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Cap. 2: boas-vindas do lugar de paz.

🌴 aloha.
bem-vindes ao segundo capítulo!
antes de começarmos, vamos conversar um pouquinho? juro que será rápido, é importante.

primeiramente, queria pedir perdão pela demora. foram sete meses sem atualização e todos têm total direito de não ter gostado disso.
porém, tudo isso será recompensado. o capítulo aí embaixo tem mais de 22 mil palavras, então espero que isso seja um agrado adicional.

segundo,
nesse meio tempo, muitas músicas foram adicionadas e retiradas da playlist, ou seja, ela tá cheia de mudanças. escutem ela pra ler, caso não seja um incômodo ^^ recomendo.

quarto,
bem-vindos, leitores novos! mais de 7 mil leituras com um capítulo só é muita muita muita coisa e, quem me acompanha no twitter, sabe que eu surtei em cada conquista.

quinto,
caso vocês não entendam algumas gírias (cariocas-gaúchas) do jungkook/demais personagens ao decorrer da obra, podem comentar perguntando o significado. se eu fosse explicar cada uma nas notas finais, seria muuuuita coisa.

sexto,
como o capítulo está "grande", vamos fazer uma brincadeira?
comentem um ponto (.) aqui e outro nas notas finais, no parágrafo marcado. depois calculem quanto tempo vocês demoraram pra finalizar o capítulo, seja horas, dias, semanas ou afins. sei que muita gente vai lendo aos pouquinhos ^^.

ADO é a obra mais importante pra mim no momento, então eu agradeço todo o apoio e todos os elogios em relação a ela, faz meu dia sempre. desde comentários elogiando a escrita até os votos!

prestem bastante a atenção e vocês entenderão o contexto por trás do título do cap. 🤭

perdão novamente pela demora,
desejo a todos uma boa leitura.
qualquer coisa, estou aqui 🌊🌴

Você acredita nas boas-vindas de um lugar inexplorado pelo silencioso par de olhos ligados a sua mente? Bem, algumas pessoas costumam acreditar; Jimin era uma delas.

Talvez não pelas pessoas, mas pelo ambiente em questão. Normalmente, quando nos submetemos a pensar em boas-vindas, sua mente vaga para sorrisos cobertos de veracidade e corações chacoalhados de satisfação. Poderia ser considerado algo estressante, pelo simples fato de despejar toda a sua expectativa em mentes ㅡ estas sendo vagas ou turbulentas ㅡ que sequer esperam por sua vinda.

Cheio de complexidade e expectativa, o indivíduo sempre será montado por inquietos pensamentos e desmontado pela quebra de som, silêncio em excesso ou apenas uma impressão de vazio. Complicado seria, por fim, pensar numa liberdade para tamanha harmonia inexistente. Sua habilidade quase invisível de saber quando sua presença é ou não bem-vinda, transtornava as inseguranças florescendo todos os dias pela manhã ensolarada, juntamente de um bom dia solitário de suas próprias mãos carentes que acariciam os olhos inchados de uma noite de sonhos e uma recheada xícara de café. Feitos de surpresas frequentemente sabotadas, nem sempre parecia convidativo contornar com um singelo sorriso.

Jimin nunca foi de esperar ou cogitar boas-vindas humanas, de braços abertos para abraçá-lo ou prováveis acontecimentos logo de aperitivo, um esforço para colaborar para com ele. Examinar suas esperanças sempre foi algo inexplicável, principalmente porque não era a vida que diria para ele como agir ou o que pensar de algo natural. Seu círculo social, humor ou coisas parecidas; esses fatores nunca interferiram numa coleção de bom comportamento diante de um novo lugar, um novo explorar, uma nova chama ou uma nova inspiração. Considerava inevitável elaborar expectativas, mas julgava isso como um senso comum estrutural e bastante familiar.

Era apenas a necessidade aflorada e iniciativa de respirar fundo e simplesmente viver.

Ainda pode ser confuso, inesperado. Claros pensamentos embaralhados, não era algo que tínhamos, concludentemente. Quando pensado em boas-vindas, a análise de ambiente sempre é essencial e bastante esclarecedora; primordial. Era quase fundamental receber, de braços abertos, o que for, aceitar o que a natureza tem de bom ou até mesmo ruim. Novamente, o senso comum, filosoficamente, estabelece o que seria o bom ou ruim do ambiente, desde terremotos até uma simplória tarde nublada.

Já era tarde quando Jimin chegou, foi recebido por um belíssimo pôr do sol e aves atordoadas por seus próprios sons. Belíssimo, mas era preciso averiguar. Época de verão, mas continuava pouco calor, tal como ele esperava. O fim de tarde estava fresco, uma brisa gelada que batia vez ou outra diante de seu rosto quase introduzido para fora do táxi ㅡ resultado de sua curiosidade em excesso, deslumbrado com a gloriosa cidade. Coberto até os pulsos por sua camisa de botões azul caribe favorita, tão clara e azulada quanto o mar diante de seu olhar fixo no horizonte. Nas pernas, somente um calção que não chegava até os joelhos, branco reluzente. Para complementar, alpargatas num caqui claro, nada tão exagerado. Mantinha tamanha curiosidade sempre focada no inédito, naquele que poderia explorar e que imagens do Google não pareciam especialmente suficientes para matar sua curiosidade.

A chuva poderia ser um susto, mas ela não estava sequer próxima de acontecer. Como dito: era preciso analisar.

O que a chuva representa?

Muitos poderiam pensar em tristeza, alguns poderiam cogitar a ideia de uma sensação acolhedora e outros podem pensar apenas no dia de preguiça ou, para aqueles que precisam sair de casa, o dia especial da semana em que tudo será mais complicado. Jimin cogitaria a ideia de necessidade, provavelmente porque as chuvas aconteciam para que as plantas fossem finalmente regadas e vivas. A chuva poderia viver, tornar vivo, doar vida, ajudar a viver.

A natureza era um ciclo sem fim, algo que acontece sem que nossos olhos, encharcados de puro poder, tenham o prazer de apreciar genuinamente e, por fim, entender a tempo. Park nunca foi alguém de questionar a si mesmo sobre a perfeição, tampouco cogitava encarar a possibilidade de absorver a perspectiva do próximo. Mas, quando encarava a natureza de olhos fechados e peito aberto, ele podia, finalmente, respirar como os princípios exigiam de si. Uma metáfora com tão poucos e certos significados ostensivos, principalmente quando cogitados pelas mentes repletas de balbúrdias ligeiramente encaixadas na situação, que pouco se importam com os mínimos detalhes e, sim, com a superfície. Ele, claramente, estava distante dessa lista imensa de pessoas que ocuparam seus pensamentos.

A superficial mente humana certamente visaria a chuva como algo ambíguo, uma situação um tanto questionável para suas emoções. Não era possível negar a predileção pelo dia ensolarado, pelos sorrisos carinhosos e genuínos que certamente iriam enfeitar os rostos indispensáveis para os desconsolados corações solitários. Park, de longe, não considera a si mesmo um coração presunçoso pelo ato de apreciar igualmente a chuva; muito pelo contrário. Admirava sua própria habilidade de observar as proezas naturais com muita delicadeza, imparcialmente ditando. Odiava a falta de sua característica pragmática facilmente conquistada e admirada, aquela que todas as pessoas sempre adquiriam em situações cotidianas, por mais que pessoas incomodadas com muitas coisas estivessem por fora desse quesito.

Como quando, inesperadamente, reclamamos da chuva ao sentir ela cobrir seu corpo de calafrios e incômodos expressos por murmúrios estressados.

Ele era diferente, diferente de todos. E sabia disso.

Em conclusão, o que era visto como perfeição e por que o dia chuvoso não estava, consideravelmente, incluso nessa ideologia?

A pergunta repleta de controvérsias e analogias diferentes batucava na mente incansável do autor. Ao ser questionada normalmente para um indivíduo comum, sua mente rapidamente iria projetar a imagem do padrão estético, aquele de poucas curvas além do sorriso, o corpo livre de excessos, os cabelos nada exagerados para as vistas, uma capa de revista leiga de opiniões distintas, mas que, certamente, faria de tudo para demonstrar sua rasa força de vontade para trabalhar numa quebra de expectativa que, francamente, apenas reforçava que o padrão deve ser seguido todos os dias ㅡ o que, honestamente, estava longe de ser uma realidade ou uma visão absoluta. Em casos contraditórios, as mentes inseguranças são bastante impulsivas.

Para Park, era preciso examinar muito de suas indas e vindas diante do destino criado e moldado especialmente para seu corpo severamente dificultado. Ele raramente mudava de opinião ㅡ afinal, sequer tinha opiniões concretas sobre as coisas ao seu redor. Ao abrir os olhos pela manhã, descobria um novo dia que teria o prazer de presenciar. Ele seria ruim? Seria bom? A todo momento era uma nova dúvida, um corpo social totalmente novo, par de olhos diferentes diante de si e novas descobertas sobre o mundo. Era como uma dúvida eterna: o que acontece a seguir? Adorava questionar, refletir, repensar, discutir. Gostava disso em si, de seu interesse mútuo pela vivência, pela descoberta. Adorava sua curiosidade um tanto obsessiva pelo dia seguinte. Como a vida acabaria? E por quê?

Acreditava na perfeição, certamente acreditava. Teve muito tempo para refletir sobre isso quando, nas muitas vezes que teve seu corpo abraçado pelas águas que deixavam as nuvens de algodão logo acima de sua mente pensante, ele simplesmente paralisou no lugar. Muitas vezes não correu, cobriu seus cabelos lisos com as mãos, abaixou a cabeça, vestiu um casaco grande ou, essencialmente falando, abriu um guarda-chuva. Muitas vezes, ele apenas parou e pensou. Absorveu aquilo que a natureza deu a si, sobre o que agradeceu por ter. Ao que, num pensamento inoportuno, perguntou a si mesmo se amaria tanto a vida como agora, se teria oportunidade de sorrir para chuva e não teria apagado a oportunidade de desistir de tudo. Se, caso contrário, ele teria chances de viver o dia seguinte. Ele não tinha chances de não saber o que era viver e agradecia por isso. Já que, graças àquela sua mesma curiosidade de sempre, ele estava ali para saber o que aconteceria no dia seguinte.

Como num filme. Era essencial saber o que acontecia na cena seguinte e a importante interpretação do porquê.

A sensação do toque, a lastimável maneira como as gotas de água deslizavam por sua bochecha como lágrimas, desenhando em si uma expressão de desespero e, por fim, a característica de tristeza menos genuína possível. Já teve momentos em que indagou a si mesmo o que a chuva deseja dizer a si no momento? Ela realmente está dizendo algo? E por que diabos a chuva falaria?

Não era um homem de tantas experiências abundantemente recheadas de histórias para contar; empolgantes. Na realidade, só considerava suas experiências cotidianas demais, estava acostumado com a ideia do "viver", seja de forma radical ou não. Seu maior sinônimo para radical seria dormir sem escovar os dentes, coisa que ele tinha pavor de experimentar.

Pensando nisso, chegou à conclusão que a perfeição existe na natureza. Ela existe quando os pássaros têm o instinto de formar filas para voar para o Norte quando a época de inverno está por vir, utilizando de suas habilidades internas e estranhamente inexplicáveis para localizar o magnetismo natural presente no planeta. Ela existe quando, ao fecharmos os olhos e escutarmos sobre uma paisagem, sabemos exatamente que, mesmo que distante, ela é possível; uma cachoeira, as plantas de todos os tipos e tamanho que rondam as forças diversas que fazem a água cair de forma magnífica e deslumbrante, como arte. Tudo acontece de forma natural, de forma que demonstra que aquilo deveria acontecer como de fato aconteceu, que o amanhecer tinha sido inteiramente planejado, desde seus primeiros passos até que desse o último piscar de olhos.

