A luz clara invade os meus olhos. O teto acima de mim é branco e o cheiro peculiar de um quarto de hospital invade minhas narinas. Olho para o lado ainda atordoada, não sei ao certo o que aconteceu. Minha visão está turva e há uma dor de cabeça incessantemente.

— O que aconteceu? — Minha voz sai arrastada, minha boca está seca.

— Você acordou! — Exclama o professor Keanu, levantando rapidamente da cadeira de acompanhante.

— Quanto tempo estou aqui? — Levanto as costas do colchão, abaixo meus olhos encarando as minha vestes. Estou usando a típica camisola verde de hospital. Me sinto envergonha, passo as mãos pelo meu cabelo, ele deve estar todo bagunçado e muito provavelmente, eu estou horrível.

— Apenas algumas horas. Não se lembra de nada do que aconteceu? — A voz dele é calma. Keanu se aproxima um pouco mais do meu leito, balanço a cabeça devagar, fazendo sinal de negação. — Você começou a chorar bastante e dizia estar com muita dor de cabeça e queria que tudo isso parasse.

Sinto meu coração acelerar novamente e toda a lembrança está de volta.
A dor de cabeça excruciante após a visão.

A mesma maldita visão.

Uma mulher se casando.

Ela estava dançando feliz com seu marido, sua alegria me deixou bastante alegre por um instante e depois, a dor de cabeça se tornou pior, insuportável. A mulher ficou triste e com muito medo, ela sentia dor, muita dor.

Uma dor no peito de arrancar os cabelos, e de repente, tudo estava claro novamente.

A mulher parecia flutuar em um límpido céu. Seu semblante era calmo e feliz.

Ao ouvir um grito agudo de um homem: Volta para mim!

Tudo desmoronou. A mulher entrou em queda livre e mais do que nunca, eu, ela, nós duas sentimos uma dor insuportável, acompanhada de muito medo e de uma tristeza profunda.

E do nada, tudo se tornou escuro.

Mas algo nessa visão estava diferente. Eu consegui ver o rosto do homem. Era o professor Keanu Davies mais jovem. Como é possível?

— Eu me lembro agora. — Falo com a voz baixa.

Keanu segura em minhas mãos com força e tive a mesma sensação que tenho toda vez que ele me toca. O esforço que tenho feito para tentar negar a atração que sinto por ele, foi por água a baixo naquele simples toque.

— Quanto te vi ali, aos berros. Eu fiquei sem reação. Eu tive tanto medo de te perder. — Meu coração se aquece com essa confissão. Keanu teve medo de me perder.

Ele sente o mesmo por mim.

Agora eu sei o motivo de sempre sonhar com a universidade de Saint Andrews. Conhecer o professor Keanu Davies e me apaixonar por ele, é o meu destino.

— Você não se livrará de mim tão fácil, senhor Davies. — Respondo, arrancando do homem de olhos castanhos um sorriso caloroso, seus olhos se tornam minúsculos quando ele sorri. Eu amo o seu sorriso.

— Mirna esteve aqui. Ela estava preocupada com você.

— Ela está bem? — Mirna sempre se preocupa comigo. — Não queria causar todo esse alvoroço.

— Não se preocupe com isso, você não teve culpa. Preocupe-se apenas em se recuperar. A Mirna foi até seu apartamento mas não conseguiu falar com sua mãe, então, ela deixou sua mala aqui comigo. Ela queria ter conversado com você, mas você ainda estava desacordada. — Não consigo mais esconder dele. Eu preciso contar a verdade. Eu confio nele, não é?

— Eu menti. — Minha voz sai rápida e carregada de culpa. O rosto do professor Keanu é tomado pela confusão. — Eu menti aquele dia, sobre minha vinda até aqui. — Completo a frase e agora, Keanu parece se recordar sobre o que estou falando.

