Capítulo único
Olá bolinhos, como estão? Espero que bem, aqui está mais um one pra vocês, saindo do forno, espero que gostem ^^
Co-Autor: PurpleGalaxy_ProjectBetagem por: lalisaglowpsDesign por: ChimmyneTrailer por: Dreans_storm_dark
Obrigada a todos que participaram, amei cada coisinha, a betagem, a capa, o trailer, cada coisa, de verdade, vocês sempre estão arrasando, estão de parabéns ^^
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Em uma cidadezinha do interior, conhecida por suas antiguidades e histórias carregadas de peculiaridade, com um clima de mistério no ar, vivia um jovem de pouco mais de vinte anos, amante de objetos antigos. Kim Taehyung adorava aquela cidade; o design misterioso e cheio de suspense a deixava vibrante para ele. Sua casa, embora simples, estava repleta de antiguidades e relíquias espalhadas por toda parte: espelhos, móveis de madeira, instrumentos desconhecidos e luzes em diversas cores e tonalidades.
Tudo começou com seu pai, um historiador bastante renomado na época. O pequeno Taehyung acompanhava seu pai em muitos trabalhos, ouvindo atentamente cada explicação quando ele encontrava algo interessante, e assim nasceu sua paixão por objetos antigos.
Certo dia, em uma feira local, um dos vendedores chamou sua atenção e lhe mostrou um espelho. Para Taehyung, aquilo era um verdadeiro achado. O espelho refletia sua imagem perfeitamente, e a moldura dourada, embora com leves arranhões do tempo, era encantadora. Sem hesitar, ele comprou o espelho, nem se importando com a história que o vendedor estava prestes a contar. O brilho do objeto já o havia conquistado desde o primeiro momento.
Ao chegar em casa, colocou o espelho em seu quarto, limpando-o com cuidado para não manchar a moldura. Ele ficou olhando para a peça, questionando-se se era realmente de ouro ou uma imitação muito convincente. Deixou esse pensamento de lado quando se distraiu com um barulho vindo do cômodo ao lado, onde mantinha uma pequena bagunça de relíquias compradas há alguns meses e ainda sem lugar definido.
Aproximou-se, desconfiado, pensando que algum bicho poderia ter entrado pela janela que costumava ficar aberta. Mas, ao entrar no ambiente, tudo estava silencioso e a janela, surpreendentemente, fechada. O escuro do cômodo lhe deu calafrios, especialmente quando uma das caixas se mexeu sozinha.
Acendendo a luz que piscou duas vezes, Taehyung arqueou uma sobrancelha, desconfiado, e se aproximou de uma das caixas com uma bengala entalhada que estava perto da porta. Bateu levemente na caixa de papelão, assustando-se ao vê-la se mexer novamente.
Respirou fundo, tomou coragem e virou a caixa com a bengala, fazendo uma pequena careta ao ver um pequeno pássaro azul movido a pilhas, uma bugiganga comprada em uma de suas idas ao centro da cidade.
— Você quase me assustou... — murmurou, abaixando-se para pegar o pássaro e retirar suas pilhas, colocando-o de volta na caixa. Com cuidado, afastou-se das caixas e voltou ao quarto. O dia havia sido produtivo — além de vender alguns itens de sua coleção bizarra —, encontrou o espelho perfeito para decorar sua cômoda.
Ao se deitar para dormir, imaginou que seria como a maioria das noites: dormiria tranquilamente e acordaria pronto para um novo dia. Mas, não foi exatamente isso que aconteceu.
Para sua surpresa, Taehyung teve um pesadelo como há muitos anos não experimentava. Era tão vívido que parecia real; os gritos e choros de pessoas ecoavam em sua mente, criando uma atmosfera que se assemelhava ao inferno, caso ele existisse. Ele acordou sobressaltado, olhando para o teto enquanto tentava regular a respiração. Fechou os olhos novamente, tentando relaxar, mas algo no ambiente o fazia duvidar de si mesmo. Sussurros e vozes distantes pareciam emanar da direção da cômoda. Pensando ser apenas sua imaginação, ele tentou ignorar e voltar a dormir, mas acordou mais uma vez com calafrios pelo corpo. Ao olhar para a cômoda, viu um reflexo estranho no espelho.
