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Capítulo 04: Novas oportunidades e decisões tomadas

Neste mundo, somos apenas nós
Você sabe que não é igual a como era antes
Neste mundo, somos apenas nós
Você sabe que não é igual a como era antes
Como era antes, como era antes
Você sabe que não é igual

As It Was - Harry Styles

Sinto o meu corpo estremecer ao encarar a figura do meu pai parada no batente da porta.

Será que ele escutou alguma parte da minha conversa com Alyssa? É o que eu estou me perguntando desde que o vi abrir a porta.

— Oi, tio Ethan! — Alyssa quebra o silêncio pesado que se instaurou entre nós se referindo a ele da maneira que costumava fazer quando éramos mais novas e passávamos a maior parte do nosso tempo juntas.

Na época, meu pai adorava ser chamado dessa forma. Mas agora, a julgar pela expressão de descontentamento — ainda que discreta — que começa a surgir aos poucos em seu rosto revela que ele não está nem um pouco satisfeito.

Alyssa sabia do humor que ele provavelmente ainda estaria depois do desastre que foi o nosso evento beneficente anual, mas, acredito que ela tenha tentado apenas descontrair o ambiente e acabar com o péssimo clima.

O que não deu muito certo.

— Eu estou no meio de uma reunião familiar agora e preciso conversar com a Blair, Alyssa. Creio que esse não seja o melhor momento para visitas — meu pai diz, não fazendo a mínima questão de retribuir o cumprimento da minha amiga ou fingir ao menos ser simpático — Posso pedir para um dos meus motoristas levá-la para casa em segurança. Já está tarde.

Arregalo os olhos, em completo choque. Ele está mesmo praticamente mandando ela embora? De uma casa que nem sequer é dele, a propósito!

Desvio o olhar rapidamente para o lado, esperando encontrar minha amiga tão surpresa e indignada quanto eu, mas tudo o que vejo é Alyssa mantendo a sua postura inabalável como de costume e exibindo um fraco sorriso nos lábios que, quem não a conhece pensaria que ela está tranquila com essa situação.

Mas, justamente por eu a conhecer melhor do que ninguém noto como ela está se forçando a ficar calada e não dizer uma única palavra. É como se fosse alguma espécie de técnica para não perder o controle perante alguém.

Realmente parece uma característica de uma advogada para não debater além do necessário com um juíz e sofrer as consequências por isso.

Acontece que eu já estou começando a perder o meu autocontrole desde aquela festa.

— Pai, a Alyssa é praticamente da nossa família. Ela é da família! — exclamo, tentando ainda manter a calma.

— Blair, não tem problema — minha amiga se pronuncia — Eu preciso ir para casa de qualquer forma mesmo, já está tarde e amanhã tenho um caso para analisar.

Cruzo os braços e batuco os saltos que havia calçado novamente após estacionar o carro com raiva contra o chão. Eu sei que ela realmente tem muitos compromissos a trabalho amanhã, mas a forma como está sendo colocada para fora daqui não é nada justa.

— Mesmo assim, não é para ser dessa forma. Mas o meu queridíssimo, importantíssimo e exemplar pai não parece ser tão educado quanto diz. — respondo, arqueando uma sobrancelha, sem me preocupar em estar passando dos limites de educação e obediência pela primeira vez.

Sinto a mão da minha amiga segurar o meu pulso, como em um pedido silencioso para eu ficar quieta e solto o ar, tentando fazer isso.

Observo Ethan pressionar os dedos em suas têmporas, parecendo estar cansado demais para discutir comigo agora. Ou, ele só está tentando se conter para não despejar todas as frustrações em cima de mim.

Pelo menos não com alguém para presenciar.

— Eu não irei repetir de novo, Blair. Já ofereci um meio de levar sua amiga até o apartamento de vocês e não irei adiar a nossa conversa. Ainda mais agora que descobri que temos um assunto a mais para tratar.

Não consigo esconder o choque, por mais que já imaginasse que ele havia sim escutado algum momento da conversa com Aly. E pelo visto, foi justamente o mais importante e que eu mais temia a sua reação.

— Como você conseguiu escutar atrás dessa porta enorme de madeira?! — pergunto e mesmo sabendo que isso não é muito relevante, é algo curioso que faço questão de saber.

