Capítulo 9 Retorno Parte II
A propriedade do misterioso Marquês Blackshadow ficava na parte mais exclusiva de Londres, a residência pertenceu ao antigo lorde próximo à linhagem direta do príncipe regente, porém morreu sem deixar herdeiros. Assim quando Benjamin Crowford comprou o brasão dessa casa veio com ele as propriedades relacionadas ao título nobiliárquico em questão.
Isso era o que acontecia aos títulos quando um nobre falecia sem deixar herdeiros masculinos, voltava à coroa, pois pertencia à monarquia. Dessa forma, havia três meios possíveis de um homem obter o título: por hereditariedade, por cortesia e troca de favores e, não raro alguns homens muito ricos e poderosos compravam essa honraria, Benjamin estava nessa última categoria.
Caminhava em sua propriedade avaliando tudo o que tinha vivido e experimentado até ali, todo o ouro e poder, nada preenchia o vazio de não ter Sophie junto de si. A mansão estava em efervescência, devido aos preparativos do grande baile. Tudo estava sendo organizado nos mínimos detalhes, nada era posto de lado. Olhou de soslaio para o homem que se aproximou.
— Sebastian já viajou para buscar minha mãe em Manchester?
— Sim, ela está frágil. Contudo, farão o traslado dela com todo o cuidado. — Conrad pigarreou. — Quanto aos outros detalhes, Bastian vai resolver todos.
— Ótimo! — Se virou para o amigo. — Os convites já foram entregues?
— Todos eles sem exceções, e todos do modo que você especificou. — Sorriu Flag.
— O cerimonial que receber a família Stanton, deverá seguir o protocolo que irei pedir para seguir, terá que fazer com todo o rigor.
— Será feito tudo como você pediu. — Meneou a cabeça. — Só por curiosidade, por que Benjamin, quer fazer desse jeito? Por que simplesmente não aparece para a garota? Resolve tudo só entre vocês?
— Tenho os meus motivos.
— Se vingar? — Levantou uma sobrancelha fazendo um semblante inquisitivo. — Sabe que não pode revidar. Mesmo porque, a sua namorada, não lhe fez nada.
— A minha questão não é desforra, sabe muito bem disso — deu passos para uma janela grande que dava vista a um belo jardim. — O assunto que tenho, tem a ver com os pais dela. Não com ela. Além do mais, Sophie, não é minha namorada.
— Ahã! Sei bem como é! — Falou com um sorriso nos lábios.
— Flag, deixe de suas brincadeiras. — Riu para o amigo. — Vamos preciso que me acompanhe em um compromisso que tenho na Mayfair. — O rapaz anuiu e juntos foram ao local que Benjamin Crowford deveria ir.
O sol brilhava graciosamente, o novo nobre, andava nas ruas agitadas de Londres com muita desenvoltura, os transeuntes nem imaginavam que o homem garboso que transitava no passeio público foi um dia uma criança sofrida com poucos recursos. Hoje, era um homem bem-apessoado, vestido de modo fino e elegante, com casaca bem cortada antracite, colete de dois botões cinza claros, um lenço muito bem-passado e engomado com um pequeno diamante o segurando ao laço, calças alinhadas, uma cartola, luvas de camurça, botas de couro e para completar o traje de um verdadeiro nobre uma bengala com a ponta onde se colocava as mãos, madrepérola.
Se movimentava confortavelmente em sua nova posição social, outros lordes passavam por ele e trocavam cumprimentos ao tocar as abas do chapéu. A agitação começava o deixar um tanto incomodado. Se voltou para Conrad.
— Falta pouco para chegarmos na Bond Street, num encontro de negócios. — Apontou a esquina. — Está vendo aquela edificação de tijolo vermelho aparente?
— Sim, consigo ver.
— Vamos, comprar esse complexo de prédios para ser o ponto central de todos os nossos negócios, onde poderemos ter as reuniões, pensar em novos investimentos.
— Bennie, sempre pensando em tudo de modo centrado, nunca descansa, desde que chegamos não repousa. Trabalha e triplica o que já é muito. — Pousou a mão no ombro do amigo. — Precisa relaxar, viver um pouco.
— Gosto dos números. Eles são a única constância em minha vida. — Esboçou um sorriso.