Taehyung se aproximou lentamente, olhando em volta para tentar identificar a origem daqueles reflexos que não correspondiam ao seu quarto. No espelho, ele viu um lugar escuro e sombrio, com teias de aranha por toda parte, sentindo-as subir por sua perna e deixando-o arrepiado. Ele voltou a encarar o espelho e, para sua surpresa, viu seu próprio reflexo com uma expressão de puro medo e desconforto. Sem pensar duas vezes, tocou o espelho para guardá-lo na gaveta, mas, ao tocar, sentiu uma falta de ar e então acordou oficialmente.
Aquele era o pior pesadelo de sua vida. Ele olhou para o espelho na cômoda e se levantou da cama com pressa, quase tropeçando no cobertor de lã. Ao alcançar o objeto brilhante, viu seu reflexo: cabelos bagunçados, rosto amassado, olheiras leves e uma expressão desconfiada. Tudo parecia normal. Por precaução, trancou o espelho na gaveta e começou a se arrumar para o trabalho na cidade vizinha. Estava um pouco atrasado, o que não era bom para ele nem para seu supervisor, um homem tão irritante que Taehyung frequentemente pensava em abandonar o emprego.
Felizmente, ele tinha um amigo próximo que trabalhava no mesmo setor: Kim Namjoon, dois anos mais velho. Como Taehyung, Namjoon não suportava o supervisor, e acreditavam que muitos na empresa compartilhavam desse sentimento. Ambos trabalhavam em uma empresa de cosméticos, não na produção, pois seriam desastres ambulantes entre equipamentos frágeis. Em vez disso, integravam a equipe de marketing, passando horas diante de um computador editando embalagens de produtos que nunca usaram e nem sabiam para que serviam.
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— Então, você vai falar ou vai esperar eu perguntar?
A voz de Namjoon soou um pouco alta, fazendo Taehyung encará-lo meio confuso e surpreso pelo tom de voz. Os dois se encontravam no ponto de ônibus, esperando o transporte para poderem ir para casa. Já era tarde, quase escurecendo, e provavelmente só chegariam na cidade à noite.
— Não sei do que você está falando — murmurou, coçando os olhos. Não havia dormido à noite, e a consequência veio só agora, uma dor de cabeça que incomodava qualquer um.
— Entendi, você prefere a segunda opção. — Namjoon colocou as mãos no bolso, encostando-se no poste ao lado. — O que aconteceu com você? Ficou o dia todo perdido e desorientado.
— Por que a pergunta?
— Você está péssimo.
— Nada demais, apenas um sonho estranho.
— Que tipo de sonho?
— Pesadelos, sei lá. — Dava para perceber que Taehyung estava sem paciência. — Só quero chegar em casa e dormir o máximo que eu puder.
— Desde quando você tem pesadelos?
— Namjoon, apenas fique quieto, por favor.
Taehyung olhou na direção do ônibus que vinha, virando a esquina. Namjoon não se sentiu ofendido ou algo parecido; sabia que a falta de sono trazia o mau humor à tona em qualquer um.
Então, o silêncio reinou. Nenhum dos dois abriu a boca para falar mais nada. Assim que ambos entraram no ônibus, Taehyung fechou os olhos e dormiu a viagem toda até a pequena cidade, cerca de uma hora.
Namjoon teve que acordar o amigo quando chegaram ao ponto perto de sua casa. Taehyung abriu os olhos com um susto, sentindo seu corpo pular. Seu coração estava agitado, e o suor era nítido em sua testa e nuca, deixando seus cabelos úmidos. O Kim mais velho o encarou preocupado; as coisas não pareciam muito bem para Taehyung.
— Ei, ei, calma. Respira. — A voz de Namjoon soava preocupada, enquanto ele fixava seu olhar no amigo, procurando algum outro tipo de desconforto. — Outro pesadelo?
— Não, eu só... Você que me acordou de repente, tomei um susto.
A desculpa não colou, e Taehyung percebeu isso. Ele apenas deu de ombros, agradeceu e saiu do ônibus, deixando Namjoon sem entender o que aconteceu. Sabia como ele poderia ser teimoso, e isso de certo modo o irritava demais.
Ao entrar em casa, Taehyung começou a se sentir estranho, como se aquele lugar estivesse lhe mostrando que ele não era mais bem-vindo. Tudo isso se tornou mais claro com a chegada da noite.