Ela existe no processo de fotossíntese, existe no processo de condensação ou em quando a água evapora, quando as árvores crescem gradativamente e dão vida àquele ambiente, quando inalamos todos os tipos de gases junto ao oxigênio essencial para nossa existência; não só a nossa. Ela existe quando o Universo inteiro compactua para a existência, para a vida, afins. Quando, num piscar de olhos, percebemos que quase tudo acontece por uma razão, porque era para acontecer.

E, num piscar de olhos, percebemos que aquilo não era um erro, e sim, algo que era para acontecer, a natureza do ambiente.

A partir do momento que a chuva é explorada como falta de problema, percebemos que, de fato, tudo pode acontecer, no ambiente habitado ou não, seja por erro humano ou seja pelo natural, a essencial existência da vida. Desfrutando da situação como um todo, nos dando a ideia de que a humanidade precisa florescer para poder receber, acolher.

Contudo, Jimin jamais viria a chuva como uma falta de afeto, uma falta de recepção ou, principalmente, uma forma de expulsá-lo de sua inexplorada aventura em Miami, como um convite para finalizar bem ali, um aviso de que tudo daria errado. Ficaria de braços abertos e iria admirar, com um sorriso no rosto, a necessidade da natureza de demonstrar a si sua incontrolável vontade de permanecer viva, sua ansiedade franca de acariciar seu corpo e desenhar seus traços insubstituíveis. Ele estava em casa, pois um lar só é considerado um lar quando sentimos nossa alma viva, sua determinação antenada e felicidade reforçada, um único foco.

E, por mais que não estivesse chovendo naquele fim de tarde um tanto caótico e pouco barulhento, ele ainda estava para descobrir seu lar, aceitar que ali ele estava cada vez mais conectado com a perfeição, com a falta de falhas, com o natural. Apesar de tudo, aprendeu como ser uma pessoa otimista e positiva ao que descobriu a si mesmo na escrita, a apreciar os mínimos detalhes sobre tudo que o rodeia e que o transforma naquele homem necessariamente completo que era nos dias vivenciados.

Ele se considerava completo.

Completo do jeito que estava, pensava e acreditava ser. Não seria tolo de negar as inseguranças ou pensamentos assombrosos, mas estava contente que conseguia contornar isso do seu próprio jeito, sozinho.

Mesmo que o ser humano também seja visto e apreciado superficialmente como um ato falho, ele ainda precisava ser admirado como algo natural. Afinal, a mente humana também era fruto da natureza. O indivíduo é imprescindível quando a ideia é vista como o natural, o perfeito.

Existem erros, mas também existem escolhas; Jimin sabia diferenciar isso como ninguém, ainda mais quando a natureza sequer tinha consciência para escolher o certo ou errado. Então, consequentemente, o ser humano ainda era considerado perfeito quando se tem atos falhos em seu histórico de vida, pois isso só era visto como um erro diante de seus olhos superficialmente trabalhados e moldados, não pelo destino, mas pelas mentes avulsas e um tanto precipitadas, as mesmas que envolveram sua criação com os braços e impediram seu crescimento interno, sua evolução, sua metamorfose.

Tinha consciência o suficiente para diferenciar uma pessoa ruim de erros gradativamente aceitos.

Mesmo que seu corpo não estivesse propício a deixar aquele carro e ser rodeado por chuva para todos os lados, Jimin sentia que estava para descobrir um mundo inteiramente novo naquele lugar, como um universo absurdamente diferente de sua realidade indelével. Seria um desfavor para ele obrigar a si mesmo a acreditar em coisas as quais sequer explodiram sua consciência naquele instante, então parecia precipitado aceitar que estava pronto para qualquer aventura.

Sua forma de viver era limitada, ele sabia, mas estava feliz do jeito que estava. Não por falta de opções, mas porque teve seu crescimento interrompido quando as mesmas mentes avulsas agarraram seu corpo e, por fim, fizeram dele um homem limitado, talvez inseguro. Não tinha certeza de como nomear a si mesmo e resumir tudo que borbulhava seu interior, afinal, ele apenas vivia o dia seguinte, sem pensar que a eternidade foi feita para si. Tão acostumado a guardar tudo dentro de si que, quando era visto num local em que tinha liberdade para desabafar, ele não via sentido e não parecia certo, não parecia natural, apresentava uma falta de necessidade.

Por que relembrar histórias, quando se pode renascer em outras?

Estava longe de considerar a si mesmo alguém triste, jamais deixou seu psicológico enriquecer-se de catástrofes passadas, coisas que podem ser alteradas e evoluídas nos dias atuais por si mesmo. Sua criação era, de longe, a coisa que mais o atormentava nas noites sem sono em que passava horas e horas encarando o teto antes de adormecer, refletindo sobre sua existência ou sobre alguma notícia que tinha recebido horas antes. Um tanto proposital, ele diria, esconder isso de qualquer pessoa que não tinha presenciado junto consigo, talvez sobre a maneira perfeita que sua mãe almejava que ele fosse, sobre as escolhas que foram tomadas de si, as decisões que ele sequer teve oportunidade de pensar antes de serem absolutas e sobre as diversas vezes que aceitou tudo, abaixou a cabeça para tudo.

Ele era neutro. Vivia do seu próprio espaço, do seu próprio dinheiro, com sua própria independência. E estava bem assim, sozinho, no seu próprio mundo.

Manter a classe, erguer o queixo, selecionar amigos a dedo, estudar incansavelmente, semanas repetitivas frequentando a aula de etiqueta, crescer antes de seu tempo, acreditar na superioridade exercida por uma figura mais velha ㅡ mesmo que isso conste com a falta de educação ou respeito ㅡ, jamais perder a formalidade para a animação, nunca sorrir em excesso quando a situação parece sair de seu autocontrole, não é preciso correr ou pular para expressar felicidade, guarde suas dificuldades para si mesmo quando isso pode degradar sua imagem, saber todos os códigos de ética, até mesmo ao contrário. Acreditava que isso era o básico para ser alguém na vida, mas sempre era visto como algo absurdo para pessoas que foram livres durante a vida inteira. Muitas vezes julgado por ser um homem de míseras palavras quando não está à vontade, mas sempre lembrava das palavras que fora obrigado a esconder para manter o queixo erguido e ser perfeito.

Por Deuses, Jimin, não faça isso! Oh, Jimin, isso são modos? Céus, Jimin, que vocabulário é esse? Diga para a mamãe o que aprendeu hoje, Jimin. Oras, Jimin, como você não sabe? Aprenda! Estude! Evolua! Você deve ser o melhor, você deve ser perfeito. Oh, que decepção, como eu pude ter um filho tão incompetente? Jimin, continue assim. Não, Jimin. Não. Jimin, não grite. Jimin, não brinque. Jimin, não corra. Jimin, não pense. Jimin, não respire. Jimin, não exista.

A única decisão que tomou em sua vida por si só foi a de ser escritor, escrever obras que mostrassem a si mesmo que mentes superficiais jamais seriam capazes de agredir suas habilidades e de retornar à sua cabeça quando menos esperasse. Novamente, nada de apoio de sua mãe um tanto rigorosa demais em suas decisões. Manteve sigilo até que seu primeiro livro estivesse pronto e finalizado, já organizado para a publicação. E, para ser bem sincero, só enxergou o retorno de sua mãe, quando o retorno financeiro começou a aparecer. Mas, lá no fundo, sabia que esse não era o maior desejo dela, que essa não seria a profissão que ela mais apoiava, pois a arte raramente dá certo, por mais paixão que seja posta escancaradamente sobre ela.

Abominava mentiras que fossem contra seus princípios morais, então jamais recusava ou ousava contradizer questões em entrevistas que falassem sobre sua família. Elogiava, acrescentava coisas as quais não eram de se esperar de um autor que certamente não teve a melhor infância e adolescência de todas. Mas, analisando sua situação atual e o quão bem ele estava consigo mesmo, ainda agradecia sua mãe por ter lhe dado experiências que o faziam consciente, assistir o seu arredor como um lar, admirar as pequenas coisas, aquelas que lhe davam uma mínima sensação de liberdade para viver. Ele provavelmente não estaria no lugar que estava hoje e ele, com toda a certeza do mundo, não conseguiria distinguir as coisas boas que as pessoas costumavam fazer para si e, se lá no fundo, elas eram genuínas ou não. Entretanto, sempre vinha SeokJin e Jasmine em sua mente quando o assunto era família, sempre.

Ela o deu experiências horríveis, mas que ele levaria para o resto da vida. Ela ainda era sua mãe, afinal. Ainda era alguém que ele gostava, gostava do jeito que ela era ㅡ mesmo que não recíproco, nesse sentido. Pensando com a mente do dito cujo, ele pode observar que as mentes avulsas jamais poderiam envolver seu corpo outra vez, pois ele sabia diferenciá-las, encontrá-las e afastá-las de si. Homem de breves palavras, poucas ações ou que raramente demonstrava gosto em envolver-se com algo além do habitual. Por mais que seus momentos de curiosidade fossem constantes, ele ousava assumir viver numa bolha de poucas escolhas, pouco risco e demasiada parcialidade, em que seus dias são monótonos e repletos de rotinas repetitivas.

Mas estava feliz com isso, afinal, sua rotina envolvia sua maior paixão. Seus leitores, sua arte, sua família; era disso que ele vivia e não precisava de mais. Até considerava cansativo às vezes, mas nada que não pudesse contornar.

Não julgava comum conversar sobre seus problemas pouco recorrentes com as pessoas mais próximas ou até mesmo com qualquer pessoa, sempre mudava de assunto quando necessário e não via intenções de falar sobre seu passado, sua família, seus gostos pessoais ou até sobre como fora seu dia. SeokJin era o único que sempre sabia de tudo envolvendo seu espaço pessoal, Jimin não conseguiria esconder algo dele nem mesmo se quisesse. Ele o dava liberdade e segurança. Se possível, sempre arranjava uma brecha apenas para conversar sobre seus trabalhos. Como em entrevistas, por exemplo. Seu foco era sempre seus trabalhos. Reputava desrespeitoso perguntas invasivas sobre seu espaço pessoal ou sua vida, normalmente ignorava. Quando começou a mostrar incômodo com esse tipo de pergunta, os entrevistadores sempre mantinham cuidado ao selecionar as questões.

Em situações em que se via encurralado por uma pergunta sobre como fora seu dia ou que exigia retorno sincero sobre seu sentimento pessoal, suas respostas eram sempre breves o suficiente para resumir qualquer coisa que ele precisasse falar.

Foi bom. Oh, não foi muito divertido. Tudo bem. Corrido. Cansativo. Nada tão interessante. Estressante. Nada bom.

Ele era o mais difícil de todos, e isso o tornava alguém almejado, misterioso.

Porém, apesar das boas-vindas de Miami serem um tanto inesperadas e até mesmo ainda não estudadas, Jimin esperava por aquele acontecimento que o faria perceber, mesmo que a visão pareça um tanto egocêntrica, que o Universo inteiro estava ali para ser visto e admirado por seus olhos, que suas opiniões e reflexões faziam todo sentido quando, tudo o que ele precisava fazer, era respirar fundo e viver. Chegar ao fim do infinito era arriscado, mas ele estava ali para viver; arriscar é viver, decidir viver. Estava à procura daquele sinal que o faria livre, mas ainda não tinha certeza do quê.

E ele precisava urgentemente viver, sentir que estava vivo, tal como a chuva faria consigo nessa situação; dar-lhe vida. Bem, já que as mentes superficiais e ultrapassadas não viam capacidade em admirar o natural e perfeito como deveria ser feito, estava na hora de sentir que ele e apenas ele poderia fazer isso. Feito para ele, destinado a ele.

