Capítulo 11
Acordo com uma música irritante vinda do meu celular. Todavia, o problema não é ela ser irritante, é ela ser do tipo chiclete irritante.
Por que eu coloquei como toque de meu celular mesmo?
Acho que nunca vou encontrar a resposta...
- Alô - digo rouca, com a voz carregada de sono.
- Amora - ouço a voz embargada de Natália, fazendo o meu corpo ficar em alerta.
- O que aconteceu? - já me levanto e começo a separar alguma roupa para poder ir ao encontro dela.
- O... Arthur... E-Ele... - Natália não consegue terminar de falar. Me deixando em estado de alerta.
- Eu já estou indo pra aí agora mesmo.
- Eu vou ficar te esperando - desligo e corro para vestir um short jeans, uma blusa preta comprida, um tênis branco sem cadarço e prendo o meu cabelo em um rabo de cavalo desleixado.
Em outras circunstâncias, eu teria entrado no chuveiro primeiro. Porém, hoje estou com pressa. Ou seja, só uma água no rosto deve servir.
Atravesso a sala em um piscar de olhos e quando eu estava prestes a abrir a porta, minha tia me repreende.
- Onde vai a essa hora e desse jeito? - ela cruza os braços - Não sei se você se lembra, mas ainda é menor de idade e tem a obrigação de me avisar quando for sair.
- Não dá para explicar agora. Quando eu voltar, te explico tudo direitinho. Mas, agora, eu preciso sair daqui. Eu preciso encontrar Arthur - não lhe dou a chance de responder e saio apressada daquela sala.
Corro o mais rápido que eu consigo. E, quando chego ao hospital, até esqueço que preciso passar pela recepção primeiro. Porém, o guarda não deixa isso passar despercebido.
- Onde pensa que vai? - o cara era quase o dobro da minha altura, porém, não deixei isso me intimidar.
- Eu preciso ver o meu amigo! - me seguro para não gritar.
- Recepção primeiro. Ou, se preferir, pode ir embora - ele sorri secamente. Puxo meu braço de seu aperto e vou para o balcão com pisadas fortes no piso de vinílico.
- Amora, que bom que veio - avisto Natália. Corro para o seu abraço, como em um reflexo.
Eu gosto da minha tia, mesmo ela sendo chata pra caramba e eu nunca admitindo os meus sentimentos, mas Cláudia é a minha responsável legal. No entanto, ela nunca me mostrou um carinho materno, ao contrário de Natália. Muitas vezes, quando eu, raramente, ia pedir conselhos, era Natália quem eu recorria.
- Como ele está? - a encaro com os olhos encharcados de lágrimas.
- O Arthur teve pneumotórax.
- O que é isso?
- É a presença de ar entre as duas camadas da pleura - Natália é professora de biologia. O que ajuda com esses termos científicos.
- Mas ele está bem?
- Arthur mostrou sinais ontem. Então, eles fizeram uma drenagem torácica.
- E o que é isso?
- É a colocação de um tubo através do tórax para aspiração do ar e expansão do pulmão.
- Eu só quero ver ele - ela acaba soltando um risinho.
- Me desculpe. Vem - ela me arrasta até o quarto de Arthur.
Minha cabeça já estava querendo explodir por causa da quantidade de termos desconhecidos.
Entro na sala e encontro Arthur dormindo. E, ao mesmo tempo que eu quero acordá-lo, para ouvir da boca dele que está bem, também quero deixá-lo dormir.
- Sei que vocês são muito próximos - Natália dá uma pausa - Vou deixá-los a sós - ela sorri e fecha a porta.
Fico o encarando por um tempo. Até que eu resolvo quebrar o silêncio que eu mesma estabeleci.
- Arthur... - me sento ao seu lado e pego sua mão - Você vai sair dessa. Preciso de você, quem que vai pôr juízo na minha cabeça se não for você? - acabo rindo - Só você tem essa proeza... - reparo no termo que usei - Está vendo? Eu até usei o termo "proeza" - sorrio, torcendo para ele estar escutando.
- Eu sei que eu sou demais. Insubstituível - Arthur abre os olhos e sorri.
- Só não fica se achando - abro o sorriso também.
