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Capítulo 03: Uma proposta irrecusável

Adeus, adeus, adeus
Você era maior que todo o céu
Você era mais do que um curto período de tempo
E eu tenho muito o que lamentar
Tenho muito o que viver sem
Eu nunca vou saber

O que poderia ter sido, teria sido
O que deveria ter sido você
O que poderia ter sido, teria sido você

Bigger Than The Whole Sky - Taylor Swift

— Prontinho! Trabalho concluído com sucesso. — digo após jogar um dos sacos de lixo na lixeira em minha frente.

Passo as costas de uma das mãos em minha testa, removendo a pouca quantidade de suor que se acumulou nessa região. Não acredito que eu suei apenas porque varri alguns cacos de vidro. Acho que realmente não estou acostumada a fazer esse tipo de coisa.

— Até que não demoramos muito. — o garoto ao meu lado, que agora sei que se chama Atlas diz, fazendo o mesmo que eu depois que me afasto da enorme lata de metal cinza.

— Tem razão. — respondo-o, concordando.

Ele de fato está certo. Acredito que nós não passamos mais que trinta minutos limpando toda aquela bagunça no chão, mas aparentemente foi tempo o suficiente para os poucos convidados que restaram irem embora do salão após o meu pai gentilmente avisar que a festa havia acabado.

Não me passou despercebido que alguns deles até quiseram se despedir de mim, mas mudaram de ideia quando me viram varrendo os pedaços de vidro quebrados em direção a pá que Atlas segurava. Essa atitude só provou que a maioria daquelas pessoas só se importam com a minha classe social e não comigo de verdade. Mas eu não ligo para isso, afinal é algo que sempre esteve bem nítido.

E, de maneira alguma eu me afastaria e muito menos deixaria de ajudar o rapaz quando garanti firmemente que o faria só para cumprimentá-los. Também não me arrependi de ter escolhido ficar para ajudá-lo, mesmo que isso significasse precisar ouvir ainda mais sermões de Ethan e voltar sozinha para casa.

Quando praticamente ordenou que eu fosse para casa, meu pai estava se referindo a residência da minha avó, que fica aqui mesmo em São Francisco, apenas alguns quilômetros da empresa da família, que é onde estou. Os eventos beneficentes anuais costumam acontecer aqui no salão da Coleman Advocacy, que é exclusivamente reservado e destinado para essas festas.

Antes da minha mãe morrer, era um costume nosso ir até lá para passarmos os domingos e feriados reunidos em família. Nós almoçávamos juntos, conversávamos e de vez em quando assistíamos algum filme que havia acabado de lançar. Nos dias mais ensolarados íamos até a piscina que fica no enorme jardim e jogávamos vôlei. Isso sem contar com as brincadeiras novas que meu tio inventava e as piadas totalmente sem graça que ele fazia.

Mas, nós mesmo assim sempre fingimos achá-las engraçadas, é claro. Nunca tivemos coragem de acabar com a sua animação ao dizer que nenhuma delas fazia realmente sentido.

É assustador o quanto as coisas podem mudar em tão pouco tempo. Em um domingo estávamos felizes e comemorando o aniversário de dez anos da minha prima e no dia seguinte, a minha mãe começou a passar mal. Todos pensamos que as fortes tonturas e os enjoos estavam relacionados a sua gravidez, que na época estava com pouco mais de doze semanas.

 No entanto, essa não era a única mudança que estava acontecendo em seu corpo. Apenas não sabíamos disso ainda.

Uma semana se passou e os sintomas apenas aumentaram, impedindo-a de conseguir passar muitas horas fora de casa e trabalhar durante o dia inteiro, então ela passava a maior parte do seu tempo repousando. Isso quando não estava colocando praticamente todo o conteúdo do seu estômago para fora no banheiro. 

Não era nada agradável assistir sua mãe passar mal e não poder fazer muita coisa para ajudar.