Encontrava-se dentro de um carro em movimento naquele momento. Seu destino era aquela mesma praia de início, o hotel que planejou passar quase dois meses inteiros e seu futuro traçado. Sentia-se um tanto esquisito pelo fato de estar quase pulando para fora do automóvel, observando os inúmeros prédios e construções distintas pelo caminho. Era um belíssimo lugar.

Estava animado, como se suas entranhas vibrassem em excitação e o fizessem desejar admirar tudo, mas ele necessitava manter a postura. Com as mãos afastadas da porta do carro ㅡ ao contrário de anteriormente, ele encarou o retrovisor, podendo encontrar os olhos vidrados e exaustos do motorista. Olheiras, vermelhidão, manchas ao redor e pupila não dilatada; céus, ele parecia acabado. Era um tanto precipitado da parte do autor julgá-lo pela capa, talvez pela aparência e, principalmente, por suas ações bastante insignificantes, quase imperceptíveis. Todavia, isso era tudo o que ele tinha para criar uma base e pensar sobre o que se passava na mente do idoso homem. Talvez fosse sua idade, seu porte físico ou apenas o cansaço do trabalho diário. Sinceramente, ele não tinha ideia. Estava para escurecer, então ele ousava determinar que fosse o cansaço do trabalho. Não que isso fosse de sua conta, mas o tédio e silêncio não lhe davam outra escolha.

Seus pensamentos e conversas de pouco valor não tinham jeito de serem compartilhados no momento. Só de pensar, balbuciava palavras repetitivas e prolongadas em sua mente, bastante confuso diante da situação. Poderia pensar na possibilidade de incutir suas filosofias para o bom homem cansado, mas entendia que era tímido e reservado demais para ultrapassar seus limites. Ousava julgar-se como prolixo, então optou pela ideia de que isso poderia acabar intrigando ou até incomodando o abatido senhor de idade. Nem todos estavam preparados para conversar consigo, para tagarelar sobre o quanto a vida precisa ser questionada ainda, para conservar seu vocabulário e, claro, deixar o cansaço de lado para atender aos ensinamentos do autor. Ele não parecia propício para conversação, então Jimin estava longe de arriscar algo do gênero.

Um bom pensador incute ideias, mas um bom preservador sabe quando ou com quem compartilhar essas ideias.

E aquele, de longe, não era um bom momento.

O objetivo era seguir viagem e falar apenas quando necessário, essa era sua ideia. Viver sua vida adoidado não envolvia conversar com um taxista desconhecido e que aparentava estar esgotado demais para qualquer lógica raciocinada na hora.

Oh, não, não. Ele nem sabia o que poderia falar. Quanta asneira!

Acabou por rir sozinho com a ideia de que seria muita tolice sua cogitar conversar sobre algum assunto sem cabimento. Certamente, acabaria tropeçando dentre as palavras e nada muito coerente sairia. Pessoas mais velhas sempre o deixavam mais nervoso e sem jeito que o normal, aquelas que aparentavam ser mais velhas que si, ele só não entendia o motivo. Era tímido naturalmente, mas nunca deixava transparecer quando ele via oportunidade de demonstrar segurança, sua metamorfose era quase automática, principalmente para que não fosse abatido no fim. Não julgava a si mesmo como tímido, mas sim, reservado e silencioso. Poucas pessoas o conheciam como o Jimin tagarela que transparecia quando confortável. Poucas, muito poucas. Então, às vezes, raras essas, ele deixava de lado sua característica marcante de um homem cauteloso, de poucas palavras, pragmático, certeiro em suas decisões e, por incrível que pareça, poucos pensamentos a zelar. Sabia que não era assim, que seu profissionalismo e exigências sempre deixavam de fazer parte de si quando sentia que estava confiante, quando alguém o fazia sentir que aquele era seu lar, que ele estava em casa. Mas, de qualquer modo, seu medo de encarar um pedido de silêncio ou simples desinteresse era maior, mesmo criado para sobreviver a isso e não ter que encarar uma situação parecida.

Seu sorriso e risada discreta foram escondidos e contidos no mesmo instante, fazendo o autor encarar o espelho interno do carro novamente, certificando-se de que o homem a frente não percebeu nada e agradeceu quando comprovou que ele realmente não tinha sequer olhado para si. Desviou o olhar para o vidro aberto mais uma vez, podendo encontrar o horizonte seguido do mais puro oceano que já vira em sua frente. O mar era extenso, mais do que ele poderia raciocinar. Processou que ainda não era a praia e que aquele nem era o lado em que o Sol estava se pondo, mas não podia deixar de admirar.

A imensidão azulada cobriu seus olhos e predominou sua mente de maneira objetiva, o deixando sem escolhas que não fosse encarar com clareza todo aquele horizonte repleto de histórias para apreciar. A visão estonteante o fizera questionar a si mesmo se era merecedor de apreciar tamanha perfeição natural. A água estava calma, plana, tal como se respirasse tão calmamente que os olhos ou ouvidos humanos não demonstravam capacidade suficiente para encarar e, por fim, sorrir. Era inevitável sorrir, sua alma encontrava-se conectada ao destino e vivenciando o presente com toda sua glória mais pura. Não seria o corajoso a suplicar a situação e mudar a direção de seu queixo; ele estava encantado e hipnotizado.

Era como arte. Pinceladas profundas e que contavam histórias. Aquele era o horizonte diante de seus olhos. Uma paleta de cores não tão diversificadas, azuis intensos e aparentemente rasos. Como imaginaria ter palavras suficientes no dicionário para somente resumir o quão gratificante era observar aquela vida bem ali? Como poderia expressar de forma suficiente todos os seus pensamentos, se estava entregue ao desabafo incalculável de uma figura imensamente admirável? Era impossível, mesmo que tão conhecedor de adjetivos numerosos. Parecia até mesmo uma ofensa dizer qualquer palavra elegante com o intuito de elogiar, afinal de contas, nada era suficiente.

Seu nível de intensidade o dava a sensação de profundidade, como se estivesse prestes a se afundar ali. Ele assumiu a vontade de ficar horas e horas vivendo apenas com a natureza.

Ele e apenas ele. Novamente.

O tão clássico céu alaranjado era imprescindível para uma boa paisagem. O que mais esperar de Miami quando já sentia que estava completo? Era um cenário perfeito, ele concluiu.

Seu corpo desligou e sua mente focou. Estava prestes a exultar, internamente, assumindo uma paixão absoluta e exprimindo sua mais genuína vontade de acariciar o mar e abraçar a energia de braços abertos. Era um lugar calmo, tão calmo que não imaginava estar tão à vontade ainda dentro do táxi.

"Permaneça na rodovia A1A e vire levemente à direita em Alton RD."

A voz do GPS soou e seu corpo entrou em estado de alerta, acordando de seus devaneios extremamente focados e fantasiosos. Concluiu que estava perto do hotel. Poderia facilmente comemorar por finalmente ter a oportunidade de descansar. Mas, na realidade, sabia que não chegaria lá tão sossegado. Uma longa viagem, sem dúvidas. Conhecia sua mente demais para entender que não conseguiria descansar sem observar o mar e respirar fundo pelo menos uma vez antes de dormir. Era necessário, tanto quanto um dever seu. Estava em um ambiente novo, um sonho novo, um lar novo; quem seria o tolo de descansar quando seu paraíso está logo ali? Ele, não.

Foram necessárias diversas piscadas de olhos para que estivesse ativo outra vez, para que seu olhar deixasse de admirar o horizonte e voltasse para o espelho poluído e de uma visão não muito apresentável. O senhor de idade tossiu rouco, cobrindo os lábios com um dos punhos enrugados. Desculpou-se logo depois, ainda sem encarar Jimin nos olhos. O autor ㅡ agora moreno ㅡ estranhou sua antipatia para não fitá-lo nos olhos enquanto falava algo, mas não fazia questão de ter sua atenção em exagerado tempo.

Encarou sua bolsa ao lado. Cogitou, em certo momento, pegar seu celular e ler algumas mensagens, checar as redes sociais ou apenas se certificar de que SeokJin não estava surtando outra vez. No fim das contas, decidiu que preocupações ou distrações era a última coisa de que precisava agora. Estava num lugar totalmente novo. Tantas vidas, tantas experiências e tantas oportunidades para apreciar. Ele precisava encarar cada mínimo segundo no ambiente. Um novo trabalho estava por vir, ele poderia muito bem ficar minutos longe do celular. Não era muito dependente dele, então não tinha o que perder.

Optou por pegar o pacote de amendoins no bolso ao lado, no exterior da bolsa, o mesmo que comprou dentro do avião, em casos emergenciais ㅡ como tal. Não estava com tanta fome, mas necessitava de algo que agarrasse o pescoço de sua ansiedade e a afastasse para tão longe que olhos comuns não fossem capazes de enxergar. Não queria dar nenhum sinal de incômodo ou agitação, como coçar alguma região de seu corpo ou não conseguir focar o olhar em algo. Admirava o favoritismo pelo silêncio em sua majestosa expressão, mas odiava o demais, o excesso; era muito silêncio para suportar. Pensamentos demais para uma única mente. Como ele suportaria isso em silêncio, num local em que tudo que se podia escutar eram as rodas do táxi com som abafado pelo interior?

Ele devia manter a classe, manter a postura. Se continuasse focando demais em coisas que o deixassem entusiasmado, poderia enxergar isso como uma ameaça um tanto incapaz de prevenir. Conseguia suportar seu coração disparando à milhão toda vez que seu olhar refletia sobre algo nunca averiguado por eles antes, mas não gostaria de assumir que isso o dava vontade de pular ou falar sem parar. SeokJin não estava ali para debater junto a ele, afinal.

Enquanto mastigava o pequeno salgado, pensava sobre a entrevista que daria daqui dois dias. Não era alguém que planejava falas, achava isso uma falta de respeito com aqueles que queriam ver sua pureza em sua mais bela forma. Seguir um roteiro era para aqueles que viviam num personagem; ele não era assim. Gostava da improvisação e de ser cem por cento sincero em suas respostas ㅡ isso quando o assunto não envolvia sua vida pessoal. Em todo caso, sabia que a maioria das perguntas sempre eram parecidas ou faziam parte de uma mesma raiz ou base fixa na hora de selecioná-las.

De todos os seus trabalhos, autor, qual é aquele que você mais gostou do resultado? Pergunta o entrevistador. E, então, como sempre, Ma Jolie é a resposta. Seu último trabalho lançado sempre seria seu maior orgulho pela provável falta de costume ou familiarização com a obra, principalmente porque sua mais recente obra sempre seria o reflexo mais puro de sua maturidade e opiniões atuais, diferentes dos demais; de um para o outro, sempre teria uma evolução. Algum spoiler para dar aos seus leitores sobre uma nova obra prevista para o futuro? Perguntas dos leitores interessados na platéia. Qual fora o personagem mais complicado para criar? Ele é inspirado em alguém? Como veio a ideia para tal obra, autor? Seu processo criativo costuma funcionar com qual tipo de frequência? Palmas, assobios, acenos, anotações feitas por escritores amadores. Já pensou em trabalhar em parceria com outros autores? Não, eu sempre admirei criar minha própria arte de forma natural e solitária, muitas vezes.

Sempre a mesma coisa, mas ele não tinha do que exatamente reclamar.

