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Capítulo 7

- Amora! - escuto meu nome e apenas espero a água fria vir de encontro a mim - Você vai se atrasar! Primeiro dia de aula.

- Oi tia... - a olho antes de fechar os olhos, com a esperança de que, com esse ato, eu pudesse sair desse pesadelo.

- Vá rápido - ela sai porta a fora.

- Por quê? Por que eu continuo vivendo esse dia de novo, e de novo, e de novo... E por que alguém insiste em morrer? - digo com a voz chorosa - Por que não posso ter todos? - minhas lágrimas começam a cair - O que o Lorenzo estava fazendo lá!? - tampo minha cara com o travesseiro e grito de dor.

- Ainda não está pronta? - minha tia aparece novamente.

- Eu já vou... - me arrasto para o banheiro.

Quando saio, visto uma calça preta de carga e cintura alta, blusa simples, branca e mostrando a barriga, uma jaqueta preta e um tênis preto e branco.

Eu me olho no espelho e mal me reconheço. Meu olho está mais roxo que antes, minhas olheiras estão triplicadas e ainda descubro um corte em minha boca.

- Eu estou horrível! - passo tudo que vejo em minha frente para ver se tampa essas porcarias, porém, nada adianta. Então, passo uma sombra preta para confundir, o lápis em volta de meus olhos, um batom bem vermelho e um blush – Vai ter que servir- deixo meu cabelo solto, caindo em meu rosto.

- Meu paizinho amado... Você está horrível! - minha tia sendo educada como sempre...

- Obrigada, tia – digo sem ânimo.

- Você está sentindo alguma coisa?

- Sim. Dor no peito.

- Não tenha um infarto agora, pelo amor de Deus! - incapaz de não rir.

- Eu já vou indo - me levanto da cadeira - Ah, tia. Se tiver bom senso, não vá nesse encontro.

- Quê? M-mas...? Como? - ela gagueja.

- Tchau, tia - saio sem nem dar a chance dela de se explicar.

No caminho em direção à casa de Arthur, acabo tendo uma ideia.

- Até que enfim. Pensei que tinha esquecido de minha pessoa - Arthur diz, porém, ao ver o meu estado, para na mesma hora - O que aconteceu com você!? - ele segura meu rosto em suas mãos.

- Eu sei que você está cheio dos meus mirabolantes planos - fujo de sua pergunta, pois nem eu sei como eu cheguei nesse estado - Mas eu preciso de ajuda com mais um.

- Me responda primeiro, como conseguiu esse olho roxo? - ele diz preocupado.

- Não sei. Acordei assim - ele suspira vencido.

- É sonâmbula agora? - ele tenta descontrair.

- Vai me ajudar? - o corto e ele suspira.

- Não. As aulas ainda nem começaram - agradeço mentalmente por ele não insistir na pergunta. 

- Acredite, pra mim já começou faz tempo - digo sem nem pensar - Fazemos uma aposta - lhe dou a chance de dizer algo, porém, ele apenas assentiu e eu sorrio em resposta - Eu vou te dizer TUDO o que vai acontecer hoje. Se eu acertar, você me ajuda.

- Não prometo nada.

- Melhor que nada. Mas, vamos, te conto no caminho. Caprichei nos detalhes para não ter nenhuma dúvida.

- Todos para o auditório! Todos para o auditório! - o guarda manda assim que o sinal bate e eu olho para Art.

- Uma simples coincidência - ele cruza os braços. A gente entra, sentamos no fundo e a diretora começa.

- Fácil de deduzir - Quando a palestra acaba, ele vê seu horário.

- Com certeza você viu o meu horário, não seria a primeira vez - Art me acompanha até a minha sala e avista o garoto.

- Você pode ter invadido a sala da diretora e pego a ficha dele. Também não seria a primeira vez - ele diz emburrado.

Quando a professora percebeu que Arthur não fazia parte da turma, ele deu a desculpa de que se perdeu e voltou para a sua sala de aula.