Ethan solta uma longa lufada de ar, nitidamente se irritando cada vez mais.

— Eu estava abrindo a porta justamente quando vocês duas começaram a falar sobre a sua viagem, Blair. Mas me mantive em silêncio e demorei a revelar que estava presente. — explica.

Cruzo os braços.

— Agora deu para escutar conversa atrás da porta, pai? — questiono, brava por não poder nem conversar com a minha amiga em particular.

Ele, parecendo cansado de dar ouvidos para sua filha que aparentemente só sabe tirá-lo do sério, — mesmo quando ela está com a razão — faz menção de entrar para a mansão novamente, mas não sem antes segurar a porta e fazer um sinal com a cabeça para que eu o siga de uma vez por todas.

Sentindo-me derrotada, encolho sutilmente os ombros e viro-me na direção de Alyssa para me despedir.

— Me desculpa por isso, Aly. Eu realmente não estou entendendo porque ele está tão bravo comigo. — suspiro.

Ela balança a cabeça e segura as minhas mãos, apertando-as delicadamente entre as suas e me arrasta discretamente até onde a minha BMW está, tirando-nos de perto da casa da minha avó e consequentemente, do meu pai.

Rapidamente percebo que sua intenção é fazer com que ele não escute novamente o que ela quer conversar comigo.

— Não acredito que seja com você, Blair. Ethan provavelmente está chateado e irritado com tudo o que aconteceu essa noite. Nós sabemos a importância que aquele evento tem para ele agora. — justifica, tentando me mostrar outro ponto de vista.

— Mesmo assim, não é justo, sabe? Meu pai não foi o único que perdeu a Alexia. Eu também a perdi! — exclamo, talvez um pouco mais alto do que deveria.

Sinto a minha garganta começar a doer levemente com a vontade de chorar que surge repentinamente e me forço a engolir o bolo que se formou. Não posso me render a esse sentimento porque sei se permitir que o choro venha, não conseguirei controlá-lo.

A crise de ansiedade que tive essa noite no salão de festa já foi o suficiente para hoje.

— Eu sei, querida... — ela sussurra, apertando mais as minhas mãos — Mas acho que seu pai está tão afundado e preso nessa dor que não consegue perceber o mundo ao redor dele. Que ainda há uma família aqui, querendo voltar a ser unida como era antes.

Mordo os lábios.

— Infelizmente, acho que nunca mais voltaremos a ser como éramos antes.

Reunindo coragem, me afasto da minha amiga e tento esboçar um sorriso — que muito provavelmente deve ter se parecido mais com uma careta — e levo minha mão direita até o decote do meu vestido preto para alcançar as chaves do carro.

Aly arregala os olhos e deixa uma risada escapar ao me ver fazendo isso.

— O que foi? Não é isso que todas as mulheres fazem quando estão sem uma bolsa? — levanto uma sobrancelha.

— Tem razão. Eu mesma faço isso. — em seguida, ela aponta para o decote do seu próprio vestido e mostra que está com as chaves do nosso apartamento.

Acabo não controlando a risada que escapa dos meus lábios ao ver que fizemos a mesma coisa só para não precisarmos sair com bolsas.

— Aqui — estendo para ela — Pode ir com o meu carro, amanhã eu peço para um dos motoristas aqui me levarem ou pego um táxi até a universidade.

— Tem certeza?

Aceno positivamente e coloco o pequeno molho de chaves em suas mãos.

— Te vejo amanhã depois das minhas aulas — aviso — Como estamos nas últimas semanas antes das férias de verão, os professores estão passando mais trabalhos e avaliações do que nunca.

Choramingo internamente só em lembrar que no dia seguinte terei que acordar antes das sete horas da manhã. Mesmo que já seja um hábito, acho que nunca irei fazer isso de bom grado. Ninguém deve fazer, na verdade, mas as obrigações diárias nos obrigam a isso.

— E eu te vejo quando chegar do escritório, provavelmente depois de você. Amanhã aibda é a minha segunda semana na Coleman, então não posso me dar o luxo de não cumprir com os meus horários. — lembra-me e concordo.