Acabava entusiasmado para tais entrevistas, imaginando que um contato com leitores, aqueles que o ajudaram e apoiaram desde sempre, era sua maior fonte de serotonina e, francamente, como poderia ficar mais agradecido por tudo isso? Entretanto, sempre ansiava por aquela pergunta que faria sua cabeça explodir, uma pergunta inovadora e que o faria gaguejar, provavelmente respirar fundo, engolir seco e deixar murmúrios escaparem para que tenha tempo para pensar numa resposta adequada. Não exigia isso de ninguém e essa não era considerada uma condição para que a entrevista fosse bem sucedida, mas sempre tinha um mísero vestígio de esperança de que, um dia, numa ocasião específica, existiria alguém que o deixaria sem palavras com facilidade, desde uma pergunta com vinte palavras, até uma com apenas três.

E ele ainda não sabia que pergunta era essa. Ele não queria ficar desconfortável ao ponto de ficar sem palavras, queria ficar chocado ao ponto de ficar sem palavras. Ainda sonhava com isso. Um mundo tão amplo, diversificado e recheado como o da escrita merecem perguntas à altura.

ㅡ Prefere que eu te largue na recepção mais próxima do hotel ou que estacione próximo ao estacionamento? O estacionamento te deixa mais próximo da recepção principal e de frente para a praia.

O motorista questionou de maneira casual e despojada, encarando os olhos vibrantes e curiosos do autor pelo espelho, arqueando as sobrancelhas ao finalizar sua dúvida. À procura de uma resposta, Jimin suspirou e pensou um pouco. Ele entendia pouco do inglês, sabia do suficiente que o ajudasse a sobreviver num país de tal idioma nativo. Poderia considerar-se fluente, mas sabia que precisava de longos segundos para conseguir processar uma palavra ou outra. Teve muito contato com norte-americanos em entrevistas, encontros, projetos ou apenas conhecidos, então isso o ajudou muito com o tempo. A leitura e estudos vagos e rápidos também o ajudaram bastante com essa questão, pois apreciava ler livros em inglês para praticar sempre que necessário.

ㅡ Aquela que ficar mais acessível, senhor. ㅡ Arriscou sorrir ao finalizar, desmanchando seu sorriso quase no mesmo instante, apreensivo de ter errado algo. Levaria tempo até pegar o costume outra vez, comunicação em um idioma que não praticava há tempos era sempre um desafio e tanto.

Não era a insegurança de não saber, era a insegurança de ficar tão nervoso ao ponto de esquecer ou falhar sem perceber.

ㅡ Você consegue me entender com clareza? ㅡ perguntou o motorista, confuso após longo segundos de questionamento interno que não levaram em absolutamente nada.

O sotaque do autor parecia estrangeiro, consequentemente, demorou a raciocinar. Consideraria estúpido de sua parte julgá-lo por sua aparência claramente asiática, os olhos estreitos e o maxilar elevado e marcado, pois já tinha pego tantos asiáticos em viagens anteriores que pareciam mais fluentes e familiarizados que si, um nativo. Não tentou soar arrogante ao questionar de forma bem passiva e feição relaxada, muito pelo contrário, seu medo era conversar com alguém que poderia ter dificuldade em entendê-lo e parecer inconveniente por isso; estava disposto a falar, no mínimo, devagar caso isso o ajudasse a entender com melhor facilidade.

ㅡ Sim, claro ㅡ respondeu o autor, desviando o olhar para qualquer coisa que o distraísse.

ㅡ Está vindo de onde?

ㅡ Coréia do Sul ㅡ respondeu sem muita convicção ou interesse na voz, sem voltar a encarar o senhor de idade que parecia intrigado em prosseguir com as palavras e dúvidas para o jovem de cabelos escuros.

Sua falta de interesse não soava como um pedido arrogante para que o senhor apenas seguisse viagem e não trocassem qualquer outra palavra que faça Jimin falar demais ou que acabe se enrolando em suas próprias conclusões, mas um convite sincero para que o assunto fosse finalizado ali, de maneira sútil. Não tinham o que conversar, Jimin permaneceria em poucas palavras e preferia que o senhor de idade o achasse imodesto pela falta de palavras, não pelo excesso delas. Park tinha noção que muitas pessoas acabavam confundindo sua timidez e falta de preferência para conversar com petulância, estava acostumado com essas situações. Mas sua resposta soava como um singelo Por favor, prossiga a viagem, eu não estou muito bem para conversar agora e não quero acabar repercutindo com controvérsia por esta razão.

ㅡ Nunca fui, acho que nunca saí dos Estados Unidos. ㅡ Ele prolongou a conversa, rindo ao finalizar, a fim de quebrar o gelo que sua fala, provavelmente, instalaria.

ㅡ Espero que tenha uma oportunidade um dia. É um belo lugar, recomendo a capital. ㅡ Sorriu por educação, desviando o olhar logo depois. Manteve o olhar do outro lado da janela, não demorando para levar a mão até o botão e fechar a janela automatizada, prosseguindo com o olhar na paisagem ㅡ mesmo escura, desta vez.

Jimin sempre almejou que todos tenham a oportunidade de conhecer o mundo inteiro um dia, isso deveria ser o mínimo para a sobrevivência humana. Tantas histórias, descobertas, pessoas, chão para pisar, ares para respirar, comidas para degustar. Todos mereciam uma chance, mesmo que mínima, de aproveitar o melhor da existência e encontrar seu próprio lugar de paz, aquele que só conhecemos quando estamos ali, de frente para ele. Itália, Austrália, Japão, Rússia, Chile, África do Sul... Pode ser aquele que for, com a cultura que for, com os costumes mais improváveis e os estilos menos casuais; seu lugar de paz está em algum lugar do mundo. O deixava perplexo que nem todos tinham oportunidade de retirar este lugar de suas imaginações e começar a viver com ele, acordar e respirar fundo, dizer que tudo que tu precisas está bem ali. Podemos acreditar, na maioria das vezes, que nosso lugar de paz está bem ali e já vivemos nele, talvez num abraço ou sob um teto.

Entretanto, nunca conheceremos tudo com tamanha facilidade. Sabemos que nosso lugar de paz está ali, basta um único piscar de olhos ou uma troca de olhares; é um sentimento único e automático, sempre sabemos.

Seus olhos encontram sua atmosfera brilhante, seu coração palpita e te assemelham ao seu lar; você está em casa. Pode demorar até que perceba. Pode ser uma paisagem, um ambiente, uma situação ou alguém. Sempre existirá este lugar, basta encontrá-lo. É um choque. Você sente, você vive.

ㅡ O que te trouxe até Miami? Turismo? ㅡ O senhor voltou a indagar, curioso sobre a estadia do rapaz com quem dividia uma viagem. Jimin suspirou fundo, um pouco intrigado. Assumiu estar pensativo.

Turismo, Park? É para isso que você veio?

ㅡ Eu sou escrito. ㅡ Pressionou os olhos e chacoalhou a cabeça quando notou ter errado a pronúncia e mudado o sentido da frase, tardando de corrigir: ㅡ Digo, escritor. Perdão.

ㅡ Ah, sim. ㅡ Ele custou a entender, mas concordou com a cabeça e desviou o olhar para a estrada estreita logo depois. Batucou no volante, o olhando outra vez. ㅡ Eu não tenho muito costume de ler, sabe? Devem fazer anos que não paro para ler algo, mas minha filha lê muito. ㅡ Jimin sorriu com a informação, a fim de causar uma boa impressão. ㅡ Você é famoso ou algo assim? ㅡ perguntou sem se importar com a indelicadeza que sua questão carregava, virando na rua mais próxima, indicando que o hotel era logo ali ao lado.

ㅡ Eu apenas tenho leitores, senhor ㅡ respondeu com simplicidade, curvando a cabeça como forma de encerrar o assunto, sorrindo discretamente.

Seu sucesso ou qualquer tipo de números que carregasse nas costas não eram necessariamente uma informação para compartilhar de pessoa para pessoa, sem fins interessantes, como uma notícia que o deixe menos humilde e mais bem visto. Era um orgulho, de fato, mas uma conquista pessoal, dele e de seus leitores, cada um deles. Desde seus leitores até seus empregados ㅡ como SeokJin, por exemplo ㅡ eram os únicos com quem ele tinha orgulho de compartilhar esse tipo de conhecimento, pois tinha noção de que todos veriam como uma conquista sincera, um orgulho puro, alguém feliz por vencer mais uma etapa de sua vida, sem precisar provar nada para ninguém além de persistência em si mesmo.

"Insano! Muito mais que insano! Ele é incontroláááável. Senhoras e senhoras, tivemos uma grande competição hoje, sem dúvidas. Animados? É isso que eu gosto de ouvir. Tivemos uma competição difícil hoje, não é? Só competidores de grande habilidade. Brother, se fosse por mim, ia todo mundo pro mesmo prêmio agorinha. Tô errado, pessoal? É, foi o que eu pensei. Infelizmente, só um dos moleques ou das senhoritas levarão o prêmio hoje. Alguém consegue adivinhar quem é o nosso ㅡ ou a nossa ㅡ surfista destaque de hoje? Apostas, eu quero ver animação e apostas, turistas!"

ㅡ Tu vai querer ajuda com a bagagem? ㅡ questionou o velho homem ao parar o carro e encarar o autor, já introduzido no estacionamento ao ar livre.

Jimin paralisou e, então, o encarou.

ㅡ Creio que não precisarei, provavelmente deve ter algum daqueles pequenos veículos para carregar bagagens. Fico agradecido pela gentileza. ㅡ Inclinou o corpo num agradecimento, não tardando em guardar seus amendoins e sair do carro, fechando a porta apenas quando o pagamento estava finalizado. As malas eram sempre sua maior dor de cabeça. Como sairia dali para pedir ajuda dentro do hotel?

Olhou ao redor, intrigado com a situação. Aquele senhor não parecia com uma disposição física tão favorável para ajudá-lo, Jimin também estava com pavor de ser algum tipo de incômodo ou algo semelhante. Era certo instigar o velho homem para carregar malas recheadas de seus pertences? Hm, não...

Seus olhos percorreram o espaço presente em seu campo de visão, a fim de encontrar algo que pudesse ajudá-lo nessa jornada, até que estivesse dentro do hotel e aconchegado em seu quarto. Talvez um funcionário próprio para auxiliar na recepção, qualquer espécie de carrinho que fosse específico para este tipo de serviço ou uma alternativa que fizesse sua mente brilhar em alívio e uma ideia surgisse, algo que tornasse tudo isso mais rápido e prático. Entretanto, sentiu-se limitado pelo hotel. Nada ali era capaz de ajudá-lo, nem mesmo suas próprias mãos.

Suspirou. Ele precisava de ajuda e só existia uma pessoa para isso.

"Tudo bem, tudo bem. Chega de enrolação. Foram ótimas apostas, tenho que admitir. Antes de anunciar o vencedor, queria dizer que todos aqui foram muito bem e merecem mérito por isso. O mar sempre deve ser apreciado por todos."

"E, agora, que rufem os tambores! Uuuh, rufar das pranchas, essa eu curti! Preparem os corações, pois o nosso vencedor da noite é ele, não seria nem mais nem menos do que o..."

ㅡ Com licença, senhor. Desculpe qualquer coisa ㅡ murmurou de forma tímida, inclinando pouca coisa de seu corpo, até que estivesse visível na janela do automóvel. ㅡ Não encontrei algo ou alguém que pudesse me ajudar a carregar as bagagens. Seria muito incômodo mudar de ideia?

Park sorriu como se sua vida dependesse disso, sendo o mais simpático possível ao não demonstrar o quão intimidado e nervoso estava. Não por ser uma figura inferior ou até mesmo fraca naquela situação, mas porque sempre teve facilidade para livrar-se de problemas cotidianos de forma simples e quase sempre solitária; essa não era uma dessas situações, estava sem saída. Não sabia como o homem reagiria e, sabia que, um simples suspiro poderia partir seu coração e deixá-lo ainda mais inseguro, numa situação em que a insegurança era sua única autossabotagem.

