Capítulo 26
- Quê!? - começo a rir de histeria - Eu só posso estar ficando louca - seguro a minha barriga por causa do ataque que estou tendo - Já sei! - levanto o dedo, como se uma lâmpada estivesse se acendido em cima da minha cabeça - Eu estou sonhando. Só pode ser isso. Estou tendo um pesadelo. Simples - paro de rir de repente - Anda, me belisca.
- Tá bem.
- Aiiii! - empurro-o - Por que fez isso!? - volto a seriedade.
- Foi você quem pediu - ele diz indignado.
- Onde já se viu beliscar uma dama!? - digo enfurecida.
- Onde já se viu pedir para ser beliscada?
- E onde já se viu você me beliscar? - cruzo os braços e arqueio uma sobrancelha.
- Que tal voltarmos para o assunto, Fim do Mundo?
- Que tal não ter o fim do mundo?
- Foi você quem escolheu isso.
- Eu!? - explodo de raiva.
- Ele precisava que você escolhesse, por causa do livre arbítrio. E você escolheu.
- Mas eu nunca escolheria uma coisa dessas!
- Mas escolheu.
- Eu disse NUNCA! - com essa insistência, meu deu uma absurda vontade de chorar.
- E sua mãe? - arregalo os olhos - Você não precisava dizer: "Eu escolho o fim do mundo". Apenas dizer: "Sim".
- Mas... - e, como um gatilho, começo a derramar as lágrimas descontroladamente - Eu juro que não queria - ele me olha, de início assustado. Mas, depois, ele apenas me abraça e acaricia o meu cabelo, me consolando.
- Calma. Não adianta chorar pelo passado. Não pode ser mudado. Apenas mudar de atitude, mudar o futuro – ele diz compreensível.
- Se eu tivesse te escutado, se eu tivesse te seguido...
- Eles teriam continuado até você dizer que sim. E... nós vamos concertar tudo. Vou te ajudar. E, dessa vez, eu falo a verdade – ele me encara e sorri.
- Mas antes, preciso saber de uma coisa – me recomponho - Aquilo que você disse que detonou o meu cérebro, era mentira? - enrugo a testa.
- Foi? - ele fica nervoso e responde soando mais como uma pergunta, do que uma afirmação. O que me fez aprisionar o meu lado emocional e libertar apenas a ira.
- Eu nem deveria estar confiando em você agora! - o estapeio de novo.
- Será que dá pra parar de me bater?
- Você merece isso e muito mais pelo que me fez! - o empurro pra longe e me viro de costas pra ele.
- Tá. Depois resolvemos o que eu mereço ou não. Agora, mereço uma oportunidade de te ajudar a ficar forte o suficiente para impedir o fim do mundo - eu reviro os olhos.
- Afinal - o encaro novamente - Onde estamos especificamente? - meu olhar ainda com as chamas em força total.
- No seu canto de conforto – solto uma gargalhada sem emoção.
- Como assim? Então como você está aqui? Como vim parar aqui? Por que está tudo vazio? O meu canto de conforto é um lugar que tem tudo o que gosto, não um que não tem nada. Devíamos estar impedindo o fim do mundo! - disparo a falar.
- Presta atenção! - ele diz firme.
- Tô prestando! - fecho os olhos e respiro fundo - Continue - faço sinal para ele prosseguir.
- Uma pergunta de cada vez. Como você estava apagada, tecnicamente ainda está...
- O quê!? Então, eu ainda tô nas mãos daquela cópia barata!?
- Quando cheguei, ele estava sugando sua essência, e você já havia apagado. Então, aproveitei que eu tinha acesso à sua mente e entrei, pois aqui eu conseguiria te fortalecer. E... quanto ao tempo. Ele está parado - minha mente deve estar muito lenta, porque eu estou boiando aqui - Alguma pergunta?
- Todas! - jogo os braços para cima e o chão treme - O que foi isso? - eu me abraço e pergunto assustada.
- É a sua mente... Você não presta atenção? - ele diz cansado - Conversar com você é a mesma coisa que falar com uma criança de cinco anos. É impossível te ensinar...
- É melhor você calar a boca! - aponto o dedo ameaçadoramente em sua direção e ao redor começa a desmoronar, como se estivéssemos em uma caverna prestes a desabar.