— Cara... — Suspirou. — Devia encontrar sua amiga logo!
Então, subiram os degraus do lugar, Benjamin abriu a porta avistando de pronto os cavalheiros que o esperavam para poder assinar as papeladas e formalizar a compra do imóvel. Tudo foi devidamente arrumado, não precisando ficarem muito tempo presos no salão. A isso os banqueiros apertaram a mão do Lorde, se despedindo deixando os amigos sozinhos examinando os novos estabelecimentos de negócios do Marquês Blackshadow.
— O local é muito sólido, Bennie, ótima localização. — Avaliava todos os pormenores. — Quando pretende começar a utilizar o prédio?
— Assim que terminar os preparativos do baile. — Caminhou até a saída. — Quando Bastian voltar de Manchester. — Olhou para Flag. — Agora vamos embora temos muitos assuntos para resolver.
Os dois seguiram lado a lado pelas ruas repleta de damas e cavalheiros que caminhavam tranquilamente, cada grupo tinha o seu objetivo para estar ao ar livre. Benjamin Crowford, no entanto, tudo que desejava era estar em casa, não via a hora de poder ver a sua mãe, pois desde que chegou em terras britânicas, ajudou sua genitora, e os pais de Ward, agora ele queria ela junta de si. Contava os minutos para ter a sua companhia novamente, como antigamente.
Chegaram ao Hyde Park, onde os nobres passeavam era o momento deles circularem para verem e serem vistos. Tílburis, deslizavam suavemente pelos cascalhos com Ladies e seus modelos exclusivos com chapéus, sombrinhas que combinavam perfeitamente.
Benjamin avistou a garota que sempre preencheu os seus pensamentos durante todos esses anos, estava bem ali diante dele, mais linda e radiante como nunca antes, seu coração por um segundo parou, queria se aproximar falar com ela e dizer o que se passou todos os anos que não se viram. Ela estava num vestido verde-claro, sombrinha na mão. Usava luvas de renda, caminhava suavemente, sorria com um brilho encantador. Flag acompanhou o olhar compenetrado do amigo, então deu uma batidinha nas costas do amigo.
— Benie, sua namorada é linda!
Crowford se endireitou desviando o olhar para o amigo.
— Ela não é minha namorada.
— Tem razão, ela está acompanhada com um grandão.
— Como?! — Benjamin não tinha observado o que rodeava a sua querida Sophie. Assim, olhou mais uma vez percebendo tudo que a cercava.
— Aquele cara, emproado, ela acabou de dar o braço ao sujeito. — Conrad apontou para a direção do casal.
O Marquês engoliu em seco, sentiu um ardor em seus olhos, e uma vontade imensa de partir o rosto daquele homem que conduzia a sua Sophie, respirou fundo para tentar controlar o sentimento negativo que invadia e envenenava a sua alma. Ver ela passeando feliz de braços dados com outro, o consumia de uma sensação que o incomodava e esmagava o seu coração. "Como pode me esquecer? Abandonar a promessa que fizeram naquele estábulo?" Esticou a coluna com determinação e endureceu a sua face, olhando o quadro que se realizava diante de seus olhos.
— Vamos para casa. — Sua voz soou áspera.
— Quer cumprimentar sua amiga?
— Não! — Trincou os dentes.
Conrad, entendendo o desconforto de Benjamin Crowford, atendeu de pronto o pedido do rapaz. Assim a dupla desistiu do passeio, voltando para a propriedade do Marquês.
(...)
A noite estava fresca no auge da temporada londrina. O baile de Máscara do Marquês Blackshadow era o tema mais comentado pela nata, a aristocracia inteira estava ali para conferir o evento e conhecer o misterioso fidalgo. Uma fila de carruagens se formava ao longo da entrada da propriedade do Lorde. Todos estavam muito eufóricos, a propriedade inteira estava iluminada com lampiões à gás, tudo estava colorido e vibrante.
A carruagem dos Stanton aguardavam a sua vez para entrarem na mansão, os pais de Sophie estavam ansiosos, de relacionar-se com homem que monopolizou os assuntos e interesses de toda Londres. Sophie estava alheia a tudo, não conseguia fixar o pensamento em nada que estava acontecendo a sua volta, girava a sua máscara em seus dedos. Com isso, ela olhou através da janela e pode ver que tudo era luxuoso e grandioso, parecia a residência de um príncipe.