Ethan e eu ficamos cada vez mais preocupados conforme os dias se passavam e ela piorava cada vez mais, porém, minha mãe sabia ser um pouco teimosa quando queria e se negou a ir para o hospital no começo, alegando que eram sintomas normais de uma gravidez e que não havia com o que nos preocuparmos. Somente a levamos de uma vez para se consultar com um médico quando Alexia desmaiou no seu quarto. 

Eu havia acabado de chegar da escola e como de costume desde a infância, a primeira coisa que fazia era correr para o quarto dos meus pais e contar como havia sido o meu dia. Naquele dia em específico, queria confessar algo e pedir alguns conselhos, já que sabia que meu pai não estaria lá. Não que a presença dele seria ruim, mas aposto que ele não iria querer saber que a sua filha adolescente estava praticamente namorando.

Porém, me dei conta de que nada do que planejei para aquela tarde aconteceria quando a vi caída no chão.

Foi impossível não me desesperar ao ver aquela cena. Milhares de possibilidades horríveis se passaram pela minha cabeça naquele momento e só consegui me tranquilizar um pouco quando andei até ela e toquei a ponta dos meus dedos em seu pulso, sentindo os seus batimentos cardíacos — ainda que mais fracos do que o normal, mas para o meu alívio mostrando que ela estava viva.

Mesmo não querendo, precisei me afastar dela para correr apressada até o térreo da mansão — que nunca pareceu tão grande até aquele momento — que morávamos para pedir ajuda a algum dos funcionários. Um deles se disponibilizou para telefonar para uma ambulância, porque acreditaram que seria mais seguro se ela fosse atendida diretamente por pessoas treinadas e especializadas, para garantir que não piorássemos sua situação caso minha mãe tivesse se machucado quando caiu no chão.

A ajuda não demorou a chegar e durante esse curto período de tempo, liguei para o meu pai. Ele não gostava nem um pouco da ideia de se afastar por mais de alguns minutos dela sabendo como se encontrava ultimamente e estava trabalhando de casa. Apenas o fez naquele dia porque precisava resolver um problema urgente de um cliente na empresa.

Eu estava nervosa e o meu corpo tremia completamente, tanto que mal conseguia segurar o celular para discar o número do meu pai, mas fiz um esforço para isso. Sei que poderia ter pedido a qualquer outra pessoa para telefonar para ele no meu lugar, porém sentia que precisava ouvir a sua voz para me acalmar um pouco. Desde que eu era pequena, costumava recorrer a ele quando estava com medo.

Meus pais sempre me passaram uma sensação de conforto e segurança, mas em algumas situações, era nos braços do meu pai que eu me refugiava para buscar por proteção. Ainda mais em um momento que a minha mãe não poderia me transmitir essa sensação.

E como imaginava, consegui recuperar a calma apenas ao escutar os comandos rápidos e precisos dele. Queria muito ir na ambulância com ela, mas Ethan disse que eu era menor de idade e que os paramédicos não permitiriam. Por causa desse fato, minha mãe foi até o hospital sem nenhum de nós ao seu lado, porque meu pai preferiu correr até lá ao invés de ir até a nossa casa. O que era realmente mais lógico, dada a circunstância.

Eu lembro exatamente da sensação de me sentir sozinha e perdida enquanto aguardava por notícias. Só consegui me sentir um pouco melhor quando Mary, a governanta que estava conosco desde antes mesmo que eu nascesse, passou os seus braços ao meu redor e ficou ali comigo, me abraçando e dizendo que tudo ficaria bem. Ela apenas me soltou quando minha avó chegou, provavelmente por causa de um pedido do meu pai.

Dona Eleonor tinha ido me buscar para irmos até o hospital onde minha mãe estava para sabermos como ela estava. Meu tio já havia ido sozinho, porque Corine precisou ficar com Evangeline. Apesar de muito nova, tenho certeza que desde o primeiro momento ela já tinha entendido que algo ruim estava acontecendo. 