ㅡ Capaz ㅡ respondeu, deixando Jimin confuso. Isso era uma gíria? O que poderia significar? ㅡ Estava esperando você pedir.

Ele sorriu outra vez, aliviado. Seu corpo ergueu de maneira sigilosa, provavelmente processando qualquer mísera sílaba que lhe fora direcionada. Aquele problema em tradução atingiu seu peito com sutileza, mas nada que ele não pudesse afastar e seguir viagem. Ele deveria mesmo se preocupar tanto em não entender alguém? Claro que não, e agradecia imensamente por saber como ignorar isso e fingir que sua mente estava silenciosa, vazia.

Com a bolsa pendurada em seu ombro, suspirou ao pôr as mãos ao redor de sua cintura, pensativo sobre o ambiente; fim de tarde, Miami. Ele poderia ter sido recebido de forma mais cautelosa, mas era óbvio que pedir por uma paisagem e ambientação melhor parecia crime. Girou os calcanhares até estar diante do pôr do sol que, anteriormente, alumbrava em tonalidades ardentes de uma paleta de cores quentes, tornando aquele lusco-fusco repleto de brisas acolhedoras, num afetuoso e esplêndido renascer de sorrisos carregados de pureza, sabendo que seu honroso convite para apreciar tal feito duraria muito pouco; logo o dia chegaria ao fim.

Poderia descrever cada uma das inúmeras cores extravagantes que ocupavam seu campo de visão naquele estado em que estava, mas seria demasiado prolixo em tentar até mesmo criar uma história para cada uma delas, cada uma delas com sua característica individual e sinceridade abundantemente realista.

Ao redor, pessoas que sequer sabiam de sua existência naquele instante. Desde de pessoas deixando a praia naquele fim de tarde pouco ensolarado, até funcionários recolhendo porcarias deixadas pelo chão de maneira irresponsável; lamentável, ele pensou. Respirou fundo e tentou, sem sucesso, encontrar a praia. Diante de si, enormes palmeiras cobriam sua visão absoluta do recinto ao ar livre, podendo jurar a si mesmo que aquelas extensas folhas podiam pincelar o céu sobre si. Dificultosamente, piscou pesado, provavelmente progredindo em seus pensamentos estrondosos e até mesmo falsificados, crendo fielmente que não estava com as melhores condutas, a fim de pouco julgar suas habilidades para cogitar todas as possibilidades de prosseguir o dia sem preocupações aparentes. Mordiscou o lábio com ternura e gentileza, propenso a demonstrar, sutilmente, que estava confuso sobre seu caminho a seguir. Surpreso não lhe parecia a palavra certa, mas ele não tinha colhão para despejar uma palavra melhor que fosse.

Estava abismado, sem dúvidas. Era um belíssimo lugar, uma gloriosa paisagem ㅡ mesmo com pouca visão dela.

ㅡ Em que hotel? ㅡ O senhor questionou de repente, acordando Park de seus devaneios escassamente concretos.

O autor virou ligeiramente em surpresa, encontrando o olhar perdido do idoso, não tardando em se aproximar e, educadamente, pegar algumas das malas que ocupavam suas mãos, escutando ele agradecer baixinho, provavelmente aliviado de que não teria que levar todas aquelas coisas sozinho, mesmo com rodas para auxiliar no carregamento de peso, dando maior facilidade.

ㅡ Bentley Beach Club, no Hilton. ㅡ Ele sorriu breve ao finalizar, indicando com o queixo a linha reta para seguir.

O senhor nada respondeu, apenas movimentou a cabeça em concordância, mantendo os olhos nos pertences em suas mãos, aquelas que certamente ficariam avermelhadas após tanto esforço. Por que estavam tão cheias e pesadas? Poderia julgar o turista, certamente, mas descartou quando alertou a si mesmo que sequer sabia quanto tempo ele ficaria para visitar.

ㅡ É um ótimo lugar. Os meus outros passageiros sempre falaram muito bem da hospedagem daqui. ㅡ Park suspirou aliviado pelo comentário do taxista enquanto andava ao lado dele.

ㅡ Li alguns comentários sobre o ambiente. De fato, parece um espaço agradável. ㅡ Com a voz angelical e controlada, comentou para não manter silêncio, erguendo o queixo disfarçadamente, tendo os olhos pressionados pelo feixe de luz solar que invadia seu espaço pessoal e atormentava sua visão.

ㅡ Vou deixar aqui na portaria, provavelmente eles vão chamar alguém para te ajudar. ㅡ Deixou as malas no chão, erguendo o corpo com as mãos na curvatura de suas costas, carregando uma careta que mostrava profundamente seu arrependimento em ter se abaixado. Encarou o autor e puxou o máximo de ar possível, tentando recompor as estruturas não tão favoráveis que ainda restavam em seu interior exausto.

Alinhou a passarela ao seu olhar, podendo seguir uma linha certeira que fora claramente a visão mais ampla que teve desde que pisou em Miami, julgando o caminho de concreto como a coisa mais útil para turistas, até então. Ela traçava uma reta perfeita até o outro lado do calçadão, podendo alcançar o outro lado da praia, como um enorme convite para caminhar até que conhecesse cada mísero centímetro da estonteante vista. Logo em frente ao hotel, as palmeiras ㅡ provavelmente colocadas ali artificialmente ㅡ eram um ponto forte da decoração, enfileiradas em perfeito estado até que chegassem no fim do que tinha de perspectiva ali. Elas pareciam perfeitamente moldadas para que dessem a ele outra noção de ambiente, uma que o fizesse relacionar ao paraíso, de que poderia ficar à vontade o suficiente para julgar estar em seu lar habitual. No entanto, elas refletiam uma linda imagem do ambiente alaranjado que o céu do entardecer transmitia, reluzindo em sombras que desenhavam claramente o pouco inclinamento presente nelas, das folhas dançantes que soavam friamente calculistas para mover seus corpos em conjunto com o vento das brisas fechadas e suaves. Os redemoinhos de areia baixos e quase imperceptíveis flutuavam do chão até que ultrapassem a altura de seus calcanhares, sumindo quando levados para longe.

Pouco pôde perceber a divisórias do edifício, aquele que continha em torno de três ou quatro prédios internos ao redor de uma imensa piscina ao centro, cercados por uma única fila de ambiente concreto, contendo mais de três recepções para o lugar eventualmente lotado. Ele parecia bem iluminado durante a noite, uma boa vista para um turista que estava para conhecer o melhor da praia em questão. Entretanto, estava aliviado que teria a visão perfeita do hotel, em caso de perda de memória ou apenas confusão na hora de encontrar sua localização exata. Com todas aquelas informações básicas em mente, ele aceitou que estava na hora de simplesmente adentrar o prédio e tratar de conhecer o espaço mais tarde, outro dia, ao decorrer da semana; ele não sabia quanto tempo teria para decorar cada mínimo centímetro de Miami e do que tinha de mais próximo, mas tinha em mente, em sua rotina, de que faria o máximo possível para que ficasse totalmente familiarizado em questão de dias absorto.

ㅡ Olá, boa tarde.

Foi simplista ao cumprimentar o único projeto de funcionário na portaria, juntando ambas as mãos atrás de seu corpo, cuidadosamente, tendo o queixo pouco erguido ao tentar manter sua postura, sorrindo ao que tinha olhos focados diretamente em si. Ergueu o corpo e estufou o peito, numa tentativa quase disfarçada de não falhar em cortar o assunto antes do tempo. O funcionário sorriu largamente, tão largo que Jimin sentiu suas bochechas doerem por ele; era bom, simbolizava que estava num dia bom. Cogitou ser apenas excesso de simpatia e educação, talvez grande quantidade de alegria ao trabalhar ou o simples sentimento de alívio, o expediente estava para chegar ao fim. Feição relaxada e ombros eretos, tinha os lábios expressivos, de forma que demonstrava sua tentativa mascarada de um sorriso na mesma intensidade, que foi mantido pobremente.

ㅡ Em que posso ajudar? ㅡ Ele questionou. Desviou o olhar no mesmo momento. ㅡ Essas são as suas malas? Precisa de ajuda no carregamento?

ㅡ Sim, por obséquio.

O funcionário ergueu as sobrancelhas em surpresa por sua súplica exagerada, mas deu de ombros como uma concordância, assumindo uma intimidade momentânea para pegar suas malas sem demora e levar até um dos pequenos veículos de mão, próprios para esse consumo em específico. Antes que Jimin pudesse agir e levar o restante das poucas malas que carregava consigo até o mesmo lugar, soltou um som imperceptível em surpresa ao que teve a presença do rapaz outra vez, puxando o metal do carrinho consigo desta vez. Ele sorriu uma última vez para o autor, deixando que um som baixo de uma risada tímida escapasse sem perceber, virando quase que no mesmo instante, podendo adentrar o lugar sem demora. Jimin sequer teve tempo para retribuir, pois se viu na obrigação de acompanhá-lo.

ㅡ Já esteve aqui antes? Temos ajudantes próprios para ajudar numa tour pelo hotel, em caso de interesse. Podemos te apresentar tudinho, com detalhes! ㅡ Ele sorriu outra vez, parando no balcão, aquele que não era distante da porta de entrada. ㅡ Sabe o número do seu quarto? Já tem uma reserva?

Céus, alguém realmente gosta de falar.

ㅡ Ah... ㅡ Pensou. ㅡ Sim, tenho as informações anotadas.

Retirou o bloco de anotações em papel num pulo de sua bolsa pendurada no ombro, começando a folhear sem pressa, vendo o funcionário perder minimamente o foco e começar um bate-papo tranquilo com outra pessoa, aquela do outro lado do balcão de recepção.

ㅡ Oitocentos e um, em nome de Park. ㅡ Foi tranquilo em responder, direcionando o olhar para o homem novamente, esperando por algum movimento.

ㅡ Um segundo, vou conseguir as chaves. ㅡ Uma piscadela foi lançada num instante, fazendo Jimin paralisar e levar a mão até o próprio peito, sem controle de seus movimentos, involuntariamente atacado pela situação.

Respirou fundo com certo receio, abaixando as mãos ao que desviou o olhar pelo hotel, procurando por algo que pudesse dar a ele uma nova informação sobre sua hospedagem no belo lugar. Chegou a conclusão de que não era um flerte, apenas uma gentileza além do limite.

Logo em frente, a recepção inteiramente em tons dourados, do chão até o teto. Disponível sobre ela, panfletos com informações rigorosas e essenciais em relação ao hotel, provavelmente. Atrás dela, outro homem bem vestido checava qualquer coisa que fosse, no computador logo em frente. As luzes amareladas e esbranquiçadas davam um toque jovial ao estabelecimento, deixando a desejar no quesito falta de cores extravagantes. Ao redor daquele mesmo belíssimo lugar em questão, a decoração recheada de uma moderna escolha de paleta de cores, num acinzentado, predominando sob o branco aparente. Plantas em cores nada vivas para todos os lados, pessoas saindo e entrando quase que a todo momento, sons de rodinhas de bagagens e conversas avulsas as quais ele não fez questão de perguntar a si mesmo se deveria exemplificar ou não. Sons de chinelos em contato com o piso frio sob seus pés, deixando a textura gosmenta causada pela água do mar tomar conta de seus tímpanos. Deslizando o olhar até o chão, uma rodela promissora de um artista de provável gosto peculiar, intercalando em branco e preto; um clássico, arriscava assumir. Mesas de vidro e luminárias para qualquer lado que olhasse, mármores com texturas rústicas como as pinceladas frouxas e inseguras de um coração convicto de personalidade, através de cores pastéis bastante interessantes e questionáveis.

Cruzou os braços em análise, como um auto convite para analisar o local com maior atenção, puxando todo o seu histórico de percepção para prováveis questionamentos, tais como Por que escolheram essa cor? Essa planta tem algum sentido especial para ocupar essa mesa logo em frente?