Alyssa começou a trabalhar oficialmente na Coleman Advocacy como a mais nova advogada contratada na semana passada, poucos meses depois de se formar em Direito. Minha amiga, obviamente procurou outras empresas após o seu tempo de estágio lá ter terminado, alegando que não gostaria que as pessoas pensassem que ela apenas conseguiu o cargo devido a proximidade das nossas famílias e não pela sua capacidade profissional.

Porém, seus serviços prestados foram tão bons que foi impossível não ter chamado atenção dos nossos funcionários, colaboradores e sócios. Então, mesmo demonstrando certa resistência para aceitar no início, Alyssa deu o braço a torcer e reconheceu que havia feito por merecer aquela oportunidade.

E, se escutar alguém falar qualquer coisa contrária, minha amiga fará o que faz de melhor: deixará isso para lá. Afinal, serão somente boatos de pessoas amarguradas e não a verdade sobre ela ter se esforçado durante anos para chegar aonde chegou.

Sinto um grande orgulho dela.

Nos despedimos com um abraço, beijos na bochecha e com seu sussurro de "Boa sorte" para mim e espero-a entrar pela porta do motorista e ligar o carro para comunicar:

— Não destrua a minha BMW, sua doida! — grito antes dela arrastar o meu pobre carro para longe dali e colocá-lo em perigo.

Vejo-a sorrir e levantar uma das mãos para me lançar um beijo no ar e acenar em despedida.

O clima divertido que se instaurou nesses últimos segundos se esvai quando ouço um arranhar firme de garganta e recordo-me que meu pai ainda está esperando a minha boa vontade de entrar dentro de casa.

Endireito a postura, tentando parecer indiferente e passo como um furacão por ele quando atravesso a porta de entrada, não parando para olhá-lo e nem perguntar o que tanto conversa com a nossa família nessa tal "reunião familiar".

Seja o que for, tenho certeza que descobrirei assim que pisar os pés onde, há anos atrás costumávamos nos reunir para jogarmos conversa e passarmos um tempo juntos, sem essas discussões desnecessárias.

Antes de perdermos as pessoas que amávamos e tudo virar de cabeça para baixo.

— Blair! — Evangeline é a primeira a me chamar, ou melhor, praticamente gritar assim que entro na sala de estar.

Não presto atenção nas outras pessoas da nossa família e vou quase correndo até ela, querendo saber o que aconteceu e como está se sentindo.

A garota está sentada no enorme sofá de estofado branco, com as costas bem apoiadas em travesseiros e com a perna anteriormente machucada enfaixada e devidamente esticada, não permitindo que ela a dobre.

Suas roupas também não são mais as mesmas de algumas horas atrás. Eva agora está vestindo um short preto simples e confortável e usando um moletom branco com a frase "Karma is a Cat", de uma música do novo álbum da cantora Taylor Swift. Isso me faz abrir um largo sorriso sincero.

Eu fui a responsável por transformar minha prima em uma Swiftie da nova geração. Sempre ouvia as canções em sua presença e mencionava a cantora a todo momento, fazendo questão também de lembrá-la que seu segundo nome é igual ao dela.

Certamente não foi proposital, afinal meus tios não eram fãs dela quando Corine estava grávida, então foi apenas uma questão de gostarem mesmo. A garota conforme ia crescendo não gostava muito de ter um nome composto, muito menos aceitou tão facilmente se tornar uma fã e até mesmo criticava os ícones que chamamos de músicas, com toda certeza para me provocar, já que esse era o seu passatempo favorito na infância.

E eu, como a maioria dos adolescentes, não sabia ficar calada — mesmo se tratando de uma criança pequena — e retribuía suas implicâncias, até o dia em que ela finalmente percebeu o que estava perdendo e se rendeu aos encantos da loirinha. Foi há quase cinco anos atrás e eu quase soltei fogos de artifício por toda São Francisco de tão empolgada que estava.

Hoje em dia, Evangeline é a minha mini parceira de aventuras — devidamente legalizadas, é claro — e a pessoa que se une comigo e com Alyssa para escutar as músicas do Reputation, 1989 e Red, que são os nossos álbuns favoritos, respectivamente.

— Oi, meu amor — é a primeira coisa que digo ao me agachar ao seu lado e apoiar levemente a mão no seu joelho da perna que não está ferida — Como você está?

