Capítulo 6 Êxito Parte I
Manchester
O ambiente era muito barulhento, um amontoado de homens num vozerio infernal. O cheiro viciado do azedo de suor masculino misturado ao da cerveja preta barata dominava todo o ambiente. Além da fumaça dos charutos e cigarros que estavam impregnados no ar deixando a visibilidade nebulosa.
O salão tinha algumas mesas redondas com feltro verde, alguns clientes jogavam cartas, e outros jogos de azar. Um piano ao fundo com um velho magrela tocando músicas de marinheiros. Estas tinham sempre um duplo sentido, as palavras de baixo calão sempre animavam os clientes do pub.
O balcão era alto de mogno vermelho, muito antigo, alguns bêbados mal se equilibravam nos banquinhos. Num intervalo regular um ruivo limpava o líquido âmbar do tampo de madeira. Ali era o encontro de muitas pessoas de várias experiências e várias nacionalidades. Sebastian gostava de ficar ali ouvindo os contos e histórias de viajantes e bêbados muitas vezes bem inventivos.
O pub da família Ward era um local como tantos outros, espalhados nos bairros industriais. Não era um White's, com aglomeração de homens influentes e poderosos. Todavia, o local tinha respeitabilidade, o dono Brendan Ward, um ruivo corpulento, com barba espessa mantinha a ordem em seu estabelecimento não permitia brigas ou disputas debaixo de suas instalações. Assim o bar seguia a sua rotina em trazer um pouco de alegria a vida dessa classe tão sofrida na sociedade de Manchester.
Nesse momento, ouvia um amigo que acabava de voltar de sua aventura de três anos pelos sete mares. O moreno estava eufórico com tudo que vivenciou. Sempre que contava algo exagerado, fazia o sinal da cruz jurando a verdade dos seus relatos.
— Está de brincadeira, isso que você está dizendo é fábula. — Ria abertamente do amigo. — Conrad não existem tesouros fabulosos para serem encontrados.
— Fala baixo, não quero que alguém nos escute. — Disse entredentes. — Não quero ninguém saindo numa caça ao meu tesouro.
Com isso Benjamin senta ao lado do amigo.
— O que vocês estão falando, de caçada ao tesouro. — Conrad Flag colocou o Dedo em frente os lábios, para que Benjamin Crowford parasse de falar. O escriturário levantou as mãos em sinal de rendição. Então, Ward começou a gargalhar.
— Me passa uma boa cerveja. Preciso relaxar. — Se apoiou no balcão colocando os cotovelos nele. O amigo logo foi buscar a bebida. Conrad continuou falando sussurrando.
— Cara, estou dizendo a vocês. — Deu um longo gole em sua caneca. — Estive com o velho James MacCain em uma expedição, e ele alcançou tal riqueza. Contudo, meu amigo, não quis retornar comigo. — Suspirou. — Então voltei para a Inglaterra.
— Isso tudo é fantasia. — Benjamin deu de ombros.
— Nosso amigo está com a febre do ouro. — O ruivo riu do rapaz.
— Vocês estão totalmente enganados os Baús de Ouro de Thomas Cavendish são verdadeiros. — Falou com um sussurro irritado.
— Está querendo dizer que vocês sabem onde o navio naufragou? — Escriturário falou no mesmo tom do colega.
— Bennie, não vai me dizer que está acreditando na conversa desvairada dele. — Jogou uma toalha no rosto do aventureiro. — Não está percebendo que está bêbado?
— Muito engraçado Bastian. — Tirou o pano da face. — Estou sóbrio. Dizendo a vocês que sei onde continuar as buscas.
— Ouviu Bennie. — Alisou o tecido no balcão. — Não sabe onde está. Portanto, não existe!
— Sei onde fica o local. — Tomou o último gole de sua bebida. — Esse lugar existe.
— Então, porque quer levar a gente. — Inquiriu Sebastian. — Pode ir só, tomar posse de tudo, ficar muito rico sozinho.
