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Capítulo 3 Reveses

A manhã fria de outono trazia os sinais de que o inverno seria rigoroso. As famílias na Vila estavam empenhadas em juntar a maior quantidade possível de lenha, carvão e mantimentos para enfrentarem a estação mais hostil do ano.

Árvores perdiam suas folhas que jaziam ao chão. As que lutavam bravamente contra a gravidade permanecendo nas copas davam tons alaranjados ao ambiente.

O prefeito do local ficava da varanda observando o movimento dos ocupantes do vilarejo que perambulavam por todas as ruas e vielas.

Os Crowford, no entanto, enfrentavam há alguns anos dificuldades, desde que o pulmão de Harry, o chefe da família, foi acometido do mal muito comum em trabalhadores de minas de carvão. O temido "pulmão negro".

Isso era muito suscetível aos homens que desde muito novos se expunham a perigos em trabalhos tão insalubres.

A vida cotidiana para os trabalhadores das minas era muito penosa e desgastante. A jornada diária chegava a dezesseis horas, às vezes mais. O cansaço junto com as condições precárias nos locais aumentavam ainda mais os riscos.

As perfurações eram feitas com dinamites, com riscos de desmoronamento das estruturas internas eram reais. Ao abrir os caminhos até o mineral, eles desciam ainda mais nos tortuosos caminhos escuros nas montanhas perfuradas. À medida que desciam, o calor na mina se tornava mais intenso. A liberação de gases tóxicos e a fuligem de carvão tornava o ambiente realmente venenoso.

Muitos trabalhadores dessas mineradoras desenvolviam doenças crônicas pulmonares e casos mais sérios, pneumoconiose, fibrose que endurecem os alvéolos pulmonares incapacitando uma respiração normal, a doença avançava até que o sujeito não teria mais passagem de ar pelos pulmões. A exposição de muitos anos que Harry Crowford teve desde criança nos ambientes insalubres das minas fez com que desenvolvesse tal mal. Não havia cura. Assim a família convivia com essa triste fatalidade. Compartilhavam essa tragédia com muitas famílias no entorno das minas.

Harry Crowford se esforçou como pode para que seu único filho não tivesse tal destino cruel. O menino foi à escola da vila, aprendeu as letras e os números. O mineiro tinha orgulho do caráter de seu menino. Sabia que ele iria muito longe na vida, precisava ter as oportunidades certas.

Na vila o cotidiano seguia lento como sempre Lydia cuidava de Harry, enquanto a doença do homem avançava, o casal preferia que o garoto tivesse uma vida mais normal que pudessem oferecer, deixavam o filho viver a sua infância na medida do possível, mesmo sendo tão sério para a idade desejava que ele tivesse alguma distração.

Benjamin em toda a sua curta vida nunca ficou tanto tempo afastado de sua amiga. Caminhava pelos lugares que comumente andavam juntos aprontando suas peraltices, no entanto, o passeio já não tinha o mesmo brilho.

Decidiu retornar a sua casa, tinha ciência que sua mãe com certeza necessitaria de seu apoio. Ao cruzar a praça da vila um senhor de casacos aquecidos o abordou.

— Você, — o garoto se voltou para a voz que o chamou — é o filho de Harry Crowford? — Ele hesitou por um momento em responder, então respondeu.

— Sou sim, senhor.

— Ótimo, então me leve até os seus pais.

— Quem é o senhor? — Mostrava zelo por sua família. O homem sorriu despenteando Benjamin.

— Meu nome é Gregory Crane. Sou o gerente da mina onde seu pai trabalhou.

Nesse momento o menino entendeu a seriedade da visita, levando até a sua humilde casa.

A casa estava fria como o costumeiro, sempre poupavam a lenha para aquecer onde seu pai ficava.

Lydia veio ao encontro do gerente da mineradora. Limpava suas mãos cansadas num avental puído. Estendeu um convite cordial ao sujeito que aceitou de pronto. Não retirou o casaco.