A garota afasta alguns fios rebeldes do cabelo castanho que nesse momento está preso em um rabo de cavalo e balança os ombros.

— Estou viva, né? — brinca — Mas acho que estou bem também, pelo menos foi o que a médica me garantiu depois de arrancar os cacos de vidro da minha perna e enfiar aquela agulha gigantesca na minha pele.

Reprimo uma risada da sua maneira exagerada de falar. Adolescentes...

— Quantos pontos você levou?

Eva faz uma careta.

— Uns vinte pontos. Tudo isso naquele quarto de hospital, Blair! — reclama, indignada.

Não aguento mais segurar e explodo em uma risada.

— Do que você tanto ri, querida? — ouço minha avó indagar quando se aproxima de nós duas com uma bandeja e três xícaras de porcelana exalando o cheiro de chocolate quente com canela. Os nossos favoritos.

— É o que eu também gostaria de saber, vovó — a menina resmunga, cruzando os braços sobre o peito — Ela só está achando graça porque não foi ela quem foi furada por uma anestesia super dolorida e depois remendada como uma boneca de pano.

Dessa vez, é dona Eleonor quem pressiona os lábios ao colocar a bandeja de madeira sobre a mesa de superfície de vidro em frente ao sofá e se senta a direita da neta mais nova.

— Eu não estou rindo por causa do sofrimento que passou, Evangeline — esclareço — É que o seu comentário me lembrou de uma música, apenas isso.

Ela franze as sobrancelhas finas.

— Deixe-me adivinhar... É alguma da Taylor, não é?

— Aham. — sorrio.

A garota desvia o olhar para os móveis atrás de mim e batuca o dedo indicador no queixo, tentando se lembrar.

— Out of the woods! — exclama depressa.

Concordo com a cabeça e me levanto do chão, sentindo meus joelhos protestarem por terem ficado alguns minutos nessa posição e me sento do lado oposto onde nossa avó está.

— Eu não faço ideia do que estão falando, mas acho que vão querer um chocolate quente, não vão? Prometi que faria para vocês e aqui está. — dona Eleonor aponta para as xícaras e faz menção de se esticar para pegá-las, mas a impeço com um movimento de mão e eu mesma trato de fazer isso.

Seguro duas das xícaras com cuidado pelas alças e as entrego para vovó e Evangeline, só então pegando a que sobrou para mim.

— Estávamos falando da nossa cantora favorita. — explico a ela.

— Aquela quem tem o meu nome do meio. A senhora se lembra?

— Ah, mas é claro que sim! Como poderia me esquecer da mulher responsável por ter feito as minhas netas quase estourarem os meus tímpanos ao cantarem as músicas dela? — brinca com a gente, o que me faz encará-la com o mais puro choque.

Eu não canto tão mal assim!

— Vovó, mas que insulto! Eu fiz aula de canto durante muitos anos e posso garantir que não sou tão ruim assim. — me defendo, tomando um gole do chocolate quente em seguida, sentindo o vapor tocar o meu rosto, me aquecendo.

A cidade não está tão fria ultimamente, visto que estamos nos encaminhando para o verão. Mas, isso não nos impede de apreciar uma deliciosa bebida quente.

— Eu também! Nunca quebrei espelho nenhum ao cantar, sabia? — Eva resmunga, com os lábios já sujos pelo chocolate.

Minha avó aperta levemente a sua bochecha.

— Claro que não, queridas. Estou apenas brincando com vocês, ou pensaram que apenas a nossa sapeca aqui pode fazer piadas? — responde — Ela não levou vinte pontos, Blair. Foi um grande exagero da parte dela.

Estalo a língua. Por que não me surpreendo.

— Eu deveria ter suspeitado disso.

— Sabe como sua prima aumenta os fatos, querida — tia Corine diz, também se aproximando e tocando o cabelo da filha com a mão — Graças a Deus e a Nossa Senhora que ela está bem. Eu fiquei apavorada com a possibilidade dos cortes terem sido mais profundos.

— Acho que todos nós ficamos, tia — termino de beber o resto do chocolate e coloco a xícara de volta na bandeja — Essa mocinha nos deu um grande susto hoje.

— E isso porque foi ela quem causou o próprio acidente. — a voz do meu pai soa de repente no cômodo, me fazendo lembrar de sua presença na casa.

