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Capítulo 01: Íris verdes travessas

Sorriso brilhante, batom preto
Políticas sensuais
Quando você é jovem, eles deduzem que você não sabe nada

Cardigan - Taylor Swift

A festa mal havia começado e eu já estava profundamente entediada.

Observo as pessoas ao meu redor conversando, bebendo e fazendo elogios nitidamente falsos umas para as outras enquanto tomo alguns pequenos goles do vinho que está na taça que seguro em minha mão direita. Eu particularmente não sou a maior fã de bebidas que contém álcool, assim como também não gosto de vestidos pretos, longos e com fendas na minha perna, muito menos de saltos que possuem quase dez centímetros de altura.

Mas, acontece que não tenho outra opção a não ser me vestir e agir da maneira como esperam que eu haja, — como uma mulher de negócios, especificamente — afinal de contas, estou em um importantíssimo evento onde todos pertencentes à classe alta da Califórnia estão presentes. Então, preciso passar a impressão de que sou tão poderosa e prepotente como a maioria das pessoas que estão aqui.

Encosto-me contra a parede, desejando entrar nela e permanecer lá dentro até essa festa terminar. Mesmo que eu já participe de eventos como esse há mais de três anos, ainda não consegui me acostumar muito com eles. Geralmente é sempre a mesma coisa: pessoas bebendo, degustando de comidas finas e exibindo as suas vestimentas caríssimas em um salão de festa gigantesco.

Até mesmo a decoração segue um tipo de padrão todos os anos, mudando apenas a cor. Várias mesas redondas de vidro com até seis cadeiras cada são espalhadas por todo o local e três pequenas velas são colocas sobre sua superfície, ambas bem seguras, é claro.

Um discreto arranjo com poucas flores rosas também enfeita as mesas. Na primeira vez em que estive presente, a cor escolhida havia sido branco. Foi uma homenagem para a pessoa que começou toda essa causa, que infelizmente não está mais entre nós há quase quatro anos.

Isso mostra que nem mesmo toda a grande quantidade de dinheiro vindo da Coleman Advocacy foi o suficiente para salvá-la. Acho que só depois da morte dela que a minha família enfim percebeu que nem mesmo por sermos uma das famílias mais ricas da alta sociedade conseguimos ganhar todas as causas.

Principalmente se for contra doenças incuráveis.

Só que o CEO da nossa rede de empresas nunca aceitou ter perdido algo pela primeira ou melhor, pela segunda vez.

Acho que esse é um fato que Ethan Coleman nunca irá conseguir superar.

Falando nele, ainda não o vi desde que cheguei. E como sou sua única filha e a pessoa que ajudará a liderar tudo isso aqui um dia, precisei cumprimentar todos em seu lugar, afinal é isso o que devo fazer quando ele não está presente.

Obviamente isso não significa que eu não apoie e goste de arrecadar recursos para assegurar que instituições — como as de crianças carentes, por exemplo — continuem funcionando. É claro que sou a favor e pretendo continuar incentivando esse projeto. É só que eu realmente prefiro o conforto do meu quarto ao invés de precisar socializar com centenas de pessoas que, muitas vezes são completas desconhecidas para mim.

Acontece que nem sempre foi assim. Antes de começar a participar de todos esses eventos em nome da empresa da minha família, eu vivia me perguntando como seria estar praticamente todos os meses em alguma festa de negócios.

Só que na época era diferente, porque acreditava que não precisaria estar quase sozinha quando isso acontecesse pela primeira vez, além de que eu não sou mais um ser tão sociável como antes.

Solto um longo suspiro, me proibindo mentalmente de continuar seguindo por essa linha de pensamento. Provavelmente estou me parecendo uma daquelas garotinhas mimadas que reclamam de todas as obrigações impostas pelos seus pais.

Mas não me importo tanto com isso como antes. Praticamente toda a Califórnia já deve ter uma visão errada de mim mesmo. Então, que seja.

Começo a batucar os saltos do par de scarpins pretos que estou usando calçando no piso, ouvindo o barulho um pouco irritante que eles fazem, tentando me distrair, porém logo noto uma movimentação entre os convidados reunidas a cerca de dois metros de mim.

