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♡ Capítulo 45: "Eugenismo."

Nunca estive tão atrapalhado em minha vida. Eu me esqueci completamente de programar a aula. Agora estou eu, na sala dos professores, correndo contra o tempo para preparar alguma coisa.

O caos estava reinando na minha vida nesses dias.

Eu estou ansioso para ver a Zoey na sala de aula e isso me atrapalha ainda mais na concentração em criar alguma coisa.

Estou frustrado comigo mesmo, não estou conseguindo elaborar nada.

— Que merda! — Exclamo, batendo as mãos com força na mesa. Sinto todos os olhares caírem sobre mim. — Desculpa.

— Problemas no paraíso, Keanu? — O tom de Mason é zombeteiro. — Quem é a mulher que conseguiu te manter tão ocupado a ponto de não ter elaborado aula?

— O quê? — Pergunto, sem acreditar no que Mason está dizendo.

— Digamos que, de todos os professores na Saint Andrews você é o mais organizado e dedicado. Nunca imaginei ver você nessa saia justa. — Sinto sinceridade em sua voz.

— O estresse é capaz de causar isso nas pessoas. — Dou de ombros. — Se você não vai me ajudar, guarde as piadas para você. — Cuspo as palavras, eu não estou de bom humor.

— Não está mais aqui quem falou. — Diz Mason, virando-se para a máquina de café. — Olha só, se não é a professora mais graciosa dessa instituição!

O perfume de Marg chega até mim, sinto um arrepio involuntário passar por minha espinha. Me viro para olha-la. Margareth está mais arrumada esta manhã.

— Bom dia, Mase. — Margareth responde ao Mason, sorrindo. A mulher loira volta a sua atenção para a minha mesa. — Qual o furacão que passou por essa mesa, Keanu?

— O furacão do desespero. — Encaro o caos de folhas de papéis. — Bom dia, Marg. — Falo, sem tirar os olhos da minha papelada.

— Marg?! — Exclama Mason. — Keanu Davies está te chamando pelo apelido? Quase agora, ele estava tão bravo que poderia me chutar daqui e está sendo carinhoso com você? — Não me dou o trabalho de responder, apenas reviro os meus olhos.

Mason é um pé no saco.

— O que posso dizer? Keanu e eu ficamos amigos em Cracóvia. Ele não é tão sério como pinta para vocês.  — Marg dá dois tapinhas em meu ombro. — E outra, eu não o perturbo quando ele está trabalhando.

— Obrigado. — Agradeço, lançando um meio sorriso para Margareth.

Após mais alguns minutos forçando minha cabeça a funcionar, eu consigo programar algo bacana com os alunos, pelo menos eu penso que seja. Falta um minuto para a aula começar e eu ainda estou na sala dos professores, organizando a bagunça que tinha feito. O alarme soa e acelero meus passos até a minha sala.

Todos os alunos já estão sentados em seus lugares, eles conversam e riem.

— Que bom que estão todos animados em uma segunda-feira! — Exclamo chamando a atenção de todos.

— A viagem foi revigorante! — Uma voz surge do meio da sala. Não sei identificar de quem.

— Bom, espero que tenham entendido a lição. Mídias podem manipular e ocultar uma verdade obscura, por isso, sejam mentes questionadoras. — Falo me sentando na cadeira. — Eu quero que vocês entendam o perigo que é ceder o poder na mão de uma pessoa doentia e também, pedir que não repitam esse mesmo erro no futuro. Não precisamos de um quarto Reich.  — Encaro os meus alunos, olho a olho.

Eu estou tentando me comportar normalmente, tentando não transparecer que alguns minutos atrás eu estava prestes a surtar por não ter conteúdo programado.

Volto a ficar em pé, em frente a turma.

— Depois de presenciarem todo aquele horror em Auschwitz, vocês tentaram imaginar como Hitler conseguia repousar a noite, sem pesadelos? — Pergunto, por alto.

Eu o invejava por isso.

— Ele era um psicopata. Psicopatas não possuem consciência do que é certo e errado, eles apenas fazem. Sem sentimentos. Sem remorsos. — Eu reconheço a voz de Wallace, o aluno que se abriu para mim no aeroporto.

— É uma boa teoria. — Pisco para o garoto. — Mas, tentem pensar mais além, envolvendo a sociedade. Resgatem na memória de vocês, dos livros que já leram sobre manipulação. — Afasto alguns papéis que estão em minha mesa e me sento em cima dela.

— Ele simplesmente não possui coração, professor Keanu. Quem possui coração não consegue fazer uma coisa assim sem que seja perturbado pela culpa. — Responde Mirna.

— Eu concordo em acreditar que Adolf não possuia um coração, mas não é por aí que eu quero levar o raciocínio. — Sorrio para a garota.