Quando entrei as pressas, segui diretamente para cá porque sabia que toda a nossa família estaria reunida aqui, então não fiquei para trás o esperando. Até porque, quanto mais a nossa conversa demorar, será melhor para mim.

— Não vamos começar com esse assunto novamente, Ethan — tio Nicholas o corta — Minha filha já passou por coisas demais por hoje e precisa descansar.

Meu pai abre um sorriso sarcástico que quase me dá arrepios de tensão e sinto Evangeline colar seu corpo ao meu aos poucos, como se quisesse se esconder.

Passo um dos braços ao seu redor, mantendo-a abraçada a mim.

— Depois de estragar o meu microfone, invadir uma festa reservada somente para adultos, derrubar um garçom e se machucar no processo, creio que ela realmente esteja cansada — ironiza — E espero que arrependida também. Não que isso mude alguma coisa, é claro. O estrago já foi feito.

Pior que preciso concordar com ele dessa vez.

— Eu tenho certeza que ela já aprendeu a lição e que não fará mais isso novamente, não é, querida? — minha avó intervém.

— Não. — Eva sacode os ombros, indiferente a situação, por mais que tivesse demonstrado estar receosa há poucos segundos, ela me parece bem confiante agora.

Pisco algumas vezes com sua resposta e noto o rosto de Ethan começar a ficar vermelho de tamanha irritação.

— Como assim, Eva? — questiono.

— É simples: eu não me arrependo de ter estragado a festa. De ter me machucado e atrapalhado o garçom em seu trabalho sim, mas de resto não.

Fecho os olhos por um momento, já imaginando o que virá a seguir.

— Vocês viram que eu estava tentando, não é?! Mas dessa forma fica impossível — meu pai reclama, mais irritado do que antes enquanto anda em círculos pela sala — Essa menina está sem limites e nem o Nicholas e nem a Corine fazem nada para ensinar bons modos a ela.

— De novo com esse assunto, Ethan? Achei que já tivesse deixado bem claro que Evangeline é minha filha e que da educação dela quem cuida sou eu e a minha esposa.

— E, aparentemente vocês estão cuidando tão perfeitamente bem da filha de vocês que ela até foi parar no hospital. Francamente, Nicholas, precisamos admitir aqui que você não sabe como criar os seus filhos. — retruca, me fazendo arregalar os olhos com a alfinetada.

Todos ficamos chocados com sua resposta, até mesmo Evangeline fica estática ao meu lado.

Já o meu tio, ele irrompe em uma risada nada engraçada e encara o irmão mais velho com uma raiva que eu nunca havia visto antes. Nem mesmo em outras discussões que envolviam o comportamento da minha prima ou a rede de empresas da nossa família.

— Ah, e por acaso você sabe como ser um bom pai, Ethan? — pergunta retoricamente, ficando a poucos passos de distância dele, encarando-o fixamente — Que eu saiba, negligenciar a filha quando ela mais precisa de você não é uma atitude que um pai de verdade deveria tomar.

Ihhhh! — a garota ao meu lado sussurra e a repreendo com o olhar, pedindo silenciosamente para que não diga mais nada que piore a situação.

Presto bastante atenção as reações do meu pai. Num primeiro momento, ele parece assimilar o que meu tio disse e fica imóvel por alguns segundos, sentindo o impacto daquelas palavras que não atingiram somente a ele, mas a mim também.

Eu sei que Nicholas está certo, assim como Alyssa também estava quando conversamos, mas ainda assim não é algo fácil de se lidar, porque, talvez Ethan nunca perceba o vem feito desde o dia em que a mamãe morreu.

E sendo sincera, já perdi quase todas as minhas esperanças de que um dia meu pai voltará a ser o homem gentil, carinhoso e amável que um dia foi.

— Não opine sobre o que você não sabe, Nicholas. — o mais velho grunhe, verdadeiramente irritado com a afirmação do outro.

Noto como seu queixo treme, só não sei se é por ter sentido que essas palavras são reais ou por discordar delas.

— Não sei o que estou falando? — meu tio aponta para si mesmo — Eu vi e acompanhei de perto o sofrimento da sua filha quando perdeu a mãe, enquanto você fez o que? Se afundou no trabalho e deixou uma menina de dezessete anos enfrentar o luto sozinha. O segundo da vida dela.

Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto sem que eu possa controlar e antes que possa enxugá-la, sinto um olhar fixo em minha direção e levanto a cabeça, vendo meu pai me observando.

Rapidamente passo a mão no rosto, limpando qualquer vestígio de choro que possa ter ficado nele e me repreendo mentalmente por ter deixado, mesmo sem querer, que ele visse a minha reação a essa conversa.

Não queria demonstrar nenhum sinal de fraqueza em sua frente. Evitei fazer isso durante todos esses quatro anos e gostaria que continuasse desse jeito.

— Vocês dois, parem com isso agora mesmo! — dona Eleonor se levanta em um rompante, interrompendo o primogênito de retrucar uma resposta novamente — Quando foi que eu os ensinei a brigar e acusar um ao outro dessa forma? Vocês são irmãos e nós somos uma família! Devemos permanecer unidos, apoiando uns aos outros e não o contrário.

Seus filhos se mantém em silêncio, agora a uma distância significante um do outro.

— Eleonor está certa. Já passou da hora de fingirmos que está tudo bem quando, definitivamente não está! Do que adianta mostrarmos ao mundo que somos uma família feliz quando estamos longe de ser? Mas que hipocrisia é essa? — Corine é quem toma a palavra dessa vez, mostrando o quanto também está cansada de tudo isso.

Acho que essa é a primeira vez que a vejo tão irritada e chateada. Exceto pelos momentos em que sua filha apronta alguma coisa.

— Vocês duas tem razão, não podemos continuar dessa forma — Nicholas encolhe os ombros — Muito menos na frente das meninas.

— Ei! Eu não sou mais uma criança. — Evangeline reclama.

— Muito menos eu. — digo, com a voz baixa e um pouco rouca do choro que ainda me forço a segurar.

Acho que assim que eu estiver sozinha irei precisar colocá-lo para fora. O mais rápido possível.

— Nem eu, papa! — a fofa voz familiar infantil e um pouco embolada soa no cômodo e todos nós voltamos nossos olhares para o dono dela — Você e a mamãe disseram que eu já sou um rapazinho!

O garotinho, filho caçula dos meus tios e o xodó da família caminha a passos lentos usando o seu pijama verde de dinossauros e segurando uma manta entre uma das mãos, que provavelmente estava enrolada nele enquanto dormia.

É notório que nosso querido Daniel deu um pulo da cama e veio participar da conversa.

— Sim, você é o nosso rapazinho — Corine diz, pegando o filho que mais se parece sua versão mirim masculina no colo — Mas ainda continua sendo uma criança de três anos e não deveria estar acordado a uma hora dessa.

— Mas é que eu perdi o sono, mamãe.
— choraminga.

Esboço um fraco sorriso ao ver meu primo esfregar os olhinhos com as mãos e soltar um longo bocejo, escondendo o rosto no pescoço de sua mãe em seguida, recebendo um carinho nos fios do cabelo escuro.

Danny nasceu um ano depois da morte de Alexia e foi o responsável por trazer felicidade a nós depois de tantas perdas. É só uma pena que ele não tenha conhecido nosso avô ou a minha mãe. Tenho certeza que eles se dariam muito bem.

— Estou indo para casa — Ethan fala, depois de passar longos minutos após a discussão em silêncio — Mas, antes irei conversar com a Blair primeiro.

Tento ao máximo não demonstrar em minha expressão o meu desagrado. Uma hora ou outra esse momento iria chegar. Até que ele demorou, para falar a verdade.

Disposta a encerrar isso de uma vez por todas agora, me levanto e passo as mãos pelo vestido longo e justo que grudou ainda mais na minha pele e me inclino para deixar um beijo no topo da cabeça de Eva.

Não deixo de reparar no olhar preocupado da minha avó, que desvia de mim para o meu pai.

— Tem certeza disso, Ethan? Já está tarde e sua filha deve estar cansada... E você também não deveria dirigir tão tarde. Pode ficar até amanhecer. — ela sugere, mas o homem nega.

— Já fiquei por tempo o suficiente e como nada mais será resolvido, não tenho nada para fazer aqui — diz, sem pensar se está sendo grosseiro demais ou não — Tenho outros problemas para resolver.

