Enquanto almoço sozinho em casa, repasso ideias para o possível cardápio, em minha cabeça.

O que é atraente para um jantar romântico?

Penso em algo afrodisíaco, ostras e vieiras são frutos do mar que trazem um certo romantismo e sensualidade.

Sensual demais.

Descarto, ao perceber que talvez Zoey pudesse interpretar isso como uma pressão para o sexo.

E se eu optar por algo mais clássico e esbanjar na sobremesa?  — Concluo, decidido.

Com os pedidos em mente, ligo para um dos restaurantes mais sofisticados do Reino Unido e faço as encomendas, eles confirmam que ás sete horas da noite, os meus pedidos serão entregues no apartamento das meninas.

Essa ligação para o restaurante tira de mim uma boa parte da ansiedade e consigo terminar o almoço sem um monte de pensamentos rondando por minha cabeça. Horas depois, estou no sofá com um copo de café do lado e vários papéis espalhados pelo chão. Estou começando a elaboração das provas.

Não quero nada impossível de ser feito, afinal, eu acredito piedosamente que provas não medem o conhecimento real dos alunos e é tudo uma, como passo chamar, decoreba. Um bom professor conhece sua sala e eu, sei que meus alunos aprenderam de fato a matéria e eu confio neles.

O conselho estudantil é bastante severo com as provas, por isso, me sinto na obrigação de caprichar em cada pergunta, não posso deixar na cara que estou facilitando para a minha turma ou sou eu quem irá sofrer com uma grave punição.

Eu encaro as centenas de anotações e sorrio de lado, satisfeito.

Estamos chegando em algum lugar.

Meu celular começa a tocar e o toque incessante está incomodando meus ouvidos. Me levanto, apanhando o copo de café e caminhando até o balcão da cozinha onde deixei o meu celular.  O visor anuncia o nome que me traz raiva, Matthew Davies.

Em prol do meu bom humor, decido ignorar a chamada e volto para o meu posto. Eu quero aproveitar a criatividade que está me visitando e terminar de preparar essas avaliações, antes que Zoey e Katy cheguem para a sessão de regressão.

Eu tentei convencer as garotas para mudarem o local da terapia regressiva evolutiva, alegando que, eu, sou apenas uma única pessoa para se locomover até o apartamento das duas, mas Katherine e Zoey recusaram, mantendo as sessões aqui. A teimosia de ambas as garotas permanecem fortes.

Passo mais algum tempo trabalhando em minhas anotações, não noto que o horário das garotas e de Stoucker chegarem se aproxima, até Matthew me ligar novamente. Olho para a tela do meu telefone e são três e meia da tarde, para evitar outras ligações futuramente, opto por atende-lo.

— Fala. — Minha voz não soa nenhum pouco gentil.

— Quero me desculpar por ontem a noite. — A voz do outro lado, parece vir de fato de uma pessoa arrependida mas, ainda consigo sentir a raiva em mim, vai levar um tempo para que eu esqueça completamente.

Enquanto Matthew faz seu discurso de perdão,subo as escadas até o quarto e procuro por uma toalha. Eu não estou de fato prestando atenção nas palavras que o  meu irmão mais novo está falando, eu sequer me importo com as suas desculpas. Ao perceber um silêncio na língua, eu finalmente abro a minha boca.

— Realmente não me importam as suas desculpas, Matthew. Você pode tentar me ligar novamente quando aprender a beber e não agir como um adolescente estúpido. — Cuspo as palavras e encerro a chamada, jogando o celular na cama.

Eu sei que minha atitude não está sendo racional, mas Matthew precisa crescer. Não há nada pior que um homem que não sabe beber e ainda se acha um maioral por agredir as pessoas.

Com uma toalha enrolada em minha cintura, saio do banho a procura do que vestir. Eu não posso usar uma calça de moletom para receber Steven Stoucker, mas também, não posso me arrumar tanto ao ponto de Zoey suspeitar de alguma coisa, porém, ainda assim, eu quero muito agrada-la. Sendo assim, opto por meu vestuário de professor, uma calça casual de cor azul marinho, um cinto fino castanho claro, quase como cor de mel, uma camisa social também azul marinho e um sapato social de colocação marrom.

Eu gosto dessa sincronia de cores.

Por um momento, desejo que Margareth estivesse aqui e fizesse a mágica com aquela esponja de maquiagem em meu rosto.

Minha barba está por fazer, o que eu sei que agrada Zoey.

