Capítulo 5
- Quê!? - Lorenzo pergunta de olhos arregalados.
- Não dá pra explicar. Eu só sei que preciso sair daqui. Agora!
- Quem vai sair pra onde? - a professora pergunta olhando diretamente pra mim.
- Err... Estou com cólica - faço a melhor cara de dor que consigo - Preciso ir pra casa. Está me matando! - dramatizo.
- Bom... Vá até à enfermaria.
- Eu a acompanho - Enzo se levanta, ficando de pé ao meu lado.
- Ok - Adriana diz preocupada.
- Obrigada - saio depressa da sala, acompanhada por Lorenzo.
- Temos uma atriz aqui? - Enzo pergunta ao constar que estávamos longe o suficiente.
- Tenho planos de A até Z. Topa? - sorrio malignamente.
- Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo, nem o que você está tramando. Porém, estou dentro – ele sorri e eu me perco nos seus olhos azulados.
- Vai ficar parada aí ou...? - sou despertada pela sua voz.
- Han..., claro, claro - me viro, para não o encarar, e vou em direção à sala da diretora.
- Pode entrar - ouço Carmen dizer logo após eu bater na porta.
- Licença - volto com a minha face de dor.
- Nossa... O que aconteceu? Você está bem? - bom, talvez eu tenha exagerado passando pó branco na cara também. Ou não...
- Não sei se eu aguento continuar aqui. Eu estou com muita dor. Pode ligar para a minha tia pra ela vir me buscar?
- Claro! Sente-se querida. Quer uma água?
- Não, não. Eu só quero que minha tia venha me buscar mesmo.
- Claro. Só um minutinho - Carmen pega, julgo ser minha ficha e começa a digitar o número em seu telefone:
"- Bom dia. Cláudia Lima? (...) Oi (...) Eu queria saber se tem como a senhorita vir buscar sua sobrinha (...) É que ela está passando muito mal."
Ela se vira pra mim e pergunta:
- O que sente, querida?
- Cólica e parece que minha cabeça vai explodir - ela repete para minha tia e continua:
"- Ok, então. Muito obrigada"
- Então? - ela desliga o telefone e se direciona pra mim e eu pergunto, um pouco apressada.
- Ela disse que você pode tomar o remédio. Caso não melhore, aí sim. Ela vem te buscar.
- Não! - me levanto abruptamente, assustando-a - Quer dizer... não - digo mais fraca.
- Por que não?
- Porque... Meu corpo está doendo. Não vai melhorar com remédio. E se for uma doença contagiosa? - ela ri sem humor.
- Amora, minha querida. Eu te conheço. Quantos anos tem que você estuda aqui?
- Está duvidando de mim? - pergunto chocada - Eu nunca brincaria com uma coisa séria como essa - cruzo os braços.
- Já está muito melhor né? - reparo que dispensei o meu tom rouco.
- Não...
- Já pra sala - ela me corta - Mas, caso esteja realmente falando a verdade, o que espero que esteja. Vá para a enfermaria e tome um remédio.
- Mas...
- Agora saia, por favor. Estou muito ocupada - ela abre a porta pra mim. Plano B.
- E aí? - Enzo aparece logo após a diretora fechar a porta.
- Digamos que eu sou bastante conhecida por aqui - me direciono para a saída, enquanto que Lorenzo começa a rir de mim.
- Pelo visto. Plano B.
- É. Por aí.
- Que bom que você está preparada então. Mas, podia usar a sua inteligência avançada para focar nos estudos.
- Oi? - ele gargalha - Escute aqui... - sou interrompida pelo sinal, sinalizando o início da segunda aula.
- Esperamos até o corredor esvaziar? - Enzo escapa da resposta muito bem dada que eu ia dar.
- Não. Usamos isso ao nosso favor - tenho uma ideia - Você vai precisar me empurrar.
- De jeito nenhum!
- É só um esbarrão de leve. Ninguém vai acreditar se eu cair do nada sem mais e nem menos.
- Muitos parecem ter dois pés esquerdos e caem sem mais e nem menos - bufo irritada e penso por um estante.
- Vai querer entrar nessa comigo mesmo? Sem volta? Promete não se enfurecer? - o fito com o meu olhar penetrante.
- Viver na adrenalina é mais emocionante - ele sorri, quase fazendo eu me apaixonar por sua personalidade. Eu disse quase!
- Então... Desculpe por isso - respiro fundo - Quem você pensa que é!? - grito, chamando a atenção de todos, impedindo que continuem a ir para as suas devidas salas.
- Quê? - ele me pergunta confuso.
- Eu te perguntei - cochicho de volta - Eu não te dei o direito nenhum! - tentei pensar em algo mais ameno, para não o comprometer tanto - Acho melhor você pensar muito bem onde põe essa sua mãozinha idiota! - dou-lhe um tapa, não muito forte, porém convincente. O suficiente para os murmurinhos começarem, assim, chamando a atenção, finalmente, de quem eu queria.
- Ôooo! Parou - o guarda segura a minha mão - Todos voltando paras as suas respectivas salas. Agora! - a rodinha que havia se formado para ver o meu barraco, foi se dissipando aos poucos - O que está acontecendo aqui? - ele lança um olhar acusador para Enzo.
- Nada - eu respondo.
- Como assim, nada!? - ele se indigna.
- Eu esbarrei nele e pensei que ele havia passado a mão na minha bunda. Mas a culpa foi minha. E acho melhor você voltar para o seu posto. Não quer que a dona Carmen te despeça, né?
- Mas...
