Prólogo
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A vida de Thiago não tem sido as mil maravilhas desde que voltou da última missão da Ordem. Óbvio que ele estava feliz por ter voltado com vida e com todos os membros ainda grudados ao corpo. Apenas um ou outro arranhão marcava sua pele, mas isso ele guardava como lembrança. Às vezes, tarde da noite, uma das cicatrizes coçava sem parar o levando de volta para o meio dos monstros e para todas as mortes. Thiago ainda tinha pesadelos com a morte de alguns dos seus amigos. Isso o assombrava durante as madrugadas, mas ele logo matava o medo com a bebida e o cigarro.
Desde que entrou na Ordem, tem encontrado dificuldades para voltar ao seu emprego. Costumava ser um bom jornalista e ganhava dinheiro o suficiente para bancar uma boa vida. Ele sentia falta de sair nas ruas entrevistando vitimas com seu bloquinho de anotações e de conversar com seus colegas de trabalho até tarde enquanto bebericavam café. Café era sua bebida indispensável e vivia cheirando a ela. O aroma suave sempre estava impregnado em suas roupas de trabalho, mas agora foi substituído pelo cheiro da bebida ardente.
Há dois dias, Renata dirigiu até o apartamento de Thiago e, como tinha uma cópia da chave, conseguiu entrar facilmente. Ela carregava uma caixa nos braços que jogou aos pés do namorado quando o viu caminhar até a porta. Depois, tirou um isqueiro do bolso, o isqueiro que Thiago achou que tinha perdido, e colocou fogo no que havia dentro da caixa. Ele assistiu camisetas, cartões e presentes que tinha comprado para Renata queimar lentamente. O cheiro de fumaça se espalhava pela casa e se não fosse contido, logo queimaria o apartamento e tudo que estivesse dentro.
Tudo isso aconteceu em completo silêncio. Renata não disse uma palavra. As lágrimas de raiva apenas escorriam pelo seu rosto negro e o fogo brilhava em seus olhos. Depois, jogou o isqueiro junto ao fogo e se virou para ir embora. Thiago não tentou detê-la, pois estava em choque. Já vira muitas coisas estranhas, mas essa parecia ser a pior delas. Também precisava correr para apagar o fogo.
Renata e ele viveram um romance tranquilo. Eles se conheceram durante uma busca de emprego. Ela também era jornalista e estava animada para começar a trabalhar no ramo. Já Thiago procurava voltar ao seu amado trabalho. Renata ficou muito empolgada ao encontrar o jornalista durante seu estágio. De acordo com ela, já havia visto o trabalho de Thiago e o admirava. Naquele dia, a garota vestia saia de pregas e meio três quartos tão brancas e apertadas quanto seus dentes. Todo aquele sorriso e conversa mexeram com Thiago e em alguns meses os dois já se viam envolvidos.
A garota sempre foi surtada e determinada. Essa personalidade sempre chamou atenção do jornalista. Mas não sabia que sua determinação a levaria a quase por fogo em seu apartamento. Não sabia o que havia feito de errado, mas procurou esquecê-la com a bebida. Desde então, o chão de sua sala esteve lotada de garrafas de bebidas vazias e cinza de cigarro manchando as mesas.
A sala de Thiago estava mergulhada na escuridão. A cortina fina lutava para segurar os raios de sol, mas fracassava. Um fio de luz iluminava o rosto do jornalista que havia dormido no sofá depois de fumar alguns cigarros assistindo a novela mexicana. Ele havia virado algumas latinhas de cerveja quando o casal deu seu primeiro beijo. Não aguentava ver casais sendo felizes enquanto ele afundava no seu pequeno apartamento.
Quando abriu os olhos, quase foi cegado pela intensidade do sol. Não fazia ideia de que horas eram, mas chutava ter passado da hora do almoço. Sentado no sofá, sentia suas costas latejarem pela posição que passou a noite e a cabeça latejar pela ressaca. Virou um copo inteiro de água que estava sobre a mesa de centro sem saber a quanto tempo estava ali, mas precisava matar a sede. Levantou do sofá e mancou até a cozinha a fim de encontrar algo para comer. Acontece que a geladeira não estava recheada como costumava ser quando Renata passava seus dias ali. Havia apenas garrafas de cerveja, refrigerante sem gás e algumas maçãs apodrecendo. Sem muita opção, pegou uma maçã e deu uma mordida.
Uma pontada percorreu sua cabeça quando o celular começou a tocar. O toque estridente martelava em sua têmpora. Fazia alguns dias que ligavam sem parar em seu celular, mas ele sempre se recusava a atender o número desconhecido. Tinha certeza de que era sua operadora cobrando as contas vencidas. Mas hoje ele resolveu fazer diferente.
Deslizou o dedo pelo botão verde na tela do celular. Esperou a voz entediante e mecânica da atendente invadir os seus ouvidos e já se preparava para reclamar do tanto que ligavam para ele sem parar, mas algo inesperado aconteceu.
-Sr. Veríssimo?
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