Capítulo 6
- Amora! - acordo com um balde de água fria na cara, literalmente.
- Que? Oi? Que foi? - caio da cama ao sentir a água fria em contato com minha pele.
- Você vai se atrasar! Primeiro dia de aula - Ai meu Deus!
- Tia! - me levanto e corro para abraçá-la - Graças a Deus!
- Que foi garota!?
- Você está bem. E é isso que importa. Fica tranquila, não vou deixar acontecer de novo. Vou ficar ao seu lado o dia inteiro para me certificar... - disparo a falar, porém, ela me interrompe.
- Quê!? Quem disse que você vai faltar na aula hoje? Nem pensar! - ela gargalha sem humor.
- Não posso ir pra aula. Não posso te perder! Você é MUITO chata, mas é minha tia.
- Me perder? Quê? Você pirou de vez? - ela se solta de meu aperto - Você me chamou de quê? - enruga a testa.
- Tia, pra onde você vai quando vou pro colégio?
- Lugar nenhum... - senti como se tivesse me escondendo algo.
- Tia - apoio meu peso em uma perna e cruzo os braços.
- Tô cheia de coisa pra fazer. Porque, já que você não faz nada. Alguém tem que fazer - ela já ia sair, entretanto, eu a impeço.
- Por favor! Você não pode sair de casa. Não hoje. Eu te imploro - quase ajoelho, no entanto, ela me puxa pelo braço.
- Parou de loucura! - dessa vez, ela sai sem impedimento.
Bem que dizem que amor e ódio caminham juntos...
Eu vi que não tinha muita saída, então, forcei-me a tomar banho e a vestir a primeira coisa que eu vi no meu armário. No caso, um macacão rosa estilo boho, ombro a ombro, cintura alta e de manga cumprida.
Calcei uma rasteirinha rosa de mesmo tom com algumas pérolas e, dessa vez, prendi apenas a minha franja de lado com um tic tac preto.
- Gata... - eu me assusto ao ver que meu olho estava roxo - Caramba! O que é isso!? Parece que eu levei um murro! - foco minha visão para ver se não era coisa da minha cabeça, porém, aquele hematoma é bem real.
Eu queria desvendar esse mistério, de como meu olho ficou desse jeito, no entanto, o que eu ia fazer? Então, apenas passo um corretivo e a base para igualar e um brilho que reforçou o rosa de meus lábios.
No entanto, o hematoma não saiu de minha cabeça. Como isso é possível? Não me lembro de nada! Não faz sentido! Se bem que, nada está fazendo sentido no momento...
- Escola virou lugar para exibir o corpo agora? - é sério isso...?
- Tia, pra onde você vai hoje e fazer o que lá? - ignoro sua implicância.
- Já falei garota! Vou ficar e arrumar a casa - ela cruza os braços impaciente.
- E eu já falei que eu não vou te perder. O destino está me dando mais uma chance e eu pretendo não a desperdiçar.
- Quê!?
- Não vou sair de perto da senhora.
- Senhora é a sua vó! - ela diz e eu acabo gargalhando.
- Está decidido! - faço bico depois da minha crise de riso e pego um pão e me sirvo com suco de... - É suco de quê? - levanto a jarra com cara de nojo.
- Você sabia que comida é sagrada? - minha tia toma a jarra de minha mão - É de jiló.
- Jiló!? - arregalo os olhos assustada.
- Pra emagrecer - ela dá de ombros.
- E desde quando você liga pra estereótipo? - faço um sinal casual com as mãos e reviro os olhos.
- Ligo pra saúde.
- Hun... - arrisco a experimentar, pois havia caído um pouco em meu copo - Que nojo! - cuspo de volta - Isso é horrível!
- Amora! - ela se enfurece - ISSO é nojento!
- Foi mal... - Pego a bebida e jogo na pia. Eu não vou beber isso! - Então, o que vamos fazer hoje? - retorno à mesa e começo a comer o pão puro mesmo.
- Você vai para a escola. Nem sei porque eu ainda não te expulsei daqui, sendo bem sincera...
- Não, não vou! - cruzo os braços.
- Vai, vai sim - ela me fuzila com o seu olhar.