Caminharam silenciosamente até o aposento onde um homem convalescia.

Crane ao se encontrar com Harry Crowford ficou espantado, ao se deparar com o mineiro que há alguns anos era um indivíduo robusto cheio de vida. Agora era apenas um corpo fraco.

Lydia o fez sentar próximo ao seu marido.

— Como vai sua velha raposa? — O doente falou com dificuldade.

— Vim lhe visitar. — Seu sorriso foi um pouco apagado.

— Vá direto ao assunto. — Tossiu.

— Há Muito tempo você me conhece. — Levantou caminhando até a lareira. — Temos lhe oferecido uma ajuda para sua família. — Olhou o quarto simples do casal. Sentiu um nó se formar na garganta, porém afastou aquele sentimento, pois era um homem prático. Voltou a fitar marido e mulher que estavam se apoiando, mais afastado um garoto com um rosto muito desconfiado.

— Estou aqui para fazer uma proposta a vocês. Quero que pense com cuidado.

— O que o senhor quer dizer? — Se adiantou Lydia.

— Vocês sabem que Tom Stanton, não é mais escriturário da West Union Mineradora. — Os Crowford se olharam confusos, não entenderam onde tudo aquilo iria chegar.

O homem tornou a falar, ganhando fôlego.

— O que quero falar com vocês é que preciso de um aprendiz, ágil e esperto. Com a finalidade de ser um apoio na Mineradora.

A angústia de Lydia se formou num arquejo.

— Meu filho não trabalhará dentro de uma Mina! — Levantou em defesa de seu único filho.

— Querida deixe o senhor Crane termine. — Tentou se levantar.

— Não posso permitir um destino tão cruel ao meu menino.

— Irei senhor trabalhar nas minas se isso ajudar minha família. — Benjamin se colocou corajoso. Harry sentiu muito orgulho do filho que tinha.

Gregory Crane riu amistoso ao se dar conta de como a família era unida.

— O que quero pedir não é que o garoto... — Não Lembrava o nome do rapazote.

— O nome dele é Benjamin. — Lydia completou.

— Isso... O que quero que Benjamin seja para mim um aprendiz, um garoto que me auxilie, entregando cartas, documentos... Levar onde precisar coisas com rapidez. À medida que ensino o trabalho, o garoto vai à escola noturna. A igreja tem um programa filantrópico. — Mirou o menino.

— Sabe ler, escrever e contar? — Levantou uma sobrancelha.

O garoto fez uma carranca, para impor sua personalidade forte.

— Sei, sim, senhor!

— É muito inteligente. — O pai falava envaidecido. — Aprende muito rápido.

— Ótimo! — Despenteou o cabelo volumoso e negro do rapazinho. — Estamos acertados levarei o garoto para Manchester para começar o trabalho, dentro de uma semana.

— Porque ele não pode ficar aqui? — A mãe falava chorosa.

— Posso ficar. — O menino se mostrava firme. — Sei ir para a cidade todos os dias. Temos o cavalo que meu pai cavalgava. Agora valerá o feno que come. — Era muito objetivo.

Desse modo, concordaram com os termos do acordo. Benjamim Crowford seria um garoto de recados, mas o menino foi muito astuto em manter a ajuda que seu pai recebia mensalmente, juntamente com seu salário parco de iniciante.

(...)

A semana correu dentro do normal na localidade, Benjamin Crowford não conversava com sua amiga que estava na cidade, sempre muito ocupada com sua nova vida. Levou Falcon o cavalo de seu pai ao ferreiro. A ferradura estava desgastada, precisava ser trocada, o animal era magnífico, pelagem marrom, e crina lustrosa e macia.

Os preparativos para seu novo trabalho tomava todo o tempo do jovem, contudo, seus pensamentos sempre estavam em Sophie, sua amiga parecia que tinha sido engolida pela terra. Seu desejo era poder conversar sobre o que estava lhe acontecendo, também o que se passava na sua vida.

