♡ Capítulo 17: "...uma atitude insana."
—Para onde está me levando? — Pergunta, olhando em volta, observando o caminho até o bosque, encarando as arvores.
—Você não deveria aceitar passeios com estranhos. — Eu digo, dando meu melhor sorriso de maldade, tentando conter o sorriso. Zoey me olha apavorada.
— Eu quero voltar senhor Davies. — Ela para, olhando para trás.
— Hum. —Suspiro e passo as mãos pelo cabelo. —Infelizmente isso não será possível. —Minha voz sai um pouco rouca e forte. —Você terá que confiar em mim, ok? — Pergunto, mudando novamente o tom de voz, para algo mais positivo e a lançando um sorriso de canto de lábios.
Sua boca abriu e fechou, como se fosse dizer alguma coisa, mas nada sai.
Meus olhos a observam a observam atentamente, Zoey mordisca o canto da boca.
—Eu confio. — Sua fala me traz surpresa. O seu tom de voz é trêmulo, há medo e preocupação por trás dessas palavras. Não era minha intenção deixa-la tão apreensiva.
—Vamos, estamos quase lá. — Digo, fazendo sinal com a cabeça para ela me seguir.
Ao passar pelo último arbusto, encontramos o paraíso. Os passos atrás de mim foram cessados, Zoey parou de caminhar, me viro para olha-la, ela está admirando a paisagem a sua frente.
O ar, as flores, o lago, as árvores, tudo parecia igual apesar de tantos anos. Os botes ainda estão lá, reformados, aparentemente.
— Isso aqui é muito bonito. —Ouço a voz em tom de encanto atrás de mim, seguida por um suspiro.
— Sim, é mesmo. É como se fosse um santuário no meio do caos da cidade grande.
Ficamos em silencio por um momento, apenas aproveitando a brisa e a paz que aquele lugar nos dá.
—Vamos comer? — Falo, colocando a cesta no chão e apanhando a toalha xadrez.
Zoey me ajudou a estender a toalha no chão.
O sol reflete os fios castanhos de Zoey, e eu posso jurar que eu consigo visualizar a Marie, o mesmo sorriso também. É como ver um anjo, não que eu acredite em anjos. Fico atônico parado no mesmo lugar, até que a sua voz me captura de volta.
-—Não vai se sentar? — Sua voz era calma. Um anjo?
Desço meus olhos e a vejo perfeitamente sentada sobre a toalha. Me sento a sua frente.
— Eu não sabia do que você gostava, então tomei a liberdade de fazer sabores diferentes. Os sucos são de morango, laranja e pêssego. Trouxe alguns sanduíches também, temos de presunto e queijo, pasta de amendoim e geleia de mel e mais alguns cookies de mercado.
— Eu gosto bastante de suco de morango e todos os sanduíches parecem deliciosos. Obrigada. — Zoey apanha um dos sanduíches e o leva até a boca, meus olhos não se cansam de acompanhar cada um de seus movimentos.
Estou aliviado, ela gosta de suco de morango e parece satisfeita com os sanduíches.
—Então, como você conheceu esse lugar? — Seus olhos percorre todo o local, admirando tudo. — É extremamente lindo! — Ela morde mais um pedaço do sanduíche e eu me sirvo de um pouco de suco.
Como conheci esse paraíso?
Volto minha atenção para o lago e vejo as ondulações que se formam na água pelo vento, e os brilhos dos raios do sol. Suspiro e tomo um gole do suco.
Sinto os olhos de Zoey atentos em mim. Estou em silêncio a muito tempo?
—Eu costumava vir aqui sempre. — Finalmente consigo dizer, porém não se devo. Não sei se devo mencionar que este era o lugar de Marie. Posso me conter a dizer o básico. — Com minha esposa. Ela adorava a natureza.
— Ela tinha bom gosto. — A garota me olha, seus olhos brilhantes, como se houvesse outro sentido para a frase. Estou alucinando?
O silêncio entre nós é confortável, somos amigos, aproveitando a natureza.
Em meio aos meus pensamentos, me lembro de algo que Zoey havia me dito naquela sala vazia, algo que me deixou bastante intrigado.
— Zoey? — A chamo.
— Hum? — A mesma se vira para me olhar.
— Quando estávamos na sala de aula, esperando os outros alunos chegarem, você disse que sentia que aqui, quer dizer, digo em Saint Andrew, era onde você pertencia. Por que acha isso?
Uma expressão séria tomou seu rosto e eu me arrependi de ter tocado no assunto.
—É complicado demais para explicar.
— Tudo bem, eu não deveria ter perguntado, é assunto pessoal. Desculpa. — Vou logo me retratando e me sentindo um completo imbecil. Estreguei tudo.
Zoey suspirou, bebericando um pouco do suco de morango.