Franzo as sobrancelhas quando vejo três pessoas caminhando em direção aonde estou. Devido as poucas luzes do ambiente, não consigo enxergar claramente quase tudo ao meu redor, — o fato de eu estar usando lentes de contato quase vencidas também deve interferir nisso, é claro — então apenas quando eles se aproximam é que finalmente percebo quem são, pelo menos quem está na frente.

É quase impossível não abrir um pequeno sorriso quando vejo a minha avó se aproximando de mim, usando um impecável vestido longo de cor azul turquesa e um coque que mantinha os seus fios de cabelo grisalhos presos. A matriarca da família Coleman é, sem dúvidas um dos poucos seres humanos nesse mundo que consegue me animar em eventos como esse.

Ela tem o poder de conseguir tornar tudo um pouco mais suportável apenas com a sua presença.

Quando ela para na minha frente, me inclino rapidamente para deixar um beijo em uma das suas bochechas.

Observo-a abrir um largo sorriso com o meu gesto carinhoso, evidenciando um pouco das rugas que o seu rosto um pouco pálido adquiriu ao longo dos seus setenta anos de vida.

— Eu já falei o quanto você está bonita, querida? — ela indaga.

Levo a mão esquerda — a que está vazia — ao meu queixo, fingindo pensar na sua pergunta.

— A senhora ainda não disse isso hoje. — respondo, exibindo um sorrisinho de lado.

Ela leva as suas mãos até as minhas bochechas, apertando-as levemente.

— Bom, então, permita-me dizer que você está linda como sempre, Blair. — elogia.

Inclino levemente a cabeça.

— Muito obrigada, vovó. — agradeço-a.

Assim que que a respondo, sinto uma mão tocar um dos meus ombros e olho na mesma direção, notando Nicholas Coleman, mais conhecido como o meu tio parado ao meu lado e também exibindo um sorriso discreto nos lábios.

Observo o homem branco, alto, forte e de olhos verdes usando um terno de três peças num tom cinza escuro. Os irmãos Coleman são bastante parecidos, mas o meu tio tem o cabelo castanho claro, enquanto o do meu pai é mais escuro, além dele ser dois anos mais novo do que Ethan.

— Ela tem razão, você está mesmo bonita, peixinha. — ele comenta, me fazendo rir rapidamente do apelido.

O meu tio me chama dessa maneira desde que eu tinha seis anos, quando fizemos uma viagem em família nas férias de verão para East Beach, uma das praias da cidade de Santa Bárbara.

Como eu era muito pequena, nem sempre me recordo com clareza de alguns dos acontecimentos daqueles dias. Mas, graças às fotos e filmagens que a minha mãe fez de todos os nossos momentos lá, posso ver sempre que quiser para relembrar dessas memórias.

É bom para matar a saudade de vez em quando.

Foi a primeira viagem que a esposa do meu tio, Corine esteve presente conosco. Eles haviam se casado em menos de um ano e na época, ela estava grávida de sete meses da primeira filha deles, a Evangeline. Em uma das fotos — que está em um porta retrato na sala da minha casa, inclusive — é possível visualizar a família Coleman que estava completa até aquele momento, reunida em frente a imensidão do mar.

Os meus avós paternos estavam abraçados de lado, assim com os meus pais, eu e os meus tios, respectivamente. Já a pequena Blair segurava as mãos de Ethan e Alexia, sorrindo largamente e exibindo dois dos seus dentes de leite que estavam faltando, o que formava a famosa janelinha em sua boca.

O que motivou o meu tio a colocar esse apelido em mim foi porque quando nós estávamos na casa de praia que temos naquela cidade, eu passei boa parte do dias pedindo para um dos adultos presentes me levarem até o mar, porque queria muito colocar em prática tudo o que já havia aprendido nas minhas aulas de natação que eu fazia em São Francisco — a cidade onde nasci e que vivo até hoje.

Como o meu pai sempre atendia a praticamente todos os meus pedidos, ele me pegava no colo e ficava me segurando o tempo todo enquanto estávamos na água. Mas, aí era que estava o problema: eu queria tentar nadar sozinha e não ser carregava e protegida das ondas o tempo inteiro.