— Verdade, porque quer falar isso conosco. — Benjamin Crowford olhava para o rapaz. — Pode ir só. Ficar milionário, sem ter que dividir nada com ninguém.
Conrad Flag suspirou. Tinha que mostrar argumentos mais convincentes. Não poderia dar espaços para contra argumentos. Baixou a vista, pensando em pontos nos fatos históricos que convencesse a dupla a entrar de vez nessa aventura. Teria que omitir o fato que poderiam correr muitos riscos, poderiam até morrer caso decidissem entrar nessa jornada em busca desse tesouro.
— Olha serei bem claro com vocês. — Ergueu a vista para fitar Benjamin Crowford e Sebastian Ward. — Porém não posso conversar aqui num lugar tão exposto. Alguém pode nos ouvir. Vamos conversar mais tarde. Prometo contar tudo aos dois.
— Vou deixar o pub. — Olhou o relógio na parede. — Daqui a uma hora, podemos nos encontrar no estábulo onde fica o Falcon. Essas horas o cocheiro está dormindo.
— Vou ver como minha mãe está. Depois vou para lá. — Colocou uma moeda pequena no balcão.
— Ótimo! Então em duas horas nos encontramos lá.
Os três se despediram e Benjamin se levantou indo rapidamente ver a sua genitora. Ela estava muito doente. Não conseguia mais trabalhar na fábrica, seu filho conseguia sustentar os dois de modo simples, mas precisava tirar ela daquele lugar. Necessitava morar num lugar mais arejado e iluminado. No caminho para o cortiço cogitava a hipótese em se lançar nesse empreendimento, com a finalidade de ganhar dinheiro em abundância para dar conforto a sua mãe, principalmente ter uma posição confortável para ter o direito de reivindicar a mão de Sophie em casamento.
Todos os dias pensava em sua amiga de um modo muito especial. O beijo que trocaram, ele revivia a todo momento, seu maior projeto era poder voltar a encontrá-la, dizer o quanto a amava, desejava que ela dissesse o mesmo, que sentia algo especial por ele também. Todavia ela estava longe, morava em Londres agora, torcia que a garota se mantivesse firme em sua promessa de esperar por ele. Então, abriu a porta de sua casa e avistou sua genitora deitada num pequeno sofá puído. Foi até ela. Beijou, o topo de sua cabeça.
— Mãe, cheguei. — Acariciou os cabelos castanhos, que tinha um pouco de prata nas têmporas. — Pode ir para a cama, precisa descansar um pouco.
Olhou seu filho com carinho, não era mais um menino, se tornou um homem, desejava que Harry tivesse visto isso, mas se consolou, pois, de algum modo ele sabia que seu menino não o decepcionaria.
— Sim, meu querido, já irei me deitar. — Afagou o rosto do rapaz.
— Tomou seu remédio? — Sussurrou de modo carinhoso. Ela anuiu num sorriso generoso.
— Que bom! Vá se deitar, vou levar um chá para a senhora.
Foi a cozinha pequena, colocou água na chaleira, no fogão a lenha, que estava aceso para aquecer a casa. Separou um pouco de ervas e mel para preparar a efusão para Lydia. Enquanto, esperava o líquido ferver. Pensou em aceitar os riscos, mas precisava deixar a sua mãe em segurança, não poderia abandonar ela assim nesse estado. Isso era o principal empecilho em deixar tudo. O escritório era um emprego bom, contudo, desde que começou nessa tarefa seus dias ficaram mais sufocantes. Não tinha mais a liberdade de locomoção como antes, quando era rapaz de recado. Nessa posição ganhava menos, isso era uma verdade, porém conseguia ter mais autonomia em seus movimentos.
O novo cargo lhe tirava toda a mobilidade, continuava muito proativo, executava suas atividades com muita eficiência, todavia, não conseguia ir ver sua mãe, seu cavalo, ou visitar o seu amigo, quanto antes de sua promoção. Isso o deixava tolhido e um pouco insatisfeito. Nesse momento, notou que a água entrou em ebulição, pegou uma caneca de cerâmica, despejou um pouco de ervas, macerou elas de leve, com isso despejou o líquido fumegante, e por fim colocou um pouco de mel na bebida. Foi até o quarto da senhora, recostada na cama, a tocou de leve, depositando o copo em suas mãos.