— Eu nunca me senti verdadeiramente em casa, em Oxford. Era como se eu não me encaixasse e tinha aqueles sonhos. - Ela parou.
— Sonhos? — Pergunto, não conseguindo esconder o interesse no que a menina absurdamente linda em minha frente, tinha para dizer.
— O brasão de Saint Andrews sempre estava em meus sonhos.
Ela sempre sonhou com o símbolo de Saint Andrews. Será uma memória de Marie?
O que estou pensando?!
Katy realmente conseguiu me manipular com essa história de vidas passadas.
Eu estou acreditando.
O jeito, os olhos, o dia do nascimento e morte serem os mesmos, a preferência por suco de morango... algumas evidências estavam ali. E de repente a dúvida no ar com suas palavras.
—Eu acho que é por sempre vê-los em filmes, acabo sonhando com estudar aqui. Por isso a sensação de que é aqui em que pertenço. — Um balde de água fria.
E dado o assunto por encerrado, seu sorriso aparece novamente.
—Esse sanduíche de geleia é sensacional.
Eu sorrio com o elogio e agradeço.
— Que tal um passeio no bote? — Pergunto, já me colocando em pé e oferecendo minha mão para ela.
Seus olhos ficaram mais brilhantes, o azul parece o céu, límpido. O sorriso aumentou.
— Com certeza! — A mesma apanhou a minha mão, a descarga elétrica do seu toque percorreu todo o meu corpo. É sempre assim quando eu a toco.
Ela parece familiarizada em estar dentro daquele pequeno bote. A garota sorria e colocava as mãos na água, intercalando seu olhar em mim e nas águas cristalinas.
— Esse lugar é realmente incrível, obrigada por mostra-lo para mim, senhor Davies. — Reviro os olhos e passo as mãos no cabelo, o jogando para trás.
— Somos amigos, Zoey. Me chame somente de Keanu, está bem? — Digo, lhe dando um sorriso amigável.
— Está bem, mas é estranho. Você é meu professor e eu estou aqui com você, nesse passeio. — Ela disse o óbvio. Sou professor e ela está aqui comigo. — Não que eu esteja reclamando, é legal conhecer outro ponto da cidade, sem ser o caos constante, mas...— A pausa longa veio, ela continuava dedilhando a água, mas seu olhar já não estava em mim.
—Mas...? — Pergunto, a encorajando a falar comigo.
— Como será amanhã na faculdade?
Sorrio. Ela está preocupada em como irei trata-la no dia seguinte.
— Eu ficarei muito feliz em ensinar uma amiga e ajuda-la em seu futuro. — O sorriso voltou a aparecer em seus lábios.
Uma leve brisa nos pegou de surpresa, fazendo uma folha se descolar da árvore e cair ao lado do nosso bote. Zoey se inclinou para pega-la, ela perdeu o equilíbrio e caiu na água.
—Zoey! — Grito. Impossível controlar o DéjáVu que se instala em minha memória. — Zoey! — Grito novamente, na esperança dela voltar para a superfície, porém sem sucesso.
Sem esperar pelo que o pior aconteça, me lanço ao lago, mergulhando até o fundo a procura da garota. Nada. Retorno para a superfície para recuperar o folego, sua voz atrás de mim me congela e me acalma ao mesmo tempo.
— Procurando por algo, Keanu? —Sorrio em satisfação e me viro para encara-la.
—Você me pegou. — Respondo, passando a mão pelo cabelo que caía em meu rosto.
—Você pareceu desesperado.
— Claro! Se acontece algo, eu seria o culpado por aqui. Afinal, estamos isolados, de certa forma.
Bato minhas duas mãos na água de forma que respingue nela, começando assim nossa pequena guerrinha de água. Sua risada é algo que eu me acostumaria em ouvir todos os dias.
Nossos olhares se encontraram e a inconfundível eletricidade passou por nós. Estávamos tão próximos, que eu consigo sentir o aroma do morango e o calor de seu hálito. A vontade inebriante de toma-la em meus braços e beija-la. É o que eu faço.
A beijo, uma atitude insana.
Deixo meus desejos tomarem conta de mim. A garota devolvia o beijo na mesma intensidade, seu gosto é maravilhoso, seu cabelo é macio em meus dedos, sua respiração ofegante é música. O clima está absurdamente quente.
E então, o clima mudou para gelo.
É minha Marie, no corpo de uma aluna. Minha aluna. Eu não posso estar errado.
Zoey se afastou, antes que eu tivesse forças para isso.
—Eu tenho que ir. — Sua voz está rouca e ofegante.
O frio que sinto com sua saída dos meus braços é dolorosa.
Eu ainda sinto seu toque no meu cabelo, sua boca na minha, seu hálito quente com gosto de morango.
Eu continuo parado no lago, vendo-a sair. Não tenho forças para sair do lugar.
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