- Lorenzo, eu preciso da sua ajuda - me aproximo de Enzo, sem me importar se ele lembra ou não de mim.

- Nossa...

- Desculpa, eu tenho um péssimo hábito de fuxicar as fixas dos novatos - o interrompo com a primeira desculpa vinda em minha mente.

- Então...? A senhorita sabe o meu nome, mas eu não sei o seu - ele sorri amigavelmente.

- Amora, prazer.

- Prazer. Mas, por que você acha que eu te ajudaria? - ele arqueia uma sobrancelha.

- Porque você sempre ajuda, dã? - me arrependo imediatamente ao compreender o que tinha saído de minha boca.

- Como assim? - ele parecia bem perdido.

- Você, uma vez disse que me achava especial.

- Quando? - ele arregala os olhos e eu mordo o lábio inferior para me impedir de estragar mais a situação.

- Você gosta de adrenalina, certo? Quase se encrencou por minha causa - CALA A BOCA!!! Grito mentalmente pra mim.

- Acho que você está me confundindo - ele faz menção de sair, porém eu o seguro pelo braço.

- Eu... com certeza, estou parecendo uma louca com esse assunto - acabo soltando um risinho.

- Um pouquinho - ele também ri.

- Mas, é que... - desvio o meu olhar.

- Amora - o encaro novamente.

- Oi? - digo esperançosa por não ter estragado tudo.

- Eu gosto de uma boa aventura. E vejo que, com você, eu terei uma inesquecível - ele, mais uma vez, sorri amigavelmente.

- Obrigada - me animo imediatamente.

Assim que a aula acaba, corro para encontrar Arthur e impedir que ele continue o seu trajeto para a próxima aula. Arrasto ele e Enzo para um canto e digo o meu plano.

- O que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando? - Art suspira e esfrega o rosto com as mãos, o que me faz soltar um risinho com o seu ato. 

- No fundo, no fundo, eu sei que você ama as minhas loucuras - ponho a minha mão em seu ombro e sorrio.

- Não completamente. Mas tenho que admitir que você é criativa - ele ri, fazendo Enzo o acompanhar. Porém, eu volto à seriedade. 

- E você? - me viro para Enzo.

- Eu tô dentro. Nunca fugi de uma boa aventura - ele pisca pra mim.

- Então, bora - me viro e vou em direção ao meu destino, enquanto que eles fazem o mesmo.

Depois de 30 minutos, mais ou menos, nos encontramos perto dos armários novamente.

- Conseguiram? - pergunto animada.

- Sim - os dois dizem em uníssono.

Começo a dar pulinhos de alegria e eles começam a rir disso. Se o tempo estiver de acordo, minha tia vai receber a ligação a tempo, vai vim e ficará segura e Lorenzo, bom, já está na minha frente, seguro.

E, como esperávamos, o sinal bate, alertando para todos irem pro gramado, em frente ao portão. Enquanto que eu, aproveitei pra ligar para a minha tia.

- Tia! Você precisa vir me buscar! - uso o meu melhor tom de desespero.

- O que aconteceu? - ela estava neutra.

- A escola está infestada de ratos e baratas!

- O quê!?

- Sim!

- Então saia já daí! - ela, praticamente, grita. Enquanto que eu, arregalo os olhos e meu coração aumenta a velocidade.

- Você precisa vir aqui! - eu já estava começando a me desesperar.

- Amora. São ratos! Eu odeio ratos! - minha mente começou a trabalhar mais rapidamente.

- Tia!

- Amora!

- Eu quebrei meu pé! - soltei.

- O quê?

- Anda. Você precisa...

- Liga pra ambulância...

- Não! Eu... err... achei que tinha quebrado. Mas só torci. Você precisa me ajudar a voltar pra casa.

- Cadê o Arthur? - rangi os dentes de raiva.

- Ele está passando mal e voltou pra casa antes dessa infestação.

- Aff... Amora! Você não vai me deixar em paz!? - ela desliga.

- Não!

- Tá... - prendo a respiração inconscientemente - Já chego aí - ela diz, por fim, e desliga o telefone e eu solto a respiração de uma vez. 