Quando chegamos até  o hospital, tivemos que esperar um pouco até que o médico responsável pelo caso dela viesse nos falar sobre o seu estado. Assim que vi meu pai em pé e andando de um lado para o outro na recepção, parecendo tão aflito quanto nós duas, não hesitei em praticamente correr para abraçá-lo. Não sabia dizer quem precisava mais daquele conforto no momento, mas decidi focar apenas naquela sensação reconfortante e chorei, deixando que todas aquelas lágrimas acumuladas, causadas pelo susto de encontrar minha mãe desmaiada saíssem para fora.

Só me recompus quando enfim soubemos que o seu mal estar era somente devido a gravidez, nada mais. O alívio que tomou conta de mim foi enorme. Saber que tudo estava bem com ela e com o meu irmão tinha sido tranquilizador.

É uma pena que aquilo não foi o fim do pesadelo. Na verdade, tinha sido apenas o começo dele.

Uma respiração alta me traz de volta para a realidade, fazendo-me o olhar novamente para o meu ajudante desta noite. Observo Atlas parar ao meu lado e apoiar as costas na parede branca do corredor que leva em direção a cozinha, lugar que ele anteriormente tinha saído, sem imaginar que trombaria com uma adolescente que estava fugindo para tentar escapar de uma bronca. O que sabemos que não deu nem um pouco certo.

Lembrar disso me faz pensar em como Evangeline está agora. Preciso saber se ela está bem e o que realmente aconteceu. Sinceramente, espero que não tenha sido necessário que levasse tantos pontos em sua pele. 

— Distraída? — Beckham pergunta depois de um tempo, inclinando levemente o rosto para me encarar, cruzando os braços em frente ao tronco e exibindo um pequeno sorriso cansado nos lábios.

Acho que fiquei longos minutos pensando na minha vida e esqueci completamente que não estava sozinha. 

— Desculpa. Acabei me perdendo em alguns pensamentos, nada de mais — tento parecer indiferente e não demonstrar em minha expressão que eu estava lembrando dos momentos mais difíceis que já vivi — E você? Parece distraído também. E cansado.

Sim, estou tentando mudar o foco da conversa de mim para ele. Mas, não estou mentindo. Atlas com certeza teve um dia de trabalho cansativo. Por mais que o evento tenha começado apenas no decorrer na noite e tenha se encerrado bem mais cedo do que o previsto, imagino que ele está de pé desde muito cedo e não parou até que tudo na sua função estivesse em ordem. É assim que esses eventos funcionam.

Posso nunca ter estado de fato nos bastidores, mas isso não significa que eu não saiba como tudo é preparado. Aprendi muita coisa enquanto a minha mãe era viva e ajudava na organização. Mesmo eu ainda sendo uma criança, gostava de passar o dia pelo salão de festa com ela andando para todos os lados carregando pequenas caixas, arranjos de flores e objetos de decoração.

Era divertido. Principalmente quando eu podia pegar um dos microfones por alguns minutos e fingir que estava fazendo o meu próprio discurso ou cantando alguma música da Taylor Swift.

Acho que sou fã da cantora desde sempre. Mesmo que nunca tenha tido um relacionamento propriamente dito e muito menos sofrido por amor, amo as letras, batidas e melodias de absolutamente todas as músicas dela. E conforme fui crescendo, comecei a relacionar alguns trechos específicos em certos momentos da minha vida. É incrível o fato dela ter composto músicas que se encaixam em tudo.

O que é excelente para sorrir, se emocionar, sofrer e chorar na mesma medida.

Observo Atlas mexer os ombros sutilmente.

— Um pouco — admite — Mas não apenas por causa do trabalho. Tive que fazer uma pequena viagem até aqui, o que foi bem desgastante.

Franzo as sobrancelhas.

— Você não é daqui? De São Francisco, quero dizer. — indago, mesmo já imaginando a resposta.

Ele balança a cabeça em concordância.

— Eu moro em outra cidade. Não é tão longe, fica a quase duas horas de distância apenas. — conta, como se fosse algo bem simples.

Bom, talvez realmente seja, mas me pergunto o que levou ele a aceitar um trabalho por apenas uma única noite num lugar tão afastado de sua casa. Será que onde mora não há muitas oportunidades?

— Mesmo sendo poucas horas, deve ser cansativo. — respondo.

— Ah, já estou acostumado.