Era óbvio que ninguém me deixaria fazer isso. A minha mãe era a que mais se preocupava quando íamos à praia justamente por causa desse motivo, porque eu vivia querendo me aventurar em atividades completamente arriscadas para uma criança. E, concordando com ela e prometendo que eu ficaria segura, Ethan Coleman não me soltava em nenhum momento quando a mamãe não estava por perto.

Hoje em dia, obviamente sei dos riscos e concordo completamente com eles, muito diferente de quando era criança. Mas, eu apenas queria fazer isso porque era completamente apaixonada pelo oceano, ainda sou na verdade. E foi justamente nessa viagem que me dei conta disso.

Não foi por acaso que escolhi cursar biologia marinha. A minha paixão nunca foi apenas pelos mares, mas também pelos seres vivos que habitam o ecossistema marinho. Sempre quis saber mais e também ajudar na proteção e preservação deles. Essa é a profissão que quero seguir, nunca tive nenhuma dúvida quanto à isso.

Diferente dos adultos que acreditaram que seria apenas um fascínio passageiro, exceto a minha mãe e avó. Elas sempre me motivaram a lutar pelo meu sonho. E foi isso que eu fiz, afinal prometi para elas e não podia quebrar essa promessa.

— Vocês vão me deixar sem graça desse jeito. — respondo, quase pedindo para eles pararem com os elogios.

Apesar de estar acostumada de sempre recebê-los, não sei muito bem reagir a eles quando são feitos diversas vezes.

— Eles apenas constataram um fato, querida — Corine, que só agora percebo que está ao lado do meu tio com um braço entrelaçado ao seu diz — E além do mais, nós não fomos os únicos que reparamos nisso.

Ao falar isso, ela vira a cabeça rapidamente para trás, indicando alguns dos nossos convidados. Entre eles, estão jovens rapazes que possuem aproximadamente a mesma idade que a minha. Eles são filhos de alguns dos sócios e amigos da nossa família

Involuntariamente o meu rosto se contorce em uma careta. Isso é sério?

— Eu não estou nem um pouco interessada neles e vocês sabem muito bem disso. — não demoro a responder.

Meu tio passa um dos seus braços ao redor dos meus ombros em uma atitude quase protetora. Ele e o meu pai sempre agiram dessa maneira comigo quando as mulheres da família citam possíveis pretendentes para mim. O meu avô também era igualzinho à eles.

Sinto falta dele.

Vejo dona Eleonor semicerrar os seus olhos verdes claros, uma característica física que está presente em todos os Coleman, menos em mim, afinal herdei as íris azuis da minha mãe, assim como os fios loiros do seu cabelo. Cresci ouvindo que eu era parecidíssima com ela, porém com a personalidade idêntica à do meu pai.

Não posso negar isso, porque é realmente um fato. Eu consigo ser tão determinada quanto Ethan quando quero.

Foi por causa desse motivo que não desisti de insistir que queria cursar a faculdade de biologia marinha. Eu nunca deixaria de seguir o meu sonho simplesmente porque essa não era a profissão que ele desejava que eu me formasse.

Mas, é claro que precisei entrar em um acordo com ele, até porque eu sei que ele nunca cederia facilmente, assim como eu.

— Ela ainda é muito nova para isso, querida. — Nicholas retruca, quase me fazendo rir.

As vezes, penso que ele se esquece de que eu já tenho vinte e um anos e não catorze como sua filha mais velha, a Evangeline.

— Não estamos falando disso, meu bem. Apenas queremos que você socialize mais e que se divirta um pouco. — vovó explica docemente.

— Sim, é exatamente isso — Corine se manifesta em seguida — E você também pode tentar fazer algumas amizades, seria bom, não acha? Você precisa ter amigos, Blair.

Evito revirar os olhos, cansada de ouvir eles sempre dizerem a mesma coisa.

— Não estou interessada. Eu já tenho uma amiga, ela é o suficiente para mim. — digo, mas só então percebo que posso ter soado um pouco grossa.

No entanto, não disse nenhuma mentira, afinal Alyssa é a melhor amiga que eu poderia ter. Não preciso ter muitas amigas, porque se eu tiver apenas uma e ela for verdadeira comigo, isso é realmente o suficiente.

Observo a mulher soltar um suspiro enquanto fecha os olhos por um segundo, parecendo repensar o que falou para mim. Olhando para ela, reparo que ela parece apenas ter emprestado o seu útero para a minha prima morar por nove meses, porque Evangeline é quase uma cópia feminina do meu tio.

