e nem o remédio mais forte para me fazer dormir por uma noite inteira.

Até mesmo sob o efeito de medicação, eu cheguei a sonhar com a minha mãe. Várias e várias vezes.

Lidar com a sua partida doía, mas era ainda mais doloroso vê-la sofrendo em meus sonhos. Em nenhum deles ela estava bem. Em nenhum estava minimamente em paz como as pessoas costumam dizer que os mortos ficam após partir depois de passar por tanto sofrimento e dor nesse mundo.

Seus olhos azuis idênticos aos meus irradiavam tristeza. Em momento algum uma palavra foi dita. Não. Mamãe apenas permaneceu em silêncio, sendo rodeada por uma névoa branca bastante parecida com uma neblina enquanto me encarava fixamente. Me perguntei se estavam enganados e ela sentia dor aonde quer que estivesse. Se não aceitava sua morte. Se meu irmãozinho não estava ali e ela estava sozinha.

Perguntas e mais perguntas. Eu tinha tantas para lhe fazer naquele momento... Mas não consegui abrir os lábios para proferir uma única palavra. Não sei se por na época fazer menos de uma semana em que veio a óbito e de todo o sepultamento, ou se eu era impedida de falar naquela realidade. Acho que nunca saberei.

Me obrigo a afastar esses pensamentos assim que as portas do elevador se abrem e entro rapidamente dentro da cabine, apertando a bolsa rosa que carrego ao lado do corpo depois de apertar o botão do quinto andar.

Viro-me para o enorme espelho atrás de mim e observo o meu reflexo. Estou usando as minhas novas lentes de contato que foram entregues no meu apartamento há duas semanas. Amém, aliás!

Geralmente só coloco os óculos de grau em casa, porque assim não corro o risco de cochilar com as lentes e acabar — Deus me livre — ficando cega.

Minha vestimenta do dia é composta por um blazer branco por cima de uma blusa de tom rosa claro e uma saia justa que alcança quase a altura dos meus meus joelhos. Ambas as peças da Chanel.

Não há regras específicas de quais cores de roupa os funcionários devem vestir para trabalhar na empresa, desde que sejam peças sociais. No entanto, existem recomendações quanto a extravagância. Nada muito colorido ou acessórios exageradamente chamativos.

Por isso, sempre opto pelos tons mais suaves possíveis quando não venho trabalhar vestindo um vestido preto básico. Apesar de combinar e me sentir bonita usando cores mais fortes, prefiro as mais claras — que são as que estão em grande maioria na minha paleta de cores.

Faço um biquinho com os lábios cobertos por uma camada fina de gloss quando jogo algumas mechas do meu cabelo solto para trás dos ombros, deixando-as caírem no meio das minhas costas e tento arrumar os fios loiros que bagunçaram conforme eu vinha para cá.

Gosto do meu cabelo. Do seu tom e comprimento, porém, já faz uns bons anos que não faço uma grande mudança. Pelo o que me lembro, a última vez que realmente o cortei foi semanas depois de completar dezoito anos. Desde então, só vou ao cabeleireiro aparar as pontas, acertar o corte reto e hidratá-lo. Nunca nem mesmo o pintei.

Uma ideia repentina e completamente maluca surge como uma lâmpada amarela acesa em minha mente e ao invés de afastá-la para o fundo da minha mente, analiso-a com cuidado.

Hum... Talvez não seja tão ruim assim mudar para variar um pouco, afinal. Eu irei passar um tempo em outra cidade, fazendo um trabalho onde o meu cabelo comprido e certinho demais certamente não se encaixariam.

Acho que está na hora de me desapegar de algumas coisas dessa minha vida e me preparar para a nova que me aguarda.

Assim que coloco os pés para fora do elevador, sinto alguém esbarrar com força em mim, fazendo com que eu tropece nos saltos e quase tombe para o lado.

Algumas pastas transparentes que aparentemente estavam nas mãos do apressadinho ou da apressadinha caem com tudo espalhadas no chão e rapidamente me agacho para ajudar quem quer que as tenha derrubado a recolhê-las.

— Aí, meu Deus! — ouço a voz feminina exclamar — Me desculpa, Blair. Eu estava com tanta pressa que nem avistei o elevador abrindo.

Assim que reconheço sua voz, sorrio.

— Sem problemas, Heather — digo, me levantando e estendendo as pastas em sua direção — Eu também deveria ter prestado mais atenção no caminho, mas estou tão apressada quanto você, aparentemente.