Levanto uma sobrancelha.

— Faz viagens a trabalho com frequência?

— Ultimamente sim. Estou precisando juntar algumas economias e ajudar mais a minha família. — explica, mesmo sem eu ter perguntado o motivo.

Talvez ele não se importe tanto em compartilhar alguns detalhes da sua vida pessoal com pessoas estranhas como eu.

Porém, agora não sei muito bem o que responder. Se eu disser que entendo, estarei mentindo, porque não faço ideia de como é precisar economizar e trabalhar exaustivamente para conseguir dinheiro. 

Por isso, decido perguntar algo:

— Tem uma família grande?

Ele nega com a cabeça.

— Somos em quatro pessoas em casa. Eu, minha mãe, meu padrasto e uma criaturinha de seis anos que vive correndo atrás do nosso cachorro. — abre um sorriso ao mencionar a criança e posso jurar que vi os seus olhos brilharam ao lembrar dela.

Minha cabeça automaticamente começa a elaborar dezenas de teorias e uma delas quase me deixa incrédula ao considerar, mesmo sabendo que é perfeitamente natural. Atlas pode ser pai. Ou então, a criança é irmã dele ou algo parecido, não há apenas uma possibilidade, não é?

Além do mais, isso definitivamente não é da minha conta e não altera nada na minha vida para eu me preocupar. Apenas não cheguei a pensar porque o achei novo demais para ter um filho, mas sei que não funciona bem dessa forma. E se realmente for isso, talvez ele o tenha tido na adolescência ou seja mais velho do que pensei a princípio.

— Então tecnicamente são cinco moradores numa única casa. — observo, também exibindo um sorrisinho para disfarçar a minha leve surpresa com sua fala anterior.

Minha melhor amiga irá se divertir quando souber que o cara que eu achei levemente atraente pode ter um filho. Bom, ao menos ele não parece ser casado. Não estou nada interessada em ficar admirando a beleza de homens comprometidos. 

Ele dá uma risada e concorda.

— Sim, somos cinco seres vivos convivendo no mesmo ambiente. E, acredite quando eu digo que o Blue é o que mais nos dá gastos.

Franzo as sobrancelhas.

— Blue? Esse é o nome do cachorro? — pergunto.

— Em minha defesa, não fui eu quem o escolhi — se defende — Mas qual o problema com o nome dele? Não é ruim.

Dou de ombros.

— Nunca disse que era, apenas me questionei o motivo de o chamarem de "azul". Por acaso os pelos dele são dessa cor? — brinco.

— Com certeza não são. Ele é um golden retriever e até então não existem cães dessa raça que possuam essa cor. De nenhuma outra, na verdade.

— Então creio que o nome possua outro significado. — deduzo.

Não acredito que estou tão curiosa assim para saber sobre a origem do nome de um animalzinho de estimação.

— Ah, ele tem. Foi em homenagem ao mar. Eu moro praticamente de frente a praia e como a Olive, a minha irmã é completamente apaixonada por ele e pela cor azul, ela o chamou de Blue quando o encontramos ainda filhote. — explica.

— Eu sabia que tinha um bom motivo. — digo, mas só então percebo o que mais ele acabou de falar.

A criança de seis anos não é filha dele, mas sim irmã! Sinto uma vontade quase incontrolável de rir de mim mesma que me obriga a pressionar os lábios em uma linha para que ele não pense que fiquei maluca. 

Por que raios achei a primeira opção mais provável do que a segunda mesmo?

Talvez tenha sido porque era mais fácil que um cara gentil, educado e bonito já tivesse tido um relacionamento que resultou em uma filha do que ele ser solteiro. Pelo menos na minha cabeça paranoica isso fazia sentido.

O que não importa, porque muito provavelmente nunca mais nos veremos depois de hoje. Ainda mais com o fato de eu ter uma longa viagem marcada para daqui a menos de um mês.

— A conversa está muito divertida, mas eu preciso ir agora — me pronuncio novamente cerca de alguns segundos depois — Tenho que ver como a minha prima travessa está.