A isso, um libré, com casacas preto e vermelho, cores da heráldica do título do Marquês, com botões de latão bem polidos abriu a porta, ajudando as damas do veículo a saírem com cuidado, as mulheres Stanton, colocaram os pés nos degraus da residência opulenta. Subiram as escadas com delicadeza. Alcançaram o saguão, todos estavam com os melhores trajes que o dinheiro poderia comprar, um desfile interminável de joias raras e exuberantes.
Chegaram ao cerimonial do Baile de Máscara, que recebia os convites e em seguida, anunciava a entrada do convidado ao baile. As jovens recebiam o caderninho como costume de todos os bailes. Nesse momento o senhor Stanton colocou nas mãos do homem o envelope negro. O sujeito pigarreou.
— Sinto muito, senhor, apenas a senhorita Sophie Stanton poderá entrar no salão.
— Como isso é possível? — O magnata estava indignado, falou entredentes.
— Infelizmente, não posso fazer nada, somente sigo ordens. — Estava incomodado.
— Vamos embora! Papai, depois alegamos que mamãe não estava se sentindo bem. — Depositou sua mão delicada no ombro do seu progenitor. Gertrud estava muito nervosa, sentindo uma vergonha imensurável. Sentia a ruína do deboche no dia seguinte ao evento, todos comentando essa humilhação. Continha as lágrimas para não completar o vexame.
Conrad Flag alcançou o pequeno incômodo que se desenvolvia na entrada do baile, exatamente como o anfitrião havia previsto. Sabia exatamente como proceder nesse momento. Falou baixo ao cerimonial alguma coisa, então se aproximou da família que estava estarrecida com o acontecido.
— Permita me desculpar em nome do Lorde Blackshadow. A senhorita Stanton é a convidada de honra desse Baile de Máscara, queira me acompanhar por aqui. — Apontou o caminho a jovem que olhou com certo receio.
— Quanto aos meus pais, o que vai acontecer com eles?
Flag notava que a "namorada" de Benjamin não era apenas bonita, também era gentil e bondosa se importava de verdade com seus pais. Assim com um sorriso afável.
— Não se preocupe senhorita, irão se juntar aos demais no jardim para saudar a entrada do Marquês Blackshadow. — Pegou um caderninho com uma fita de cetim vermelha. — Com a sua licença. — Pegou o pulso delicado da jovem. Então atou o caderninho de danças no seu punho. Riu. — Antes que me esqueça.
Sophie baixou a vista e examinou o objeto. As folhas das valsas estavam todas reservadas para o Marquês. Estranhou muito o fato. Tentava criar um artifício para recusar as contradanças. Olhou para os pais muito preocupada.
— Não se preocupe, minha preciosa. — Sua mãe sorriu indulgente. — Seu pai e eu ficaremos bem. — Nesse momento o cerimonial os conduziu até a entrada os apresentando em separado de sua única filha. O Duque ao ouvir a introdução do casal Stanton sem a presença de Sophie, não se agradou em nada do modo como o misterioso Marquês conduzia os seus assuntos, invadindo compromissos alheios. Precisava colocar Sophie em evidência, como convidada principal. Uma raiva inesperada brotava no aristocrata, não disfarçava seu aborrecimento.
Sophie foi conduzida por Conrad por um caminho mais particular. A garota olhava todos os cantos da casa e tudo inspirava opulência e poder, de fato o homem era o tema do momento. Assim o ajudante do nobre abriu uma porta francesa que dava acesso a uma linda varanda muito ampla, repleta de flores, ela fitou os convidados se ajustarem no jardim lindamente organizado, todo iluminado. A voz masculina a tirou de seu devaneio.
— A senhorita Stanton terá uma visão privilegiada do início dos festejos. — Sorriu amável, lhe oferecendo numa bandeja uma taça de champanhe francesa. Sophie aceitou. Assim, o rapaz fez uma breve mesura. Antes que ela elaborasse qualquer pergunta, ele já tinha saído do local.