— Não vim aqui com minha mãe. Ela não foi transferida do trabalho, eu vim sozinha. Me inscrevi para a bolsa de estudos na Saint Andrews, eu queria muito conhecer essa universidade que tanto aparecia em meus sonhos, porém não consegui a bolsa completa, então a minha mãe paga uma parte da minha matrícula e eu trabalho para sobreviver aqui. — Despejo tudo com sinceridade. Ele não parece estar com raiva por eu ter mentido, na verdade, Keanu parece compreender os meus motivos.
Suas sobrancelhas estão franzidas, deduzo que o homem em minha frente está ligando alguns pontos da história.

— Por isso você desapareceu por cinco dias?

— Sim. — Respondo, dando um meio sorriso. — Eu precisava da assinatura para a viagem. Mas ainda não estou sendo de toda honesta com o senhor. — Dou uma pausa e reúno toda a coragem que há em mim. — Durante o meu... — Mais uma pausa, eu não encontro as palavras que possam definir o que aconteceu no aeroporto, então apenas deixo no ar. — Eu, finalmente, soube da verdade o que me trouxe até aqui.

— O que te trouxe até aqui? — Questiona o homem ao meu lado, seus olhos castanhos escuros me encaram com muito afinco. Toda a atmosfera do quarto atinge uma enorme tensão.

— Você. Você me trouxe até aqui. Você é o meu sonho, professor Keanu. — Nossos olhares estão mais conectados do que tudo.

— E você é o meu, Zoey Lancaster. — Por um momento só há Keanu e eu no mundo.

Eu não sei como será daqui para frente, mas eu me sinto radiante, mesmo estando de camisola verde de hospital. Keanu está se aproximando do meu rosto, seu toque em meu queixo deixa todo o meu corpo em estado de alerta. Ele irá me beijar? Fecho os meus olhos desejando sentir novamente a maciez dos seus lábios aos meus.

Me sinto frustrada ao senti-lo se distanciar. Ao abrir os meus olhos eu entendo o motivo do afastamento repentino. A médica que está cuidando de mim havia entrado no quarto.

— Vejo que está acordada. Isso é muito bom. — Sorrio para ela. — Como está se sentindo? Alguma dor?

— Só a minha cabeça. Ela ainda incomoda um pouco.

— Certo, eu vou pedir para a enfermeira trazer alguns analgésicos para você. Meu turno está no fim, mas não quis ir embora sem me certificar que você está bem. — A médica sorri para mim. Ela é muito atenciosa.

— O que deu nos exames de Zoey? — Keanu questiona a médica, assim que ela termina de verificar a minha pressão. — Não pode ser normal o que aconteceu.

— Os resultados dos exames só ficarão prontos amanhã de manhã. Recomendo que ela fique de observação essa noite. — A médica sorri gentilmente para nós dois antes de nos deixarmos a sós novamente.

— Você ficou aqui todo esse tempo? — Pergunto, sentindo o cansaço tomar conta do meu corpo, deixo escapar um bocejo longo.

— Sim, eu não poderia deixar você. — Sua voz é rouca e há muita sinceridade em suas palavras.

— Não está cansado? Pode ir para a casa. Sei que deve estar louco para deitar em sua cama. Essa cadeira não me parece nem um pouco confortável. — Falo, fazendo careta.

— Todo o meu cansaço desapareceu quando te vi naquele estado. Eu não vou a lugar nenhum, Zoey.

Mais um bocejo sai da minha boca e Keanu ri, o homem mais lindo que já vi em toda a minha vida, se aproxima novamente.

— Deita. Amanhã, eu ainda estarei bem aqui. — Professor Keanu, me assegura. Ele se inclina para frente e deposita um longo beijo em minha testa. Eu me sinto protegida ao seu lado. Sinto que nada de ruim pode acontecer enquanto Keanu estiver comigo.

Não sei dizer se esse momento é real ou é apenas um devaneio meu decorrente aos medicamentos que me deram, mas adormeço com um sorriso bobo nos lábios em pensar que Keanu Davies, nutre sim, sentimentos por mim.