Após tomar um banho demorado, escutou vozes pelas escadas e passos, como se alguém tivesse subido para o segundo andar. Saiu do banheiro com passos leves, vestindo seu roupão cinza que comprou na promoção há alguns meses. Nas pontas dos pés, andou até o início da escadaria, olhando para cima com cuidado. O ambiente estava meio escuro por conta do cair da noite, apenas com a péssima iluminação da lua.
Tum... Tum... Tum!
A cada passo dado, o coração de Taehyung acelerava. O peito batia de um jeito tão único que ele sentia cada batida como se fosse um instrumento de música de guerra. Tentou acalmar os batimentos, com medo de que quem estivesse em sua casa os ouvisse.
Mas não adiantou muito. O barulho da porta ao lado se fechando de forma agressiva o fez pular e gritar de susto, sentindo seu corpo todo esfriar. Seus olhos foram de encontro à porta; aquele lugar era onde ficava seu quarto. Ele podia jurar que escutou uma voz masculina vindo de dentro do cômodo.
Tocou na maçaneta e percebeu pela primeira vez como estava tremendo como uma bandeira ao vento ou até mesmo pior. Com um movimento, abriu a porta, empurrando-a com os cotovelos devagar.
O quarto se encontrava escuro, mas a voz estava presente. Não sabia como tinha a coragem — ou burrice — de entrar naquele lugar e tentar procurar a raiz daquela situação super esquisita e assustadora. E ali estava, brilhando como ouro, o maldito espelho. Ele estava em cima da cômoda, um lugar diferente de onde Taehyung o havia colocado pela manhã.
Quando escutou a voz novamente, surpreendeu-se com a própria ação e sentimento. Não sentiu medo ou nervosismo, sentiu raiva e frustração. Seu corpo se moveu sozinho até o espelho, e sem pensar duas vezes, jogou-o na parede, vendo-o se quebrar em vários pedaços.
Aquele maldito espelho tinha tirado sua noite de sono, algo que para Taehyung era mais sagrado do que o seu café-da-manhã. O deixou de mau humor o dia todo; odiava se sentir assim, não tinha capacidade para lidar com o mundo lá fora, e ele amava socializar, apesar das pessoas chatas e ordinárias de seu trabalho.
Ele observou os cacos espalhados pelo chão, seu reflexo distorcido pelas rachaduras. Encarou um pedaço específico, que lhe mostrava um de seus piores pesadelos, ou melhor dizendo, medos.
Escuro. Algo que 90% da população perde o medo na infância, algo tão banal aos olhos do mundo que Taehyung sente até vergonha de admitir isso para seus conhecidos. Não era à toa que sua casa era, na maior parte, iluminada, com cores brincando entre as paredes brancas e velhas.
E ali, naquele único pedaço do espelho, Taehyung viu o breu. Poderia simplesmente desviar o olhar, mas não tinha como; a sensação era de estar vivenciando aquilo pessoalmente. Podia sentir seu corpo se envolver em um mar de escuridão eterna.
Taehyung não sentia medo do escuro em si, mas sim do que poderia estar escondido nele. E ele não se referia a palhaços ou cobras peçonhentas, mas sim a algo bizarro, inexistente, fora do comum, que poderia ser mais assustador do que qualquer outra coisa que já viu em sua vida.
Em poucos segundos, Taehyung se viu banhado naquela escuridão. Seu coração podia ser escutado a metros de distância, sua respiração irregular começando a sentir falta de ar, o nervosismo presente. Olhou ao redor e deu um passo para o lado, tentando ver através daquela escuridão toda a saída ou pelo menos o bocal para acender a luz. Contudo, tudo o que viu foi o escuro.
Então, ouviu o toque de um piano ao fundo. As teclas brincavam em uma melodia sinistra, algo que deixava o clima mais tenso do que já era. Pensava que não tinha como piorar, mas se arrependeu desse pensamento quando ouviu novamente a mesma voz seguida de uma risada.
Podia sentir mãos tocando seu ombro e braço. Afastou-se rapidamente, batendo em alguma coisa, o que o fez gritar de susto e dor, mas sua voz não saiu. Taehyung arregalou os olhos, desesperado, apalpando o ar à procura de algo sólido para segurar, mas não adiantava. Seus esforços não estavam funcionando, e sua voz não cooperava.
