Entramos no restaurante e nos sentamos o mais longe possível do movimento. Minha atenção estava no cardápio.

— Boa noite. O que vão querer? — a voz masculina soou em meus ouvidos.

— Eu adoraria experimentar o Curry de vocês está noite. E você Keanu? — Levanto meus olhos para olhar a mulher em minha frente e depois direciono a minha atenção ao homem que estava ali para anotar nossos pedidos.

— Eu vou querer apenas uma sopa de ervilha. Obrigado. — O homem rabiscou os nossos pedidos e saio sem falar uma única palavra.

— Como tem sido voltar a dar aulas? — Katherine quis saber, apenas como forma de iniciar um diálogo.

— Eu gosto do que eu faço, gosto de ser professor e ensinar aquelas cabecinhas quadradas. Só não gosto muito do lugar. A St.Andrews me traz tantas lembranças, cada corredor escreve nossa história. — Com Katy eu posso dizer o que há em meu coração, sem esconder a dor.

— Eu entendo. — E o silêncio pairou entre nós.

Será que eu deveria contar a ela sobre a garota nova? Que a menina possui os olhos iguais ao da Marie? Provavelmente ela me chamaria de louco, infelizmente sobre isso é melhor manter em segredo.

—Então... Como anda sua vida? — Eu realmente estou interessado em saber como caminhava a vida de Katy, apesar de tudo.

— O trabalho tem sido exaustivo, sabe? Chefes sugam demais a gente, mas estou feliz. Estou tendo um caso com o meu secretário. — Ela jogou uma mexa atrás da orelha e riu. — Não é louco?

— Não. — Respondo com sinceridade. — É normal e se apaixonar é lindo. — Imediatamente lembro dos olhos que me conquistaram.

— Você sente falta de se apaixonar, de viver um romance? —Pergunta Katherine, enquanto o garçom entrega nossos pedidos. — Obrigada. — Ela agradece ao garçom, antes de voltar os olhos á mim aguardando a resposta.

— Katy, eu sigo apaixonado pela mesma mulher. —Falo sendo honesto. Eu sigo completamente apaixonado por Marie.

— Eu sei! Mas quero dizer... Ah, deixa pra lá. Não quero ser inconveniente. — Disse, levando uma colher de Curry a boca.

— Não, tudo bem. Você não está sendo inconveniente. — Suspiro — As vezes eu penso que talvez pudesse seguir em frente. — Pausei a frase para experimentar da sopa antes que esfriasse. — Mas eu não consigo. O que Marie e eu tivemos foi tão intenso, tão verdadeiro, que se eu me relacionasse com outra pessoa, eu me sentiria um traidor. Traindo a memória de Marie e traindo nosso amor.

— Conhecendo minha irmã, ela iria querer que você fosse feliz com ou sem ela, Keanu.

Abro a boca para responder Katherine e sou puxado pela mesma voz que roubou os meus sentidos em sala de aula.

— Com licença, vocês aceitam algo para beber? — Me viro rapidamente para olhar aquele par de olhos. — Oh, boa noite senhor e senhora Davies.

Katherine não conseguiu conter o riso, ao olhar para Zoey, seu sorriso murchou e o rosto congelou. Me sinto na obrigação de apresentar as duas e esclarecer que Katy não é minha esposa.

— Zoey, essa é a Katherine Olsen, minha amiga. — Apresento Katy olhando de volta para ela. A mesma continuava a encarar Zoey sem esconder o espanto. — Katy, está é Zoey Lancaster, minha aluna na Saint Andrews.

Por que caralhos eu havia decorado o nome dela? Pergunto para mim mesmo e ouço a voz do meu subconsciente dizer que é por conta dos olhos inconfundíveis. Ah!

— Seus olhos! Seus olhos são iguais ao da minha falecida irmã! Como pode isso?! Keanu você está vendo isso?! — E finalmente Katherine surtou, deixando Zoey envergonhada.

— Sim, estou vendo... —Falo baixo, sem deixar cada detalhe de Zoey fora da minha visão.

— É uma anomalia, senhorita. Eu nasci assim. Se não vão pedir nada para beber, estou me retirando. Obrigada.

Não!

Em um ato rápido e não pensado, me levanto, tocando em seu braço.

Não poderia deixar ela ir.

O olhar de Zoey desceu para minha mão ao redor de seu braço e depois se concentraram em mim. Tocar em sua pele fez cada parte do meu corpo queimar, solto seu braço desejando de volta a sensação. Limpo a garganta com pigarro após perceber o que havia feito.

— Eu gostaria do seu melhor vinho, por favor. — Digo rápido.

— Anotado, pedirei para alguém trazer.

— Obrigado.

Suspiro e observo ela ir para longe. Volto a me sentar e já sou alvo dos ataques de Katherine.

— Quando iria me contar que uma aluna sua tem os olhos de Marie? —Ela continuou a olhar por onde a garota havia saído.

— Eu não pretendia dizer, afinal, essa anomalia pode acontecer com qualquer um. — Respondo torcendo para ela não tivesse notado a mesma intensidade que Marie tinha.

— Não com esse mesmo fogo de vida! — Exclama Katherine.

Por um momento fiquei aliviado que não tinha sido insanidade imaginar os olhos de Marie em outro corpo.

Depois desse momento constrangedor e completamente esquisito, o jantar seguiu e logo já estávamos em casa.

— Keanu eu não consigo entender. Ela tem os mesmos olhos! — Repetiu mais uma vez, assim que a deixei em frente ao seu carro.

— Eu já expliquei, é só uma coincidência. — Eu disse, também querendo acreditar em minha própria afirmação. Era a coisa mais racional a se fazer.

Katy se despediu de mim com um abraço. Eu pude ver que ela não estava convencida de meu argumento, mas eu continuo me agarrando nele com força. Se eu deixar de pensar assim, colocaria em risco tudo o que eu acreditava e mais, até meu emprego.

Eu não posso deixar a insanidade me controlar. Eu preciso estar no controle.