— Cuidado está quente!
— Obrigada meu filho, é muito gentil. — Sorriu. — Como foi seu dia?
— Foi bom, o senhor Crane está muito satisfeito com o meu trabalho. — Suspirou.
— Acredito que tem algo o incomodando, pode contar, Ben.
— Estava pensando, mãe. — Beijou os dedos da genitora. — O emprego é muito bom, Crane é um bom gerente, mas...
— Mas... — Lydia incentivava o rapaz a continuar a se abrir, ele era muito reservado.
— Acontece que quero lhe dar mais, a senhora precisa de mais conforto. — Se levantou tomando distância. — Não consigo me conformar com isso, ser incapaz de lhe oferecer mais.
— Ter mais, para poder ser merecedor do amor de Sophie? — A mais velha sabia que seu menino tinha um carinho especial pela jovem, mas tinha medo que ele sofresse caso nunca tivesse o dinheiro necessário para ser um marido a altura da garota. — Já pensou que ela pode se casar com outro, quando os pais dela encontrarem um jovem de valor, aos olhos deles?
— Por isso, mãe, quero tentar algo drástico.
— O que seria isso? — Sua voz soou preocupada.
Se voltou para ela, caminhou se sentando na beirada do colchão.
— Quero ir a uma busca de algo que mude minha vida. — Segurava a mão dela. — Preciso ir mãe!
— Se é isso que seu coração está pedindo. — Beijou os nós dos dedos do rapaz. — Então, meu querido, deve ir com coragem e sem nenhum arrependimento. Vá, mas nunca se esqueça de quem você é, nunca perca a sua essência. Dou minha benção, orarei sempre por ti, para encontrar o que procura, voltando para mim, meu amor. — Benjamin enxugou a lágrima da mulher.
— Irei sim, mãe! Voltarei e se orgulhará muito de mim.
— Já me sinto lisonjeada por ter um filho tão bom como tem sido para mim.
— Vou providenciar uma companhia para que não fique sozinha. — Abraçou a mulher carinhosamente, se despediu dela, indo até o local marcado para o encontro.
(...)
O estábulo estava silencioso, os cavalos já estavam em suas baias dormiam tranquilos, bem como o responsável pelo local. Benjamin conhecia muito aquele lugar, passou com passos leves para não despertar ninguém, alcançou um recinto pequeno que tinha uma pequena mesa e algumas cadeiras velhas.
Olhou o ambiente, já estava com uma vela acesa, um rapaz estava sentado largado, com os pés sobre o tampo do móvel. Sorriu ao ver o escriturário chegar.
— Pensei que não viria.
— Como pode ver. — Apontou para si. — Estou aqui.
— Será que Bastian vem? — Esticou o pescoço em direção a porta.
— Se ele deu a palavra que vinha, pode contar que vem.
Benjamin Crowford, foi se sentar numa cadeira para esperar pelo amigo. Cumprimentou o rapaz que já estava na saleta, com isso, Ward entra no cômodo com a respiração ofegante.
— Desculpa pela demora. — Sorriu amarelo. — Tive que limpar o pub, se não meu velho não me deixava vir.
— Claro, entendemos. — O escriturário foi compreensivo.
— Sim, entra, senta para descansar da corrida. — O ruivo riu, depois mostrou a garrafa de vinho que tinha trazido do bar. Os outros comemoraram, dando tapinhas nas costas do rapaz.
— Então Conrad, agora que estamos aqui, sozinhos, conta o seu grande plano.
O rapaz temperou a garganta, pegou em uma bolsa de couro um papel muito amarelado, parecia muito antigo. Esticou o que parecia ser um mapa na velha mesa. Os dois observavam tudo calados.