Uma voz masculina tirou o rapaz dos seus pensamentos.

— Pronto jovem Crowford, Falcon está novinho em folha. — Passou as rédeas do animal.

— Quanto lhe devo? — Mostrava muita madureza, para tão pouca idade.

— Cinco shillings, tem o dinheiro? — Thimy observava como o garoto era tão adulto para a idade.

O menino revirou o porta-moedas. Notou que o valor não daria para pagar o conserto e também comprar os mantimentos para casa. Olhou para o ferreiro desconsolado. O sujeito percebeu a situação, entendia que a família passava por um momento difícil, então fitou o jovem com carinho, pois o conhecia desde muito cedo.

— Leve o cavalo, Ben, depois acertamos o trabalho. — O rapazote sorriu sincero para o ferreiro e caminhou com o Falcon até a mercearia.

Benjamin Crowford foi realizando uma a uma, as tarefas domésticas, com o objetivo de deixar a vida cotidiana de sua genitora um pouco menos exaustiva, foi extenuante, contudo fazia o possível para ver sua mãe bem.

(...)

O dia combinado havia chegado, Benjamin Crowford viajou bem cedo no lombo do Falcon rumo a Manchester. A bruma da madrugada deixava a visibilidade comprometida, era muito valente, enfrentava tudo com a cabeça erguida.

Lydia, no entanto, estava muito apreensiva em deixar seu menino ir a um lugar tão hostil. Harry não desejava que o garoto começasse tão cedo, não obstante, a realidade da família era precária, não havendo outra alternativa melhor. Sabia que sua vida não se estenderia a ponto de ver seu rebento se tornar um homem honrado.

Ao se aproximar da paisagem citadina, Benjamin prendeu o fôlego, nunca tinha estado num lugar tão repleto de concreto e construções. O vento frio da manhã atingiu o rosto dele, que estava róseo por causa do frio, ajeitou o cachecol que sua mãe lhe obrigou a usar. Sentiu um aconchego sabendo que sua mãe sempre se preocupava.

Percorria as ruas trotando com cuidado, havia muitos transeuntes nas alamedas. Seguia as orientações que o senhor Crane deu com o objetivo de chegar no escritório que iria trabalhar.

Chegou no edifício de tijolo aparente com um letreiro que não deixava dúvidas que alcançou o lugar.

West Union Mineradora, seria seu primeiro trabalho efetivo, trabalhava sempre de modo informal nada que o vinculasse.

Entrou no local com uma mistura de curiosidade e hesitação, o ambiente estava repleto de prateleiras e papéis o cheiro de mofo e poeira o fez tossir. Gregory Crane entrou no cômodo sorridente. Tinha um garoto de recados a um preço pequeno, não precisaria contratar um rapaz mais velho a um salário mais custoso.

— Bem-vindo ao seu novo trabalho. Vai ser diligente? — Deu um tapinha camarada em seu ombro.

— Não sou isso que o senhor disse. — Se afastou arredio se sentindo ofendido. O homem gargalhou.

— O que quero dizer... Se você será rápido e proativo em suas tarefas. — Benjamin compreendeu a dinâmica do local então se impôs.

— Onde registro as saídas de carvão das minas? — O garoto se mostrava interessado.

— Espere, meu jovem. — Riu da ousadia do aprendiz — Você começará como garoto de recados.

Benjamin Crowford sentiu uma pontada de decepção, porém se era por ali que teria que iniciar, assim seria. Contudo, ficou um tanto aliviado por saber que não se confinaria em uma mina quente, úmida e cheia de fuligens tóxicas. Se aprumou.

— Diga os lugares que devo ir, quais documentos levar. — O homem ficou satisfeito ao ver a disposição do filho de Harry Crowford. Previu que o rapaz teria um futuro promissor se continuasse a demonstrar diligência e esperteza.