"Se acalme, meu bem. Foque em seus batimentos e em sua respiração. Não é tão assustador quanto você pensa."
Taehyung olhou na direção daquela voz, um homem com uma voz calmante para seus ouvidos. E então, quando fez o que foi pedido, a luz voltou aos poucos, revelando seu quarto iluminado pelas luzes amarelas, e o espelho intacto em suas mãos.
Naquela noite, Taehyung não conseguiu dormir.
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Alguns dias se passaram lentamente para Taehyung. Ele estava focado em tentar entender o que estava acontecendo em sua vida. Namjoon percebeu que seu amigo estava um pouco esquisito, sempre meio paranoico com as coisas ao seu redor, além, é claro, das profundas olheiras sob seus olhos, que pareciam piorar a cada noite.
Então, em uma certa noite, Namjoon o convidou para conversar — ou, melhor dizendo, se auto convidou. Tocou a campainha e foi recebido por um Taehyung com os cabelos bagunçados, olhos profundos e cansados. O mais novo o encarou por alguns segundos antes de dar passagem para que o amigo entrasse.
Após alguns minutos em completo silêncio, Taehyung limpou a garganta e resolveu pedir ajuda. Mesmo que Namjoon não acreditasse, precisava falar com alguém.
— Estou sendo amaldiçoado por um espelho. Por favor, me ajude.
Namjoon o encarou sem entender nada, coçando a nuca meio sem jeito e olhando ao redor. Estava esperando tudo, até mesmo a probabilidade de Taehyung ter matado alguém e não saber onde esconder o corpo. Mas isso... não esperava.
— Amaldiçoado por um espelho? E você tem ele aí?
— Tenho!
Dava para ver perfeitamente o desespero na voz de Taehyung, o que fez Namjoon começar a desconfiar de que isso poderia ser realmente sério. Não que ele não acreditasse no amigo, mas sentia que era algo mais simples do que uma maldição vinda de um espelho.
Quando Taehyung trouxe o espelho, Namjoon o observou sem entender muita coisa. Era um espelho normal, como qualquer outro, só parecia ser muito antigo para seu gosto.
— E então? Está vendo?
— Vendo o que exatamente?
— Coisas estranhas dentro do espelho... Não está realmente vendo? — Taehyung segurou firmemente o espelho na frente do rosto do amigo, com as mãos trêmulas. Sua voz soava mais que desesperada, parecia que teria algum tipo de colapso a qualquer momento. — Está bem aqui, não é mentira.
Namjoon coçou a testa meio confuso. Queria poder ver o que seu amigo estava vendo, não é que não acreditava, mas queria poder saber exatamente o que estava naquele reflexo para que Taehyung agisse daquela forma.
— Quer que eu te leve até uma pessoa? Ela pode te ajudar, entende melhor disso do que eu.
— Quem?
— Meu ex.
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O prédio velho tinha uma presença sinistra, localizado na parte peculiar da cidade, onde poucos tinham a coragem de passar sozinhos em um dia qualquer. As ruelas eram meio escuras e cheiravam a cigarro e madeira queimada. Cada passo que se dava fazia um som que chamava a atenção de quem estava presente.
— Aqui estamos... — Namjoon olhou para a vitrine da loja, que permitia ver o interior, um lugarzinho cheio de luzes amarelas e vermelhas, e objetos velhos esquecidos pelo tempo.
Parece... aconchegante.
Taehyung tinha um sorriso nervoso travado no rosto, suas bochechas doíam um pouco pelo esforço, mas por algum motivo, não conseguia parar de sorrir. Talvez o medo de que não desse certo e ele sofresse com esse bendito espelho pelo resto de sua vida fosse a causa do nervosismo.
Namjoon o encarou, esperando que ele entrasse primeiro, mas vendo a reação nula do amigo, respirou fundo e o empurrou de leve pelos ombros. Entraram na loja ouvindo o sino ao abrir a porta de madeira pesada.
O cheiro era de velas perfumadas, e de fundo podia-se escutar uma música tocando, vinda de uma pequena vitrola à esquerda, perto dos móveis entalhados. No caixa, um senhor estava presente, parecendo não se importar com a presença dos dois amigos, limpando uma pequena esfera de vidro com certa precisão.