A mulher coloca uma mecha do cabelo cacheado de um tom claro de castanho — que se assemelha ao dourado — atrás da orelha e devolve o sorriso.

— Imagino que também esteja tendo trabalho dobrado para fazer, não é? — revira os olhos — Acho que todos aqui estão atolados até o pescoço de tantos documentos e papeladas para entregar em tempo record!

Franzo as sobrancelhas.

— Então não é apenas comigo que Ethan decidiu não pegar leve essa semana? — pergunto, confusa.

Eu tinha certeza absoluta que meu pai havia decidido fazer isso única e exclusivamente por causa da minha viagem que esta marcada para amanhã.

Heather estala a língua.

Puff, que nada. Aquele lá não para de chegar com cada vez mais casos novos na empresa. Nossa sorte é que temos muitos advogados competentes e que darão conta do recado, porque, caso contrário, nós estaríamos encrencados.

Concordo com a cabeça e dou uma rápida olhada ao redor, procurando ver se o assunto da nossa conversa não irá surgir ao ser mencionado como nos filmes, mas não vejo nem mesmo a sombra de Ethan Coleman por aqui.

Trabalhamos no mesmo andar, mas raramente nos cruzamos, somente quando sou chamada em sua sala por Heather ou algum outro funcionário.

A mulher de trinta e seis anos na minha frente é secretária do meu pai há um ano e eu havia me tornado sua auxiliar desde então.

Nós duas nos damos muito bem, ao contrário do antigo secretário que era terrivelmente mandão e que aproveitava que estava, no momento em um cargo mais alto do que eu para infernizar a minha vida aqui dentro da Coleman. Mas, graças a Deus que ele precisou pedir demissão porque se iria se mudar da cidade.

Trabalhar ao lado de uma pessoa como Heather era um alívio e conforto ao mesmo tempo durante as horas que passo aqui dentro. Eu a considero uma boa colega de trabalho, quase uma amiga mesmo. Ela é divertida e, diferente de alguns funcionários da empresa, não faziam de tudo para idolatrar meu pai e tratá-lo como se fosse um rei para conseguir, quem sabe um dia, uma possível mudança de cargo.

Ah não. Heather Lester o detesta! É até engraçado vê-la fazer caretas logo depois de voltar da sala dele.

Isso não me incomoda, porque eu mais do que ninguém sei como o nosso amado chefe sabe ser inconveniente e exigente além do necessário. Principalmente no seu ambiente de trabalho.

— Acho que o lado positivo de toda essa correria é ver que a Coleman nunca fica sem um processo judicial para resolver. — respondo.

— Tem razão, Blair. Dessa parte não podemos em hipótese alguma reclamar.

Assinto.

Quando eu volto a caminhar em direção  a minha mesa, dessa vez com Heather ao meu lado, ouço a voz de Ethan Coleman bem atrás de nós duas.

— Espero que não estejam atrasando o trabalho de vocês com conversas paralelas pelos corredores da empresa. Nós temos muito trabalho a fazer. Principalmente agora que uma das nossas funcionárias irá passar uma temporada fora. — diz, referindo-se a mim, claramente.

Viro o pescoço para trás a fim de encará-lo.

— Lembre-se que essa funcionária vai continuar trabalhando a distância, chefe.

— De quem vocês dois então falando? — a secretária do meu pai pergunta, confusa e curiosa ao mesmo tempo.

É, eu ainda não havia contado para ela. Acredito que quase ninguém aqui da empresa saiba, assim como os meus primos, já que estou adiando até os últimos dias para poder contar.

Sinto que meu coração vai se partir em vários pedaços, mas preciso ir atrás dos meus próprios objetivos. Eles ficarão bem. Evangeline em breve já sairá do castigo e confesso que ela está se esforçando para se comportar, tanto na escola como em casa. A diretora não precisou fazer mais nenhuma queixa para seus pais e nenhuma advertência foi feita.

Não sei se isso mudou porque meu tio seguiu meu conselho e decidiu conversar com a filha. Mas, seja lá o que tenha acontecido entre eles, está dando certo.

— Senhorita Lester, eu acredito que alguns assuntos pessoais não lhe dizem respeito.

— E, eu acredito que seja um direito meu saber se a minha assistente irá se ausentar temporariamente, senhor Coleman. — a mulher cruza os braços, abraçando as pastas que carrega.

Arregalo levemente os olhos com o pequeno e costumeiro atrevimento da minha colega de trabalho, percebendo os olhos verdes do meu pai brilharem de irritação.