Flag revirou mais uma vez a valisa, pegando um dobrão, e um pequeno caderno preto. Apoiou os objetos um do lado do outro.
— Isso aqui são provas do que estava tentando dizer a vocês dois seus, cabeças duras! — Os dois estavam muito curiosos com os pertences do amigo bem ali nas suas faces.
— São verdadeiros. — Ward examinava a moeda de ouro.
— É claro que sim!
— Cara, isso é muito insano. — Benjamin estava atônito. Pegando o metal da mão do ruivo.
— É o que estou tentando, lhes contar. Não é lenda. Tudo isso, — apontou para a mesa — são artefatos verídicos. Deixe-me contar a história.
Os dois pararam de brincar, voltando suas atenções para o amigo que começou a sua narrativa, com alguns floreios.
— Tudo se inicia com o navegador Thomas Cavendish, primeiramente um grande capitão da Marinha de sua majestade, Isabel I, a rainha virgem.
— Vai logo para a parte do tesouro. — Sebastian falou entediado.
— Não Conrad, conte tudo. — Benjamin estava muito interessado.
— Posso continuar? — Bufou. — Onde estava mesmo? Ah! A rainha apoiava que seus melhores navegantes trabalhassem na arte da pirataria, mas nesse período, eles eram conhecidos como corsários, tinham o apoio da coroa, não de modo aberto, claro. Todavia eles pilhavam navios de outras coroas, especialmente os galeões espanhóis, por causa de sua preciosa carga de ouro e prata vindos do Novo Mundo.
"Então Cavendish, viajou o mundo desde a China até o Peru, reza a lenda que ele intensificou suas atividades nos anos de mil e quinhentos e oitenta e seis e mil e quinhentos e oitenta e oito. Saqueou o quanto pode. Então dizem que ele ficou ambicioso, não desejando reportar os espólios conquistados com a coroa Britânica. Assim a Rainha Isabel I, decretou que ele seria banido do reino, e se pisasse em terras britânicas seria enforcado."
— Onde entra o tesouro nessa história?
— Bastian, deixa ele terminar! — Benjamin observou o mapa. — Continua.
— Bom então, Thomas foi banido, a rainha tentou encontrar as riquezas que o corsário tomou nos anos de pirataria, porém ela nunca pode pôr as mãos em tamanha riqueza. Ele simplesmente desapareceu. Seu sumiço junto com as suas riquezas, está rodeada de mistérios. Acreditam que o navegador escondeu seus tesouros, e morreu junto com ele.
— Se Cavendish morreu com esses espólios, como esse mapa pode ser verdadeiro? — Questionou Crowford.
— Concordo, como vazou tudo se ele morreu com o ouro e a prata, sabe mais lá o que. — Se levantou o ruivo.
— Aí que a história fica interessante. Um navegador belga de nome Paul Ferdinand Thiry, se propôs a encontrar tais riquezas. Assim começou a procurar o tesouro de Cavendish em 1670. Contou até com a ajuda da Marinha Britânica, que retirou o apoio um ano depois, então o navegante morreu de tifo em 1679, deixando apenas esse mapa e caderno. A lenda que perpetua até hoje é que os baús incluem peças de ouro dos incas e astecas.
"O mapa indica que os baús de ouro podem estar num lugar chamado a praia do Saco Sombrio, — apontou na carta cartográfica — fica no litoral norte no Novo Continente. O local é famoso por abrigar diversas embarcações que naufragaram ao longo dos anos. Navegadores e piratas aportavam nesse local, na borda oeste da baía, ela tem acesso difícil por terra, é cercada por montanhas e tem saída para o Atlântico Sul."
— Você quer dizer Brasil? Lá só tem índios selvagens. — Ward falou nervoso.
— Não é verdade, tem pessoas civilizadas nessas terras, tem até um Imperador. — Sorriu nervoso.
— Nos diz então onde está o seu amigo James MacCain? — Benjamin o encarou sério.
O rapaz coçou a cabeça, tomou um gole na garrafa de vinho, depois limpou a boca com a sua manga.
