♡ Capítulo 48: "Eu vou te proteger, Zoey."
"Se por te beijar tivesse que ir depois para o inferno, eu faria isso. Assim poderei me gabar aos demônios de ter estado no paraíso sem nunca entrar. "
— William Shakespeare.
Os dias que se seguiram após as revelações em meu quarto foram completamente estranhos.
Zoey está distante, não troca mais de duas palavras comigo e isto está me destruindo, ainda mais que ela sabe quem é e o quão importante é para mim.
Eu tinha entrado em contato com Steven Stoucker dias atrás. Ele me pediu todas as informações que fossem possíveis e até mesmo fotografias de ambas as mulheres. Stoucker se mostrou muito impressionado com a semelhança de Marie e Zoey, o homem mencionou que em nenhuma vez em sua carreira, ele havia visto algo tão idêntico. Steven me explicou por alto que as crises de memória em Zoey são mais intensas do que em outras pessoas, devido a recente volta de sua alma. Eu já tinha lido sobre isso em algum lugar, que esses flashes de memórias em pessoas reencarnadas são raros.
O especialista assumiu estar muito ansioso para conhecer Zoey e estuda-la. Está programado para que ele chegue amanhã no Reino Unido, talvez fosse o caso de buscá-lo no aeroporto.
Katherine tinha tomado uma atitude muito impulsiva ao ter contado sobre isso para os meus sogros, o meu celular não parou de tocar nos últimos dias. Os pais de Marie não paravam de me ligar.
Katy pisou na bola totalmente.
Ela me contou que John está totalmente crente de que Zoey é a sua filha que retornou. Ele diz ter sentido isso apenas em ver a foto da minha aluna e está desesperado para conhece-la. Quanto a Suzan, Katherine disse que sempre que menciona o assunto, a senhora Olsen explode em raiva. Isso é compreensível para mim, afinal Suzan é a mãe de Marie.
Para Suzan, Zoey não passa de uma impostora se passando por sua amada filha.
Meu dia na St.Andrews chega ao fim. Caminho até o estacionamento e encontro Zoey apoiada em meu carro. Franzo o cenho. A garota não havia se quer olhado para mim o dia todo e agora está ali, me esperando. Respiro fundo e como um adolescente ansioso, caminho em sua direção.
— Oi. — A voz da minha garota sai feito um sussurro.
— Oi, aconteceu alguma coisa?
— Não, eu apenas... — Zoey me abraça. Ela não precisa dizer mais nada, aquele abraço apertado disse tudo: Eu sinto sua falta.
Isso está subtendido.
Ter ela em meus braços é como um elixir de vida. Seu perfume, o aroma do seu cabelo... Infelizmente, eu tenho de solta-la, estamos no estacionamento da universidade e alguém pode nos ver.
— Como você está? — Pergunto, ao afasta-la gentilmente.
— Estou bem, um pouco confusa. — Seus olhos me encaram e eu faço o mesmo. Não encontro as palavras certas para conforta-la. — Alguma notícia sobre o tal especialista?
— É suposto ele chegar amanhã. — A expressão que repousa no rosto de Zoey é indecifrável para mim.
— Estou com medo. — A garota admite.
— Não precisa sentir medo. Tudo vai terminar bem. Você vai ver. — Respondo, tentando acalma-la.
— Eu sei, não estou com medo pela terapia, eu confio em você sobre este assunto. Eu estou com medo de ter o mesmo fim que Marie.
Eu paro por um segundo. Essa possibilidade não passou por minha cabeça. Será que há alguma chance dela ir embora tão cedo quanto voltou? Não. Isso seria muita sacanagem do ser superior que rege nossas vidas. Mas, mesmo assim, fico pensativo por um tempo.
— Nada vai acontecer com você desta vez. — Minha voz soa firme. — Eu vou te proteger, Zoey.
— Sinto que no momento eu sou um quebra-cabeça todo revirado. Estou ansiosa para a terapia. — Sorrio gentil para ela e pego em suas mãos, elas estão frias.
— Quando criança, eu amava montar quebra-cabeças. — Zoey sorri mínimo. — Amanhã nós vamos ter algumas respostas. Está com fome? — Minha aluna favorita balança a cabeça positivamente e me sinto mais confiante. — Almoça comigo?
— Não podemos ser vistos assim, Keanu. — Zoey afasta suas mãos das minhas. — É perigoso para você.
— É apenas um almoço. Eu vou primeiro e depois você aparece, e eu, como um bom amigo e professor te convido para almoçar comigo. — Pisco para a minha garota. Zoey ri.
Amo vê-la rir.
— Parece ser uma boa ideia. Há quanto tempo você está planejando isso? — Zoey questiona, arqueado uma sobrancelha.
— Eu sou cheio de boas ideias. — Falo convencido. — Faz um tempinho que eu venho pensando em uma forma de te levar em um encontro e aliás, a senhorita está me devendo isso.
— O quê? — Ela pergunta sem entender em que ponto quero chegar.
— Está me devendo um pouco mais da sua presença por ter me ignorado todos esses dias. — Sorrio orgulhoso. Olho ao redor para conferir que não há ninguém por perto e roubo um beijo em sua bochecha. — Eu senti a sua falta também. — Admito em resposta ao abraço que ela me deu.