- Isso! - Ryder olha ao redor encantado e eu me enfureço mais ainda.
- Você não presta! Isso aqui é só mais um plano diabólico seu, por acaso? Você não passa de um moleque medroso! - solto tudo o que devia.
- Continua - ele abre o sorriso.
- Pera aí. O quê? - se eu me enfureço com alguém, é na intenção de amedrontá-lo, não de alegrá-lo.
- É isso que vai te ajudar.
- Me enfurecendo!? - olho ao redor e tudo se estabiliza novamente. Porém, agora, aparece um riacho com águas calmas ao nosso redor, formando um círculo.
- Isso é perfeito. Está no caminho certo.
- Mas... - agora o riacho virou um buraco - Ahh! - comecei a me desesperar. Uma coisa é você soltar de paraquedas com um instrutor ao seu lado, outra bem diferente, é você estar em frente à uma cratera que aparenta não ter fim.
Embora eu esteja em minha mente, será que eu posso me machucar aqui? E o meu pé, ele não deveria estar curado? Eu posso morrer aqui!?
- Você está começando a se descontrolar... - seu tom, finalmente, soa com um toque de medo. O que me fez surtar mais ainda, pois, se ele está com medo, eu deveria estar apavorada!
- Você acha!? - grito e começa a chover granizo e um terremoto se inicia - Ryder! - seu jeito tranquilo de ser estava me dando nos nervos - Faz isso parar! - uma nuvem negra começa a vir com velocidade total em nossa direção - Ahhh!
- Amora! Relaxa. É só sua mente, VOCÊ a controla - Ryder, novamente, me abraça - Eu já disse que vou te ajudar. Não precisa ter medo. Isso tudo aqui, são as suas emoções em desordem.
- Eu não sei se consigo - começa uma forte ventania.
- Você tem uma ferida no coração. E, como sua maneira de se curar, construiu um muro ao seu redor. Mas... você não vai curá-lo, apenas isola-lo. E isso chega a ser pior. Você precisa se abrir. Se permitir - escuto suas palavras e tento absorvê-las.
Por mais que eu odeie admitir, ele tem razão. Quando minha mãe se foi, levou junto um pedaço de meu coração. E, ao invés de minha tia me ajudar, ela, de certa forma, piorava mais. Então, construir essa barreira foi o meu modo de não me machuca mais.
Claro, tem o Arthur. No entanto, com ele foi diferente. Eu não sei como e muito menos o porquê, mas consegui me abrir pra ele. Eu o via como uma luz no fim do túnel. E, de acordo com que fomos crescendo, nossa amizade se tornava cada vez mais forte. Eu sempre me senti diferente e rejeitada. Porém, com Art, eu me sentia feliz.
Então, veio o Lorenzo. De forma ligeira, entrou em minha vida. E logo eu não me via mais sem ele.
- Você está conseguindo - ouço a voz de Ryder e arrisco a olhá-lo - Está aprendendo - ele sorri pra mim.
Não há mais a cratera ao nosso redor, ao invés disso, um campo de flores surgiu à nossa volta. A névoa deu lugar a um lindo arco-íris. Uma cachoeira surgiu ao nosso lado e pássaros começaram a cantar.
O que antes era o meu medo, agora é a minha alegria.
- Achei que o meu canto feliz fosse... - antes d'eu continuar a dizer, uma rampa de skate surgiu, a cachoeira se transformou em um tobogã e uma das minhas músicas favoritas é tocada, Contramão, de Pitty - Agora sim... - olho encantada - Agora sim, parece a minha mente, só está faltando... - novamente, penso e surge uma tela com um dos meus desenhos favoritos. Uma garota de costas, com o cabelo escuro voando aos ventos, o vestido tomado por um líquido denso e escuro, os braços esticados e arranhados, o sol negro com os raios a dominando e os galhos secos a prendendo.
- É... bem... peculiar - Ryder encara o meu quadro - O que sentia quando o pintou?
- Aprisionamento - apoio meu queixo em minha mão.
- Hum... - um silêncio tranquilizador predomina. Eu e Ryder apenas ficamos observando.
- Então...? - começo meio incerta - Eu acho que já está na hora de impedir o apocalipse.
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