Nesse momento, iniciou-se um show pirotécnico. Vários fogos de artifício pintavam o céu noturno de Londres. Em várias cores cintilantes. Sophie queria que sua amiga Megan estivesse ali para lhe fazer companhia. No entanto, a magia no céu a distraiu, os sons ensurdecedores dos fogos destoavam das notas musicais da orquestra. Que aumentou o compasso ao passo que surgiu no céu um balão de ar quente imenso e imponente. As notas intensas de Vivaldi na peça Storm ficaram audíveis. Davam a vibração própria para a entrada digna do anfitrião misterioso, o seu aeróstato flutuava sobre os convidados que estavam em êxtase ao assistirem uma entrada tão espetacular.
Todos olhavam atônitos ao show de cores, luz e sensações, com um homem poderoso envolto de segredos encantava aos seus convidados. À medida que a música crescia, os corações de todos pulsam junto com os acordes enérgicos do quarteto de cordas. Alguns momentos depois deslizavam por entre as cordas artistas circenses que se equilibravam como num sonho com um baile no ar. A apresentação entretia aos nobres, nunca antes tinham presenciado algo tão grandioso.
Então, um homem ruivo elevou sua voz sobre um mezanino para que todos o ouvissem.
— Sejam todos bem-vindos ao Baile de Máscara do digníssimo Marquês Blackshadow da Ordem dos Cavaleiros da Rosa. O Lorde dessa casa deseja que todos se divirtam e aproveitem a noite.
A isso o marquês se aproximava do chão numa cesta muito bem adornada, com o auxílio dos artistas. Amarraram as cordas ao chão e o Lorde surgiu majestoso perante todos, seu porte impressionava a assistência, com trajes finos um casaco luxuoso de veludo bordô, com um colete preto com bordado de fios de ouro, botões de madrepérola, o nó do lenço executado à perfeição com um diamante o prendendo, juntamente com abotoaduras de ouro e rubi. Calças pretas e uma bota de couro reluzente. Os cabelos negros ondulavam levemente sobre o ombro, não se via muito do homem que usava uma máscara negra, deixando visível apenas um cavanhaque muito bem aparado. Andava como um verdadeiro aristocrata munido de sua bengala de marfim e pedrarias.
Sophie assistia a tudo de uma varanda que dava a ela uma visão privilegiada do evento, contudo, não tinha acesso ao homem que se apresentava com toda a pompa de uma rei. Observava tudo aquilo com um misto de curiosidade e raiva por achar o nobre muito pomposo. Riu pelas narinas querendo estar junto de sua amiga, pois com certeza elas estariam rindo muito do exagero com que o homem estava se introduzindo, indicava uma certa insegurança da parte dele. Caminhou até uma porta de vidro, olhou o rapaz que a conduziu até ali, como se estivesse a vigiando, observou estar um pouco distraído, aproveitou a oportunidade, com passos leves foi até Megan, se sentiria melhor na companhia da jovem. Com isso se voltou na direção da voz do Marquês.
— Agradeço a todos por aceitarem esse singelo convite, por vir prestigiar ao Baile. — Gesticulou de modo régio. — Após a meia-noite, todos tirarão suas máscaras revelando as suas identidades, inclusive o anfitrião. Agora, que começam os festejos.
Assim se deu que todos os participantes com as suas roupas finas e encobertos pela paramenta se misturavam entre seus pares. O som melodioso da orquestra voltou a preencher o ambiente.
A jovem Stanton equilibrou o objeto em seu rosto, aquilo era realmente incômodo, fazia coçar e quase não conseguia enxergar direito, naquele momento, avistou Megan junto de uma enorme poncheira de cristal, rindo com uma asiática que parecia muito tímida.
— Olá! — Se aproximou amistosa.
— Oi! — Riu divertida para a amiga. — Pensei que não se juntaria aos mortais.
— Ah! Querida amiga, fui conduzida a assistir à abertura dos festejos de camarote, mas receio que era muito solitário por lá, então resolvi me evadir de tal cativeiro luxuoso. — Riu.
— Não me incomodaria em ser prisioneira nesse caso. — Falou divertida. — Ah! Propósito, estava me esquecendo. — Apontou para a jovenzinha tímida ao seu lado. — Essa é a senhorita Rose Barnes, a jovem que Lady Mary e seu esposo cientista adotaram, quando foram em expedição ao oriente.