- Isso! - começo a pular de alegria - Meninos, muito obrigada. Não sabem o quanto isso foi importante pra mim. Salvaram vidas. Literalmente!

- Confesso que foi legal - Art coça a nuca meio envergonhado. E o conhecendo bem como eu conheço, diria que ele está irritado consigo mesmo por ter gostado de uma loucura dessas.

- Você é um de nós agora - dou um leve soco no braço de Enzo ao perceber que ele ficou tímido de repente.

- Valeu - ele sorri de lado.

- Amigo de Amora é meu também - Art levanta a mão fechada em um cumprimento para Enzo.

- Valeu - Enzo torna a repetir e retribui o cumprimento.

- Que coisa mais linda - finjo enxugar uma lágrima, enquanto que Art revira os olhos.

- Vamos nos juntar aos outros, antes que alguém desconfie - Art nos alerta.

- Ok - sigo na frente, seguida por Enzo e Art.

Seguimos rumo ao gramado e nos deparamos com muitos alunos surtados. Precisei me segurar para não rir.

Depois, do que me pareceu uma eternidade, minha tia chega e eu corro para abraçá-la, deixando-a de boca aberta.

- Quê? - finjo de desentendida - Vamos? - não lhe dou a chance de responder - Onde mora? - me dirijo para Enzo.

- Você não disse que quebrou o pé!? - ela rangi os dentes e fecha os olhos. Podia jurar que eu vi fumaça saindo de seus ouvidos.

- Olha só... - me finjo de lerda - Melhorou rápido - levanto o meu pé para ela poder ver - Incrível, não acha? - abro o maior sorriso falso que consigo.

- Da próxima vez que você me enganar desse jeito. Eu juro. Mesmo se você estiver morrendo no meio da calçada. Eu não vou até você! - ela me fuzila com o olhar, raivosa - Não me espere - ela se vira e começa a caminhar - Ah, Arthur - volta com o olhar em nossa direção - Que bom que melhorou. Espero que não tenha um dedo seu nessa palhaçada toda! - e vai embora a passos firmes.

- Ok... Essa foi... - Enzo começa.

- Prazer, essa é minha tia Cláudia - digo de cenho franzido - Espero que tenha dado o tempo... - sussurro para mim e suspiro - E então? - Lorenzo desvia o seu olhar de onde minha tia passou e me encara - Onde mora? - ele receia um pouco, mas diz:

- Rua 108 - me desanimo mais ainda. 

- Que droga! É o oposto de onde moro.

- Relaxa - ele sorri e me entrega o mesmo papelzinho que eu recebi na primeira premonição, me fazendo dar um sorriso de orelha a orelha.

- Nós combinamos de sair qualquer dia desses - ele pisca pra mim.

- Tchau - digo.

- Até mais, cara - Art diz.

- Falou - Enzo responde e some em meio à multidão.

- Então, vamos? - Art se vira para mim.

- Vamos - sorrio para ele.

Rodo sua cintura com o meu braço e ele faz o mesmo comigo.

- Eu te ligo mais tarde - bagunço o topete de Art, como fiz na primeira premonição.

- Esperarei ansioso - ele diz em um tom sarcástico, tentando rearrumar o cabelo. 

- É pra esperar mesmo! - lhe dou um beijo na bochecha antes de entrar em casa.

- Chega de confusão por hoje! - ele grita pra mim e eu acabo caindo na gargalhada.

- Me conhece tão bem... - ele sorri e vai embora.

Entro em casa e me tranco no quarto.

- Ahhh! - grito de felicidade ao me jogar na cama - Eu consegui! - fecho os olhos - Eu sou demais!

Fico fazendo hora na cama, sorrindo que nem uma boba, apreciando a minha felicidade.

Porém, a alegria de pobre dura pouco. E a minha acabou na hora que recebi a ligação de Natália, a mãe de Arthur, 10 minutos, mais ou menos, depois, falando que o meu amigo estava no hospital.

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