Capítulo III- Encontro
Na manhã seguinte Alec tratou de ir procurar sua "ninfa" logo que os primeiros raios de sol surgiram no horizonte. Ele estava ansioso para vê-la outra vez e até mesmo um pouco curioso a respeito dos hábitos incomuns daquela que a cada momento despertava mais e mais o seu interesse.
A encontrou no mesmo lugar da primeira vez que aviu. Depois de alguns instantes a observando decidiu-se a apresentar-se a ela apesar de saber que corria o risco de ser considerado indelicado ou até impertinente por não ser costume vigente uma dama falar ou mesmo ser apresentada a um cavalheiro desconhecido sem um intermediador muito menos sozinha. Mesmo assim seguiu em frente mas ao chegar perto ficou perplexo com a intensidade do olhar que ela lhe lançou. Parecia que enxergava seu interior ou através dele. Então chamou-a com certa relutância na voz:
-Senhorita, por favor permita-me apresentar-me eu sou...- Fora interrompido bruscamente:
-Por favor, peço eu, que não se aproxime mais, eu imploro! - Disse-lhe suplicante enquanto se afastava correndo, deixando Alec desconcertado com tal atitude.
Seus cabelos longos e castanhos flutuando ao vento...Viu-a desaparecer entre as encostas, ainda tentou alcançá-la mas como não conhecia bem o caminho logo a perdeu de vista.
Em sua corrida desesperada ela esqueceu-se de suas limitações por alguns minutos. Parou de correr apenas quando alcançou a entrada de sua casa, onde adentrou o mais rápido que conseguiu, subiu as escadas rapidamente o que Mary estranhou mas julgou que fosse calor e tratou de preparar seu banho para depois ir ajudá-la.
Ao chegar ao quarto ela sentiu uma onda de dor no peito, dificuldade para respirar, os batimentos acelerados, um frio intenso e repentino juntamente com um cansaço e fadiga como se tivesse corrido uma maratona e por fim um pavor e medo terrível de morrer. Ela odiava quando isso acontecia, tentou em vão controlar-se mas não pôde e num grito quase sufocado chamou por Mary. A pobre senhora ao ouvir o grito subiu as escadas o mais rápido que sua estrutura física lhe permitia. Ao adentrar o quarto deparou-se com a cena já bastante conhecida, pois em todos esses anos presenciara Kate em meio a várias dessas situações. Apressou-se a acalmar a moça, abraçando-a e cantando uma canção de ninar e falando palavras de consolo. Depois de alguns minutos Kate foi-se acalmando e depois de lavar-se com ajuda de sua protetora descobriu-se realmente exausta e logo depois dormiu um sono conturbado e inquieto durante o dia quase todo. Alegando estar com dores de cabeça passou os dois dias seguintes sem sair nem mesmo do quarto. Mas a verdade é que estava insegura e temia reencontrar aquele desconhecido.
Quando Mary ameaçava chamar um médico ela jurava que estava melhor e que sairia em breve e até mesmo iria passear como antes. Mas não revelou os motivos reais de seu mau estar e isolamento. Ao terceiro dia imaginando que não haveria perigo de encontrar pessoa alguma muito menos aquele ser insolente que ousara aproximar-se dela contra a sua vontade. Kate saiu muito cedinho planejando voltar o mais cedo possível para não terminar o dia como da última vez. Mas o destino tinha outros planos para nossa mocinha.
Alec novamente não a tirou dos pensamentos um só segundo durante esses dias, mal conseguia concentrar-se durante as refeições ou nas conversas com o tio que por ser muito experiente e vivido desconfiava dos motivos do sobrinho andar tão distraído e distante mas devido à última discussão entre eles e temendo desagradá-lo deixou-o ficar à vontade para contar as novidades quando bem entendesse mesmo sabendo que isto poderia demorar bastante pois Alec era muito reservado com seus sentimentos e assuntos particulares.
O bom e velho tio Thomas amava-o como a seu próprio filho. Decorridos três dias, o rapaz já cogitava a possibilidade de jamais vê-la novamente e nem ao menos sabia como se chamava. Ao amanhecer decidiu procurá-la uma última vez pois partiria em poucos dias e não gostaria de ir sem saber ao menos seu nome.