Ele não podia controlar, mas podia disfarçar.

Não era intuito julgar com desprezo, era apenas a curiosidade de saber o que se passa na cabeça das pessoas a todo momento e, porque, em alguma circunstância hipotética, em algum ambiente inoportuno, ele possivelmente faria diferente.

Estava ali para elogiar, não seria tolo de negar a perfeição e cuidado que tinham com cada detalhe daquele lugar que pouco tinha conhecimento.

ㅡ Senhor Park. ㅡ Sem voz, convocou. ㅡ Que honra.

Os olhos pragmáticos de Park focaram ligeiramente na direção que beirava o som, encontrando um senhor provavelmente mais velho que si, mas nada comparado com o taxista anterior. Ergueu o queixo na mesma hora, deixando que seus olhos formassem uma vistoria discreta sobre o homem, encontrando vestimentas casuais cobrindo seu corpo dos pés até seu pescoço. Camiseta polo fechada até que cobrisse cada milímetro de seu pescoço nada bronzeado, a logo do hotel estampada no canto externo como algo discreto no fundo totalmente preto. Calças de uma cor bastante condizente com o ambiente, quase a mesma tonalidade de dourado que continha atrás de si; concluiu ser o uniforme da figura superior aos outros. Os cabelos reprimidos para os lados, unidos em uma quantidade de algo que ele julgava ser gel para cabelos. Um sorriso a desenhar os lábios estupidamente finos, a pele branca de um homem que provavelmente vivia mais em sua sala administrativa do que vagando pelo recinto de trabalho reluzia com as iluminações embutidas logo acima de sua cabeça. Era um senhor bem vestido, sorridente e propício a receber o autor com o maior carisma que lhe fora ensinado em todos os seus anos de vida.

Adorável. Estava em casa.

ㅡ Senhor. ㅡ Curvou o corpo para um cumprimento longe de ser acelerado, fechando os olhos quando sua única ocupação no campo de vista foi o chão do hotel. Ao erguer o corpo outra vez, curvou os lábios num sorriso que não transparecia os dentes brancos, deixando que seus olhos fossem amassados pelas bochechas nada carnudas.

ㅡ Seja bem-vindo. Ficamos contentes pela preferência. ㅡ O homem vertiginoso deixou o espaço que ocupava antes e caminhou até o outro de cabelos pretos, alegre por ter a mesma altura que seu cliente, sem dificuldade para encará-lo nos olhos. ㅡ Fique à vontade, por favor.

Deixou seus olhos caírem de encontro ao crachá que mal tinha notado na roupa do homem, esticando a mão quase no mesmo instante que parou para ler seu nome e tê-lo em mente para um cumprimento solidário, por fim, dizer:

ㅡ Agradeço a recepção, Monroe.

Fixou o contato visual como uma forma de agradecer pelo carisma único que sempre se sentia muito aberto a receber, sabendo que não existe forma melhor para ter uma noção do que seriam os últimos dias de hospedagem ali e, principalmente, ter um gostinho de seu tratamento com o passar dos dias. Odiava essa questão de ter um tratamento especial por questão de números, mas não era como uma escolha que ele julgava necessária colidir contra. Contudo, era sempre reconhecido por alguém que claramente faria de tudo para deixá-lo à vontade. Não era merecedor de um tratamento especial por causa de fama, mas sempre ficava contente com o carinho de fãs; ele não deixava de ser um hóspede normal, com exigências normais, com pensamentos e condutas comuns.

ㅡ Nós, do hotel Hilton, ficamos honrados em receber sua visita e esperamos que fique bem conosco. Pretendo te acompanhar nessa jornada e apresentar cada canto do nosso hotel, para que não tenha dúvidas. Aqui ㅡ pausa rápida para pegar o folheto e entregar ao autor ㅡ contém o mapa com todas as localidades presentes no Hilton, pode ser de grande ajuda no futuro.

Park apenas concordava com a cabeça com tudo que era dito, não gostaria de interromper e acabar atrapalhando sem perceber.

ㅡ Seu quarto já está esperando pelo senhor da forma que nos fora pedido. Tivemos a liberdade de adicionar uma máquina de café expresso por conta da casa, além de toalhas quentes adicionais em dois horários do dia. A senha do Wi-Fi será entregue pela nossa camareira assim que você já estiver hospedado. Em caso de dúvidas ou qualquer outro tipo de emergência, qualquer um de nossos funcionários está disposto a auxiliar naquilo que for preciso. O interfone pode ser acionado a qualquer momento do dia, nossa recepção funciona vinte e quatro horas, mesmo com o horário de recolhimento e silêncio. Está com suas bagagens em mãos?

ㅡ Sim, sim. Um simpático cavalheiro fez questão de me ajudar com elas. ㅡ Usou uma das mãos para apontar discretamente até o carrinho em que as tais bagagens se encontravam, esticando a palma da mão para cima. Sem tirar os olhos do homem, franziu o cenho, a fim de prestar a atenção, mas não demorou para que sua feição estivesse relaxada outra vez. ㅡ Ele parecia de bem com a vida ㅡ comentou para descontrair, rindo fraco junto ao mais velho em sua frente.

ㅡ Se me permite, vou acompanhá-lo até o quarto. Fica no nosso prédio principal, com a sacada de frente para a praia, como pedido. Foi difícil encontrar um quarto disponível tão em cima da hora, mas fico feliz que tenhamos dado um jeito para que você fique bem acomodado.

Quando finalizou a fala, desviou o olhar para um suposto lugar distante, erguendo uma das mãos para estalar os dedos e aprontar para o carrinho ao lado do autor, indicando que alguém deveria ficar responsável para levá-las até o andar indicado que seguiam caminho.

ㅡ Chave da suíte oitocentos e um ㅡ pediu de forma séria ao recepcionista, o mesmo homem que apenas sinalizou com a cabeça e ficou um tempinho distante.

Assim que o homem estava de volta, Monroe notou suas mãos vazias. Franziu o cenho para a situação e permaneceu confuso, mesmo que sem uma resposta aparente.

ㅡ Não está junto com as outras, alguém deve estar limpando ou arrumando algo lá dentro. ㅡ O responsável pela recepção comunicou, fazendo Monroe arquear as sobrancelhas pela surpresa. Parecia improvável, ele pensou. Apenas concordou com a cabeça e aceitou a hipótese; não era tão impossível quanto ele pensava, mesmo que todos os funcionários responsáveis pela limpeza e manutenção tenham suas próprias chaves ou são presentados com chaves reservadas, deixando com que as outras sejam exclusivamente para os hóspedes.

ㅡ Espero não estar causando nenhum transtorno e que não tenha feito confusão com minha reserva de última hora, mas me pareceu o melhor hotel para ficar durante essa época linda para trabalhar. ㅡ Park comentou, observando Monroe voltar a caminhar e guiá-lo até o elevador mais próximo.

As bagagens seriam levadas em seguida, por um funcionário exclusivo para isso e pelo elevador de serviço; não existia preocupação.

ㅡ Isso não deveria ser uma preocupação. Já tivemos que lidar com esse tipo de situação diversas vezes e respeitamos sempre a situação dos nossos hóspedes, algumas das hospedagens também são feitas pela recepção, na hora em que chegam aqui. Sempre sabemos como lidar, senhor Park.

Aquele homem era claramente mais velho do que Park, mas por que diabos era ele quem estava sendo chamado de senhor?

ㅡ Fico menos apreensivo, então. Em todo o caso, peço perdão da mesma maneira. Não imagino que seja uma experiência muito favorável. ㅡ Adentrando o elevador nada muito exagerado, juntou as mãos em frente ao corpo após ajustar sua bolsa, deixando seu bloco de notas guardado novamente.

Park passou a mão pelos cabelos escuros e respirou fundo, assistindo as portas do elevador juntarem-se uma à outra, cruzando até que estivessem fechadas e ele não tivesse mais acesso ao lado externo do local. Olhou ao redor outra vez, como força do hábito que ele não fazia questão de esconder, pois tinha certeza que ele nunca deixaria de ser discreto e formal em qualquer coisa que fizesse, então não era algo que o deixava visivelmente desconfortável, muito menos alguém que ocupava o mesmo ambiente que ele.

ㅡ Deu tudo certo com o pagamento? ㅡ Ele ousou indagar após poucos segundos silenciosos dentro do cubículo, direcionando o olhar para o rapaz de aproximadamente quarenta anos de idade.

Ele encarou o autor surpreso e fez questão de demonstrar, com sua expressão, que estava prestando a atenção em tudo o que lhe era dito já na primeira palavra proferida pelo jovem. Concordou com a cabeça, juntando as mãos em frente ao corpo da mesma maneira que ele. Jimin com os dedos rodeando um dos pulsos, enquanto o gerente apenas uniu os dedos.

ㅡ Sim, tudo certo. Ficamos contentes que tenha pagado tudo com adiantamento, demonstra sua confiança em nosso empenho e dedicação para manter o local agradável e seguro. Espero que saia daqui sem arrependimentos. ㅡ Suspirou de maneira orgulhosa. Parecia nervoso perto da figura famosa, mas era evidente que, de todos os outros ao redor, ele era o único que realmente conhecia e admirava o trabalho de Jimin.

ㅡ Não poderia pedir por uma recepção melhor, fiquei surpreso com a simpatia imensa que todos carregam. ㅡ Sorriu de volta, parecendo sem jeito por estar elogiando tão descaradamente.

ㅡ Damos sempre nosso melhor.

Fora sua brecha para voltar a explicar qualquer detalhe importante ㅡ ou não ㅡ presente no hotel e que fosse útil ㅡ ou não ㅡ para Jimin durante sua hospedagem nesses dois meses completos e alguns dias que ele não fez questão de adicionar aos detalhes enquanto contava para SeokJin sobre sua decisão maluca. Contou desde o serviço de quarto servido a qualquer horário do dia de forma paga, até os pontos essenciais para uma boa diversão de verão ㅡ como a piscina, por exemplo. Era um lugar chamativo, interativo, recheado de atrações que provavelmente distrairiam Park, caso ele fosse alguém que soubesse aproveitar férias ㅡ ou estivesse ali por conta delas. À vista disso, ele não arriscou mencionar que preferia passar o dia inteiro sentado na varanda, sugando a brisa para seus pulmões e deixando que a energia contamine sua imaginação fértil de um homem cansado do mundo real, do que exercitando glúteos na academia do hotel. Seria inconveniência sua cortar todo o clima que o gerente super entusiasmado criou e a atmosfera flexível que ele fazia questão de manter por um tempo, mas não podia evitar de continuar sendo o cara reservado de sempre. Apenas escutou, de mente e lábios calados, cogitando sua intenção nada convidativa de, talvez um dia, testar qualquer um dos espetáculos contados pelo outro com o maior orgulho que já vira em toda sua vida.

Tinha intuito de conhecer a praia, tocar a areia, fortalecer os sentimentos, pensar um pouco, respirar fundo e, por consequência, se entregar a qualquer coisa absurda que viesse em sua mente num momento de loucura.

Conhecer os pontos turísticos de Miami, absorver conhecimento sobre o lindo lugar, ir em outra cidade próxima. Talvez estivesse fora de sua lista conhecer pessoas novas pelo ambiente, pois esta nunca era sua intenção quando viaja à trabalho. Contudo, ele não se via a par de negar um educado "bom dia" de alguém apenas por esse pensamento recorrente.

