♡ Capítulo 61: "É uma dor dilacerante."
O caminho até a casa de Keanu é triste, em minha mente revivo os vários momentos bons que tive ao seu lado.
Mas, eu preciso tomar essa atitude.
Eu não me sinto vivendo a minha própria vida.
Me sinto vivendo em função de viver a vida de Marie outra vez, isso não é saudável e percebo isso hoje.
Toco a campainha de Keanu duas vezes.
Meus dedos tremem e meu coração parece saltar para fora do meu peito em qualquer instante.
Esse está sendo o momentos mais difícil da minha vida.
A porta é aberta e revela um Keanu recém saído do banho. A calça de moletom cinza lhe caí tão bem, o seu peitoral nu, os cabelos molhados... Em outro momento, eu me jogaria em seus braços e o deixaria me possuir por inteira.
Um sorriso brota nos lábios de Keanu.
— Pensei que não queria companhia.
— Keanu... — Minha voz é um sussurro.
— Não imagine que não estou feliz em te ver, meu amor. Eu só estou confuso. — Keanu se aproxima de mim e eu o afasto com as mãos em seu peito desnudo.
— Eu preciso conversar com você, é algo sério.
— Vamos para dentro. — Sua voz é preocupada e eu o sigo de cabeça baixa até o sofá. — O que quer conversar?
Mecho os meus dedos nervosamente e não sou capaz de olhar em seus olhos castanhos.
— Estou me sentindo muito sufocada e não quero mais continuar com as terapias regressivas. Eu estou enlouquecendo. É tudo demais para a minha cabeça. — Falo atropelando as palavras.
— Tudo bem, vamos cancelar tudo então. — Levanto meus olhos para o homem em minha frente. Ele está sorrindo e se inclina para me beijar, eu o afasto novamente, desta vez me levantando do sofá e ficando em pé a sua frente.
— Eu vou embora. — Falo o olhando de cima.
— Como assim? — A expressão de seu rosto é de surpresa e muita confusão.
— Eu vou embora, Keanu. Eu vou voltar para a minha cidade. — Despejo as palavras bem rápido antes que eu desista de tudo, em frente ao seu olhar. — Eu não consigo mais ficar aqui. — Desvio o meu olhar para os quadros de Marie que preenchem a sala.
— É sobre os Olsen? — Keanu aperta a minha mão. — Nós não precisamos mais ir vê-los.
— Não é só sobre os Olsen, Keanu! É tudo! — Exclamo, tirando minha mão da sua. — Eu estou sufocando! Me sinto vivendo a vida de Marie e deixando de viver a minha. Estou farta daquela universidade, cada canto daquela sala de aula é uma memória de vocês dois juntos. E tem, essa casa! Isso aqui é todo um altar para Marie e isso é muito incômodo! — Despejo tudo, não prendo mais nada dentro de mim.
Keanu permanece em silêncio. Seu olhos estão ficando vermelhos, sinal de que ele também está lutando contra a vontade de chorar.
Aperto firmes os meus olhos e suspiro pesadamente antes de abri-los.
Uma lágrima solitária escorre em minha bochecha e eu a limpo rapidamente.
— Eu amo você, Keanu. Mas eu me sinto ocupando um espaço que não é meu e isso está me adoecendo.
— O seu lugar é comigo, Zoey. — Keanu se levanta, me puxando pela cintura. — A gente se ama e se quer.
— Você me ama mesmo ou ama a ideia de que eu sou Marie? — Nenhuma réplica a minha pergunta escapa por seus lábios. — Foi o que pensei.
— Eu amo você Zoey! — Ele encosta a sua testa na minha. — Eu sei que sou cabeça dura e falo as coisas erradas em alguns momentos, mas é você que estou amando! — Sua voz é firme e decidida.
Uma parte em mim acredita nisso e se eu disser isso, ele vai me fazer ficar e eu preciso desse tempo longe.
