Estava entrando na sala de aula quando um garoto passou correndo por mim.

— Opa! Foi mal senhor Davies!

Eu não lembrava seu nome. Na verdade, não memorizava nomes de alunos.

— Preste mais atenção da próxima vez! — O garoto assentiu e se desculpou mais uma vez.

Fui para atrás da minha mesa, olhando para a frente mas não necessariamente para os alunos.

— Sejam bem vindos Terceiranistas. Estamos começando mais um ano e espero que seja bastante proveitoso para todos nós. — Fiz uma pequena pausa. — Esse ano será mais puxado que os outros. Vocês terão estágios à cumprir e apenas um terá a oportunidade de estagiar comigo.

A sala toda começou a se olhar e a rolar alguns sussurros. Não é sempre que a chance de estagiar com um professor com mestrado em ciências polícias aparece.

— Não será fácil mas isso é assunto para outro dia. — Suspirei antes de continuar — Como hoje só estamos retornando, quero começar retomando alguns assuntos anteriores. Quem se lembra de onde paramos?

A sala continuou em silêncio, até que uma voz se ressaltou ao fundo.

— Estávamos analisando mais a fundo sobre a comunicação e massa.

— Muito bem! — Respondi, tirando assim um meio sorriso de orgulho do garoto. — Assim como nós tínhamos visto antigamente, todo poder emana do povo, isso é óbvio na Constituição. A opinião pública é essencial para o bom funcionamento das democracias ocidentais.

A aula seguiu normalmente, como se deve ocorrer: Debates sobre a importância da comunicação no meio político.

Eu estava cansado e exausto antes mesmo do segundo período. A sala em instantes foi ficando vazia e eu me perdi em pensamentos.

Voltei para o dia em que a Marie veio me visitar em minha sala:

Eu estava focado lendo algum artigo quando sua voz chegou em meus ouvidos.

— Amor estava pensando, e se hoje saíssemos para jantar? O que acha?

Tirei os olhos do papel e foquei nos lindos olhos coloridos de Marie, a puxando para que se sentasse na mesa enquanto eu segurava em sua cintura.

— Acho ótimo, querida. Só que vou demorar um pouco, tenho alguns artigos de alunos para corrigir.

Ela sorriu, o sorriso mais lindo que já havia me dado. Ele que me salva todos os dias.

— Tudo bem, eu também tenho pilhas e mais pilhas de papel para revisar.

Revirei os olhos.

— O trabalho nunca tem fim.

— Não mesmo! — Marie concordou.

— Pelo menos posso te ver entre os intervalos. — Falei me levantando para ficar proporcional ao tamanho dela, visto que ela estava sentada na mesa. Me aproximei de seus cabelos castanhos e cheirosos. —E posso sentir seu perfume. — Me inclinei e beijei seu pescoço. Senti a reação que causei em seu corpo.

— Estamos no trabalho, você não deveria fazer isso... — Disse Marie, com sua voz sussurrada e altera. Eu sorri.

Me afastei um pouco para olhá-la nos olhos e lhe acariciar a bochecha, dei um sorriso travesso.

— Bom, então não devesse entrar em minha sala. Sabe que não resisto aos seus encantos.

E sendo assim, a beijei. Sem mais resistência, eu a beijei. Beijo calmo e apaixonado, sem pressa ou preocupações, apenas aproveitando o momento. E foi então...

O barulho do tiro me tirando do meu devaneio. Era em memórias assim que a dor amenizava, mas tão rápido quanto o cair da noite, eu era puxado de volta para a tristeza.

E assim começa mais um período na Saint Andrews.