— Se você insiste, tudo bem. Apenas vá com cuidado, querido.

A expressão severa do seu rosto amolece com a preocupação de sua mãe, um dos raros momentos que o vejo demonstrar que ainda existem sentimentos dentro da casca grossa que ele costuma exibir.

— Eu irei, mãe — garante — Avisarei a senhora quando chegar para não deixá-la preocupada.

E, sem esperar por uma resposta e sem se despedir do resto da nossa família, ele sai da sala e entra em um dos corredores da mansão

Ouço o suspiro pesaroso da minha avó quando passo por ela e aperto levemente sua mão, seguindo o caminho de Ethan, que provavelmente nos levará até o escritório que antes era usado pelo meu avô.

— Que Deus possa abençoá-lo e abrir os seus olhos. Antes que acabe sendo tarde demais.

Franzo as sobrancelhas com seu comentário, mas não pergunto a respeito e apenas continuo seguindo em frente.

—Não acho que você deva ir. — é a primeira coisa que ele diz assim que fecho a porta de madeira do escritório.

Me encosto na parede e dou uma rápida olhada no local. O cômodo continua da mesma maneira que o meu avô deixou, exceto pelo novo quadro que foi acrescentado na mesa com a foto de Daniel. Provavelmente dona Eleonor foi a responsável por esse feito, visto que ela é a dona da casa e a pessoa que mais entra aqui. Não somente para resolver assuntos da empresa, mas também para tentar diminuir um pouco a saudade do esposo.

Ela nunca deixou de mencioná-lo em nossas conversas e é nítido que nunca o esquecerá. Foram muitas décadas juntos e um amor que pude presenciar poucas vezes com os meus próprios olhos.

— Pois eu penso o contrário. — respondo.

Ethan esfrega as têmporas com a ponta dos dedos mais uma vez, sem disfarçar que provavelmente está com uma baita enxaqueca. Coisa que ele aparentemente vem tendo com frequência. Principalmente depois que sua sobrinha começou a sabotar as festas que passamos um ano inteiro preparando.

— Você é uma criança, Blair. Não sabe nada sobre a vida ainda. Como pensa que vai viver sozinha pela primeira vez em um condado onde não conhece ninguém? 

Solto um suspiro, cansada do assunto que mal começou.

— Não sou mais uma criança faz anos, pai. Irei completar vinte e dois em setembro e já sei me cuidar. Já tenho meu próprio apartamento, se esqueceu? — levanto uma sobrancelha.

— Apartamento esse que você divide com a sua amiga e que eu também pago, caso não esteja lembrada.

Me aproximo da mesa que nos divide, apoiando as mãos em cima da superfície de vidro. Meu pai faz o mesmo do outro lado, só que colocando suas mãos sobre a poltrona. Acho que ele quer acabar isso logo tanto quanto eu que nem se dará ao trabalho de permanecer sentado.

— Não me esqueci disso — retruco, irritada — Mas, eu posso lhe garantir que posso sobreviver em outra cidade. Nem fica tão longe daqui, a propósito. Apenas duas horas de viagem. Ficarei fora durante as férias, então posso conciliar o estágio do meu curso com o emprego na Coleman virtualmente. Não vai ser difícil.

Pelo menos é o que eu quero que ele acredite para que não continue tão contrariado com essa novidade. Por mais que legalmente posso decidir livremente a minha vida profissional, eu não queria ir embora sem a sua aprovação e estando brigada... Ele ainda é meu pai e eu sou sua filha, não é? O mínimo que devemos fazer é respeitar as decisões um do outro.

Ele faz uma pausa por um momento, parecendo pensar em algo.

— Quando você vai?

— Daqui a três semanas. Um pouco mais, na verdade.

— Acha que consegue dar conta de resolver as suas demandas na empresa? Temos alguns clientes novos e você, como uma das assistentes dos secretários, é fundamental que fique auxiliando nesse processo. — explica.

Aceno positivamente com a cabeça.

Mesmo sendo filha do CEO da empresa, não comecei e nem estou perto de assumir um grande cargo. Comecei a trabalhar na Coleman Advocacy pouco antes dos dezoito anos, depois de uma série de entrevistas e exigências que quase me tiraram o sono na época.