— Venha garoto lhe darei seu itinerário. — Sua face era de bondade. — Essa semana terá que entregar essas papeladas no escritório da mina perto de sua casa e em sua prefeitura, portanto, você poderá ficar na vila com sua família, ao término de tudo, volte para lhe passar mais tarefas.

Assim se deu Benjamin Crowford se mostrou ser um rapaz muito eficiente, rápido em leitura, ótimo com os números, Crane pensou que sua boa ação lhe traria muita dor de cabeça, porém, foi ao contrário a aquisição do jovem para a companhia foi muito promissora, se tudo corresse bem o garoto se desenvolveria rápido na Mineradora.

O acerto com o vigário local, concernente a continuidade dos estudos, noturno do jovem foram acertados. O aprendizado de Benjamin Crowford era fundamental, ele não desperdiçaria tamanha oportunidade que se apresentou em sua vida.

A semana de trabalho junto aos pais foi realmente um alívio para Lydia. Agradeceu aos céus por fazer seu menino ficar junto dela. No entanto, sua felicidade não era plena. O inverno se aproximava, com isso os pulmões do marido ficavam mais debilitados.

A ajuda de custo, junto com o salário do filho deixavam as coisas um pouco menos desesperadoras. Benjamin sentia muito orgulho em dar seus rendimentos aos pais.

Trabalhava com afinco em levar as documentações nos lugares programados e receber as respostas e envelopes lacrados que colocava em sua bolsa para levar de volta ao escritório da Mineradora.

A vida continuava com muitas agruras, mas Lydia e Benjamin se esforçavam em mostrar semblantes positivos diante do doente, eles observavam estar mostrando declínio visível de suas forças.

Estavam todos reunidos juntos à lareira, Benjamin estava focado nas chamas tomava um caldo quente para se aquecer, a noite era fria, seu pai tinha acabado de ter uma crise de tosse seca que o deixou quase sem ar. Lydia amenizou a crise com uma inalação de eucalipto. O homem de olhos cerrados respirava errante. O filho se aproximou da mãe.

— Precisa de algo? — Apoiou a mão no ombro da mulher exaurida.

— Não preciso. — Uma voz fraca tentou se explicar. — Preciso dos dois aqui comigo.

Lydia se aproximou da cama, Benjamin fez o mesmo, cada um pegou uma mão de Harry Crowford. Que estava fria, as pontas dos dedos tinham a aparência arroxeada. Sua respiração estava débil. As lágrimas da esposa escorriam molhando a face do homem que em nada parecia com o sujeito robusto que conheceu e amou um dia. Benjamin tinha os olhos vermelhos tentavam ser o mais forte que podia, mas a vida o estava colocando de joelhos, a dor que sentia era insuportável. Amava seu pai, perder ele para a doença o deixou impotente. Queria ser forte, tencionava resolver a situação, contudo, não podia dar ao genitor o que mais precisava de conforto. Vida.

— Não chorem. — A voz saiu quase inaudível. — Sejam fortes.

Lydia estava vazia, seu companheiro de vida estava morrendo, sabia que ele não aguentaria mais um inverno, tão enfraquecido pela doença, Assim Harry Crowford fechou os olhos exalando sua última respiração. Deixando seu amor e filhos numa noite fria de início do inverno.

A neve caía suave, a paisagem estava branquinha, o vento gélido esfriava. No enterro havia apenas algumas pessoas, o senhor Crane veio até o vilarejo prestar suas condolências à família.

Benjamin sentia todo o peso da vida em suas costas, mas quem ele mais queria que estivesse não estava lá no momento que mais precisou de sua ajuda. Chorou amargamente pela falta da amiga e o que mais o embargava era a morte do homem que era seu esteio.

Ao final das palavras do padre cada um tomou o caminho para seus lares. O frio era intenso e a respiração exalava vapor condensado, pareciam fumaças que saem das chaminés.