O abraço que significa tudo.
Seu rosto está corado pelo meu ato repentino e eu não suporto a pouca distância que há entre nós. Com uma bravura que até então desconhecia, diminuo um pouco mais a distância de nossos corpos e toco em seus cabelos de seda, a puxando para um beijo.
Um beijo repleto de saudade, desejo e medo. A adrenalina corre em minhas veias. Eu tenho medo de ser pego nesse momento íntimo com minha aluna. Mas é como Shakespeare escreveu uma vez, se eu tivesse que ir para o inferno por estar fazendo isso, eu me gabaria com todos os demônios por ter entrado no céu, sem realmente nunca ter estado lá.*
Puxo Zoey um pouco mais para mim, a afastando da porta do carro para que eu pudesse abri-la.
Sorrio entre o beijo.
— Vamos, temos um almoço marcado. — Falo, assim que obtive forças para me afastar do seu calor.
Estaciono o carro um pouco afastado do restaurante. Não quero esconder o que está acontecendo entre mim e Zoey, mas ela tem razão. É uma relação perigosa para mim, mas estar com ela e faze-la feliz, vale qualquer risco.
Eu fiquei muito tempo envolto de tristeza, cego em minha própria agonia, tanto que não conseguia ver mais além, e agora, estou finalmente contemplando um pouco de paz. Paz essa que Zoey me trouxe e eu não vou deixar de desfrutar cada momento dela. Não foi somente Marie que voltou, mas Keanu Davies também está de volta a vida.
Como combinado, eu entro primeiro no restaurante. Me sento em uma mesa afastada e sou recebido por um garçom.
— O que deseja, senhor? — O garçom é bastante atencioso. Seus olhos são verdes e ele tem a pele bronzeada.
— Por hora, aceito apenas um café. Obrigado. — Agradeço com um sorriso. Meu coração palpita ao ver Zoey entrando no restaurante. A minha garota me vê e tenta disfarçar o riso, a mesma passa por mim de nariz empinado. Acho graça e sorrio de lado, balando a cabeça.
— Senhorita Lancaster! — Chamo-a. — Que coincidência te encontrar por aqui.
— Olá, professor Davies. — Zoey me cumprimenta, sorrindo.
— Por favor, almoce comigo. — Me levanto e caminho até a cadeira em minha frente, a puxo, oferecendo o assento para a garota.
— Claro! Eu preciso mesmo tirar algumas dúvidas da tarefa de hoje. — Seguro mais uma vez o riso.
Estamos fazendo um perfeito papel. Hollywood está perdendo uma atriz tão linda e criativa.
— Não acredito que fizemos isso. — Zoey sussurra para mim ao se sentar na cadeira que ofereci, eu volto para a minha e sento em sua frente. — Foi divertido.
— Foi mesmo e você daria uma ótima Kate Winslet.
— Eu não sei se gosto dessa atriz. — Zoey torce o nariz. — A atuação dela em Titanic foi, digamos... Aceitável? Eu a invejo por ter beijado o Leonardo DiCaprio no auge da beleza.
É incrível como Zoey possuí argumento para tudo. Consigo entender que ela é uma admiradora do DiCaprio. Na verdade, quem não é? O cara é incrível e atua com maestria em papéis bem distintos. Em minha percepção, Leonardo DiCaprio perde apenas para o ator Johnny Depp.
— Amanhã você vai estar presente na terapia? — Pergunta Zoey, enrolando o macarrão no garfo.
— Sim. Ainda não sei o horário, tenho que entrar em contato com o Stoucker novamente. Você trabalha amanhã, não é?
— Sim, caso dê para acontecer após a Saint Andrews, umas três da tarde Eu vou ficar muito agradecida. — Zoey leva a taça de champanhe aos lábios. — Eu não posso me dar ao luxo de faltar novamente, a corda está em meu pescoço.
— Eu sinto muito. Se precisar de ajuda caso aconteça alguma coisa com seu emprego, voce tem toda a liberdade de me procurar. — Me coloco a disposição, mas sem me intrometer em sua escolha. Eu ainda acho que ela precisa mudar de emprego. Zoey é inteligente, não precisa ficar servindo mesas.
— Obrigada. — Zoey continua enrolando o macarrão no garfo, em silêncio.
— O que foi? — Pergunto, ao notar sua inquietação.
— Você sabe como funciona essa terapia? Sabe se dói?
— Eu vi um vídeo sobre isso. É uma espécie de hipnose, sabe? — Zoey acena a cabeça em confirmação. — Ele vai hipnotizar você para voltar bem atrás no passado, até ser capaz de acessar momentos da sua vida passada. Não sei se em uma única sessão é possível chegar tão longe. Talvez você sinta dor pela lembrança, a garotinha no vídeo parecia muito atordoada.
O rosto de Zoey transparece medo e seus olhos aumentam de tamanho. Invés de eu a acalma-la, consegui deixar a minha menina ainda mais apavorada.
Droga!
Pego forte em sua mão e encaro a imensidão azul de um de seus olhos.
— Eu vou estar com você todo o tempo. Zoey. Você confia em mim, não é?
— Sim, eu confio em você.
*Essa citação costuma ser atribuída ao William Shakespeare, mas não há fontes que confirmem essa autoria.
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