- Não prometo nada - o faço rir e fico contente com isso.
- Você não sabe... - começo animada, porém, penso melhor no que eu ia falar. É injusto eu ter me divertido ontem, sendo que ele passou por um perrengue.
- Conta. Começou agora termina - ele sorri animadoramente.
- Não foi nada...
- Amora. Não precisa ficar assim. Não tinha como você saber - como em um passe de mágica, Arthur diz como se tivesse lido a minha mente.
- Eu não acho justo. Por quê? Por que você?
- Amora...
- Esquece! - ele pensa por um momento.
- Então? O que ia me contar? O que aconteceu? - olhando para a sua carinha, fica até impossível recusar.
- Promete não me achar horrível? - ele solta um riso.
- Sem enrolação - ele sorri mais uma vez.
- Tá... - respiro fundo - Quando saí daqui ontem. Encontrei com Enzo na ArteLanche. Mas, não foi nada demais. Conversamos e só isso - ele acaba rindo - E não ria.
- Você sabia que quando diz isso, é um convite para rir? Da mesma forma quando você está no alto e alguém diz para não olhar pra baixo.
- Nós não estamos no alto e não te pedi para não olhar pra baixo.
- Você compreende metáforas?
- Não - rio - Sabe... - mudo de humor repentinamente e ele me encara - Sabe quando eu te contei... - esforço para continuar. Preciso desabafar. E Arthur é o único que pode me ajudar, bom, o único que sabe.
- O que você jurou...? - ele compreende e eu assinto rapidamente.
- Acho que eu o vi ontem lá.
- Mas...?
- E quando cheguei em casa, fiz um desenho dele. E eu ainda tive um sonho muito estranho - a esse ponto, eu estava praticamente cochichando - Mas, deve ser só o meu psicológico - corto o assunto e sorrio nervosamente - Eu não devia estar me desabafando, não quando é você quem precisa se alegrar - sorrio. Me arrependendo por querer melhorar o meu sofrimento e esquecer em que condições o meu amigo está.
- Não se desculpa. Vou sempre estar com você. Pode sempre contar comigo - Art sorri.
- Valeu. Eu só precisava pôr pra fora mesmo - o acompanho no sorriso.
- Amora? - Art muda de tom para um mais brincalhão e eu agradeço mentalmente por isso - Posso te fazer uma pergunta? Mas você tem que ser 100% sincera.
- Sou sempre sincera.
- E o Enzo?
- O que tem ele?
- Ele é um "aventurador" - Art faz aspas com os dedos - Como você - ele sorri sacana.
- Ques viagem é essa? - desvio os meus olhos do seu olhar acusador.
- Pensei que fosse sempre sincera - ele gargalha e eu me seguro para não bater em seu braço.
- E eu sou! Não disse nenhuma mentira - cruzo os braços.
- Mas também não disse nenhuma verdade - sua gargalhada amolece meu coração e me permito rir junto.
- Vamos falar sobre outras coisas, tipo... - penso por um estante - Você precisa estar novo em folha para me ajudar a encarar a escola quando as aulas voltarem.
- Tinha até me esquecido da sua última travessura - ele ri mais - Mas... Eles, provavelmente, irão jogar raticida. E tem gente que é alérgico à substância. Ou seja, ainda vai demorar - ele para de falar e eu paro de o imitar - Você pode ser muito chata as vezes – ele percebe.
- "Você pode ser muito chata as vezes" - o imito novamente e rio - É engraçado ouvir você falando assim.
- Assim como?
- Assim, ué. Quando você tenta me explicar as coisas que eu estou pouco me lixando - rio.
- Ainda bem que já estou acostumado - ele faz uma expressão pensativa, me fazendo rir mais.
O resto da manhã foi assim, cheio de brincadeiras e risadas.
Natália comprou um lanche para mim, pois, deduziu, corretamente, que eu não havia me alimentado.
Até liguei para o Enzo, pois ele tinha me pedido ontem para ver Arthur. No entanto, Art começou a mandar suas indiretas. Mas fingi que nem ligava.
Eu não estava ligando mesmo...
Bom, Art pode ser muito sacana as vezes e ele escolheu o dia de hoje para me sacanear. Contou as minhas aventuras mais envergonhantes para Enzo.