— A pergunta é muito justa. — Entregou a garrafa para Crowford. — Ele está em alguma tribo nesse lugar, esquecido por deus. — Tornou a sentar. — Preciso que possam ir comigo, para trazer ele de volta.
— Então você quer uma missão de resgate, não de caça ao tesouro. — Ponderou Benjamin.
— Sim e não, — Fitou o moreno. — MacCain ficou por conta própria no Novo Mundo, quero demovê-lo dessa loucura, trazer ele a razão. Também, o velho sabe onde estão os espólios, foi ele quem me deu o dobrão, para voltar para a Inglaterra.
— Está querendo dizer que seu amigo sabe onde ficam os baús? — O ruivo estava duvidando. — Por que ele não gasta a fortuna, sozinho?
— Ele queria muito isso. — Respirou fundo. — Mas quando conheceu um povo nativo se apaixonou pela cultura e religião. — Meneou a cabeça. — O Chefe da tribo o acolheu no grupo, então teve uma espécie de epifania, alegando ser guardião do tesouro e que só daria ao homem que mostrasse ser puro de coração. — Bufou desgostoso. — Disse que eu não era merecedor de tal dádiva. — Riu sem humor.
— Quem garante que seríamos, dignos de tal honraria, na visão de seu amigo? — Benjamin pesava todas as possibilidades.
— Você, Bennie têm todas as atribuições para receber tal tesouro. — Bateu nas costas do amigo, e com os dedos foi elencando suas qualidades. — É órfão de pai, cuida de uma mãe enferma, trabalha honradamente, cuida de um pangaré... — Riu maroto. — Para completar, ama em segredo uma garota rica. — Benjamin Fulminou com o olhar Ward, pois só tinha contado sobre sua Sophie a ele. O rapaz desviou o olhar totalmente sem graça dando um longo gole no vinho,
— Foi sem querer Bennie, estávamos bêbados falando de garotas... — Entregou a garrafa ao rapaz com raiva. — Você sabe como é? A sua garota é de longe a história mais interessante para falarmos.
— Verdade Ben não se zangue aqui todos somos amigos. — Pegou a garrafa das mãos dele. — Ninguém vai roubar ela de você. — Sorriu. — Contudo, queremos conhecer as amiguinhas dela, quando voltarmos ricos!
— Tem um empecilho para ir às Américas. — O órfão se agitou.
— Qual seria Bennie? — Sebastian foi solidário.
— Minha mãe, não posso deixar ela sozinha. — Estava triste. — Mesmo ela dizendo que apoia minha decisão. Nunca deixaria ela. Precisa de mim.
— Claro que sim amigo, — Ward colocou sua mão no ombro do rapaz — você pode deixar ela em minha casa, minha mãe vai gostar da companhia dela. Só tem um detalhe, lá tem muita criança, meus irmãos são barulhentos.
— Ah! Isso não é problema. — Sorriu fraco. — Dona Lydia sempre quis ter mais filhos, mas infelizmente não foi possível.
Com isso o trio continuou com os preparativos para a grande viagem rumo ao tesouro de Thomas Cavendish, Benjamin Crowford estava arriscando todo o seu futuro certo, para se jogar num mundo de perigos e incertezas.
A viagem foi programada para acontecer em cinco dias para que os três pudessem arrumar as provisões para a jornada, para Crowford deixar o emprego na Companhia Mineradora, colocar sua mãe com a família Ward, para ela não ficar sozinha. Ela sabia o objetivo da aventura, não falaria a ninguém, apenas orava para que nada de mal ocorresse com os rapazes, especialmente com seu filho amado, precisava deixar ele viver as suas escolhas.
Sebastian cuidou para colocar seu irmão, para ajudar seu pai em sua ausência, não falou a ele que iriam a uma caça ao tesouro, pois seu progenitor iria se opor com muita firmeza, alegou que iriam numa viagem de homens para terem uma aventura antes de se casarem. Mentiu, mas sabia que só assim teria a permissão dos seus progenitores.