Mas em compensação, o filho caçula dos dois tem cabelos curtos pretos e ondulados e olhos cor de mel, assim como a sua mãe.

— Eu sei disso, Blair, mas... — Corine tenta se explicar, mas acaba sendo interrompida.

— Boa noite, querida família Coleman! — ouço a voz familiar soar entre nós.

E foi só eu falar nela...

Quando desvio o olhar da minha tia postiça, me deparo com a mulher de longos e volumosos cabelos cacheados em um tom castanho escuro se aproximando de nós.

Meu tio afasta o seu braço que estava ao meu redor, o que me permite dar alguns passos para a frente.

Assim que ela para em minha frente, cruzo os meus braços em frente ao corpo — tomando cuidado para não derrubar o líquido que há dentro da minha taça — e finjo seriedade.

— Isso são horas de chegar, Senhorita. Howard? — questiono-a, levantando uma sobrancelha.

Alyssa joga um de seus cachos para trás dos ombros e imita o meu gesto, cruzando os braços sobre o vestido vermelho justo que usa.

— Está cedo, Blair — ela balança a mão — Ainda são vinte e uma horas.

— O evento começou às vinte. — retruco.

Uma expressão culpada surge em seu rosto.

— Foi mal, acabei me atrasando no cabeleireiro. — justifica, pressionando os lábios um no outro.

Acabo não consigo manter a pose de durona por muito tempo e acabo sorrindo.

— Grande novidade, uh? — debocho.

Ela revira os olhos, mas também ri.

— Bom meninas, iremos deixá-las sozinhas agora — minha avó diz — Tenho certeza que vocês têm muitos papos de garotas para colocar em dia agora.

Preciso cobrir a boca com uma das mãos para evitar rir.

— A senhora diz cada coisa, vó.

Ela revira os olhos.

— E eu por acaso menti? Vocês jovens nunca conversam sobre certos adultos na frente dos mais velhos. Eu já tive essa idade, sei muito bem como funciona.

Arregalo levemente os olhos. Nossa.

Tenho que concordar com a senhora, dona Eleonor. A Blair tem mesmo muita coisa para me contar, não é? — a minha amiga sugere, sorrindo de maneira travessa.

Contenho a vontade de pisar no pé dela. Falando desse jeito, ela faz parecer que eu estou escondendo alguma coisa importante.

Se bem que realmente tenho uma pequena notícia para contar a ela, mas não é nada demais. É apenas uma possibilidade, nada garantido.

Não é como se a minha vida fosse mudar por causa disso.

Bebo o vinho que ainda resta dentro da minha taça e entrego-a para um garçom que passa próximo a nós, agradecendo em seguida.

— Só contarei depois que a festa terminar. — aviso-a.

O olhar indignado que Alyssa me lança em seguida é tão cômico que preciso segurar a risada.

— Já que é assim, vamos parar de atrapalhar vocês. Divirtam-se, meninas. — Corine anuncia, apertando de leve o meu braço e o de Alyssa.

Mas antes que a minha família possa finalmente se afastar, meu tio se inclina rapidamente em minha direção, mais precisamente para sussurrar algo em minha orelha.

Mesmo que eu não seja baixa, sempre me sinto um pouco pequena quando fico ao lado do meu pai e do meu tio. Eles possuem quase um metro e noventa de altura, enquanto apenas consigo ter mais de um metro e setenta quando estou usando saltos, como agora por exemplo.

— Daqui a alguns minutos, Ethan dará um discurso de agradecimento pela presença dos convidados e por todos os fundos arrecadados — começa a falar — E, talvez ele chame você para que possa falar algo.

Se eu ainda estivesse bebendo, provavelmente teria me engasgado ao ouvir isso.

O que? — indago, tentando manter o meu tom de voz baixo.

Mesmo que esse já seja o quarto ano que participo de eventos como esse, o meu pai ainda nunca havia sugerido para que eu falasse nada em publico. E além do mais, eu sempre deixei bem claro que ainda não estava pronta para esse tipo de coisa.