Ele não teve que procurar muito, logo a encontrou exatamente no mesmo lugar da primeira ocasião em que a vira. Semelhantemente à vez anterior ela estava de olhos fechados de braços abertos. Temendo perdê-la de vista uma vez mais, ele correu em sua direção o mais rápido que pôde. Ao estar bem próximo a ela chamou-a, ao ouvir-lhe, talvez pela distração momentânea ou pelo susto, ela desequilibrou-se, pisou em falso e caiu torcendo o tornozelo no instante exato em que uma onda mais alta e forte a alcançou e engoliu fazendo com que ela afundasse por alguns segundos que para Alec pareceram uma eternidade. Indo em seu auxílio mais que depressa a tomou em seus braços retirando-a da água e deitando na areia afastados das ondas. Ao vê-la desfalecida percebeu que ela havia engolido certa quantidade de água iniciou os procedimentos de reanimação e respiração artificial, no instante exato em que encaixou seus lábios nos dela sentiu algo extraordinário que jamais pensou sentir muito menos num momento tão impróprio, sentiu algo inimaginável como se fosse um momento único, perfeito, indescritível...
Logo em seguida sentiu-se culpado afinal, não estava se comportando como o cavalheiro que era. Foram necessárias três tentativas até sentir sua reação ao tossir, virou-a de lado para que pudesse expulsar a água ingerida. Respirou aliviado mas lastimou-se por ser o causador de tamanho mal. Demorou somente alguns segundos até Katherine despertar e perceber o que havia acontecido o que a deixou imediatamente preocupada. Agora que o sentia tão próximo a ela não havia chances dela conseguir escapar facilmente como da última vez, mas estranhamente ela não estava apavorada como pensava que ficaria.
-Perdão, senhorita, sinto-me ridículo por causar esse grande incômodo. - Apressou-se a dizer enquanto ela o olhava como nas outras vezes, um olhar profundo com olhos tão azuis como o céu sem nuvens ou o mar num dia calmo. Como não obteve reposta, continuou sua indagação:
- Você está bem, como se chama? Onde mora para que eu possa levá-la até sua casa?- Ainda sem resposta,
Alec começou a constranger-se quando tentou segurar a mão de Kate que a afastou rapidamente mas ainda pode sentir a baixa temperatura de sua pele e viu que ela tremia. Preocupado Alec insistiu para levá-la em casa.
- Mil perdões, senhorita vejo que está com frio. Diga-me onde mora para que eu a leve em casa. - Ao que ela respondeu depois de alguns segundos.
- Bem, senhor eu não o conheço e tampouco o senhor me conhece. Eu posso ir sozinha, não se preocupe!- Levantou-se rapidamente mas sentiu uma vertigem e a dor lacinante no local da torção que a teriam feito ir de encontro ao chão se Alec não a tivesse amparado.
- Está certíssima, perdoe-me novamente. Me chamo Alec McBright e sou médico e sei o que estou dizendo ao afirmar que a senhorita precisa sim de ajuda. - E antes que ela pudesse protestar tomou-a nos braços mais uma vez. E naquele instante Kate não soube o que aconteceu, ela sempre mantivera distância de qualquer pessoa principalmente de cavalheiros, com exceção do casal Johnson e o Sr. Lefrév ela não mantinha contato com nenhuma outra pessoa há muito tempo. Por isso estranhou o fato de sentir-se tão tranquila com a proximidade de Alec, mas também tinha medo de confiar outra vez em alguém. Em meio a esses pensamentos ela parecia distante e não ouviu a pergunta de Alec. Que estava mais do que satisfeito por tê-la tão perto a ponto de sentir o cheiro de seu perfume de rosas. Pegou-se pensando na suavidade de seus lábios e desejou poder sentir mais uma vez mas desta vez com ela desperta e correspondendo-o. O que havia errrado com ele? Repreendeu-se mentalmente por tais pensamentos indevidos. Para desviar dos rumos que sua mente o estava arrastando iniciou de novo um diálogo mas teve que repetir a pergunta e notou como ela parecia distraída.