— Ah, é claro! Acho que a prendi aqui, não é? — Atlas diz, fazendo uma careta culpada — Me desculpe, não vi o tempo passar. Também preciso ir, afinal tenho que viajar ainda hoje.

Assinto.

— Entendo. Mas não é perigoso encarar a estrada uma uma dessa? — indago.

— Não terá perigo se formos cuidadosos. Irei com um amigo meu, que por acaso também veio a São Francisco a trabalho. E também não é tão longe, chegaremos logo. — explica.

Dou de ombros.

— Bom, já que você garante que está tudo bem, eu estou indo — me afasto de uma vez, levantando a mão para acenar em despedida — Foi bom te conhecer, Beckham.

Ele imita o meu gesto, exibindo um sorriso de lado.

— Também foi bom te conhecer, Coleman. 

Retribuo o sorriso pela última vez antes de sumir do seu campo de vista.


— Aonde é que você estava, Blair Summers? — ouço a voz de Alyssa no estacionamento vazio de repente e dou um pulo, tropeçando nos saltos enquanto deixo um grito escapar.

Logo após me despedir de Atlas, caminhei em direção ao estacionamento da empresa para pegar o meu carro e ir até a casa da minha avó, que é o lugar onde, provavelmente toda a família Coleman deve estar se reunindo nesse momento. 

Eu havia acabado de avistar a BMW que Ethan comprou para mim em meu décimo oitavo aniversário nesse subsolo enorme que está iluminado apenas por lâmpadas que quase terminaram de me deixar cega de vez quando escutei a voz estridente da minha melhor amiga atrás de mim.

Alyssa ainda será a responsável pelo meu ataque cardíaco, tenho certeza disso.

— Você quer me matar?! — pergunto, ofegante e colocando a mão sobre o peito, sentindo o meu coração acelerado sob minha palma.

A garota ri se aproxima de mim com um sorriso de canto nos lábios pintados de vermelho e apoia as mãos na cintura.

— Está tão assustada assim por que, amiga? Estava fazendo algo de errado? — indaga baixo, mesmo sabendo que estamos sozinhas aqui.

Reviro os olhos.

— Isso é sério? Eu estava ajudando o Atlas, você mesma viu — lembro-a — Mas e quanto a senhorita? O que faz em um estacionamento vazio a essa hora da noite?

Seu sorriso contido vai se tornando travesso aos poucos e reprimo uma careta, já imaginando as bobagens que provavelmente estão se passando pela cabeça maluca e cheia de ideias dela e que ela não focou na minha pergunta, somente no meu comentário sobre Atlas.

— Então esse é o nome dele... Atlas — diz para si mesma, fingindo estar pensativa — Gostei! É um nome bonito, assim como ele, não é, Blair?

Cruzo os braços.

— Não sei de nada — finjo  desinteresse — Agora me responda, Alyssa.

— Lhe esperando, oras! Você acha mesmo que eu iria para casa sem saber pessoalmente os detalhes da conversa de vocês dois?

Arqueio uma sobrancelha.

— Que detalhes? O de termos usado vassouras para varrer cacos de vidros? — pergunto retoricamente, irônica.

— Que sem graça — faz uma careta — Mas você não me engana, Blair! Ninguém leva esse tempo todo varrendo o chão.

— Tem razão, fizemos mais do que isso. Nós dois conversamos um pouquinho, porém nada extraordinário. Somente assuntos superficiais. Ele é só mais um cara comum.

Aly sorri de lado e se aproxima de mim, segurando a minha mão e me puxa em direção ao meu carro.

— Eu te conheço há quase duas décadas. Sei muito bem o que se passa nessa sua cabecinha loira e convenhamos... — faz uma pausa enquanto destravo as portas da BMW, entrando em seguida no banco do passageiro — Ele é um gato! Mesmo não tendo reparado muito nele, deu para perceber.

Abro a minha porta, contendo o riso. Minha amiga, definitivamente não tem filtros. Isso porque ela ainda está sendo educada e discreta.