Eugenismo. — Reconheço a voz que faz meu coração pulsar mais forte. Em um salto, pulo da mesa sorrindo eufórico.

— Bingo! — Exclamo apontando meu indicador para a garota de cabelos castanhos. — A teoria da eugenia, por Francis Galton.* Os eugenistas criaram uma forma de justificar todo o racismo. Para eles, misturar um gene bom com alguém visto como degenerado, arruinaria toda a raça pura. Hitler pensava que se não livrar a Alemanha desses "degenerados" — Faço o sinal de aspas com os dedos. — O país entraria em ruína ou seja... — Deixo no ar para que a garota de olhos perfeitos responda.

— Era fácil para o líder nazista deitar e adormecer já que ele acreditava estar fazendo o bem para a humanidade. Ele convenceu a todos disso. — Eu estou encantado com Zoey, além de ser muito bonita, é uma garota muito inteligente também.

— Depois que eu tiver matado milhões de negros, gays, muçulmanos e principalmente os judeus. O mundo nascerá melhor! — Exclamo, imitando Hitler. Apesar do tema ser bastante sério, tiro risos de alguns alunos.

Mirna olha para Zoey boquiaberta. Não é para menos, eu não esperava que ela fosse acertar tão em cheio. Eu imaginei que os alunos fossem chegar perto de relacionar a forma como Hitler pensava estar fazendo o certo, mas Zoey excedeu as minhas expectativas, relacionando e trazendo a teoria do eugenismo.

A aula chega ao fim e eu estou muito orgulhoso de Zoey. A sala é esvaziada aos poucos, restando apenas a mim e Zoey.

— Você ainda está aqui? — Pergunto surpreso, enquanto arrumo minhas coisas.

— Sim, eu quero tirar uma dúvida, professor. — Faço uma careta, eu esperava ouvir meu nome escorrer feito mel de seus lábios e não ser chamado de professor.

— Não tem ninguém na sala, somos apenas nós, pode me chamar de Keanu. — Eu falo a corrigindo. Levo minha mão até seu rosto e coloco uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha. Seu rosto fica corado ao meu toque. — Então, o que é?

— Quero saber se ainda tenho o estágio. Eu faltei bastante. — Sua pergunta é simples, o tom de sua voz é baixo e calmo. — Eu sei que deveria ter avisado mas não tinha como, não sem mentir ainda mais para você. E tem tanta coisa que eu quero aprender.

— Eu não posso impedir uma aluna que quer tanto aprender. — Pisco para Zoey. — O estágio ainda está em pé. — Claro que estaria de pé, é uma oportunidade de eu estar mais próximo dela, não vou perder isso por nada. — Apesar que hoje eu pude notar que você está um patamar bem avançado em relação aos demais alunos. — As maçãs do seu rosto ficam ainda mais vermelhos. Zoey é a coisa mais linda que já vi.

— Aquilo, do Galton? Não foi nada. Eu tenho o livro na minha casa e li algumas vezes. Quando você pediu para ir mais além só consegui me lembrar dessa teoria.

— Isso é tão absurdo, não é? Em pensar que naquele tempo era algo visto como um fato...

— Me causa arrepios. Eu preciso ir, planejo descansar um pouco antes de ir para o trabalho. — Zoey se despede sem ao menos um abraço. A minha garota me deixa apenas com um resquício do seu perfume que está no ar. Suspiro, saindo da sala em encontro a Margareth.

— Você demorou! Eu estava quase deixando sua mala aqui e indo embora.

— Desculpe, Marg. Eu estava tirando uma dúvida de um aluno. — Respondo, apoiando um braço na lataria do carro. — Obrigado por guardar ela para mim.

— Por nada. — Margareth passa a mala pela janela do carro. — Nos vemos amanhã.

— Sim, até amanhã. — Me afasto e aceno com as mãos, enquanto vejo Margareth arrancar com o carro.

*Francis Galton (1822-1911) era primo de Charles Darwin e ele foi o criador da eugenia.

Galton partia do pressuposto de que havia seres humanos superiores e inferiores, e que era possível estimular a reprodução dos primeiros e inibir a dos últimos. A eugenia se difundiu pelo mundo nas primeiras décadas do século XX. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela justificou a segregação racial. Na Alemanha, influenciou Hitler.

Eugenismo* A eugenia, também chamada de eugenismo, é uma série de crenças e práticas cujo objetivo é criar seres humanos ideias através do controle genérico.

Você pode entender melhor sobre a eugenia e a relação com os ideais políticos de Hitler se acessar este site: https://tab.uol.com.br/faq/pseudociencia-e-racismo-entenda-o-que-e-eugenia-e-seu-impacto-na-sociedade.htm

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