— Ele está aqui? — Namjoon perguntou, olhando diretamente para o senhor.
O senhor apenas apontou para uma escada que levava até o porão. Namjoon agradeceu, puxando Taehyung, que parecia fascinado com tanta coisa estranha e interessante que via pelo caminho.
Atravessaram a sala e desceram as escadas de madeira que rangiam a cada passo. Namjoon avistou a figura familiar de pé em frente a um varal de bonecas de porcelana, onde ajeitava alguns vestidos.
— Jin... Trouxe um amigo, conversa com ele.
Seokjin olhou para Namjoon meio surpreso, segurando uma agulha entre os dentes enquanto ajeitava um vestido preto cheio de detalhes. Seus ombros relaxaram ao ver Taehyung atrás do amigo, parecendo meio perdido, olhando para todos os lados.
— Deveria ter me mandado uma mensagem, teria feito pelo menos um chá.
— Eu... não tenho mais seu número.
— E mesmo assim vem aqui toda semana. — Jin cruzou os braços, analisando Taehyung de cima a baixo. — O que ele tem?
Taehyung percebeu o silêncio e voltou com aquele sorriso nervoso, se aproximando de Seokjin com o espelho em mãos. O objeto estava tampado com um lenço vermelho, o que o deixava mais chamativo.
— Estou sendo amaldiçoado.
Taehyung olhou para o mais velho, esperando uma reação de choque ou confusão, como a de Namjoon algumas horas antes, mas, ao invés disso, foi recebido com um sorriso suave e cheio de compreensão.
— Deixe-me ver.
Seokjin pegou o espelho, tirando o lenço com cuidado e encarando o seu reflexo. Passou os dedos pelos detalhes esculpidos na lateral do objeto brilhante e depois tocou em seu reflexo. Suspirou baixinho, virando o espelho para poder ver atrás, notando uma palavra em itálico: "maudire".
— Já tentou jogar fora ou quebrá-lo?
— Já, mas ele sempre retorna ileso.
— Onde comprou?
— No mercadão que teve no final de semana, tem de tudo naquele lugar.
— Por que comprou?
Taehyung encarou Seokjin um pouco surpreso com a pergunta. Nunca tinha pensado sobre isso profundamente, apenas teve interesse e comprou, como fazia com outras bijuterias que encontrava pelo caminho.
Seokjin, ao ver a resposta silenciosa, apenas deu um sorriso fraco, desviando o olhar para o espelho. Coçou a cabeça meio sem saber o que fazer e voltou a esconder o objeto brilhante por baixo do lenço vermelho.
— Tudo bem se eu ficar com ele por essa noite?
— Tem certeza? E se algo acontecer?
— Bom, é isso que quero que aconteça. Caso não ocorra nada, não vamos sair do lugar.
Namjoon viu a hesitação do amigo, mas sabia que Seokjin estava falando sério no momento. Então, apenas puxou o amigo para fora do porão, escutando ao fundo Jin falar para que Taehyung passasse a noite com Namjoon por precaução, caso algo ruim ocorresse com ele longe do espelho.
Aquilo só deixou Taehyung mais em alerta. A cada passo dado, ele sentia como se sua vida estivesse diminuindo, e a qualquer momento, iria cair duro no chão. A verdade era que, se a maldição não o matasse, sua ansiedade o faria.
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A casa de Namjoon era pequena comparada à de Taehyung. Apenas três cômodos — sem contar o banheiro —, uma sala, cozinha e um quarto, onde parecia ser o lugar mais usado. Taehyung se encolheu em seu canto, observando Namjoon colocar um colchão no chão perto de sua cama. Agora pensando um pouco, era a primeira vez que ele dormia na casa do amigo, mesmo após anos de amizade.
— Qualquer coisa, você grita. Vou estar literalmente ao seu lado. —
Namjoon se deitou no colchão, enquanto Taehyung, relutante, foi para a cama do amigo. Após uma pequena discussão sobre onde Taehyung iria dormir, Namjoon optou por ficar no chão, mas Taehyung negava, até que o amigo disse que poderia ter algo debaixo da cama que poderia pegá-lo em um piscar de olhos. Após essas palavras tranquilizadoras, Taehyung não pensou duas vezes e aceitou dormir na cama do amigo.