- Eu dizia que gostaria de saber seu nome e por onde devo seguir para deixá-la em casa?- Disse com um meio sorriso que se Kate tivesse visto acharia muito bonito.
-Me chamo Katherine e, apenas siga em frente por este caminho de pedras que chegaremos em minha casa. -Respondeu finalmente entre tremores do frio devido ao fato de ter as roupas encharcadas.
Alec pensou no motivo dela falar apenas o primeiro nome mas decidiu não questionar. Em poucos minutos avistou uma bela casa porém simples dirigiu-se até ela. Kate quebrou o silêncio incômodo que os cercava apenas para orientá-lo:
- Não é necessário bater, neste horário não deve ter ninguém em casa, apenas empurre a porta deve estar destrancada. - Novamente Alec estranhou mas julgou que os pais dela estivessem fora da cidade e não comentou nada. Fez como ela dissera.
Ao adentrar fora surpreendido com o requinte e o bom gosto no interior da propriedade, que não se parecia em absoluto com o exterior simples, cogitou o fato de ela ser algo mais do que ele imaginou.
- Agora que chegamos senhor, posso cuidar de mim mesma. Agradeço seu préstimo mas devo pedir que se retire, por favor. - Disse ela tentando desvencilhar de seus braços inutilmente.
- Nada disso senhorita, vejo que ainda encontra-se necessitando de minha ajuda, diga-me onde fica seu quarto que a levarei até lá e também onde fica a cozinha para que eu peça a alguma criada para preparar-lhe um banho quente e uma refeição. - Disse ele sem rodeios e de modo firme.
- Já disse que não necessito pois já estou em casa, sei cuidar de mim mesma afinal não sou nenhuma inválida! - Retrucou ela de forma rude, emburrada.
- Já lhe disse senhorita, irei levá-la até seus aposentos, se deseja tanto se ver livre de minha presença assim como parece, sugiro que me ouça, será melhor desse modo eu garanto. - Falou entre um meio sorriso que novamente não fora visto.
-Tudo bem se não há outro jeito. Meu quarto é o segundo logo depois de subir as escadas. - Depois de falar Kate sentiu suas bochechas esquentarem ao imaginar que estava sozinha com um homem e para piorar a situação ele a carregava no colo e iria entrar no seu quarto. Sentiu seu coração acelerar mas não havia medo apenas uma ligeira apreensão, ela não se reconheceu afinal ele era um desconhecido. Ele a levou ao quarto como combinado e a depositou sobre a cama e entes de sair disse-lhe mais uma vez:
- Sinto muito pelo transtorno senhorita, não foi minha intenção causar-lhe dano algum! - E saiu em busca da cozinha e de alguém que pudesse ajudar a moça. Logo que desceu as escadas ouviu as vozes e seguiu-as até encontrar as duas pessoas que conversavam.
-Perdão, pela intromissão senhora e senhor mas eu vim trazer a senhorita Katherine...- Antes mesmo de terminar de falar Mary o interrompeu preocupada:
- Minha menina, o que houve, ela está bem?
-Acalme-se mulher, deixe o moço explicar! - Disse Joseph tentando acalmá-la.
- Bem, ela caiu na praia, eu a ajudei e a trouxe em casa, ela se encontra no quarto e parece ter se resfriado. Mas não se preocupe sou médico, eu me chamo, Alec McBright e vou examiná-la logo depois que a senhora ajudá-la num banho quente. - Ao ouvir isso Mary foi imediatamente esquentar água e levar para que a moça pudesse banhar-se.
Já no quarto Mary indaga cheia de preocupação:
- Ah, minha menina como você está? O doutor me contou o que houve. Você precisa tonar mais cuidado! - Disse quase em lágrimas a boa senhora sem esperar resposta começando a tirar as roupas da jovem.
-Oh, Mary estou bem apenas dei um mergulho afinal você sabe como amo o mar! Não se preocupe estou bem, preciso tomar um banho quente e me trocar e ficarei novinha em folha. - Kate sorria para acalmar a senhora que a conhecia a vida toda, sabia se assim não fizesse ela ficaria muito preocupada. Depois de terminar o banho e trocar as roupas foi direto para a cama e deitou-se já sentindo os efeitos da água gelada do mar em seu corpo e também a forte dor no pé.