ㅡ Os restaurantes podem ser encontrados facilmente pelos arredores do hotel, aqui vendemos muito frutos do mar. Caso goste, está no lugar certo. ㅡ Brincou, mas Jimin apenas riu fraco pela timidez. ㅡ Algumas cápsulas para o uso da máquina de café foram deixadas também como cortesia para o uso gratuito, então sinta-se à vontade para comprar, caso não seja sua preferência. Uma vez ao dia alguém irá limpar seu quarto, então aconselhamos aos nossos turistas que deixem o quarto por pelo menos uma hora por dia, nem que seja para o almoço ou apenas um passeio na praia. Desse jeito, não haverá confusões com espaço ou movimentação indesejada.

ㅡ Certo. Pretendo ficar um bom tempo do dia fora do quarto, mas gostaria de passar o fim de tarde nele.

ㅡ Você já tem informação sobre os festivais de música eletrônica que acontecem todos os finais de semana no verão em South Pointe? ㅡ O autor negou com a cabeça. ㅡ Pois bem, é livre para todas as idades e qualquer público de interesse, além de ser gratuito e voluntário, com a participação de DJs regionais diferentes em todas as ocasiões. Existem exceções, como músicas de outros gêneros. ㅡ Foi interrompido pelo autor.

ㅡ Eu não sou muito interessado neste tipo de evento.

ㅡ Nesse caso, é bom ficar ciente. ㅡ Sorriu. ㅡ Amanhã à noite teremos uma pequena festa para os hóspedes do Hilton, boa parte formal. Open bar, apenas adultos e música ao vivo, de forma controlada e pouco agitada. Creio que esse é o tipo de evento de seu interesse, estou certo?

ㅡ Sim, está. Mas prefiro dispensar no momento, perdão. ㅡ Inclinou apenas a cabeça outra vez, a fim de se desculpar. ㅡ Caso mude de ideia, tratarei de comparecer. Agradeço o convite. ㅡ Sorriu ao finalizar.

Antes que pudesse prosseguir com suas falas, o gerente foi interrompido pela abertura das portas do elevador, revelando o corredor vazio, silencioso e bastante iluminado ㅡ tanto pelas luminárias quanto pela luz do sol se pondo na janela. O belíssimo lugar continha carpete por todo o chão, a maciez do tecido felpudo ainda não fazia Jimin ser capaz de sentir a suavidade, justamente porque seus pés estavam cobertos pelas alpargatas que usou desde que deixou sua casa na Coreia. Seus olhos averiguaram o ambiente com cautela, podendo sorrir para o imenso lustre que decorava um pequeno espaço. Um círculo, tal como um espaço redondo interligado por extensos corredores, recheados de suítes já ocupadas à essa altura do campeonato. Ao centro desse local ㅡ que mais parecia uma pausa para descanso ㅡ poltronas de todas as cores condizentes com a paleta de cores do hotel ocupavam ali, junto de quadros, abajures e plantas que ele não se viu na necessidade de questionar qual tipo, tamanho e idade delas.

ㅡ Esperamos que goste do quarto, senhor Park. Não é a nossa maior suíte, mas foi o que conseguimos de última hora e de frente para o mar, na presidencial. ㅡ Ele alertou, sabendo que isso serviria de aviso prévio para qualquer coisa que desse errado ou fosse mal visto a partir daquele instante; estava claro que não era a intenção e que estava longe de ser.

Sabia que Park estava longe de ser um homem ganancioso, mas nunca sabia o que esperar de pessoas de alta classe e muito menos famosas nesse nível.

Criou um estereótipo de personalidade padrão em sua mente, era difícil manter Jimin fora dessa. Entretanto, não deixaria de tratá-lo com todo o amor do mundo, principalmente por causa de controvérsias e pensamentos de fontes não confiáveis.

"Nunca um panda havia sido tão temido..."

ㅡ Oitocentos e um, chegamos ㅡ disse o gerente. ㅡ Vamos ver se a porta está aberta. Seria um absurdo alguém ficar com a sua chave.

ㅡ Tem razão.

ㅡ Pode abrir, eu faço questão. Conheça seu quarto.

"...e tão amado."

Mão rodeando a maçaneta gélida pela temperatura congelante que deixava o ar-condicionado, ar preso em seus pulmões despreocupados, olhar baixo e cenho franzido.

O pulso direito girou em sintonia com os dedos que mantinham o esforço intacto para abrir a porta sem preocupação, apenas carregado por um sentimento de empolgação que o deixava aéreo e pensativo, provavelmente recheando a própria mente de dúvidas que faziam suas lembranças das imagens dos quartos do hotel se tornarem apenas algoritmos distantes e desmanchados. Empurrou a madeira clássica de uma porta de norte-americanos padrões e de acessibilidade questionável, agora, com a porta totalmente aberta.

Foi preciso milésimos imperceptíveis para que seu olhar estivesse erguido e retirado da maçaneta, tendo a certeza absoluta que a cena diante de seus olhos era a última que esperava ao abrir um quarto alugado por muito mais que mil dólares tirados de seu bolso. Focados na figura, seu ritmo de piscadas travou e seu coração acelerou, tal como sua energia compactuava para que a imagem ficasse ainda mais catastrófica para com ele.

Até os heróis mais heróicos de toda a China, os cinco furiosos, curvavam-se diante desse grande mestre.

Os cabelos longos e tão dourados quando o Sol do lado de fora do prédio estava escorrendo feito água para baixo, a cabeça baixa e o joelho ao chão, numa reverência pouco trabalhada de alguém sem postura ou seriedade em seu ato um tanto infantil para a situação. O corpo coberto por gotículas de água e um roupão estupidamente branco, retirado direto do banheiro do quarto em que estava ocupando naquele exato minuto. O rosto ainda não visível, a situação ainda sem explicação, uma das mãos erguidas para o alto e o corpo magro encolhido em seu estado mais natural de relaxamento para sua posição caótica.

Ele.

Droga, Jungkook, precisava mesmo apreciar seu desenho animado favorito logo agora? Num hotel repleto de quartos propícios a serem invadidos por pessoas desconhecidas a qualquer momento?

O garoto até então desconhecido prosseguiu com sua performance, aquela que Jimin não ousava tentar adivinhar qual era a inspiração e muito menos o objetivo. Monroe congelou dos pés à cabeça, tendo os lábios afastados minimamente, demonstrando seu pavor com a cena ou com o que Jimin pensaria da forma mais pura que seu corpo pudesse produzir. Franziu o cenho no mesmo instante, procurando pelo número do quarto na porta que Park ainda segurava com uma das mãos. Quarto oitocentos e um, estava certo. O que aquele garoto estava fazendo ali, afinal? E, ainda por cima, agindo como um personagem de um desenho infantil que, claramente, nem um dos dois mais velhos ali conheciam ou se esforçavam para conhecer.

Avistaram o loiro ainda em silêncio, erguendo seu corpo num pulo surpresa, o mesmo que usufruiu para girar no lugar e erguer uma das pernas em um golpe fraco no ar, parando com a mesma perna esticada e os joelhos flexionados, esticando os braços em uma posição de alguém que estava prestes a atacar um inimigo, concentrado e imerso em seus próprios pensamentos, acreditando estar vivendo junto ao filme super animado que passava na televisão.

Mas, ao fim, o loiro concluiu:

ㅡ Vamos dar um rolê.

Ditou junto ao personagem do filme que assistia na televisão do quarto, escutando o restante das palavras enquanto simulava golpes semelhantes ao do desenho que tanto acreditou ser fã por anos, até mesmo quando cansou e, agora, estava criando o costume de voltar a assistir com frequência. Num quarto daqueles, ele não seria bobo de perder a oportunidade de assistir Kung Fu Panda comendo uvas e tomando um grande copo de vitamina de mamão, uma de suas favoritas. Se deu ao luxo de não trancar a porta e tomar um longo banho de banheira antes de relaxar na cama gigantesca e macia do quarto mais caro do que ele podia imaginar ou até mesmo pagar; seria uma única oportunidade na vida, tinha consciência disso. Todavia, não enxergou necessidade em trancar a porta, uma vez que considerou que ninguém seria capaz de invadir um quarto ocupado sem avisos antecipados.

De sua boca, em algum momento e por alguma circunstância absurda, começou a emitir sons de luta e esforço físico, enquanto seu olhar vagava por cantos distantes do quarto e também ficavam fechados por boa parte do tempo.

ㅡ ...os dez mil demônios da montanha do demônio, ㅡ falou junto ao panda, juntando as duas mãos sobre um dos ombros, sacando de lá uma espada que vinha de fruto de sua imaginação. ㅡ só existe uma coisa que importa.

Monroe se viu na obrigação de tomar alguma providência, mas tão pasmo e sem graça que sequer teve coragem para abrir a boca e pedir perdão para Park, mesmo que ele não soubesse o motivo daquele transtorno todo e, consequentemente, não tivesse culpa alguma em relação ao acontecido. Jimin ainda estava paralisado no lugar, a feição tão crua e fria que ele não poderia transparecer mais impaciência do que naquele instante, em toda a sua vida, uma das mãos pressionando a maçaneta que ainda segurava com mais esforço do que a outra, provavelmente descontando toda e qualquer coisa que fizesse seu corpo ferver bem ali, naquela pobre e simples maçaneta. Seus olhos mudaram a direção quando, no campo lateral de uma visão aflita e detalhista, encontrou o cobertor branco e brilhoso repleto de uvas atiradas para todos os lados, junto de uma bandeja com outras frutas que não tiveram a audácia de cair junto ao círculo esverdeado. Na mesa de cabeceira, um copo preenchido até a metade por um líquido alaranjado que parecia ter pedaços da polpa da fruta utilizada para as misturas. Ele não parecia organizado e muito menos cauteloso na hora de comer; isso era desastroso.

Quando Monroe deu o primeiro passo e Jimin sentiu isso atrás de si, fez questão de virar o queixo na direção de seu próprio ombro e erguer a palma da mão livre, tal como um pedido silencioso para que ele não desse mais nem umpasso e muito menos abrisse a boca para falar algo.

Na concepção de Park, seria menos vergonhoso se ele os visse ali antes que lhe fosse chamada a atenção.

ㅡ Que é...

Dito e feito.

Os olhos do loiro finalmente se encontravam abertos e foi preciso um mínimo tempo para ele notar, de canto de olho, que ele não era o único a preencher o espaço do quarto. Seu corpo travou e sua coluna endireitou, até que seus braços estivessem juntos ao seu corpo novamente e que nenhum som de espada artificialmente feito deixasse seus lábios finos e ressecados graças ao Sol escaldante e ao salgado do mar. As bochechas e o nariz queimados do Sol e a falta de cuidado na hora de sair de casa deixaram de ser apenas um detalhe rosado e se tornaram ainda mais avermelhados que anteriormente, esclarecendo toda a sua vergonha pela forma como fora abordado e os questionamentos que fazia sobre quanto tempo aquelas pessoas estavam ali e o quanto eles viram de sua diversão ingênua de fim de tarde. Juntou as mãos em frente ao corpo e sentiu encolher no lugar, sugando os finos lábios para o interior, pressionando um sobre o outro, não impedindo que seus olhos estivessem arregalados e focando totalmente no rapaz de cabelos pretos e camisa azul de botões que segurava a porta, parecendo tão sem graça e intimidado pela situação quanto ele. A pele bronzeada do rapaz de cabelos longos arrepiou e ele sentiu ela queimar sob as peças de roupas quentes que usava, sendo apenas o roupão tão quente assim ㅡ já que por baixo usava roupas frescas. Seus dedos enrugados pelo excesso de tempo embaixo da água contraíram e uniram-se em desavenças, projetos de pensamentos que faziam dele tão perdido e assustado que nem mesmo tinha capacidade para processar sua situação.

Céus, o que estava acontecendo ali?

Quando o garoto de cabelos longos e loiros focou no mais velho dos três ali, percebeu que não estava totalmente sem saída.

