Escrever o que o público pede ou seguir o coração?
AH, O VELHO DILEMA: escrever para si ou para o público? Se você já se dedicou à escrita, ou sonha em viver dela, essa pergunta provavelmente já te assombrou. De um lado, temos a dita "pureza" de seguir o coração. De outro, a necessidade de agradar ao público. São posições que geram debates acalorados — e é claro, já levei muitas pedradas por isso. Hoje, porém, quero te convidar a deixar as armas de lado, parar de me chamar de "coach literário" e refletir comigo sobre os dois lados dessa moeda literária.
Mente ou coração: o dilema literário
Escrever para agradar o público é, muitas vezes, visto como a escolha mais "racional", ou até a mais óbvia, segundo algumas pessoas. E eu compreendo isso, afinal, se queremos dar um passo rumo ao profissionalismo precisamos de leitores, dinheiro e reconhecimento, não é? Mas e o que acontece com você, escritor, escritora durante esse processo?
Por outro lado, seguir o coração é uma escolha que vem com seus próprios desafios. É uma jornada de autenticidade que nem sempre é recompensada financeiramente. E aí, temos que lidar com os monstros que vivem em nossas consciências e questionam o que estamos fazendo com a vida. Contudo, no final, é também a única opção que garante que você se reconheça naquilo que cria.
Dito isso, vamos mergulhar na sinceridade: a pressão para "escrever o que vende" é real. Muitas pessoas sonham em viver da escrita, mas acabam presas a um mercado que exige fórmulas, tendências e histórias pré-moldadas. Isso pode funcionar por um tempo, mas... a que custo? Escrever apenas o que o público pede pode pagar as contas, sim. E paga. Você sabe disso, eu sei disso. O problema é que, ao longo dos anos, isso pode cobrar o preço da sua saúde mental.
Algo que sempre me questiono é: eu quero chegar aos 80 anos, olhar para trás e não me reconhecer no escritor que eu fui?
A escrita precisa ser um equilíbrio. Buscar o que o público gosta não é um pecado, porém, perder a conexão com sua voz interior é — e, na minha opinião fecal, o custo de fazer isso pode ser alto demais.
O medo da "anulação literária"
Um dos maiores medos de quem escreve é se anular criativamente; criar histórias que agradam, mas que não têm alma. São textos que até funcionam comercialmente, mas que não representam quem aquela pessoa é. Para mim, um dos maiores exemplos de um artista que colocou isso na balança é um cantor chamado Jay Vaquer. O cara tem uma carreira longa, chegou a fazer muito sucesso no início dos anos 2000, então, no auge, rejeitou várias propostas comerciais em prol de seguir os próprios princípios, enveredando pelo teatro musical e sempre compondo as próprias músicas.
Eu, por exemplo, sou do time do seguir o coração. Sei que isso é difícil. Já vivi a angústia de querer agradar e, ao mesmo tempo, manter minha essência. Mas se tem algo que aprendi é que, no longo prazo, escrever com autenticidade é o único caminho que faz sentido para mim. O que tenho feito é escrever o que eu quero e buscar formar um público, apresentar meus livros, minha arte, do modo mais autêntico possível para deixar claro esse meu posicionamento.
Você também deve fazer essa reflexão e tentar um equilíbrio. Contudo, aqui é importante reconhecer que nem todo mundo pode se dar ao luxo de "seguir o coração". Eu tenho meus privilégios. É por isso que eu acho muito perigoso e hipócrita quando alguém chega e berra algo como "Não, você tem que largar tudo e escrever!". Vivemos em uma sociedade desigual. A maioria não pode se dar a esse luxo. Há quem precise escrever o que vende para sobreviver, há quem precisa empurrar a escrita para ser um plano B, C, D e buscar um "emprego comum" como plano A, há pessoas que precisam mergulhar no que o mercado pede. Nada disso não é errado.
Porém, mesmo nesses casos, há formas de imprimir personalidade no texto. Ainda que você esteja imerso, imersa nas tendências e fórmulas, você pode encontrar jeitos de deixar sua marca. Não é fácil, mas é possível. Por exemplo, três dicas para lidar com esse dilema seriam...
1. Faça um balanço
Escreva o que o público quer, mas, de tempos em tempos, permita-se criar algo só para você. Essa "válvula de escape criativa" pode salvar tua saúde mental e reacender tua paixão pela escrita; te dar um propósito.
2. Conecte público e coração
Busque histórias que misturem autenticidade e apelo comercial. Pergunte-se: como posso transformar minhas paixões em algo que o público também queira ler? Um ponto inicial para isso é largar histórias clichês e buscar por algo que te diferencie do que a maioria já faz.
3. Apresente-se de modo autêntico
Use as redes sociais para apresentar teu trabalho e defender tua autenticidade. Sei que hoje em dia os algoritmos dessas redes meio que "estimulam" que os usuários façam algo padrão, o que todo mundo faz. É daí que surge a vontade e o desespero por viralizar a qualquer custo. Só tem um problema nisso: se você faz o que todo mundo está fazendo, você não se destaca; vira mais um, mais uma que vai pela cabeça dos outros em busca de um punhado de likes. Diferencie-se, por favor.
Agora, independente de seguir tendências ou não, o que diferencia um bom texto de um texto inesquecível é a personalidade. Isso vem da sua voz, do seu estilo, daquilo que só você pode trazer para a história. Mesmo escrevendo dentro de gêneros populares, ou fórmulas conhecidas, encontre maneiras de deixar tua marca. Pode ser um personagem, um tema ou uma abordagem única.
Se você já me acompanha há algum tempo, sabe que uma palavra que sempre aponto é brasilidade, ou seja, histórias que tragam nossas raízes, o teu entorno, nossas lendas e realidades. Beleza, você quer escrever sobre princesas e príncipes em castelos riquíssimos e muito luxo. Ok. Mas quantos livros de "princesas e príncipes em castelos riquíssimos e muito luxo" tem aqui no Wattpad? E quantos livros de princesas pretas, sertanejas, em uma narrativa que una fantasia e o interior do Brasil, por exemplo, você vê por aqui?
Essa é a questão.
E aqui vai uma pergunta importante, que parece "coisa de autoajuda", mas que, para mim, é fundamental que você pare um minutinho para refletir sobre: daqui a 30, 40, 50 anos, quando você olhar para trás, que tipo de escritor, que tipo de escritora você quer ter sido? Você quer ser alguém que escreveu apenas para agradar os outros? Ou alguém que, mesmo enfrentando dificuldades, manteve-se fiel ao que acreditava e buscou um balanceamento?
No final das contas, a escrita é uma jornada pessoal e única. Não existe uma resposta certa ou errada, existe sim o que te deixa confortável. O importante é que você encontre um equilíbrio que funcione para você — um caminho que te permita criar com paixão, sem abdicar da sua essência. E se, um dia, você precisar escolher entre agradar ao público ou seguir seu coração, lembre-se de que o público pode mudar, mas o que você cria com o coração será para sempre seu.
Abraços, obrigado pela leitura e até o próximo capítulo! ;-)
https://youtu.be/nmX9BWlGlfw
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