Os dois se juntaram contra mim.
Belos amigos eu fui arranjar...
Todavia, valeu a pena. Alegrei meu amigo e consegui tirar todos os últimos acontecimentos de minha cabeça.
Art recebeu a notícia de que poderia voltar para casa amanhã de manhã. Quase beijei o médico de tão feliz que eu fiquei. Mas eu disse QUASE... Sou doida, mas nem tanto, né? Bom, não a esse ponto.
- Preciso ir. Minha mãe está me ligando - Enzo diz após Art contar a vez que eu levei o meu skate para o colégio.
Não ia acontecer nada demais, se não fosse o Bernardo me desafiar. Nunca fujo de um desafio.
Ele disse que eu não conseguia fazer uma manobra arriscada no corredor da diretoria. Então, eu escolhi andar de skate com as mãos. Porém, a diretora saiu de sua sala bem na hora. Acabei caindo em cima da mulher.
Perdi a minha preciosidade e nunca mais o vi. Pois, minha tia não quis resgatá-lo. E, ainda, ganhei uma semana de suspensão.
Caramba, minha tia deve ter gastado uma fortuna para me manter nesse colégio, mesmo depois de todas essas travessuras, eu continuo firme lá.
- Tchau, cara - Art diz e eles se despedem em um aperto de mão de brother.
- Tchau – Enzo responde. Depois, me encara intensamente. Construindo uma bolha à nossa volta. Como se apenas nós dois existíssemos.
- Ahan? - Art coça a garganta, nos despertando - Eu até sairia, mas, no momento - ele aponta para si mesmo, fazendo Enzo rir, me deixando vermelha de vergonha.
- Podemos conversar? - Enzo me surpreende. Assinto e saímos do quarto.
- Então? - pergunto.
- Eu queria saber como você está. Depois de ontem... - eu havia me esquecido completamente de ligar para ele.
- Não foi nada - rio sem humor, no entanto, ele continua sério - Foi um... ataque... de... ansiedade - penso rápido.
- Não vou te forçar a nada. Mas... Me diga se você está realmente bem. Quero sua sinceridade - não consigo evitar sorrir com sua preocupação.
- Eu estou bem. De verdade - ele leva um tempo para absorver, até que suspira e diz:
- Tudo bem então... - Enzo finalmente sorri - Tchau.
- Tchau - fico sem saber como me despedir direito, então, eu apenas aceno com a cabeça e corro de volta para o quarto de Arthur.
- Que rápido...
- Você me conhece e sabe o quanto odeio isso. Mas, também preciso ir - o olho tristemente.
- Quem diria, Amora Lima seguindo regras - ele ri.
- Então vou ficar - sento, emburrada, na cadeira.
- Que isso...? Amora. Eu só estava brincando - não o encaro - Sei que não almoçou ontem. Precisa comer comida de sal - ele sorri - Além disso, está precisando de um bom banho...
- Eu não estou fedendo! - cheiro a blusa na parte debaixo do braço.
- Tá sim. O cheiro está vindo aqui - Art gargalha.
- Agora, eu só vou porque você não está merecendo a minha companhia - viro a cara.
- Depois nos falamos - venço o meu orgulho e o encaro.
- Juro que volto.
- Só não se esqueça que hoje, o horário de visita é só agora.
- Então não saio daqui! - digo autoritária.
- Para de ser mimada e vai almoçar. Você não vai deixar de ser a minha melhor amiga porque está se preocupando com a sua saúde - ele diz firme.
- Como se atreve...? - lanço um olhar mortal – Mas... - ele acaba vencendo – Que saco! Está doido pra se livrar de mim, né?
- Você sabe que não. Mas me preocupo com você. Não quero que desmaie – suspiro.
- Você sabe que eu te amo – digo e beijo sua bochecha - Até amanhã.
- Até amanhã - ele sorri e eu saio do quarto.
Me encontro com Natália e me despeço dela também. Depois, volto rapidamente para casa.
- Amora! - ouço a voz animada de minha tia assim que entro em casa - Quero lhe apresentar... - ao ver a companhia de minha tia, meu chão desaparece e meu coração para de bater por míseros segundos.
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