— Quer que eu confesse? Então tudo bem, admito que Atlas Beckham realmente é um cara bonito, mas devo informá-la, antes de começar a pensar coisas indevidas que nunca mais iremos nos encontrar de novo. 

Retiro os saltos dos meus pés, agradecendo a Deus por finalmente poder me libertar desse desconforto e olho para o lado, a tempo de ver Alyssa fazer um biquinho triste.

— Poxa! Eu já estava pensando que você finalmente iria sair com alguém depois de tanto tempo... — ela suspira enquanto ligo o carro — Mas por que você tem tanta certeza disso? Ele pode trabalhar novamente em algum evento da sua família. Ou, vocês podem até mesmo se encontrar por acaso por aí. Nunca se sabe.

Não demoro a sair com o carro da vaga do estacionamento.

— Até poderia acontecer, mas ele não mora aqui — respondo — Atlas vive com a família em outra cidade e eu, bem... Não ficarei mais aqui na cidade também por tanto tempo.

— O que?! — Alyssa grita, quase me fazendo bater em um dos cones após subir a rampa de concreto e sair da empresa.

— Além de quase me fazer ter um infarto, você ainda quer que eu bata o carro? — pergunto, irritada enquanto giro o volante para a direita, na direção da avenida que leva até o bairro em que Eleonor Coleman mora.

— Na verdade, será você a responsável por eu morrer jovem — rebate — Que história é essa de que você irá embora de São Francisco assim, do nada? Por que vai fazer isso? E afinal, por qual motivo não pensou que seria uma boa ideia contar a sua melhor amiga? 

Balanço a cabeça, soltando uma risada.

— Será que você pode, por favor, se acalmar? — peço — Não precisa desse exagero todo, Alyssa. Não é como se eu nunca mais fosse voltar. Vai ser uma viagem curta.

Como não quero provocar um acidente, não viro o rosto para observar suas reações, porém escuto-a soltar um longo suspiro, o que indica que está aliviada com a minha resposta.

Graças a Deus!

Aly tende a ser um tanto dramática de vez em quando, principalmente quando quer algo de mim ou teme que eu faça alguma loucura — como essa que ela acredita que estou prestes a fazer.

— Por que não especificou antes? Já estava pensando que iria me deixar por anos. Já basta eu que precisei passar longos semestres em Los Angeles, a horas de distância daqui — diz, voltando a agir como a pessoa calma e controlada que é, relembrando o período que esteve fora por causa da universidade — Serão quantos dias? É alguma viagem para fazer pesquisas da faculdade? Ou algum problema envolvendo a Coleman Advocacy?

Se eu não fosse tão politicamente correta no trânsito — ainda bem — teria levado a mão esquerda até uma mecha do meu cabelo e a colocado atrás da orelha. Gesto esse que costumo fazer sempre que me sinto envergonhada, sem graça ou, nesse caso, encurralada.

— Não serão dias, Aly... Serão meses —  jogo a bomba em seu colo de uma vez, respondendo a sua primeira pergunta logo — Mas, não se preocupe! Só irei ficar fora durante as férias de verão. Assim que eu entrar de férias da universidade, estarei indo para Carmel. Uma das cidades do Condado de Monterey.

Já fiz uma viagem até lá uma vez, poucas semanas antes do meu aniversário de quinze anos. É um lugar popularmente conhecido e formado por doze cidades. Há alguns penhascos litorâneos e praias estonteantes. Eu e os meus pais ficamos em Carmel-by-the-Sea, — que é mais conhecida como apenas Carmel — para ser mais específica. É um lugar realmente perfeito para se passar alguns dias aproveitando o mar e descansando da correria de São Francisco.

Foram dias realmente incríveis.

Minha amiga permanece alguns segundos — que se passam arrastados e extremamente silenciosos, parecendo que se estende por mais tempo do que de fato acontece — em silêncio, provavelmente assimilando a minha novidade.

— Isso significa que você ficará fora por três meses... — fala, mas sem parecer indignada ou triste dessa vez, mas sim intrigada — Me parece ser muito tempo para ficar em uma cidade tão pequena como essa no Condado de Monterey para fazer pesquisas e estudar para o seu curso. Principalmente para tratar de negócios da família.