O dia da viagem chegou. Benjamin estava no quarto que sua mãe se hospedaria na família de Sebastian Ward. Estava abraçado a mulher que mais admirava, o choro dos dois era comovente.
— Te juro, mãe voltarei rico! — Enxugou as lágrimas da mulher. — Vou cuidar da senhora. Nunca mais lhe faltará nada.
— Filho o que quero é que volte para mim. — Afagou o rosto dele. — Que seja muito feliz! Só isso que me importa.
Assim os dois se despediram numa promessa solene de que voltariam a se ver, ele retornaria para lhe dar uma vida digna e respeitosa. Então, ele foi para o porto de Southampton.
(...)
O mar era uma imensidão sem fim. Benjamin admirava reverente aquela grandiosidade. Baixou a cabeça vendo Sebastian colocando tudo do estômago para fora, estava nauseado pelo balanço do navio. A tripulação inteira ria do ruivo. Conrad fazia amizade com o imediato, para que eles trabalhassem na embarcação para baratear a passagem de translado pelo Atlântico.
Com isso o trio passou a fazer parte da tripulação, a vida no mar não era fácil, havia muitos perigos, e privações. Todavia Crowford se mostrava com uma determinação férrea em prosseguir.
Os dias se tornaram meses, tudo que os amigos viam era céu e mar numa vastidão deprimente. O trabalho era pesado, quando encostavam seus corpos nas redes no porão, não pensavam em nada, apenas dormir. Sebastian com sua tez muito alva, sofria muito mais com a insolação, o sol no hemisfério sul era muito mais abrasivo. Tentava aliviar as feridas com panos molhados, porém a água salgada só fazia a pele ficar mais ferida. Sentia muitos calafrios a noite. Benjamin o ajudava dando alguma água potável de sua parte nos víveres. Ele dava total apoio aos seus companheiros de viagem. Conrad Flag, era o que mais estava adaptado à vida no mar, comia e bebia com a tripulação, se misturava bem aquela comunidade, cheia de regras próprias e superstições.
— Como estão as suas feridas? — Benjamin Crowford sussurrava para não acordar o turno que descansava.
— Melhores, obrigada pelas ervas que me deu para aliviar a dor. — Mostrou o braço. — As lesões não estão mais inflamadas.
— Ótimo! — Se afastou do amigo. — Continue passando esse medicamento, mas economize para durar a viagem. — O ruivo concordou com a cabeça.
Mais alguns dias se passaram até que o escriturário ouviu alguém berrar da gávea. Terra à vista! Seu coração se acelerou, pode ver um lugar realmente inacreditável.
À terra parecia ter saído de um conto, era verdejante, o mar era de um azul límpido nunca tinha visto algo tão iluminado. A medida que se aproximava do continente conseguia ver o local, tudo era brilhante e muito colorido, totalmente diferente da cinzenta Manchester que alguns meses haviam deixado para trás. Lembrou de Lydia sentindo muitas saudades dela. Sophie era o seu pensamento mais intenso, respirava e existia força e determinação de vê-la novamente. A tarde no estábulo era a lembrança mais doce que guardava dela, tocou sua boca ansioso de poder beijar os lábios suaves de Sophie novamente.
Com isso Sebastian Ward se aproxima do amigo, dando uns tapinhas nas costas.
— Então chegamos no Novo Mundo. — Estava eufórico. — O lugar parece um paraíso.
— Finalmente, atingimos o fim do mundo. — Conrad falou perto deles colocando um braço em cada ombro dos rapazes. — Agora que nossa aventura começa.
O navio ancorou no porto de modo tranquilo, o translado do trio até as Américas foi até muito tranquilo. Enfrentaram poucas tormentas, assim os rapazes ingleses, acertaram suas contas com o capitão do navio, saíram tranquilos pela vila.