- Não precisa se preocupar com nada - o empurro de volta para o seu posto - Muito obrigada, viu? Mas acho melhor eu ir para a minha sala agora. Tchau - vou embora, pegando o braço de Enzo para ele me acompanhar antes que o guarda faça mais perguntas.
- O que foi isso!? - ao sair do campo de visão do guarda, Enzo praticamente grita.
- Shhh - tampo a boca dele na mesma hora - Foi mal - sorrio timidamente. Foi o meu plano B - levanto para ele as chaves que peguei do cara.
- Mas... Como?
- Quando ele começou a gritar pro povo voltar para as salas.
- Você podia ser mais... Discreta? Se tem mãos de gato, era só se aproximar dele e pegar – joga as mãos pro alto.
- Mas aí não teria graça - mordo o lábio inferior para conter o riso.
- Tá - diz vencido finalmente – Mas, como vamos sair, se ele voltou para o posto?
- Tem outra saída. Pela garagem dos professores. Como não dá para pular, eles apenas trancam. Ou seja, podemos ser livres tran-qui-la-men-te - me viro para seguir o meu caminho.
- Essa escola parece uma fortaleza. Guardas, portas trancadas...
- Bem... Eu já te disse que sou muito conhecida?
- Sim.
- Então - começo a gargalhar.
- Como você não foi expulsa então!?
- É uma boa pergunta... Nunca tinha parado para pensar - paro por um momento - Mas quem liga? Continuo aqui, não é? Então? - prefiro ignorar essa incógnita - Quê? - Enzo começa a ter um ataque de riso.
- Você.
- O que tem eu?
- É uma lenda desconhecida - enrugo a testa - Pelo o que eu percebi, você vive sozinha.
- Não é verdade! - faço bico - Eu tenho o Arthur.
- Quem? - esqueci que eles não foram devidamente apresentados aqui.
- Meu amigo. Nos conhecemos desde que me mudei pra cá, no caso, desde os 5 anos. E... Bom. Já ouviu falar que quando a mão direita faz algo a esquerda não tem que saber? - ele assente - Pois bem. Eu sigo mais ou menos isso. Por exemplo, a escola já ficou interditada e ninguém descobriu de quem foi a culpa - seguro o riso.
- O que aconteceu?
- Ah... - dei de ombros - Eu apenas causei uma simples e pequena explosão no laboratório.
- Quê?
- Eu fiquei curiosa para saber o que acontecia caso eu misturasse aqueles líquidos. Porém, não tinha ninguém para me explicar. Aí, soltou uma substância que foi pelos dutos de ar e que fez todo mundo ter um ataque de coceira.
- E você ainda está aqui!? - dou mais uma vez de ombros e ele volta a rir.
- Por isso, acho melhor você escolher bem as suas companhias. Porquê... é caminho sem volta comigo – sorrio sugestiva.
- Já escolhi. E não sou de voltar atrás.
- Foi avisado - ele ri.
- Mas não explica o porquê de você ter só um amigo. É divertida, bonita...
- Eu meio que... - olho para o chão - Chegamos - digo ao ficarmos de frente para a garagem.
- Primeiro as damas - Enzo percebe a minha relutância em falar e muda de rumo.
- Obrigada - sorrio agradecida e destranco o portão - Pronto. Livres - abro os braços e giro ao sairmos dos limites do colégio.
- Conseguimos - ele põe as mãos na cintura - Agora, pra onde?
- Não pensei nisso - apoio meu queixo em minha mão - Acho que ir pra casa e ver se minha tia já saiu.
- E se ela já tiver saído?
- Espero que não - começo a minha caminhada com o Enzo logo atrás.
- Conta mais de suas aventuras. Sei que não para com aquela lá - eu rio ao me lembrar de uma em especial.
- Já entrou um garoto, que simplesmente me enchia o saco. Amava me irritar, pegar minhas coisas, puxar meu cabelo...
- Mas isso é querendo te chamar a atenção.
- Mas era horrível!
- Mas, e aí? O que a madame fez?
- Eu simplesmente descobri uma coisinha e contei pra turma.
- E o que era?
- Descobri que ele era adotado. Não é nada demais. Qual o problema de ser adotado? - penso por um momento - Tirando a parte que ele não sabia.
- E como VOCÊ descobriu!? - ele começa a gargalhar - Me lembre de nunca te irritar - não respondo, apenas o sigo na gargalhada.
- E tem mais. A mãe biológica dele era na verdade a tia dele, quer dizer, quem ele pensava ser a tia.
- Mas... Como!?
- Segredos de mestres.
Parecíamos uns dois loucos rindo doidamente no meio da rua.
- E as SUAS loucuras? - tiro o foco de mim.
- Não tenho nada de interessante para contar.
- Não acredito. Você quase se encrencou por alguém que nem conhece. Isso pra mim, é loucura - minha vez de rir.
- Você é uma influenciadora muito boa.
- Estou mais para uma má influenciadora.
- Talvez - ele sorri.
O silêncio que predominou não estava desconfortável, pelo contrário, era confortante saber que Lorenzo era real e estava bem ao meu lado. E vez ou outra, nossos braços se encostavam, causando arrepios por toda a minha pele.
Porém, eu corto esse momento abruptamente ao ver minha tia na outra rua, perto de um fusca vermelho.
- Minha tia! - digo animada. No entanto, minha alegria dura pouco ao ouvir o barulho de uma pistola - NÃO!!!! - caio de joelhos ao ver minha tia sendo acertada por uma bala no peito.
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