Algumas horas se passaram e Taehyung permanecia com os olhos abertos, diferente de Namjoon que já estava em seu quinto sono. O ambiente estava meio escuro, com apenas o abajur aceso, dando para ver algumas coisas ao redor com certa dificuldade. Às vezes, Taehyung precisava ter certeza de que era apenas uma toalha ou um animal estranho pendurado, observando-o durante a noite atrás da porta.
A cada som, seja carro passando na rua, cachorro latindo ou os suspiros que Namjoon dava à noite quando se mexia, ele ficava em alerta. Sua mente não parava por um minuto sequer, o que o esgotava mais que tudo.
Então, ele se virou na cama e encarou o criado-mudo com uma foto de um cachorro. Esticou a mão para apagar a luz do abajur e congelou no local ao ver o maldito espelho parado perto da foto do animal.
Felizmente, nada de ruim aconteceu com Taehyung.
Infelizmente, ele não dormiu naquela noite.
No dia seguinte, Namjoon o levou novamente à loja do ex-namorado. Encontraram Seokjin mais perdido que cego em tiroteio, andando de um lado para o outro, bagunçando os cabelos enquanto murmurava palavras inaudíveis. Sua expressão era de completa confusão e choque.
— O que houve? — Namjoon perguntou, sentando-se na poltrona ao lado.
— O espelho, ele estava aqui e de repente... sumiu.
— Você o viu sumindo?
— Não... Não exatamente. — Jin apontou para uma escrivaninha com detalhes em dourado. — Ele estava aqui, eu me virei por uns segundos e quando fui pegar... pimba! Sumiu.
Taehyung o encarou meio desconfiado, não sabia se era por conta da história do espelho ser meio viajada ou por conta da expressão antiga usada. A última vez que ouviu aquilo foi na época de sua avó.
— Não aconteceu nada de estranho quando você estava sozinho com o espelho?
Seokjin esfregou de leve as mãos, desviando o olhar para um dos móveis, e deu um sorriso meio estranho, encolhendo os ombros. Parecia um pouco desconfortável.
— Bom, apareceram umas aranhas, mas eu pensei que fosse porque não dei uma limpada nas últimas semanas.
— Aranhas? De qual tipo? — Namjoon perguntou, levantando uma das sobrancelhas.
— Viúvas-negras, espalhadas por toda a parede. Quase tive um treco quando vi.
— Eu tenho uma teoria — Namjoon murmurou, levantando-se da poltrona. — O espelho mostra um dos seus maiores medos quando você está sozinho com ele.
— Hmm... E por que ele sempre volta para mim? — Taehyung cruzou os braços, tentando entender o raciocínio do amigo.
— Talvez seja porque você comprou ele, o espelho está em seu nome — Jin disse, com um sorriso confiante no rosto. — Por esse motivo, não importa o que você faça, ele sempre vai voltar para você por você ser o dono dele. Contudo...
— Contudo?
— E se você tentar ficar sozinho com o espelho e tentar enfrentar esse medo?
— De jeito nenhum, está louco?
— Vamos estar atrás da porta. Você só precisa ficar sozinho em um quarto, não é?
— Mesmo assim, eu não quero. Você ficaria sozinho com as aranhas?
— Não é sobre mim, Taehyung. É sobre você e esse espelho. Namjoon tem um bom ponto. A maldição pode estar ligada à sua própria mente e medo, se alimentando do seu desespero e pavor. Você vai ter que superar o medo do escuro.
— Eu não vou, nem pensar.
Taehyung saiu caminhando para fora do porão, resmungando alto. Namjoon e Seokjin se encararam, meio sem saber o que fazer a seguir.
— Quer um café? — Seokjin perguntou após quase um minuto de silêncio. — Tem docinhos.
— Que tipo de doce?
— Beijinhos. — Jin o encarou, segurando a risada.
— Jin, não começa.
— Ok, talvez depois. — Ao olhar para Namjoon, percebeu a expressão zangada no rosto. — Ou nunca, você quem sabe.
{°°°}
Estava chovendo bastante naquela noite. Taehyung estava em seu quarto, escutando de fundo a voz de Namjoon e Seokjin atrás da porta. Pareciam estar tendo uma pequena discussão, mas ele não ligou muito, enquanto encarava o espelho.
