ESTE ARTIGO NÃO É ALGO PARA VOCÊ SEGUIR COMO SE FOSSE UM "TOTEM DE SACRALIDADE", UMA "CARTILHA", OU UMA "BÍBLIA" QUE VOCÊ DEVE ACOMPANHAR À RISCA. O objetivo deste capítulo é para você se inspirar. Estes oito passos são fruto de anos de tentativa e erro, estudo de roteiros e de técnicas de escrita criativa que funcionaram comigo. Algo que eu sempre falava quando fazia mentoria de escrita criativa era que o melhor passo que você pode dar no ofício da escrita é fazer todo esse estudo da técnica narrativa e tentar ver o que funciona para ti.

Você pega uma variedade de técnicas e vai fazendo o teu passo a passo pessoal para ter uma escrita mais fluida que te deixe confortável.

1 - ROTEIRO

EU SEMPRE COMEÇO PELO ROTEIRO. Sei que tem gente que fica extremamente irritada quando falo sobre roteiro e ama jogar pedras em quem levanta essa questão. Mas tenha senso, por favor.

Saiba que roteiros não destroem tua criatividade. Largue essa narrativa. Na verdade, eles preservam a tua ideia. Algo que costumo lembrar é que "um roteiro que você passa meses fazendo, vai te poupar anos e anos de frustrações". Vá por mim, é sério.

Eu levo uns três meses para fazer um bom roteiro. É claro que, quando eu vou fazer contos, por exemplo, que é algo muito mais rápido, mais tranquilo de fazer, esse tempo é reduzido. Já quanto aos romances, eu me dedico a um roteiro bem mais longo. Independente do tamanho, tenha consciência de que, por mais chatos e cansativos que sejam, os roteiros vão te ajudar para que, quando você mergulhar na fase de escrita, a ideia simplesmente flua.

Repito: roteiros preservam a tua ideia.

Eu tenho roteiros, por exemplo, que eu escrevi há anos e há alguns meses eu peguei alguns deles para escrever e tudo fluiu como se a ideia estivesse fresca na minha mente. Esse é o poder do roteiro.

2 - ESCRITA

MEU SEGUNDO PASSO AQUI É A ESCRITA PROPRIAMENTE DITA, QUE É A PRIMEIRA ESCRITA, O PRIMEIRO RASCUNHO. Aqui eu digo que é para você brincar, brincar com aquela ideia que você desenvolveu no roteiro. O legal dessa fase de escrita é que tem aquele clichê de que "o papel em branco aceita tudo". Exatamente isso. Não precisa ficar naquele desespero de "Ah, eu tenho que escrever o melhor personagem, o personagem vai ter que ter a personalidade maravilhosa feita ali, toda estabelecida". Não é isso.

Nessa segunda fase da escrita, você só vai deixar o teu trabalho fluir e fazer com que aquelas etapas do roteiro sejam seguidas, ou que, pelo menos, que elas sirvam pelo menos como um guia mínimo para esse primeiro rascunho.

3 - DESCANSO

A TERCEIRA FASE É ALGO QUE MUDOU A MINHA VIDA COMO ESCRITOR, A "FASE DE DESCANSO". Eu chamo essa terceira fase de "desapaixonar-se do texto". Sabe quando você namora e tem aqueles primeiros dias, aquelas primeiras semanas? E está apaixonado, apaixonada por aquela pessoa e tudo é tão lindo que você não vê defeito? Às vezes, a pessoa até faz uma besteira e você está lá abraçado, abraçada sem querer saber de nada? É isso que acontece quando nós escrevemos.

Se você pega, faz o roteiro, faz a fase de escrita e logo parte para a reescrita, ou para a revisão, você não vai entender que há erros ali; não vai ver esses erros porque você está apaixonado, apaixonada por aquele texto. Por isso, essa fase de descanso é tão importante para haver um afastamento. O objetivo é que, quando você partir para a reescrita, ou para a revisão, que consiga enxergar o que deve ser cortado, enxergar o que está errado.

E essa fase ainda é interessante porque, por exemplo, se eu termino o primeiro rascunho de um romance, entre as etapas de escrita e de reescrita desse livro, nesse tempo de descanso, eu vou escrever contos, poesias e crônicas para manter o ritmo de escrita. Eu não paro de escrever em momento algum.