No entanto, sempre achei justo e nunca reclamei, porque jamais quis ser vista como a garota que conseguiu um cargo apenas por sua influência na sociedade e não por suas próprias competências. Eu podia fazer o meu próprio nome.

Eu gosto do sobrenome Coleman, mas todos sabem quem eu sou apenas ao mencioná-lo... Ou melhor, sabem quem a minha família é. Afinal, poucas pessoas da nossa sociedade se interessaram em saber quem é a verdadeira Blair Summers Coleman.

Uma pessoa que, eu confesso, ainda estou descobrindo também. Não é fácil para todos encontrarem o seu lugar no mundo, o lugar onde você realmente pertence e o que você nasceu para fazer. É uma busca e persistência diária, para ser sincera.

— Sim, eu consigo dar conta de tudo, não precisa se preocupar com isso. Sei bem das obrigações que devo cumprir. — garanto mais uma vez.

Ethan esfrega uma das mãos no rosto, aparentemente para tentar disfarçar a tensão ou preocupação evidente em seu rosto. A empresa é importante demais para ele, então não me surpreendo por vê-lo assim. Até pensei que sua reação seria pior, que ele, mesmo que não costume fazer isso, gritasse comigo ou quisesse de alguma forma me impedir de ir para o Condado de Monterey. Ainda mais depois do que minha prima aprontou hoje.

Só não sei se me sinto aliviada por ele não estar dando tanta importância ou receosa, afinal, não sei o que pode significar.

— Vou confiar no seu senso de responsabilidade com a empresa e permitir que trabalhe online enquanto estiver fora, Blair — comunica por fim, quase me fazendo sorrir por perceber que conseguimos chegar a um acordo sem discutir — Para qual cidade você vai mesmo? Tudo o que entendi é que será em um Condado próximo.

— Isso que dá escutar uma conversa atrás da porta. — murmuro.

— O que disse? —indaga, se afastando da poltrona acolchoada e indo em direção a porta.

Ele está com tanta pressa para ir embora assim que nem se importou em demorar mais do que dez minutos conversando comigo. Se é que o que aconteceu aqui pode ser chamado realmente assim.

Pareceu mais uma rápida reunião de negócios entre o chefe da empresa e sua funcionária. O que de fato somos, mas somente na Coleman e não em casa.

Não sei porque ainda me importo. É claro que ele só estaria preocupado com o meu desempenho e com o prejuízo que posso causar na sua empresa do que com o motivo que me levará a me ausentar por um tempo.

— Carmel. Eu vou para Carmel, no Condado de Monterey — ignoro sua pergunta e respondo a anterior — Aquela cidadezinha que eu, você e a mamãe fomos visitar no meu aniversário de quinze anos.

Confesso que ao citar uma das nossas últimas viagens em família, pensei que o faria permanecer aqui por mais tempo, que relembraria um dos nossos momentos mais felizes, que ao menos esboçaria um sorriso — sem ser aqueles sarcásticos e irônicos — e se sentiria nostálgico de uma maneira boa.

No entanto, tudo o que Ethan faz é parar no meio do caminho, como se tivesse sido atingido por alguma lembrança ruim — efeito completamente oposto ao que eu esperava — e fecha os olhos verdes claros com força, tentando esquecer o que tanto te atormenta.

Depois disso, ele segue seu caminho normalmente até a porta, abre-a e tudo o que fala antes de batê-la é:

— Boa noite, Blair.

E com isso, meu pai vai embora de uma vez por todas.

Olá, pessoal!
Como vocês estão?

O capítulo atrasou um pouco, mas enfim veio aí. Me esforcei para trazê-lo logo antes que me enrolasse ainda mais e não desse para terminá-lo.

Não sei exatamente quando voltarei agora, visto que preciso estudar mais do nunca para uma disciplina que está quase acabando comigo. (Filosofia, por que me odeias?)

Me desejem sorte para que eu faça uma boa prova na sexta-feira e possa voltar mais empolgada do que nunca para escrever.

Espero que estejam gostando da história até aqui. A partir do próximo capítulo já começaremos a dar início a verdadeira jornada desse livro.
Estou ansiosa para mostrar o que planejo hihi.

É isso, gente.
Um beijo para todos vocês, se cuidem e até breve!

🐟🐚🌊

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