Mesmo tendo batido o pé, dizendo que não iria seguir o plano dos amigos naquele dia, não pôde deixar de pensar a noite toda. E se esse jeito fosse realmente a única solução? Era melhor enfrentar esse medo bobo de criança logo do que ter que conviver o restante da sua vida com medo de encarar um espelho.
O quarto estava meramente escuro, o que causava um arrepio na espinha. De início, nada aconteceu — o que deixava Taehyung aliviado de certo modo. Encarando o espelho a todo momento, segurando um tipo de taco, achando que isso fazia sentido para se proteger caso algo fora do normal acontecesse.
De início, nada ocorreu. Foram quarenta minutos em completo silêncio, até mesmo os dois do lado de fora resolveram não dizer mais nada. As coisas pareciam normais até então, o que, ao invés de aliviar o trio, os deixou mais tensos com a situação toda.
Então, quando tudo parecia que não iria dar em nada, as luzes começaram a piscar de maneira desgovernada. O quarto onde Taehyung estava ficou um breu total, fazendo ele dar um pequeno grito pelo susto e soltando uma imensa sequência de palavrões que pensou que nunca iria proferir em sua vida.
Os dois do lado de fora ficaram parados, escutando o amigo gritar. Quando Namjoon ia abrir a porta, Seokjin o segurou, impedindo-o. Aquele momento não era o certo para interferir; só iriam aparecer se Taehyung os chamasse.
No quarto escuro, Taehyung olhava ao redor, mesmo não dando para ver nada. Sua respiração era densa e desregulada, sentia os batimentos mais altos a cada segundo que passava. Então, toques de piano começaram a surgir ao fundo, o que o deixou mais aflito. Parecia mais a trilha sonora de sua morte.
Segurou o taco com força, sentindo sua mão suar um pouco. Respirou fundo e deu um passo à frente, na direção do piano, mas parou ao sentir um hálito quente bater contra o seu rosto e uma respiração ofegante se fazer presente, como se fosse algo animalesco.
Com certa hesitação, agarrou o taco e atacou seja lá o que fosse na sua frente, escutando um grunhido de dor. Não conseguia identificar se aquilo era realmente um animal ou um tipo de monstro mitológico.
Sentiu que a qualquer momento iria morrer, então, como sempre fez, resolveu fugir. Virou-se de costas e correu na direção da porta, ou melhor, para onde pensou que a porta estivesse. Mas não importava quanto corresse, parecia não sair do local, ainda mais quando a escuridão dificultava sua visão.
Parou de correr, colocando as mãos nos joelhos, sentindo o coração na boca e o suor escorrer pela testa. Tentou respirar fundo, mas o barulho de passos pesados vindo em sua direção, como se estivesse correndo para cima de si, só o fez ficar mais nervoso. Já era demais para o seu coração aguentar. Não perdeu mais tempo e gritou pelos dois amigos do lado de fora, mas ninguém parecia escutar.
— Merda, Namjoon! Seokjin! — gritou, desesperado, voltando a correr para a frente. — Me tirem daqui!
O toque do piano ficou mais alto, trazendo pequenas risadas ao fundo. Aquilo só fez Taehyung ficar com mais raiva. Parecia que seja lá o que fosse, estava tirando sarro da sua cara.
— Eles não estão me escutando, né? Maldito...
Então, uma pequena luz se fez presente. Olhou na direção, vendo o reflexo do espelho. Taehyung segurou o taco com força e partiu para cima do objeto, vendo-o se quebrar em vários pedaços, sumindo na escuridão e aparecendo do outro lado do quarto, inteiro, sem nenhum arranhão. Sem pensar muito, começou a balançar o taco por toda parte, escutando barulho de vidro quebrando e objetos caindo sobre o chão. Não se importou e continuou, enquanto gritava de raiva e frustração.
As risadas só o deixavam com mais raiva. Podia sentir a veia de sua testa pulsando como se fosse saltar para fora a qualquer momento. Antes de quebrar novamente o espelho, sentiu alguém tocar seus ombros. Olhou para trás e não viu ninguém, mas podia jurar ter visto olhos vermelhos o encarando como se ele fosse sua próxima refeição.
