Um banho era tudo que eu precisava para relaxar e assim o fiz.

Deixei a água quente varrer todo o cansaço do meu corpo, todo o estresse que passei durante o dia. Fecho os olhos e me permito um pouco de paz e me deixo ser puxado por um par de olhos à um pequeno devaneio.

Era domingo de sol. Ela usava um vestido florido, de alças finas. Cabelos soltos e um chapéu para se proteger do sol. Eu também me vestia a caráter, short e camiseta. Momentos raros.

Estávamos dentro de um bote, em uma água cristalina. Ela adorava quando eu a levava para andar de barco e valia cada segundo.

— Você já se imaginou estando em um oceano? — Marie me perguntou sorrindo, enquanto tocava seus dedos na água.

— Deve ser assustador. — Afirmei. Ela me lançou um olhar confuso então continuei. — Olhar ao seu redor e ver apenas água e mais água, nada de terra firme. Me parece assustador.

— Bom... Olhando por esse lado.

Um vento bateu nas árvores, derrubando algumas flores na água. Marie se inclinou mais pra beira do bote, tentando pegar umas dessas flores que boiava na água.

— Cuidado, você pode cair.— Falei, antes da Marie realmente cair.

— Marie! — Gritei desesperado, olhando ao redor e nada dela voltar a superfície. — Marie!

Me lancei na água pronto para resgatá-la e não achei. Desespero era tudo o que conseguia sentir e isso me fez perder o folego mais rápido. Retornei a superfície para puxar mais ar para os meus pulmões, ouvi a sua voz me chamando.

— Procurando por alguma coisa, Keanu? — Seu tom era de pura brincadeira, eu ri. Seus cabelos estavam molhados e alguns fios grudavam em sua bochecha, o sol refletia em seus olhos. Ela estava linda.

Marie espirrou água em mim e eu nadei em sua direção, a pegando e a beijando com toda a minha alma, com todo o meu amor. Eu amo essa mulher.

Ela colocou as pernas ao redor do meu quadril, me pressionando nela. O beijo foi se tornando mais e mais envolvente.

Inconscientemente, levo minhas mãos em torno do meu membro masculino, levemente o pressionando, enquanto a memória do corpo quente de Marie me excitava.

—Keanu. A ouvi ofegar em meus ouvidos, enquanto nos movimentávamos rápido e forte. Seu gemido era o paraíso.

Minhas mãos acompanhavam a memória em volta do meu membro, subindo e descendo. Até que o momento teve fim, a água caia em mim, levando o que era a prova do meu devaneio sexual.

Após o banho, coloco um samba canção e me deito na cama. Desejando apenas conseguir dormir um pouco, porém novamente sou acordado com o pesadelo de sua morte. Ainda estava escuro, então deduzi que era madrugada. Hoje seria mais uma noite de insônia, uma chateação.

Caminho até a sala e ligo a TV tentando encontrar algo na televisão que pudesse me trazer sono.

Acabo caindo em uma estação espiritismo, não me considero um homem de muita fé, sou completamente cético a qualquer assunto religioso. Nunca acreditei em nada, mas no momento assistindo a isso, talvez fosse algo que pudesse me trazer o sono de volta.

O assunto era "almas passadas", "reencarnação", pra mim isso não passava de baboseira. O homem na TV dizia "almas predestinadas a ficarem juntas, duas almas que tiveram uma relação de amor intenso em uma vida podem sentir-se atraídas nas próximas encarnações."

Parte de mim queria acreditar que fosse real, se por um momento eu pudesse tê-la em meus braços novamente... Mas como poderia? Isso não existe.

E o homem continua citando um livro qualquer "No livro Consolador do guia espiritual Chico Xavier, trata do conceito de almas gêmeas. Segundo ele, a expressão refere-se a duas almas ligadas pelo amor, pela empatia e pela afinidade..."

Marie era minha alma gêmea e ela se foi para sempre.

"... O encontro de almas afins depende da programação traçada por cada um que ocorre antes de reencarnar. Segundo o espiritismo, antes de voltar à Terra, cada espirito faz um plano em que define o caminho evolutivo e neste plano é lançada a possibilidade de encontrar ou não almas afins de vidas passadas. Caso esse encontro esteja programado, ele certamente irá acontecer em algum momento da vida. Almas se encontram."

Eu não consigo conter a risada amarga antes de desligar a televisão. O retrato de Marie na mesa de centro me encarando e não consigo segurar o choro.

Eu não acredito em nada disso, mas será? Será mesmo, Marie, que você esteja por aí? Pergunto, encarando seu retrato, em meio as lágrimas, solto uma risada triste. — É claro que não, isso não acontece.