Um discurso de agradecimento para mim é bem diferente de apresentar um projeto da faculdade, por exemplo. Numa sala de aula apenas preciso lidar com alguns professores a alunos que estudam o mesmo curso que o meu, mas aqui nesse salão de eventos eu precisaria enfrentar centenas das pessoas mais influentes do estado da Califórnia.

E o pior é que o meu pai nem se deu ao trabalho de me avisar para que eu pudesse escrever um texto e me preparar psicologicamente para isso.

Começo a sentir a minha respiração ficar entrecortada e me esforço para que ele não perceba. Não posso ficar nervosa dessa maneira num ambiente lotado de pessoas.

— Tudo bem, tio. Eu posso fazer isso. — finjo um sorriso, mesmo que por dentro eu deseje pedir para que ele diga ao seu irmão que eu não posso conseguirei fazer isso.

Ou então para que alguém possa me tirar dessa festa, porque estou prestes a entrar em pânico.

Detesto que não me avisem previamente das coisas, fazer algo de última hora sempre me deixa tensa, afinal as chances de eu estragar tudo são enormes.

— Sei que você consegue, querida. — ele diz, exibindo um sorriso orgulhoso.

Não, eu não consigo! Era isso o que eu gostaria de dizer a ele, mas prefiro me limitar apenas em concordar com a cabeça, afinal o meu tio se orgulha de alguém que não é tão confiante e corajosa quanto acredita.

Mas, como de costume, nem ele e muito menos Corine e a minha avó percebem que estou apenas disfarçando o medo que sinto.

Não faço ideia se isso é algo bom ou ruim nesse momento.

Quando eles se afastam, encosto-me novamente na parede que havia me apoiado antes, me esforçando para conseguir controlar novamente a minha respiração.

Alyssa não demora a perceber que não estou bem e desiste de pegar uma taça de alguma bebida que não consegui reconhecer e vem imediatamente até mim, segurando os meus ombros levemente.

— Apenas tente respirar devagar e conte até o número que achar necessário enquanto relaxa o corpo, ok? — pergunta e eu assinto, começando a fazer o que ela me instruiu.

Fecho os olhos e tento desviar os pensamentos do que eu sinto por mais ou menos um minuto e só abro as pálpebras novamente quando sinto os meus músculos relaxarem um pouco.

— Feito. — digo baixinho.

Jogo a cabeça para trás, quase deixando algumas lágrimas de alívio escapar quando consigo respirar normalmente. Eu consegui.

Minha amiga aperta uma das mãos, sorrindo levemente para mim.

— Você conseguiu mais uma vez, Blair. — ela diz, como se soubesse exatamente o que acabei de pensar.

E talvez saiba mesmo, afinal de contas essa não é a primeira vez que eu quase tenho uma crise de ansiedade em lugares públicos e que ela me ajuda quando está por perto.

Balanço a cabeça positivamente.

— Sim, mas você também me ajudou a conseguir — respondo — Obrigada, Aly.

Ela nega o meu agradecimento com uma das mãos.

— Já lhe disse várias vezes que não precisa me agradecer por isso, lembra? Sou sua melhor amiga, estarei ao seu lado sempre que precisar de mim.

Aperto a sua mão de volta, porque não consigo encontrar nenhuma palavra que expresse o quanto sou grata e me sinto sortuda por tê-la comigo durante quase toda a minha vida.

Conhecemos uma a outra quando ainda estávamos na pré-escola. Eu tinha quatro anos e ela estava completando cinco anos de idade. Era o aniversário dela, a propósito.

Não éramos da mesma turma, mas como a sua festinha havia acontecido no pátio da escola com poucos alunos, a professora na época levou toda a minha sala para participar. E como não havíamos recebido um convite previamente, nenhum dos meus colegas de turma levou um presente.

Eu consigo me lembrar de quando me separei da minha turma e me esgueirei sorrateiramente até próximo da horta e peguei uma florzinha amarela que estava plantada ali. Quando retornei, a minha professora estava procurando por mim, obviamente preocupada com o meu sumiço repentino.

Com certeza a pobre mulher já estava pensando em como avisaria a diretora e logo depois para os meus pais que a filha deles havia desaparecido.

Mas a pequena Blair agiu como se não tivesse causado um baita susto nela e explicou que apenas tinha ido procurar por um presente para a aniversariante do dia.