O gerente se aproximou da viúva. Olhou para os dois silenciosos que caminhavam desolados.

— A senhora teria um minuto para mim? — Falou com cuidado.

A mulher apenas anuiu. Não tinha energia para fazer qualquer coisa, a dor da perda roubava toda a sua potência. Estava arqueada parecia uma mulher muito mais velha do que realmente sua idade indicava. A tristeza junto com os longos anos cuidando de seu esposo a esgotaram. Benjamin se mantinha ao lado dela como uma muleta que dava sustentação aos seus passos. Crane prosseguiu com muito tato.

— Sinto muito pela perda da família. — Pigarreou. — Harry era um homem de muito valor. Em todos os anos que fui seu supervisor, sempre se mostrou disposto a trabalhar, ajudando a todos na mina.

Lydia deixou uma lágrima cair ao ouvir o reconhecimento do superior de seu marido.

— Agradeço muito, o senhor foi muito gentil em ter vindo. — Voltou a andar deixando o gerente para trás.

— Espere! — Deu dois passos largos. Ficou de frente a dupla que estava muito abatida. — Quero estender não só os pêsames. Vim aqui mostrar que o que Harry Crowford fez por mim não será esquecido. — Olhou o vazio. — Ele entrou na mina quando desabou, mesmo sendo perigoso e fatal. Lembro de estar lá dentro nas raras vezes que precisava entrar para aferir as remessas de carvão. Quando as paredes deslizaram deixando eu com alguns mineiros presos. Seu marido estava fora tinha acabado sua jornada de 16 horas trabalhadas. — Fixou no rosto de Benjamin. Suspirou. — Contudo, entrou entre os escombros salvando um a um daquela tragédia. Ele nunca mais foi o mesmo depois dessa catástrofe. Por isso, me sinto em dívida com seu marido por tudo que fez por mim. Se estou vivo hoje, devo pagar por essa dádiva.

— Não estou compreendendo o que quer me falar. — Sua voz era apática.

— Permita ajudar a senhora e seu filho.

— Como poderia fazer isso. Já fez muito contratando meu filho como garoto de recados, ao invés de mineiro. — Sorriu fraco. — Isso foi muito considerado de sua parte. Não vejo o que mais poderia nos ajudar.

— A West Union Mineradora já está sabendo do falecimento de Harry Crowford, não demorarão muito em tirar vocês da casa que pertence à companhia, assim farei que fiquem um pouco mais até poderem encontrar um lugar para morar. Minha sugestão seria ir para a cidade que ficaria mais próxima da Mineradora e da escola de Benjamin. Além disso, conheço um cortiço em Manchester muito familiar, onde alguns mineiros moram, seria um lugar acessível para morarem. — Fez um aceno com o chapéu para se despedir. — Pensem com cuidado sobre o tema. — Baixou um pouco a cabeça. — Até segunda, nos vemos no trabalho jovem Crowford.

A noite estava vazia a solidão pairava no ambiente mãe e filho sentados juntos com os espaços preenchidos com tristeza e sentimentos de impotência, nada poderia mudar, agora estavam sozinhos ninguém que os amparasse.

Lydia beijou o topo da cabeça do filho. Caminhou até a porta de seu quarto.

— Boa noite, meu filho, amanhã resolvemos o que faremos daqui para frente. — Suspirou. — Não se preocupe, tudo irá se resolver.

— Sim, mãe, tudo se resolverá. — Afirmou para a genitora, mas no seu coração sabia que a vida estava lhes dando uma rasteira. Também foi se recolher em seu pequeno cômodo. Pediu aos céus para ter forças para ajudar a sua mãe.

A manhã gélida, tinha congelado a água da bomba do poço. Lydia se esforçava em fazer o bombeamento, porém era um esforço em vão. Benjamin Crowford viu o trabalho da mãe e voltou para a cozinha pegando uma vela, acendeu, foi até a mais velha juntou um pouco de palha seca e fez uma pequena fogueira junto ao cano que ao ser aquecido descongelou a água, então pode encher o balde para fazer a refeição. O filho a ajudou levando a caçamba para dentro da velha cabana.