Piscou algumas vezes, vendo aqueles olhos sumirem. As risadas continuaram. Com um suspiro pesado, se jogou sobre o chão, se deitando, e colocou o taco de lado, respirando fundo, se lembrando do que Seokjin havia lhe dito algumas horas atrás.
Antes de entrar naquele quarto, Seokjin o ajudou um pouco a manter a calma, dizendo que tudo não passava de sua imaginação. Não existia nada no escuro, a não ser aquilo que sempre esteve lá.
"Não é tão assustador quanto você pensa."
Então, soltou um suspiro leve, olhando ao redor, tentando se lembrar do que havia naquele quarto: a cômoda ao lado da porta, cheia de bugigangas, com uma das gavetas quebradas por ter batido ao tentar transportá-la para o segundo andar; a cama superconfortável que comprou do primo marceneiro há dois anos; o criado-mudo que pintou de branco, uma tinta superbarata, arrependendo-se amargamente após terminar de pintar; as pantufas com formato de tubarão azul ao lado do tapete feio que sua mãe deixou como presente no mês passado.
Taehyung podia ver suas coisas aparecerem aos poucos. A música ao piano de fundo parecia sumir, e tudo que parecia assustá-lo começou a desaparecer, dando lugar aos objetos que sempre estiveram naquele cômodo.
Do lado de fora do quarto, Seokjin e Namjoon olhavam para a porta, extremamente preocupados e desconfiados de que algo ruim havia acontecido, pelo silêncio há quase meia hora.
— É melhor abrir a porta — Namjoon comentou, meio atordoado com a ansiedade à flor da pele.
— Mas ele não nos chamou nenhuma vez. — Jin mordia os dedos, sinal de nervosismo.
— E se ele caiu e bateu a cabeça? Pode estar desacordado, por isso não nos chamou.
— Namjoon...
— Vamos abrir. — Namjoon insistiu, colocando a mão na maçaneta, vendo se Jin iria impedi-lo, mas aparentemente, esse não era o caso.
A porta então se abriu com tudo, iluminando o quarto com a claridade que tanto precisava. De início, puderam ver vários objetos jogados pelo chão, quebrados, e outros fora do local, e um Taehyung deitado sobre a bagunça, de olhos fechados.
Namjoon rapidamente correu até ele, se certificando de que ele estava bem. Ao se aproximar, viu Taehyung sorrindo de orelha a orelha. Sua respiração ainda estava meio desregulada, mas dava para ver o alívio em sua expressão.
— O que aconteceu aqui? — Seokjin perguntou, notando a ausência do espelho.
— Eu venci aquele maldito.
— Como?
Taehyung não respondeu, apenas riu, aliviado pela situação toda ter acabado. Não se importava se seu quarto estava bagunçado ou se havia caco de vidro por toda parte. O importante era que ele poderia finalmente ter uma noite de paz, após quase um mês de sofrimento e tortura por conta de um espelho endiabrado.
Algumas semanas se passaram após aquele incidente. Taehyung estava se sentindo bem melhor, dormindo como nunca dormiu antes. Visitava Seokjin em sua loja peculiar quase todos os dias para agradecê-lo pela ajuda e tomar um chá juntamente com Namjoon, que, apesar de serem um do outro, nunca se desgrudaram. Uma vez perguntou o motivo, e Namjoon apenas deu de ombros, enquanto Seokjin mantinha um sorriso esquisito, desviando a pergunta.
Certas coisas não mudaram, como a mania de Taehyung de comprar objetos antigos e levá-los para casa, mas desta vez, sem espelhos e maldições. Um certo dia, ele estava procurando um ponteiro de relógio para o grande relógio de cuco da sala e escutou a risada do espelho ao fundo. Olhou para o lado no reflexo, sentindo seu sangue esfriar.
Então, ele viu o mesmo vendedor vendendo o mesmo espelho para uma moça de sorriso simpático. Aproximou-se do vendedor e apontou para ele.
— Você!
O vendedor olhou para Taehyung meio surpreso, abrindo um sorriso de canto, e riu, a mesma risada do espelho. Taehyung paralisou, ainda mais quando viu o vendedor sumir na sua frente como fumaça.
— Eu não vi nada... É tudo coisa da minha cabeça.
Ficou parado por mais alguns segundos, sem entender o que aconteceu, e virou as costas, andando de volta para casa.
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