E quando finalmente chegamos na festinha, eu entreguei a flor para a garotinha que estava com os cabelos escuros presos por pequenas tranças. E por ser um dia especial para ela, Lyssa usava um fofo vestidinho amarelo, que combinava perfeitamente com a sua pele negra.

E que coincidentemente também combinava com o presente que eu havia dado para ela.

Mesmo sendo algo simples, a menina sorriu largamente e me abraçou fortemente pelo pescoço.

Daquele dia em diante, nunca mais nos separamos. Nossos pais — principalmente as mães babonas — incentivavam bastante a nossa amizade, porque desde então só estudamos nas mesmas escolas.

Porém, quando eu estava no penúltimo ano do High School acabamos seguindo caminhos distintos por Alyssa ser um ano mais velha do que eu e também por ter sido aprovada na Universidade do Sul da Califórnia, que fica em Los Angeles.

Essa foi a única vez que realmente precisamos ficar afastadas uma da outra por meses, que depois se tornaram anos, até ela se formar recentemente e voltar a morar aqui na cidade. Mas aquela época foi um pouco difícil para mim. A minha única amiga havia se mudado para uma cidade que fica a horas de distância da minha justamente no pior momento da minha vida.

Mas, ainda bem que celulares e chamadas de vídeo existem, porque foi dessa maneira que conseguimos manter contato até nos encontrarmos novamente. Ligávamos uma para outra todos os dias à noite, porque esse era o único momento em que nós duas estávamos em casa.

O mesmo fuso horário entre ambas as cidades também facilitava as nossas ligações.

Fora isso, nos víamos pessoalmente em todas as nossas férias. Sempre revezávamos, então algumas vezes ela viajava para São Francisco e eu para Los Angeles e matávamos a saudade.

E, além de morar e estudar em lugares diferentes, nós também escolhemos profissões completamente opostas. Enquanto eu decidi ser uma bióloga marinha, ela está prestes a começar a trabalhar como advogada.

Pois é, a minha melhor amiga seguiu a mesma carreira que todos da minha família paterna. É até irônico se pensarmos que apenas eu não quis estudar direito.

Ou melhor dizendo, eu ainda não estudo. Tudo graças ao acordo que fiz com o meu pai.  

O leve barulho irritante de um microfone soando de repente me tira desses pensamentos. Isso apenas pode significar uma coisa: o anfitrião da festa irá enfim começar a falar.

Escutar a voz de Ethan Coleman só confirma o que eu já sabia, mas acho que ele se atrasou um pouco. Geralmente ele começa com todos os agradecimentos na primeira meia hora dos eventos e não mais de uma hora depois.

O que é estranho, porque o meu pai adora pontualidade e simplesmente detesta atrasos. Provavelmente alguma coisa surgiu no último momento para ter motivado o seu atraso. Apenas isso justificaria.

Deve ter sido uma ligação surpresa de algum sócio ou algo parecido.

Mas logo decido parar de pensar nisso e foco em olhar para frente assim como todas as pessoas aqui presentes. Como o meu pai não está tão longe de onde estou, consigo enxergá-lo com uma certa facilidade até. Ele está vestindo um dos seus vários ternos pretos assim como a gravata da mesma cor, que transmite completamente bem a sua postura imponente.

— Boa noite a todos! Quero desejar boas-vindas para todos os convidados aqui presentes e agradecer por terem comparecido ao nosso evento beneficente desse ano. Já fazem mais de quinze anos que a minha família começou a arrecadar fundos para que instituições infantis de caridade continuem exercendo suas atividades — ele começa a falar — E como sabem, essa foi uma das iniciativas de Alexia Coleman, minha falecida esposa.

Fecho os olhos por alguns segundos e sorrio um pouco ao ouvir o nome da minha mãe, sentindo o peito apertar de saudades. Mesmo que anos já tenham se passado, sempre sentirei falta dela. Especialmente em eventos como esse.

Sempre imaginei como seria participar dessas festas tendo sua companhia, mas então ela se foi e precisei fazer isso sem tê-la segurando a minha mão e exibindo um dos seus lindos sorrisos para mim. Ela sempre me encorajou quando eu estava com medo, até mesmo dos mais bobos.