- Tá... - só que não.
A olho emburrada pela última vez e saio de casa.
"Arthur: Já saiu de casa?
Amora: n vou p colegio.
Arthur: Por quê?
Amora: tenho q fica c tia.
Arthur: Repito. Por quê?
Amora: bjj"
Desligo rapidamente. Pelo menos, ele não vai ficar mofando na calçada me esperando.
Vou para trás de uma árvore e fico esperando até a minha tia sair de casa. Odeio esperar!
Quando eu estava quase babando de tanto esperar, escuto a porta se fechando. Corro para olhar e encontro minha tia toda arrumada. Uma blusa cor vinho com a gola em V e manga cavada, que lhe dava a impressão de ter mais seios do que realmente tinha, uma calça branca e um salto preto.
Tudo em harmonia com o seu cabelo de ondas cor borgonha batendo abaixo de seus ombros, pele clara, olhos cor de mel e boca fina, que agora estava coberta por um batom vermelho. Depois fala de mim...
Ao constar que estava longe o suficiente, começo a segui-la.
Caminhamos por alguns minutos até chegarmos à um restaurante.
Ela diz alguma coisa para o garçom e ele a leva até uma mesa...
- Reserva? - alguém me para.
- Você sabe a minha idade?
- Pela sua mal criação, sei que é menor de idade.
- Quem é mal criada aqui!? - estufo o peito.
- A senhorita que está fazendo um barraco na porta de um restaurante - olho ao redor e vejo que todos estão me olhando. Inclusive a minha...
- Quer saber? O senhor tem razão - dou uma leve batidinha em seu ombro - Tchau - corro pra fora daquele lugar na esperança de que minha tia ache que ficou louca e não venha atrás de mim.
- Amora! - ops... - O que faz aqui? - vejo a dona Cláudia bem irritada atravessando a rua em minha direção.
- Eu? Err...
- Devia estar na escola!
- O que faz aqui em um restaurante, quando tinha dito que ia ficar arrumando a casa? - tento tirar a minha situação da reta. E vejo que consegui, pois ela ficou completamente sem reação.
- Eu sou a responsável aqui! - tenta se recompor.
- Veio se encontrar com alguém...? - ofereço um sorriso insinuante.
- M-mas, como se atreve!? - gaguejou.
- Por que eu sou obrigada a te contar tudo o que acontece na minha vida, se você não faz o mesmo? - cruzo os braços e arqueio uma sobrancelha.
- Desde quando você me conta tudo seu?
- Ahá! Eu sabia. Quem é o azarado, quer dizer, o felizardo?
- Olha aqui, garota! Para a sua informação. Aquele que eu escolher como parceiro, será um homem de sorte. Pois, sou um mulherão, gostosa e inteligente! - ela diz irritada e eu tento segurar a vontade de rir. Até ela suspirar e me fazer prestar atenção - Em casa conversamos. Pois, agora estou meio ocupada - ela se vira.
- E eu faço o que até lá? - ela apenas vira a cabeça em minha direção.
- Que tal ir à escola? É um ótimo lugar para frequentar - ela ri e eu faço cara de nojo.
Quando ela estava prestes a atravessar a rua, eu avisto o mesmo fusca vermelho da visão.
- Não! - chamo a atenção de minha tia.
- Quê?
- Não atravesse agora. Eu te imploro.
- Você não manda em mim!
- Só... Me escuta. Só dessa vez.
- Escuta aqui... - ela para de falar ao escutar o barulho do tiro. Minha primeira reação foi abraça-la e fechar os olhos, com medo do que aquilo significava. O silêncio predominou por algum tempo, até ser quebrado pela voz de minha tia - O que foi isso!? - abro os olhos e vejo que minha tia estava bem.
- Eu consegui - digo atônita ainda - Eu consegui! - grito de felicidade.
- Ai meu Deus! - ela diz perplexa e eu fico sem entender - Ai meu Deus! - ela torna a repetir e eu finalmente compreendo.
Minhas pernas bambeiam, minha respiração fica desregulada e sinto meu sangue gelar. No entanto, saio desse meu transe e consigo gritar:
- Enzo!
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