Sophie fez uma mesura educada que a garota correspondeu.
— Um prazer conhecer a senhorita Barnes.
— Argh! Para com isso, Sophie. — Negava alegre com a cabeça. — Aqui somos somente, Sophie, Rose e Megan, certo? Nada dessa bobagem elitista. — A jovem Stanton anuiu rindo para a garota. A novata também sorria timidamente.
Assim o trio logo se enturmou, numa alegria própria da juventude, pois Rose, não seria absorvida pela sociedade londrina preconceituosa e mesquinha, foi na amizade sincera das jovens Carlson e Stanton que pode se sentir um pouco mais confortável. No grupo não havia espaço para amarras e prejulgamentos, eram apenas garotas aprendendo a se equilibrar num mundo social fechado e cheio de regras.
— Sophie, já te disse que nessa festa dá para se beber o ponche?
— Não disse ainda.
— Esse marquês não poupou despesas. — Bebericou o líquido. — Tudo é gostoso e de boa qualidade. Acho que vou gostar dele. — Stanton girou os olhos.
— Qualquer pessoa que lhe alimente com qualidade você irá gostar.
— Isso é verdade. — Depositou a taça na mesa. — Mas algo nesse lorde me inspira algum quê de menino intimidado.
— Por que você diz isso?
— Esse espetáculo... — Olhou tudo à sua volta. — ... Esse requinte... como meu pai sempre fala: uma velha estratégia militar... a melhor defesa é o ataque. — Deu de ombros.
— Está querendo dizer que o Marquês tem medo de algo? — Antes que a amiga replicasse, o duque se aproximou do grupo.
— Boa noite, senhoritas! Como vão nessa noite curiosa? — Fazendo uma vênia para as moças.
— Estamos confortáveis. — Sophie sorriu educada. — Permita apresentar nosso novo conhecimento. Senhorita Rose Barnes, filha de Lady Mary e do senhor Frederick Barnes, o cientista renomado na pesquisa sobre o oriente.
O nobre se inclinou suavemente para a jovem que era apresentada, pegando a sua mão suavemente.
— Encantado, sou o Duque de Connaught e Strathearn. — Rose se inclinou em cumprimento ao aristocrata.
— Me daria a honra de uma dança?
A jovem sorriu então o homem pegou o caderninho de seu pulso anotando uma quadrilha para a jovem novata. Foi até Megan fazendo o mesmo gesto. Ao chegar ao objeto atado ao punho de Sophie ficou perplexo, as valsas estavam todas reservadas ao Marquês. Trincou os dentes em uma vã tentativa de esconder o desagrado. Sabia que a garota não tinha culpa de um homem também reparar as suas qualidades e beleza. Então, sufocando a contrariedade, registrou seu nome numa dança mais animada nas páginas da garota.
O baile transcorreu de modo organizado, os participantes usufruíram um ambiente de alegria, música agradável, e petiscos de boa qualidade.
Os pais de Sophie estavam deslumbrados com a mansão, respiravam riqueza por todos os lados, Tom estava muito ansioso de poder conversar com tal homem nobre e poderoso. Já tinha feito as suas pesquisas e tinha conhecimento que era mais que um aristocrata pomposo era um corajoso homem de negócios, isso o fazia querer com mais vontade poder fazer transações comerciais com tal sujeito.
— Baile encantador, não concorda, senhora Stanton? — Se aproximou a senhora Carlson. Às duas se inclinaram em cumprimento.
— De fato, está tudo muito belo. — Retirou o objeto incômodo do rosto.
— Mais uma vez sua filha é a bela do baile. — Se abanou sutilmente. — Todos comentam sobre o destaque que teve.
— Minha filha é uma joia rara, Valene, sabe muito bem disso, por isso permite que Megan seja vista com minha preciosa.
— Não se agite, minha cara amiga. Falo isso com todo o respeito. — Colocou o leque nos lábios em confidência. — Os convidados repararam que o misterioso Marquês já colocou seus olhos em sua linda criança. Resta agora saber para qual nobre o coração de Sophie irá pender. — Sorriu sutilmente. — Contudo, que ela seja rápida e sábia na escolha. — Sua progenitora não respondeu apenas anuiu. Dito com sutileza o seu pequeno veneno, voltaram a falar sobre futilidades acerca dos membros da festa.