A minha garota tinha elogiado a aparência da minha barba em um dos almoços que tivemos e a elogiou novamente quando com ela, eu fiz cócegas em seu pescoço.

O cabelo está como sempre, rende aos ombros e jogado para o lado.

O perfume amadeirado é a cereja do bolo.

— Keanu! — Ouço Katherine chamar. — Chegamos! Qual é dessa bagunça toda no sofá?!

— Não mexa em nada, Katherine! — Exclamo, enquanto desço as escadas e ao mesmo tempo, dobro as mangas  da camisa social.

— Nossa, toda essa produção para mim? Fico lisonjeada. — Zomba Katy assim que me vê, ela parece não notar o roxo em meu olho esquerdo.

— Não seja idiota, não é para você. — Meus olhos seguem pela sala até a cozinha, em busca de uma garota baixa e de cabelos castanhos. — Cadê a Zoey?

— No banheiro. — Katherine responde dando de ombros e pegando nas mãos uma de minhas anotações. — O que são essas coisas? Credo, Keanu. Eu não lembrava que sua letra é tão feia. — Katy faz uma careta e ri. Rapidamente tomo as folhas de sua mão.

— Sabe, Katherine. Homem nenhum gosta de moças xeretas. — Comento, me abaixando e apanhando o restante das folhas que estão espalhadas no sofá e pelo chão, em seguida, coloco-as em uma pasta.

— Querido, eu não estou procurando por um homem no momento. — Sua voz é no mesmo tom que o meu, zombeteiro. Eu gosto muito do humor de Katy. — Não vai oferecer nada para a visita?

— Aceita vinho? — Falo indo em direção a geladeira, imaginando que sim será a sua resposta.

— Pega mais uma taça, por favor Katy.— Ouço a voz de Zoey invadir o ambiente, junto com o seu perfume.

Meus olhos vão até ela, seu sorriso é fascinante. Katherine apanha mais uma taça de vinho no armário e eu encho as três com o líquido vermelho. Pego duas das taças, que está sobre o balcão da cozinha e caminho até Zoey, a mesma está apoiada no sofá.

— Oi. — Falo, me curvando para beijar seus lábios.

— Oi. — Sua voz é calma. A verdadeira paz para os meus dias de caos. — Você está muito bonito. — Me elogia, Zoey, medindo-me de cima á baixo.

— Obrigado. — Respondo, umedecendo os meus lábios e estendendo a taça de vinho em sua mão.

Nossos olhares se encontram mais uma vez e Zoey me encara com bastante atenção, seus olhos brilham em minha direção e uma de suas mãos sobe para o meu rosto, o tocando gentilmente ao redor do meu olho agredido.

— O que houve? — Em seu tom de voz,  é nítido a preocupação.

— Meu irmão bebeu demais e... Eu não quero falar sobre isso. — Não quero mencionar o nome de Matthew e me irritar novamente, não enquanto posso aproveitar da boa companhia da garota que estou apaixonado.  — Agora, eu só quero saber de você. — Aproximo minha mão do rosto de Zoey, devolvendo sua mexa rebelde para atrás da orelha. —  Você está pronta para mais uma sessão?

— Estou ansiosa e um pouco incomodada. — Eu não consigo imaginar como é desconfortável todas essas sessões de regressão, no lugar de Zoey, eu já teria jogado a toalha. — Mas você está aqui, então sei que tudo vai ficar bem.

Zoey sorri.

O sorriso que tanto amo.

Levo a minha mão, com delicadeza, em cima da mão de Zoey, que está acariciando o roxo ao redor do meu olho esquerdo, a mesma cessa o carinho diante do meu toque repentino.

— Vai sim. Estamos juntos, Zoey. — Seguro firme em sua mão. —Não há nada que não possamos enfrentar. — Encaro seus olhos com determinação. — Talvez só a justiça britânica. — Completo, fazendo-a rir. 
É uma piada ruim e ao mesmo tempo uma preocupação muito real.

Aproximo meu rosto ao da minha menina, fechando lentamente os meus olhos, conforme vou chegando mais perto dos seus lábios, na intenção de beijá-los...

— Você dois são lindos e é muito bom ver Keanu feliz de novo. Mas, será que dá pra respeitar a solteira aqui e parar com a melação?  — A voz de Katherine nos interrompe.

— E também a Katy. — Zoey diz por fim, completando a minha piada ruim.

Não deixo de sorrir com isso.

— Não dá para escaparmos da Katherine. — Zombo, removendo a mão de Zoey do meu rosto e a levando em direção aos meus lábios, deixo um beijo gentil sobre a mesma.