Ela tem razão. Em algumas das vezes que precisei viajar a mando da universidade para fazer trabalhos e coletar informações a respeito da biologia marinha, não passei mais do que um final de semana fora. E, quando é necessário participar de alguma reunião de negócios da empresa com o meu pai, também não dura mais do que dois dias. Ainda mais se fossemos para uma cidade litorânea com menos de 4 mil habitantes. 

— Isso é porque eu não viajarei em nome da Coleman e muito menos a mando da faculdade — nego suas preguntas anteriores — Porém, de certa forma envolve o meu curso.

— Pare de falar nas entrelinhas e conta de uma vez, Blair! — exclama.

Antes de respondê-la, saio da avenida — ainda movimentada, mesmo já passando das vinte e três horas — e entro na rua que leva até o bairro em que a mansão da matriarca dos Coleman. Como a empresa não é tão distante daqui, não levamos mais do que dez minutos para chegar.

— Está bem, vou te contar de uma vez — involuntariamente abro um sorriso, observando as belíssimas mansões de luxo com paredes pintadas de branco, rodeadas por jardins e luzes as iluminando aparecerem aos poucos no meu campo de visão, indicando que estou chegando no condomínio da minha avó — Eu, finalmente irei estagiar na minha área, Aly! Um estágio em biologia marinha!

Como já imaginava, o gritinho animado não demora a vir, o que me faz sorrir ainda mais. Eu sabia que, quando esse dia chegasse, Alyssa seria uma das pessoas que mais ficariam felizes por mim. E estava certa.

— Meu Deus, eu não acredito! Isso é incrível, Blair! Estou tão feliz por você enfim conseguir essa oportunidade — comemora — Mas, me conte: como isso aconteceu?

Balanço os ombros quando paro o carro aos poucos em frente ao portão branco do condomínio, que é aberto imediatamente pelo porteiro do turno noturno, que me conhece desde criança e está acostumado a me ver aqui com frequência.

Sempre vim até a casa da minha avó pelo menos uma vez por semana. Até mesmo a época de vestibulares, que demandavam de toda a minha atenção e concentração não foi o suficiente para me afastar da dona Eleonor. Principalmente após a morte da minha mãe.

Eu amo a tia Corine, ela é uma mulher maravilhosa, foi uma das melhores figuras femininas que tive e fez tudo o que estava ao seu alcance para me deixar minimamente feliz após a partida de Alexia e sou grata a ela por isso. Mas a conexão que tenho com a vovó e o seu colo quando eu precisava colocar para fora toda a dor que estava sentindo foram essenciais para eu passar por aquela fase do luto.

Tinha dias que escutar que tudo ficaria bem e que a pessoa que me deu todo o amor que havia em seu coração para mim estava em um lugar melhor não eram consolos o suficiente. Nenhuma dessas palavras minimizavam o sofrimento que foi imposto na minha vida. Mas, no abraço da minha avó eu podia, ao menos me permitir sofrer.

Também foram nos sorrisos e brincadeiras de Evangeline e do meu tio que consegui me sentir melhor. Já quanto ao meu pai... Bom, Ethan nunca mais foi capaz de cuidar de mim de qualquer maneira afetiva desde que perdeu a esposa.

Nenhuma palavra carinhosa. Nenhum abraço quando estávamos sozinhos, somente em datas comemorativas, como os nossos aniversários, dia dos pais, natais e viradas de ano.

Praticamente em todos esses momentos nós tínhamos companhia, então, mesmo que ele nunca me pedisse para demonstrar ser uma filha carinhosa, eu o fazia, porque pensava no que as pessoas comentariam se vissem que ao invés de todos termos ficado ainda mais unidos depois das mortes da minha mãe e do meu avô, nos afastamos.

Solto um suspiro, decidindo afastar esses pensamentos e responder a minha amiga.

— Foi uma proposta de um dos parceiros da universidade. Como o estágio na área geralmente é obrigatório, eu precisava fazê-lo e apenas adiei o momento porque sinceramente, não sei como meu pai vai reagir quando souber que ficarei fora por três meses. — confesso.