Os primeiros acordes de uma valsa foram ouvidos por todos no meio do salão, o coração de Sophie deu um salto, pois sabia que o Marquês Blackshadow se aproximaria para reivindicar a sua dança, de fato o homem caminhava com algum receio. Medo? Lembrou das palavras de sua amiga, o que será que o nobre temia? Ele se aproximou dela, fez uma leve inclinação.
— Daria a honra dessa dança?
Algo na voz do aristocrata lhe soou familiar, tentou reconhecer algo nele conhecido, íntimo. Fitou os olhos dele, e eram doces, recordava algo que lhe escapulia, mas a atraía para saber mais do nobre. Com isso deu a mão ao rapaz de máscara, ambos caminhando lado a lado para a pista de dança.
Sophie como em todos os bailes, sempre encantava por sua graça e leveza, num vestido majestoso, verde-água, com as mangas levemente inclinadas dando uma visão de seus ombros delicados, no busto se delineavam um voal da mesma cor do tecido, com borboletas que compunham a delicadeza do vestido que tinha uma cintura bem marcada que se abria numa saia de seda, voal e muito tule que se agitava como num lindo sonho à medida que a garota se movimentava.
Ao chegar no centro do salão o Marquês a puxou para bem perto do seu abraço, a orquestra começou os acordes da doce melodia de Chopin — Spring Waltz (mariage d'amour). A música era pura magia, o casal deu seus primeiros passos como se sempre tivessem feito isso, o homem a conduzia com graça e beleza, Sophie o deixava a guiar em uma confiança cúmplice, suas saias rodavam numa nuvem de tecido que envolvia as pernas de seu parceiro de dança, os giros precisos encantavam os convidados, ela inclinava a cabeça numa graça encantadora, deslizavam em toda a extensão da pista, os olhos, envolta não piscavam para não perderem tal momento encantado, a dupla estava muito próxima.
O casal se olhavam intensamente, ele a trazia para mais perto num abraço carinhoso, ela não o repelia, os rodopios os prendiam dentro dessa fascinação que os atraía a continuar a valsar, o piano, junto ao violino, davam o compasso perfeito para seguirem dançando como plumas ao vento, o sentimento era real Stanton não conseguia explicar, mas seu parceiro de dança evocava os rodopios de menina a girar nas árvores, onde ver o mundo de ponta cabeça era o mais certo a se fazer, nesse exato momento era assim que se sentia como uma menina, aquele homem misterioso a guiava em seus braços a sentir a magia da infância, a beleza dos movimentos os cativaram os levando para muito longe dali. Girar e sentir que não se perdia em nenhum momento, pois, os olhos do nobre não desviavam dos seus. Sentia o calor de suas mãos em suas costas, vibrava ao toque suave dele, sua mão grande enluvada fazia pequenas carícias na sua, ela ansiava mais por esse contato, embora breve deixavam uma digital em sua alma.
Sentiram que a música estava acabando os acordes davam seus últimos suspiros, então os dois relutantes se afastaram, mesmo não sabendo quem era, ela sentia uma confiança familiar ao estar perto. Então ambos fizeram uma vênia lenta, o vestido dela se abriu como um leque, ao erguer os olhos viram que as írises do rapaz brilhavam com uma alegria que ela só viu uma vez nos olhos de outro rapaz.
Ela meneou a cabeça, o Marquês pegou a sua mão a conduzindo para a borda do recinto, a garota o acompanhou. Os outros casais após isso começaram a dançar, num mar de sedas e tules a rodar o movimento da orquestra. A saída do casal ficou quase imperceptível, menos para os olhos curiosos de Megan Carlson, que sorriu marota diante do que observava à sua frente.
Benjamin a levou até uma varanda mais privada, onde podiam conversar com mais tranquilidade.
— Foi uma dança revigorante. — A voz do homem saiu falhada.
— Sim, foi muito agradável. — Tentou ir embora.
— Não vá agora, senhorita Stanton, fique mais um pouco. — Algo no pedido do Marquês fez ela retroceder dois passos.
— Quem é o senhor? Além de ser o Lorde dessa casa?