Inevitavelmente acabo me perdendo nessas memórias, mas logo sinto um braço passar ao meu redor e percebo que Alyssa me puxou delicadamente para perto dela, abraçando-me de lado.

Sorrio em agradecimento para ela e em seguida encosto a cabeça em seu ombro. Minha amiga sempre foi um pouco mais alta do que eu, então a nossa pequena diferença de altura permite que eu use-a como apoio quando preciso.

Ouço atentamente o meu pai continuar a falar, agradecendo por todos os colaboradores, citando os nomes dos principais deles e dizendo que nada disso seria possível sem o apoio de todos. Aquelas mesmas palavras clichês e super comuns que pessoas importantes da sociedade conhecem bem.

Tudo estava seguindo conforme o que havia sido planejado há meses, pelo menos até o microfone que o meu pai está usando começar a falhar, justamente quando ele iria agradecer a prefeita da nossa cidade - que também está aqui presente.

Sei que isso é normal e que é um imprevisto que ocorre muito em alguns eventos, mas nunca aconteceu nada parecido em algo organizado pela minha família, acho que o meu pai ficaria bastante irritado se coisas como essa acontecessem.

Se bem que ele já está demonstrando um pouco de irritação.

— Perdoem-me. Deve ser algum defeito nas pilhas, vou resolver isso e logo... — percebo que ele se justificar e explicar o ocorrido ao mesmo tempo, mas acaba sendo interrompido de repente.

Mas não por algum colega, sócio ou alguém disposto a ajudá-lo com o problema e sim por causa de uma daquelas músicas assustadoramente altas e de diversas luzes coloridas que eu vi apenas uma única vez, quando a sem noção da minha melhor amiga me arrastou contra a minha vontade para uma balada.

Cubro as minhas orelhas com as mãos e me afasto de Alyssa, completamente incrédula com toda essa situação. O que está acontecendo aqui?

— Que máximo! — ela diz, parecendo se divertir com tudo isso, obviamente atraindo alguns olhares das pessoas aqui presentes.

Os mais velhos fazem algumas caretas, como se achassem que a garota ao meu lado está completamente maluca.

Não sei se rio ou se dou uma cotovelada discreta nela para que contenha a sua animação ao ver que o evento está parecendo com uma das casas noturnas mais movimentadas da Califórnia.

Porém, logo sinto toda a vontade que eu tinha de rir se esvair de mim tão rápido quanto surgiu assim que noto o provável ser responsável por esse pequeno caos a apenas alguns metros de onde estou.

Arregalo os meus olhos ao enxergar aquelas familiares íris verdes travessas da garota que está agachada e escondida atrás de uma das mesas do salão.

Quero ir até ela e perguntar o que pensa que está fazendo em um ambiente como esse quando escuto Corine Coleman gritar o nome completo da garota em alto e bom som, mesmo não estando com nenhum microfone em mãos.

Assim que ouve o chamado nitidamente bravo de sua mãe, Evangeline sai de seu esconderijo e começa a correr sem parar em direção a uma entrada do salão de festa, sem parecer prestar atenção em nada.

Mas quando ela está prestes a sair, a porta é aberta por alguém que vinha na direção contrária a sua. Um garçom que segurava uma bandeja cheia de bebidas para serem servidas em taças de vidro, para ser mais específica.

Deixo um grito escapar quando vejo a minha prima trombar com o homem, fazendo com que os dois caiam no chão e vários cacos se espalhem para todos os lados, causando um estrondo tremendo.

Eu e Alyssa trocamos um olhar assustado e logo seguimos apressadas até onde o acidente aconteceu, assim como a minha família faz o mesmo, torcendo para que nenhum dos envolvidos nessa confusão ou até mesmo um dos convidados saiam machucados.

E, também torcendo para que a adolescente que começou todo esse desastre não fique de castigo até completar a maioridade.

Primeiro capítulo postado com sucesso!!! 🗣️🗣️🗣️

Olá, pessoal! Tudo bem com vocês?

Aqui estou eu iniciando mais um livro. Espero que gostem de acompanhá-lo.

E aí, me digam que acharam desse acontecimento final um tanto... inusitado. 👀

Bom, foi isso. Não se esqueçam de votar e comentar, isso ajuda bastante o livro.

Beijos, se cuidem e até em breve!

🐟🐚🌊

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