O lugar era totalmente estranho, os cheiros, as pessoas a língua tudo era exótico, Sebastian e Benjamin avaliavam tudo, eram muitas novidades para serem absorvidas, se espantaram ao ver Flag totalmente a vontade com os aldeões, conversava no idioma com muita desenvoltura, parecia um nativo. Ele voltou para seus amigos.
— Vamos, o rapaz vai nos levar a uma hospedaria. — Colocou a mala no ombro.
— Quanto ao seu amigo, quando vamos vê-lo? — Benjamin tinha pressa em resolver tudo, queria voltar para a velha Londres.
— Calminha aí Bennie — sorriu para os dois — tudo está no cronograma. Vamos ver ele logo.
— Melhor irmos para essa estalagem. — Ward falou esfregando a barriga. — Estou faminto, preciso beber algo decente.
— É melhor irmos. — Crowford sorriu para os amigos. — Preciso de um bom banho. Com isso, se encaminharam para o alojamento.
O local era muito precário, contudo, estar em terra firme com água potável, era um luxo sem igual. No entanto, o calor era infernal, os mosquitos zuniam irritantes nos ouvidos dos rapazes. Benjamin assim que chegou providenciou um banho, precisava tirar toda a salinidade de seu corpo, sentiu um alívio imensurável ao não ter mais a sua pele pegajosa. Sentia a sua energia ser restaurada. Quando estava na tina sentia como se estivesse no movimento do mar. Lembrou que Conrad avisou que esse efeito iria passar logo. Começou a duvidar em ter vindo a um lugar tão longe, se nada disso, desse certo? Se ele não encontrasse o tesouro, ou não fosse merecedor? Perderia tudo que já tinha conquistado, estava longe de sua mãe, de Sophie, sentia muito medo se perdesse tudo. Ouviu a porta bater, então se levantou vestiu roupas limpas, indo atender quem o procurava. Ao abrir viu dois rapazes alegres.
— Podemos entrar? — Ward perguntou.
— A vontade Bastian, entrem. — Gesticulou para entrarem.
— Precisamos organizar a nossa entrada na mata. — Mostrava o mapa para eles.
— Como assim? Mata? — Sebastian estava irritado. — Seu amigo não está aqui?
— Claro que não, tudo tem que ter etapas a serem vencidas. — Suspirou Benjamim Crowford.
— Exatamente isso que deve acontecer. — Apontou a cadeira para sentarem. — Está vendo como é um merecedor do tesouro? É sábio.
— O que tem a ver sabedoria com tudo isso? — O moreno mostrou curiosidade.
— Sim, Conrad, o que está aprontando dessa vez? — Ward o questionou.
— Bom... — Coçou a nuca um pouco desconfortável. — James MacCain junto com o chefe da tribo local, fez um teste de três etapas para testar o homem que pleiteasse o tesouro. O teste visa mostrar o homem que vive no íntimo do sujeito — Deu de ombros. — ou qualquer coisa desse gênero.
— Como assim passar por uma avaliação?
— Bom Bennie fique calmo. É só uma provação pequena, você consegue. — Se afastou dos amigos. — Sei como são eles. Darei as dicas para você passar por todos, mas quanto a resposta que vem do seu interior, isso confio em seu coração e iremos ganhar.
Benjamin Crowford de modo resignado, não tendo nada a fazer ao não ser seguir em frente se sentou diante de Flag.
— Me mostra o que tenho que fazer para vencer esse teste.
— Obrigado Bennie, é um bom amigo. — Fez um gesto de vitória. — Vou contar passo a passo o que tem que fazer, preste bem atenção.
Então Conrad Flag narrou tudo que Benjamin Crowford precisava saber, com a finalidade de passar na verificação do coração merecedor do tesouro. Ouvia tudo com muita atenção, percebeu que o exame era perigoso e queriam ver o quanto o sujeito era persistente, a pergunta final nunca era igual, sempre era algo relacionado ao lado sombrio e aterrador do homem avaliado pelo senhor MacCain.
Estudaram todos os detalhes, assim cada um foi para o seu quarto para descansar, a aventura estava apenas começando.
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