As íris de um tom castanho tão claro que quase se assemelha ao amarelo de Heather só faltam saltar das órbitas, devolvendo o sentimento.

Eles permanecem por alguns segundos assim, apenas se encarando em completo silêncio e com uma raiva crescente, causando tensão no ambiente. O que faz alguns funcionários que estão passando por nós pararem para observá-los, mas se afastando em seguida quando levanto uma sobrancelha em suas direções.

Bando de enxeridos!

— Bom, então já que ela é a sua assistente, aconselho que conversem a respeito da ausência dela a partir de amanhã no trabalho — ele quebra o silêncio depois de um tempo — Porém, façam isso com mais privacidade e longe dos ouvidos curiosos. Apenas amanhã comunicarei a partida da Blair para que não comecem com os comentários enquanto ainda está aqui na empresa.

E some esperar por qualquer resposta de nós duas, o homem se afasta, mexendo discretamente no nó de sua gravata.

É isso mesmo? Ele se preocupou em evitar com que a Coleman se tornasse um verdadeiro burburinho antes de eu ir embora?

O que isso significa? É somente um detalhe bobo e sem importância? Ou ele quis impedir que eu fosse alvo de comentários e até mesmo possíveis teorias da conspiração antes de ir embora?

— Então, você vai mesmo viajar, Blair? — Heather enfim pergunta, assim que nos aproximamos de nossas mesas.

Observo-a colocar as pastas que carregava em cima da sua, sentando-se em sua cadeira em seguida.

— Uhum — confirmo enquanto repito seus movimentos e ligo o computador, esperando para ter acesso as pendências da empresa — Irei para Carmel realizar o estágio do meu curso. Passarei os meses das férias de verão lá e voltarei em setembro.

Serão exatamente três meses adquirindo mais experiência e colocando em prática tudo o que aprendi durante esses quatro anos me dividindo entre salas de aula, aquários e praias. Meu retorno para São Francisco será uma semana antes do meu aniversário de vinte e dois anos.

— Querida, isso é maravilhoso! O Condado de Monterey é lindo e você com certeza vai aproveitar muito com essa experiência — ela comemora, realmente parecendo feliz por mim — O único lado ruim é que você vai fazer bastante falta aqui. Vou trabalhar sozinha e precisar aguentar nosso chefe sem ter alguém para reclamar.

Dou risada.

— Não se preocupe, nós nos falaremos semanalmente para resolver os assuntos do trabalho e, com isso podemos aproveitar para colocar o papo em dia e fofocar um pouquinho. — dou uma piscadinha, que é retribuída, como se fosse um acordo secreto, algo apenas nosso.

Sinto um leve aperto no peito, misturado com uma sensação acalentadora ao lembra-me brevemente da minha mãe. Nós duas costumávamos ter um momento apenas nosso para conversar sobre trivialidades do dia a dia e comentar sobre a vida de conhecidos e sócios nossos.

Percebo que também irei sentir falta da presença de Heather enquanto estiver fora.

— Combinado então — diz, e penso que irá encerrar o assunto por aí e começar seu trabalho, mas a mulher me surpreende ao segurar de repente minha mão entre as suas — Faça uma boa viagem, Blair. Aproveite tudo o que essa cidade tem a oferecer, todas as suas vivências e experiências. Você merece experimentar ares novos e conhecer pessoas diferentes.

Assinto, apertando suas mãos também enquanto pisco os olhos para afastar a leve umidade que se acumulou neles. Malditas emoções pré-viagem!

— Pode deixar. Irei fazer de tudo para que esses sejam os melhores meses da minha vida. — digo, com uma certeza e confiança que nem eu sabia que existia.

Mas, independente do que aconteça em Carmel, uma coisa é certa. Eu irei aproveitar cada oportunidade nova que surgir pelo caminho sem pensar no amanhã. Ou na data em que tudo acaba e eu retorno para casa.

Dessa vez... irei somente tentar viver. Não existir como faço na maioria das vezes.

E, ao invés de prometer isso só para a minha mãe, prometo para mim também.

Oii, gente! Tudo bem com vocês?

Espero que tenham gostado do capítulo.

Nesse conhecemos uma personagem nova e que eu gosto muito, a propósito. A Heather é incrível e não aceita ser contrariada (nem mesmo pelo seu chefe). 🗣

Ainda a veremos bastante daqui em diante. Já aviso para se prepararem.
👀

Tentarei voltar logo.
Um beijo para vocês e até mais!

🐟🐚🌊

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