Faça isso.

4 - REESCRITA

DEPOIS DESSA FASE DE DESCANSO, VEM A REESCRITA. Aqui eu lembro do que o Stephen King sempre fala: "Todo mundo escreve, escritores reescrevem".

No Reddit, a rede social mais recente onde eu estou, toda vez que eu falo de reescrita vem algum espírito de porco mal-amado que precisa de um abraço falar algo do tipo "Aff, não! Que besteira! Seu idiota!". Para você ter uma ideia, certa vez um menino falou que eu queria apenas "escritores com pedigree" e que eu defendia que "apenas pessoas de elite podem se dizer escritoras". Não é isso.

Você precisa lapidar o teu texto.

O texto bruto, aquele primeiro rascunho da segunda fase, ele é uma pedra bruta, ele não brilha, não tem nada ali. Claro, tem a sua inspiração, tem o seu trabalho, tem o seu esforço, mas ele não encanta a pessoa como deveria encantar.

Aí vem alguém e diz assim: "Ah, mas fulano pegou, teve uma inspiração que veio de Atena, Deus, Zeus, Buda e ele escreveu um livro que vendeu milhões de cópias!"

Só que, como eu sempre questiono, esse fulaninho, essa fulaninha, ela escreveu um livro desse jeito, beleza. Tudo certo. Pois bem: ela vai escrever desse jeito, baseado em inspiração, para o resto da vida? Eu te garanto que é muito difícil que uma carreira se sustente desse jeito. Mais cedo, ou mais tarde, essa pessoa vai escrever algo não tão bom e terá que reescrever.

Por isso que você deve reescrever.

A reescrita é fundamental porque você vai ter condições de fazer os cortes necessários e transformar aquele texto, aquela pedra bruta, em algo que vai de fato encantar as pessoas e fazer as pessoas se identificarem com os teus personagens. É isso que atrai o público.

5 - REVISÃO

NA QUINTA FASE NÓS VAMOS PARA A REVISÃO. Só que essa fase da revisão eu divido em dois momentos. Lembrando que aqui é a minha experiência, tá? Só para você perceber como é o processo de uma escritor profissional.

Primeiro, eu faço uma revisão com o Word que é a ferramenta que eu uso para escrever. Aqui, eu faço aquela revisão básica, rapidinha, gramatical, ortográfica, questões formais e as questões informais do texto. É só ali um primeiro "tapa de revisão". Segundo, eu levo esse texto para fazer uma revisão no Word do Google Drive. Mas aqui tem um "pulo do gato", um macete.

Eu assino uma ferramenta chamada Language Tool. Ela é uma inteligência artificial que proporciona um aprofundamento maior nas questões de gramática. Portanto, essa ferramenta está conectada a todos os aplicativos que eu tenho no computador, inclusive, obviamente, o Google Drive. Sendo assim, essa revisão feita no Word do Google Drive ainda tem essa segunda camada no Language Tool.

Isso, além da minha experiência como revisor, é que me ajuda a fazer uma revisão melhor.

Aí você pode perguntar assim: "Beleza, mas eu não tenho nada disso, eu não tenho o Google Drive, não tenho o Language Tool, como é que eu faço?"

O ponto central é aproveitar aquela fase de descanso. Essa etapa do desapego vai te dar condições de ter um olhar muito mais apurado em relação a essa revisão. Agora, o mais óbvio seria você contratar um revisor. Porém, eu sei que isso é caro. Uma saída é que muitos desses aplicativos de escrita já têm um processo de revisão embutido neles. Isso é algo básico que você pode usar. Outro ponto para te ajudar segue abaixo na nossa sexta etapa de escrita.

6 - LEITURA EM VOZ ALTA

A LEITURA EM VOZ ALTA É FUNDAMENTAL PORQUE VOCÊ VAI CONSEGUIR TER UMA PERCEPÇÃO MAIS APURADA DO TEU TEXTO. No meu caso, como eu já faço a revisão usando as ferramentas que eu disse acima e eu trabalho com revisão, para mim isso é mais tranquilo, isso flui melhor. Só que se você não tiver toda essa experiência, se você não puder fazer isso, a leitura em voz alta vai te ajudar a perceber esses erros.