Alyssa arqueia a sobrancelha.

— Então ele ainda não sabe?

Nego com a cabeça.

— Tive a confirmação há uma semana e ainda não tive coragem de contar. — mordisco a unha do polegar depois de estacionar o carro em frente a mansão da minha família e girar a chave, desligando o carro.

Ela estala a língua.

— Ethan terá que saber logo, amiga, porque apesar de não ser o melhor há anos, continua sendo o seu pai e ele ainda lhe ajuda financeiramente de vez em quando. — diz, saindo do carro.

Faço o mesmo em seguida, concordando com ela, sabendo que "de vez em quando" é um eufemismo.

Apesar de sempre receber quando auxilio meu pai nos negócios da nossa família, não é o suficiente para pagar a mensalidade da universidade e o apartamento alugado que divido com Alyssa em Nob Hill. Não é algo que o meu trabalho nos horários vagos da faculdade conseguiria bancar.

— Tenho consciência disso, mas ele nunca gostou da minha escolha de carreira, apenas a tolera porque nunca desisti. E bom, há uma diferença entre estudar aqui na cidade e passar meses fora, longe da Coleman Advocacy e das atividades que tenho a exercer aqui não vai ser algo bem aceito por ele. Tenho certeza disso.

— Por que você fala como se ele só fosse se importar com o fato de você se afastar da empresa e não dele?

— Você sabe muito bem, Alyssa — digo — Isso é tudo o que importa para meu pai desde que minha mãe morreu.

— Eu ainda continuo acreditando que existe uma parte dele que se importa e se preocupa com você. Não é possível que um homem que foi um pai exemplar tenha se tornado tão insensível. — resmunga, indignada.

Dou de ombros.

— A dor faz isso com as pessoas.

Aly suspira e apoia uma mão no meu ombro enquanto eu aperto a campainha ao lado da gigantesca porta branca da casa, aguardando Peter, o mordomo da casa.

— Olhe aqui para mim, Blair — faço o que ela pede — Mesmo que seja difícil, mesmo que Ethan não concorde completamente, você vai nessa viagem, passará esses três meses estagiando em Carmel e irá voltar para São Francisco ainda mais preparada para ser uma bióloga marinha, está me ouvindo? Ele concordou em te deixar estudar, mesmo contra a vontade, então o mínimo agora é deixá-la finalizar esse ciclo da melhor maneira possível.

Solto o ar que nem havia percebido que estava prendendo e assinto, esboçando um sorriso, porque será exatamente isso que eu farei.

Meu pai e eu fizemos um acordo pouco antes de eu ingressar na universidade. O combinado era ele pagar os meus estudos no curso que escolhi por livre e espontânea vontade, permitir que eu trabalhe na ára dos meus sonhos para que só depois eu, definitivamente, comece a estudar Direito e me dedicar por completo a empresa de advocacia da família para um dia ficar em seu posto como CEO.

Não era a minha maior vontade, é claro, mas é a minha obrigação e não posso ser imatura ao ponto de deixar isso de lado. Só de saber que terei a chance de trabalhar, mesmo que seja por poucos anos no que amo, já valerá a pena.

O som da porta sendo destrancada e aberta de repente impede que eu responda qualquer coisa para minha amiga.

E, ao invés de me deparar com o rosto gentil e com algumas rugas devido a idade de Peter, encontro os olhos verdes do assunto da nossa conversa olhando fixamente para mim.

Olá, galerinha!!

Primeiro de tudo, peço desculpas pelo capítulo um pouco mais longo do que os anteriores. Acho que passei tanto tempo sem que escrever que me empolguei. 😅

Sobre o andamento da história, estou determinada a publicá-la semanalmente a partir de agora. Caso haja algum contratempo, avisarei vocês no mural de mensagens.

Espero que estejam gostando da história. Não se esqueçam de deixar seu voto e comentário sobre o que achou.

Um beijo, se cuidem e até muito em breve!

🐟🐚🌊

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