— Você sabe quem sou. — Sorriu. A garota não podia ver toda a face masculina por causa do adereço que obstruiu ver em sua totalidade. A respiração da garota estava um pouco descompensada.
— Acredito que não fomos apresentados. — Tirou a máscara que a atrapalhava. — Nunca vim para um lugar escondido com qualquer rapaz, nunca me expus dessa maneira, me diga quem é você!
O homem diminuiu o espaço entre eles. Ela pode sentir o hálito com notas de canela do homem, não tinha nenhum vestígio de álcool. Ele se inclinou quase na altura dos lábios da jovem. Sussurrava muito próximo.
— Ainda não deram às doze badaladas. — Roçou seus lábios nos dela, suave. Ao sentir o cavanhaque se sobressaltou se afastando dele. A audácia dele a desconcertou a deixando muito agastada com a atitude dele.
— Como ousa? — Limpou os lábios. Como se tivessem sido tocados de modo indevido — Nunca dei essa intimidade ao Lorde! — Caminhou até a saída. — Jamais o faria, nem hoje ou em outra época, juro.
— Não acredito. Não é boa em cumprir promessas. — Ela sentiu que o homem tinha algo contra a pessoa dela.
— O que você sabe sobre mim? — Cuspiu as palavras.
— Sei o suficiente. — Desdenhou da garota.
Sophie começou a sentir uma raiva tomar conta do seu ser, o que antes aquecia e a fazia querer estar perto, agora tinha vontade de esbofeteá-lo, saindo dali o mais rápido. Se voltou com toda a certeza do mundo, apontando o dedo na direção do aristocrata.
— Não sabe nada! Enquanto, fica aí nessa sua pose régia, achando que sabe das coisas, julgando que pode comprar a tudo e a todos... — Bufou. — Deixa te informar uma coisa simples, sem te cobrar nada. — Falava arrastado. — Existem pessoas, Lorde Blackshadow, que não estão a venda, — riu sem humor. — Adivinha, Lorde, uma delas sou EU! — O sujeito se aproximou, ela se afastou.
— Quanto ao Duque, o que tem a dizer sobre ele? O Lorde, por um acaso é seu noivo?
— Não devo satisfação ao Marquês, — Suspirou. — Contudo, vou lhe deixar bem claro. Não sou comprometida nem com o Duque, muito menos não formaria um laço com alguém como você. — Saiu do lugar muito zangada da presunção do nobre. Nem esperou o sujeito responder algo em sua defesa.
Sophie tinha uma coisa em sua mente, aquele sujeito não era o que mostrava, algo muito importante estava escondido por trás daquela fachada nobre, contudo, não estava interessada em descobrir. Seu único desejo era sair daquela residência e não pensar no atrevimento daquele nobre, que achava que podia brincar com as pessoas.
Benjamin, no entanto, ficou só na varanda, sua mente fervilhava com os últimos acontecimentos. O evento foi um sucesso, porém não teve o desenvolvimento que gostaria, sua Sophie se assustou, escapando por entre seus dedos. Contudo, uma rusga lhe incomodava, uma vez que sabia que ela não estava comprometida porque o Duque a cercava a todo momento.
O relógio do saguão tocou audível às doze badaladas, com isso os convidados em grande euforia e brindes retiraram suas máscaras em gargalhadas e festejos, com exceção do Marquês que tirou sua indumentária sem muita festa. Os convidados vislumbraram o rosto de traços marcantes do nobre, era de uma beleza pouco convencional, mas de um magnetismo penetrante, todos o admiravam ao ver seu rosto.
Os pais de Sophie ficaram decepcionados ao ter que acompanhar sua filha que não estava disposta, precisava descansar, na verdade, ela não tinha forças para continuar naquele show. Então o contragosto seus genitores se despediram do baile prematuramente. Todavia, estavam exultantes, pois a dança de Sophie com o Marquês sem dúvidas seria assunto positivo em todas as famílias ricas e influentes de Londres.
O baile de máscaras seguiu por toda a madrugada. Os nobres bailaram e beberam com muita exaltação. Todavia, Benjamin não conseguia ver nada além de vazio e frivolidade, então se recolheu em seus aposentos. Sophie ao chegar em casa se reservou o direito de ficar quieta, indo para a sua cama, tentar pôr em ordem os seus pensamentos.
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