Aqui tem um detalhe: claro que você mesmo, você mesma pode ler o seu texto. Mas eu sei que nem todo mundo tem um espaço, tem uma casa onde você pode ficar lendo em voz alta o próprio texto. Sem contar que há questões de que a pessoa tem vergonha, a pessoa não quer que os familiares saibam que ela escreve, tudo bem.

Minha dica é que você use alguma ferramenta de leitura em voz alta.

No meu caso, eu uso a Leitura em Voz Alta do Word (para encontrar, vá na aba Revisão e depois clique em Leitura em Voz Alta). Isso é interessante porque dá a sensação de que tem outra pessoa lendo aquele texto. Psicologicamente, quando você está escutando o teu texto o teu cérebro tende a ficar mais atento às nuances e às entrelinhas, consciente do que deve ser mudado. Pode parecer meio bobo, mas é fantástico; é uma virada de chave quando você faz isso.

E, novamente, muitos dos aplicativos de escrita que têm hoje em dia, alguns deles gratuitos, têm essa leitura em voz alta. Mesmo se você não encontrar um aplicativo que tenha esse recurso, aqueles leitores de tela já ajudam bastante. Portanto, use e abuse da leitura em voz alta.

7- SINOPSE

MINHA SÉTIMA ETAPA É A SINOPSE. Eu faço a sinopse só no final porque terei uma noção completa do que aquela narrativa tem para encantar o público. A sinopse — só dando um pequeno spoiler de um capítulo que eu ainda vou fazer sobre sinopses — ela deve focar apenas no primeiro terço da história e contar como aquele personagem vai mudar lá na frente, o que o público pode esperar daquele personagem que vai ensinar e encantar aquele leitor, aquela leitora, mas sem dar spoilers dos outros dois terços da obra.

Essa é a jogada da sinopse.

Contudo, você só pode fazer isso, ter essa noção do que o personagem vai vivenciar até o final do livro, se você tiver terminado toda a escrita. E não, por mais que você tenha feito um roteiro minucioso, um roteiro sozinho não te fornece isso. A escrita é fluída, por vezes, os personagens vão por caminhos diferentes do planejado, surgem outras tramas. Portanto, fazer a sinopse ainda na fase de roteirização (ou no meio da primeira escrita) pode ser um tiro no pé.

Por isso é que eu faço a sinopse apenas no final.

Desse jeito, eu tenho uma garantia de que aquela sinopse vai de fato traduzir o que eu quero com aquela narrativa.

8 - FINALIZAÇÃO

MINHA ETAPA FINAL, A OITAVA ETAPA, É A FINALIZAÇÃO. Nessa parte, entra a pintura de possíveis ilustrações e a pintura de capa (já que eu também atuo como artista plástico) e o registro da obra.

Por falar nisso: por favor, registre o seu livro, registre o seu texto. Estamos na internet, você sabe que há muito roubo de ideias, há muito roubo de trabalhos e de obras, então, você deve registrar o seu livro.

Eu indico as seguintes plataformas: Avctoris (plataforma independente), ou a Câmara Brasileira do Livro. Nessa segunda plataforma, você pode inclusive tirar o ISBN (registro literário internacional) e terá uma garantia de que aquele livro, o seu livro, o seu texto, o seu trabalho, vai ter os direitos garantidos.

Registre o seu livro!

Após tudo isso, o "tempero final" é a publicação, ou aqui no Wattpad, ou no Kindle, ou, no caso de ser um trabalho para alguma antologia, eu envio para a editora.

E está feito. Só partir para o abraço.

***

QUERO RELEMBRAR QUE ESSES PASSOS FUNCIONAM COMIGO. São passos que fiz ao longo de todos esses 25 anos de escrita e que hoje me deixam tranquilo para pegar um roteiro, pegar uma ideia e desenvolver. Você deve ir atrás dos passos que funcionam com você.

O objetivo desse capítulo não é impor regras, mas sim fornecer inspiração. Inspire-se.

Obrigado pela leitura. Escreva, brinque com as palavras, faça acontecer.

Abraços e até o próximo capítulo. ;-)