— Obrigada Ben. Foi muito engenhoso em retirar a água. — Beijou a bochecha do garoto.

— Não foi nada, mãe foi muito simples de fazer.

Então a mulher preparou a comida deles, o menino tratou de avivar o fogão a lenha. Ficaram próximos às chamas para se aquecerem enquanto comiam. Ela criava coragem em falar com o menino sobre as dificuldades que iriam enfrentar. Todavia Benjamin tinha pouca idade, podia compreender que nada mais seria igual, tudo estava mudado.

— Vamos ter que nos mudar em breve. — Afagou os ombros do filho. — Estou inclinada a ouvir os conselhos do Senhor Crane, afinal Manchester é uma cidade maior, lá poderia voltar a trabalhar. — Sorriu. — Antes de me casar com seu pai trabalhava numa tecelagem. Poderei voltar ao ofício, juntos poderemos ter alguma chance. Aqui é muito pequeno, também longe do seu trabalho. Vamos para o lugar que o gerente nos falou.

— Mãe sempre estarei com você. — A abraçou com ternura. — Nunca irei te abandonar.

Assim solenemente os dois estreitados um, nos braços do outro fraternalmente, juraram serem uma equipe jamais se abandonando. Decidiram se mudar para a cidade.

A transferência da pequena família aconteceu rapidamente, uma vez que não tinham muitos bens ou móveis para levar. Gregory Crane os auxiliou com o translado numa carruagem simples, coube todos os objetos que a família tinha.

A viagem foi sem muitos atropelos a neve caía suave fazendo a estrada ficar escorregadia, mas o condutor era muito experiente. Assim o percurso foi suave, Falcon ia atrelado ao veículo. Benjamin olhava o caminho que estava imerso no branco infinito. As árvores que ladeavam a estrada estavam todas retorcidas. Adormecidas esperando a primavera para despertar.

Alcançaram o ambiente repleto de casas e edifícios com muitas pessoas que competiam pelos espaços nas ruas. O trânsito fez o homem diminuir a velocidade dos cavalos. Foram se afastando dos bairros mais comerciais, depois deixaram para trás os bairros dos burgueses emergentes. Alcançando os cortiços onde ficavam as populações mais carentes.

Esses locais eram os lugares para onde mineiros, trabalhadores das indústrias de tecelagem, peças para trens e navios iam morar, pois, os valores eram mais acessíveis. Eram apinhados de casebres, mal iluminados e pouco arejados, o cheiro do rio próximo quando estava no verão era por vezes impossível de inalar. Todavia era inverno esse problema ficava mascarado no período. Muitas crianças ociosas corriam pelas ruelas praticando pequenos furtos. Mães trabalhavam lavando roupas ou costurando para ter algumas moedas para sobreviver.

Lydia ficou um pouco apreensiva ao ver aquela paisagem tão corrompida. Pedia a Deus para que seu menino não se desviasse, mas sentiu um alívio por ele não ficar ali vadiando, pois já tem seu emprego. Assim, ao descer do carro ficou resoluta em arrumar um emprego para si.

— Aqui estamos no cortiço Hope Hill. — Tirando as malas singelas da viúva. — Avisei a dona do local. Senhora Gretel, arranjou um cômodo com dois quartos e uma cozinha.

A mulher corpulenta se aproximou do grupo com gestos muito exagerados.

— Bem-vindos ao meu pedacinho de céu, venham, vou mostrar seu novo lar. — Ria muito alto, falava da vida de cada um dos moradores da vizinhança e das características negativas de cada um. Benjamin riu ao ver como aquela mulher era cômica e um tanto indiscreta.