— Eu quero acreditar em você, mas é todo mundo me comparando com a Marie o tempo todo que fica difícil... — Suspiro novamente, meus olhos ardem. — Eu só quero que me entenda, Keanu. Eu preciso viver sem o fantasma de Marie me assombrando.
— Ok. — Keanu é vencido pela tristeza. — Quando pretende ir?
— Amanhã mesmo. Eu tenho algum dinheiro guardado e saindo daqui, vou comprar uma passagem pelo site.
— Não! — Seu grito é de desespero. O homem tira as mãos da minha cintura e as leva para a cabeça, puxando os cabelos para cima. — Espera pelo menos até a semana de prova, assim você terá uma grade a menos em Oxford. Posso escrever também uma carta de recomendação para o reitor, isso fará com que você já tenha um estágio encaminhado por lá.
Mesmo tendo seu coração partido por mim, Keanu está sempre pensando no melhor para mim.
Não há homem melhor que ele.
Nenhum homem será como Keanu Davies.
Ele é único.
— Eu prometo que não vou encher o seu saco. — O homem finaliza e me lança um meio sorriso.
— Keanu, você não enche o meu saco, é só que...— Não consigo encontrar a palavras certas. — Não quero que fiquemos mal.
— Não estamos mal... Eu só estou triste. Nosso relacionamento estava ocorrendo muito bem... Eu não sei o que fiz de errado. — Sinto uma necessidade de abraça-lo e assim o faço.
Um abraço quente e cheio de amor.
Lágrimas rolam por meus olhos.
É triste ter que deixa-lo, mas será muito pior para mim se eu continuar aqui.
— Eu amo você, Zoey. — O homem suspira. — De verdade. Você trouxe cor para a minha vida cinza, eu estava tão perdido em minha dor antes de você me encontrar. Arrisquei tudo por você... —Keanu diz abafado na curva do meu pescoço.
— Eu também amo você, Keanu. — Digo me afastando de seus braços. Encaro as suas duas pupilas castanhas e intensas. — Me beija, uma última vez. — Peço em meio as lágrimas.
Assim Keanu o faz.
Um beijo mais molhado que o normal, salgado pelas lágrimas que molham os nossos rostos.
Um beijo carinhoso e carregado de cuidado.
Ele me quer, mesmo depois de eu dizer que estou partindo e que vou deixa-lo sozinho.
Ele respeita a minha vontade.
Respeita o meu desejo de ir.
Afastamos nossos corpos, ofegantes.
Nossos olhares entregam a dor que há em nossos corações.
— Então, é isso. — Mal consigo ouvir as palavras de Keanu. — Vejo você na sala de aula.
Não consigo dizer nada naquele momento, um nó e uma queimação está presente em minha garganta.
Desabo, assim que a porta se fecha atrás de mim.
Choro de soluçar.
As lágrimas parecem vir de uma fonte inesgotável.
É uma dor dilacerante.
Começo a andar sem direção pelas ruas. Cenas e mais cenas ao lado de Keanu passam em minha mente.
Eu nunca havia tido um relacionamento tão bom, na verdade, Keanu é o meu primeiro em muitas coisas e não será fácil superar isso.
Após andar em círculos pela cidade, decido vir para casa. Katherine havia preparado um macarrão ao molho branco, pelo menos é o que está escrito no post-it, colado na porta da geladeira. O prato parece com o resto de um almoço ou jantar que esteve no estômago de alguma pessoa. Encaro aquilo e faço uma careta e não o como.
Abro o armário, apanho um pacote de salgadinhos e caminho para a sala. Com o meu celular em mãos, abro o site de passagens online, apenas para checar alguns horários.
Eu vou mesmo embora?
Não quero perder a coragem na próxima semana.
As provas vão começar na próxima segunda-feira, e eu, não estou com a cabeça para os estudos. Vou estar pensando em um certo alguém de cabelos castanhos, o qual eu parti o coração.
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