Alec aguardou senhora Johnson retornar à cozinha para obter alguma informação sobre a dona de seus pensamentos já que esta não revelava muito, em parte ele entendia, ele mesmo não era de falar muito mas precisava compreender os motivos que a levavam a manter tanta distância e resistir tanto a uma aproximação amistosa, além da razão dela andar sempre sozinha, quase reclusa, entre tantas outras questões.
-Olá, doutor o senhor precisa trocar- de roupa também porque não pense que deixei de notar que esta encharcado como minha Kate estava até poucos minutos. Médicos também adoecem! - Alec sorriu diante da cordialidade daquela boa mulher. Sentindo que ganhara sua confiança indagou-lhe sobre os pais de Kate.
-Senhora Johnson, primeiro irei examinar a moça depois tratarei de trocar de roupa em casa que não fica muito longe daqui. Por favor não me interprete mal, mas onde estão os pais da senhorita Katherine, ela me parece muito jovem para viver de forma tão isolada, geralmente as moças dessa idade estão na capital frequentando bailes e buscando um bom casamento?
- Ah, meu bom doutor, minha Kate não é esse tipo de moça! Não que eu não a considere capaz de conquistar um bom partido se ela não o fez até hoje foi em parte foi por opção própria mas não completamente... - Deixou o restante da frase no ar e depois continuou: - Os pais dela morreram há cerca de cinco anos num incêndio que a deixou assim... - Novamente não terminou o que ia dizer. - Contudo, venha deixe-me levá-lo até ela, aliás ela gostou do senhor.
-Não que duvide de sua palavra senhora, mas não creio realmente que ela tenha algum apreço por mim! - Disse ele incrédulo.
- Sim, meu rapaz ela gostou, e a prova disto é que ainda está aqui, Kate não permite que nenhuma pessoa se aproxime dela, não nos últimos tempos! - Alec notou que mais uma vez a senhora deixava algo no ar como se houvesse algo misterioso por trás de toda aquela história, porém sentiu-se feliz por saber que havia alguma chance dela sentir algo por ele.
- Senhora Johnson, como aconteceu o incêndio, isto é, foi provocado ou acidental? - Indagou Alec enquanto subiam as escadas.
- Na verdade nunca soubemos o que sabemos é que foi terrível, destruiu a bela casa de Londres, tirou a vida de duas pessoas maravilhosas, o senhor e a senhora Williams-Cosworth, quase matou Kate e a deixou na escuridão. - Ao ouvir a última parte Alec teve um choque pelo espanto tanto por descobrir sobre a origem da moça que agora ele sabia era filha de nobres como por compreender finalmente o porque dela não olhar diretamente em seus olhos, de sempre parecer com olhar distante, penetrante ou enxergar sua essência, seu lado mais profundo...além do que os olhos podem ver. Ela era cega, aquilo o atingiu em cheio, como ele não notou antes, estava tão encantado que esse fato tão importante passou completamente despercebido....
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Olá, queridos leitores espero sinceramente que estejam gostando!
Devo esclarecer alguns fatos:
1- Essa história é inteiramente fictícia, quaisquer semelhanças com a realidade serão meras coincidências. Mas de fato, algumas vezes acontecerá a menção de detalhes ou fatos históricos, os quais pesquisei e para suprir as necessidades de contextualização serão mencionados aqui.
2- Contudo, procurarei não especificar nem mesmo detalhar esses fatos para que não ocorram interpretações indevidas da história descrita. A título de exemplo, eu cito nesse capítulo a realização do procedimento de respiração boca-a-boca, mas não o detalho. Este já era largamente utilizado desde a antiguidade, inclusive é citado na Bíblia no livro de I Reis 4:34. Mas foi aperfeiçoado e oficilizado somente no século XX.
Bem, é isto. Espero que estejam gostando não se esqueçam de votar e comentar bastante! Um milhão de beijos e até breve!
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