Abriu a porta do cubículo que iriam viver, saindo um cheiro intenso de mofo que fez Lydia tossir.

— Ah! Não se preocupe. Dona Lydia só abre a porta e deixa entrar o ar. — A senhora já sabia da chegada da viúva e todos os detalhes atrelados a ela.

Com isso Benjamin junto com sua genitora arrumaram e tentaram fazer aquele pedacinho de lugar de lar. O menino voltou aos seus trabalhos e a noite estudava na casa paroquial, com alguns rapazes que eram analfabetos, como ele tinha algum conhecimento prévio por vezes auxiliava o vigário.

Lydia caminhava pelas ruas de Manchester na esperança de encontrar algum trabalho sentia muita culpa e vergonha por ver seu filho tão novo ter todas as responsabilidades em suas costas, o dinheiro mal dava para se alimentarem e manter os ambientes aquecidos. A tristeza dominava todo o seu ser.

Entrou em Hope Hill com os pés doídos de sua busca árdua por emprego, o gelo deixava os pés da mulher dormente. Com isso se aproxima uma jovem senhora.

— Bem-vinda ao cortiço. — Sorriu amistosa. — Me chamo Margerith. Notei que todas as manhãs assim que seu filho sai, você faz o mesmo. Está procurando trabalho?

— Sim, — Falou desanimada. — mas não obtive sucesso em conseguir.

— Tenho algo que te deixará animada. — Seu semblante era animado. — Houve um acidente ontem nos teares e uma mulher prendeu sua mão na máquina. Agora não tem ninguém corajoso o bastante para preencher a vaga. Pobre mulher agora viverá da caridade de outros, ou mendicância. — Suspirou. — Então aceita ir comigo lá na tecelagem. Está acabando minha hora de almoço. Vem comigo?

— Sim. — A viúva respondeu ouvindo o relato da mulher sentiu uma aflição e hesitação se tal destino ocorresse a ela também, refletiu como ficaria ela ou mesmo Benjamin. Todavia não havia outra alternativa viável para se ter um salário miserável, porém ajudaria com as despesas que viriam todo mês.- Não me restam alternativas. Preciso de trabalho. — Assim as duas caminharam lado a lado até a fábrica de tecidos.

A Indústria Trade Boards contratava mulheres e meninas muito novas, a jornada de trabalho eram extenuantes as condições no galpão eram insalubres. O pó do algodão suspenso no ar era muito prejudicial para as trabalhadoras respirarem sem proteções para suas bocas e narizes.

Às duas mulheres entraram num lugar amplo, uma mulher austera veio ao encontro delas.

— Senhorita Michel, está atrasada. — Olhava com desprezo. — Volte ao seu posto. — Se virou para a desconhecida. — Quem é você?

— Ela é Lydia Crowford, veio ocupar... — A coordenadora das operárias interrompeu a jovem levantando uma mão.

— Volte ao seu posto! — A mulher saiu rapidamente do local.

— O que deseja a senhora Crowford?

— Vim pleitear uma vaga que desocupou devido a um acidente. — Falava com respeito.

— A mulher era uma tonta, por isso sofreu as consequências de sua burrice. — Encarou a mulher candidata a vaga. Questionou. — Tem certeza com habilidades para operar um maquinário que requer precisão?

— Tenho. — Não estava segura. Contudo, precisava muito do trabalho. Lembrou de sua juventude nos dias em que trabalhou em um lugar semelhante, tinha certeza que não seriam dias fáceis, no entanto, sua necessidade falava mais alto, não haviam escolhas nem saídas milagrosas, o objetivo era sobreviver para sempre estar ao lado de seu filho amado. Assim a mulher a examinou. Notou que não era doente. Fazendo ela entrar no galpão. Apontou uma outra operária que ensinaria o trabalho. Desse modo, Lydia Crowford se tornou mão-de-obra na indústria têxtil, mais um número nas estatísticas da opressão nas fábricas.


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