ㅡ M-Monroe. ㅡ Falhou em tentar parecer convicto de seu cumprimento, alisando suas próprias mãos em nervosismo, rindo de forma adorável ao que percebeu estar tão sem jeito que sequer conseguia sair do lugar. Cobriu seu lábio inferior com os dentes, sabendo que aquele sorriso causou ainda mais vermelhidão ao seu rosto.

Jimin ergueu uma de suas sobrancelhas em julgamento, uma incógnita gigantesca que surgiu no ar, tardando em detalhar cada uma das características possíveis que encontrasse no físico do garoto que não parecia estar no lugar certo. Seus cabelos longos passavam da altura de seus ombros, úmidos, como se ele tivesse acabado de sair de um banho demorado e caprichado, num tom de loiro que parecia puramente natural. Seus olhos eram em um tom caramelo que custava a mudar de cor, ficando ainda mais claros e brilhantes quando em contato ao Sol que adentrava pelas portas de vidro que levavam até a sacada e que, por agora, não estavam com as cortinas de seda fechadas. Trajava um roupão branco com o logotipo do hotel estampado no canto, algo que Jimin tinha certeza que usaria, casualmente, caso não estivesse sendo utilizada por um desconhecido, um cujo qual ele não tinha ideia do porquê ocupava um quarto que deveria ser seu. Foi preciso uma concentração além de sua capacidade para inverter seu foco e encarar outro ponto que não fosse a feição assustada do rapaz, encontrando ao canto uma prancha de surf suja, repleta de provável água do mar, areia e outras marcas que ele resolveu não tentar encontrar uma explicação.

Esse era o projeto de surfista que tanto ouvia falar em clichês? As lendas eram reais, de fato.

Um surfista. Ótimo.

Jimin pressionou os olhos por míseros instantes, processando todo o tipo de informação que lhe fora entregue além do limite que ele acreditava aguentar e muito mais depressa do que sua mente era capaz de aferir, atordoado pelo forte aroma de capim-limão impregnado no quarto, misturado com a água salgada que qualquer projeto de homens daquele tipo carregavam consigo para qualquer canto que fossem. Insuportável.

Jimin não sabia ao certo se estava sendo intolerante por causa da falta de profissionalismo do hotel que investiu tanto dinheiro, pela bagunça que foi feita sem que ele tivesse controle da situação em sua propriedade ou se era pelo motivo mesmo provável, aquele que deixava explícito que Jimin não estava interessado em dormir lembrando desse momento sempre que não pudesse controlar, afinal, dormiria sentindo aquele cheiro forte e de uma combinação bastante incomum que rapaz exalava apenas por existir. Seu sabonete líquido, provavelmente. Um shampoo, perfume ou apenas hidratante corporal; ele não tinha certeza, mas reconhecia aquele aroma de longe. Era um fator importante no quarto e uma simples limpeza não seria o suficiente para retirar.

ㅡ Tá tudo tranquilo? ㅡ O loiro questionou quando o silêncio se instalou no quarto, podendo escutar apenas a animação que ainda rodava na televisão. Sua voz era baixa, um tanto trêmula. Sua dúvida não era sobre o estado dos outros homens mais velhos, mas sim, sobre o porquê deles estarem em seu quarto tão abruptamente.

Antes de esperar por uma resposta, o surfista esticou a mão até o controle remoto atirado sobre a cama, desligando a tevê no mesmo instante que a ponta do controle estava apontada para ela, permitindo que o silêncio ficasse ainda mais constrangedor e intimidante. Ficou quieto por um momento, para logo depois encarar a sujeira sobre a cama e, então, encarar o responsável ali na mesma fração de segundo, apavorado, imaginando sua imensa falta de boa impressão.

ㅡ Eu juro, juro, juro por tudo que foi sem querer, eu nem vi que tinha caído.

Suas sobrancelhas uniram-se e ele deixou que seus ombros caíssem em submissão quando não recebeu uma resposta, mas sim, uma pergunta no lugar.

ㅡ O que está fazendo aqui, Jeon? ㅡ Monroe foi o questionador.

Não era óbvio o que ele estava fazendo ali?

ㅡ Hoje foi o campeonato, lembra não?! ㅡ Toda a confiança que tinha na hora de falar morreu e ele voltou a encolher o corpo quando encarou o outro homem desconhecido ligeiramente, não tendo colhão para manter o contato visual por mais tempo; ele parecia extremamente zangado. ㅡ Eu ganhei.

ㅡ Oh, sério? Meus parabéns! ㅡ O gerente sorriu orgulhoso, erguendo os polegares em afirmações de animação, fazendo Jungkook rir de forma tímida e concordar com a cabeça.

Não podia esconder o alívio que sentiu quando Monroe pareceu mais flexível e a circunstância ficou mais confortável.

ㅡ Foi irado! O Kyle levou uma queda insana lá, geral riu. ㅡ Ele riu junto ao mais velho, abanando o ar com uma das mãos, tentando controlar seus instintos de rir alto por ter lembrado, mas ele raramente ria deste jeito em algum lugar que não fosse na roda de seus amigos ou com alguém que tinha um nível elevado de intimidade.

ㅡ Imagino. Esse foi o seu prêmio? ㅡ Monroe voltou a questionar, demonstrando interesse mútuo pelo assunto, interagindo com a empolgação de Jeon ao contar sobre os acontecimentos.

Um dos grandes patrocinadores fiéis dos campeonatos pequenos e humildes que aconteciam na praia era o hotel em questão. Eventos sempre foram um foco grande quando o assunto era auxiliar jovens em ocasiões as quais eles não tinham condições de praticar e presenciar com frequência, então era de extrema importância para eles dar prioridade aos diversos acúmulos de presentes e coisas bem pagas para o mesmo grupo de surfistas que sempre estavam na praia, seja para ondas casuais, ajudar em eventos como os festivais de festas, vender alguma coisa com muito esmero, voluntariar ações interativas para turistas perdidos e pouco informados sobre as diversas atrações distintas na praia, conversar ou só fazer amizade para trocar experiências em dias ensolarados. Era um grupo nada seletivo, mas que sempre foram reconhecidos por serem as mesmas pessoas, sempre unidos. Não eram reconhecidos mundialmente, muito menos famosos naquilo que faziam com moderação, mas sim, conhecidos pelas redondezas, seja de funcionários de empresas ou lojinhas simplistas ao redor, como por moradores da cidade que sempre marcavam presença na mesma praia de sempre, a gloriosa do Sul de Miami, a mesma amada por todos. Premiações pequenas eram bancadas uma vez por semana para estes surfistas apaixonados pelas ondas, tal como jantares em restaurantes além do que estão acostumados, noites no hotel de luxo que também é um dos fornecedores, passeios ou qualquer coisa que fosse o suficiente para alegrar um pouquinho o dia de algum dos jovens. Se enfrentavam de maneira saudável, sem rivalidade e muito menos foco no prêmio principal; diversão em geral. Pureza, alegria, companheirismo, gentileza e amizade. Jamais estariam ali para destruir uns aos outros. Um lugarzinho pequeno, aquele em que todos se conheciam.

O prêmio da vez era um dia num dos melhores quartos do Hilton em frente à praia ㅡ uma pernoite, na realidade. O vencedor teria acessibilidade a qualquer um dos luxos de seu interesse, desde comida à vontade até os sais especiais mais caros fornecidos pelo hotel para um longo e relaxante banho na hidromassagem do quarto. Todos estavam loucos pela noite de hoje, não tinham como negar. O ganhador da vez fora o garoto que menos tinha condições para bancar uma noite dessas sozinho apenas por luxo, Jungkook.

Naquele dia, o quarto estava reservado para o ganhador, assim como estava reservado para Jimin também. O dono do hotel ㅡ verdadeiro patrocinador ㅡ tinha noção que Jungkook estaria ali a partir das cinco horas da tarde, Monroe, o gerente, não. Monroe ficou responsável pela reserva de Jimin em específico, feita há um dia atrás. Enquanto isso, ainda não constava no sistema que alguém estaria presente naquele quarto no mesmo dia, principalmente porque o campeonato não tinha acontecido e um ganhador não fora convocado.

Ou talvez sim, mas Monroe estava mais focado na reserva feita pelo autor, o suficiente para não notar seu próprio erro. Tudo falta de comunicação, afinal.

ㅡ Foi sim. Tu tinha que ver a onda que eu peguei, sem caô, merecido demais. A Hyun também foi super bem, saca? Mas, papo reto, todo mundo merecia estar aqui, foi sinistro demais! A onda era maior que eu e você juntos. Nem parecia real, Monroe. Na próxima, vê se aparece lá. ㅡ O sorriso de canto encantador reluziu e ele apontou para o mais velho, tal como se o alertasse de um aviso de extrema importância, aquele que jamais deveria ousar deixar de lado.

Jimin ainda estava em silêncio, constante e surpreendente silêncio, estático na mesma posição. Ele queria ver até que ponto aquilo iria.

ㅡ Eu queria ter visto, me lembra na próxima. Inclusive, o que tu...

Abruptamente, foram interrompidos.

A risada sem humor e desacreditada de Jimin preencheu o quarto como um tiro, tão baixa para parecer insignificante, mas tão assustadora para parecer ensurdecedora. Como um pigarreio breve e nada intensificado, levando menos de um segundo para ser finalizado e dois para ser esquecido. O de cabelos pretos intercalou seu olhar entre o loiro em sua frente, do outro lado do quarto, e o empregado atrás de si, podendo virar pouca coisa de seu corpo para que não prejudicasse a visão, instintivamente ofendido pela situação. De sobrancelhas arqueadas e a ponta da língua surrando o interior de sua bochecha, ele se viu em seu limite, o suficiente para se permitir perder a postura.

E Park Jimin jamais perdia a postura.

Es-tu sérieux? Isso é sério? Está gozando com a minha cara? ㅡ questionou em êxtase pelo incômodo, passando as mãos em suas roupas, endireitando a coluna e erguendo o queixo, estressado.

Jungkook travou outra vez, chocado. De lábios minimamente afastados e olhos perdidos, ele encarava Monroe com dúvida, tal como se questionasse quem era aquele homem e por que diabos ele estava tão furioso. Permitiu que seu queixo chegasse próximo à clavícula, abaixando a cabeça em receio de reagir ao momento, os olhos arregalados para permitir a observação da cena, escolhendo ficar em silêncio e escutar o provável sermão que se aproximava. Monroe não estava muito diferente. O homem mais velho segurou em seu cinto por longos segundos prolongados, desviando o olhar ao que não soube responder e muito menos compreender o que se passava ali. Estavam ambos sem saída, mas Jimin se viu na oportunidade de chutá-los até ela.

Estava inconsciente, pura adrenalina. Sabia que essa era uma das poucas vezes que ficava tão impetuoso e ríspido com pessoas inofensivas, e também sabia que isso era tudo consequência de um enorme cansaço pós viagem.

ㅡ A última coisa que eu aguardava para a finalização de um dia magnífico desses era a primeira decepção com um hotel que eu sequer tenho familiaridade, senhor. E, se me permite dizer, é insultante que uma situação como esta esteja acontecendo comigo. Acompanhei todo o processo de pagamento, pesquisei e confiei no trabalho que me fora prometido antes mesmo de eu pensar em conhecer Miami. E eu não aceito, de forma alguma, que eu seja humilhado dessa forma por dois... dois... insolentes infantis que não sabem como manter uma conversa formal e respeitosa! ㅡ Extravasou tudo o que pôde, arrependendo-se no segundo seguinte. ㅡ Perdão, não foi isso que eu quis dizer. ㅡ Respirou fundo para acalmar os nervos, usando um dos dedos para massagear a têmpora direita. ㅡ Eu só quero que as medidas sejam tomadas logo e que seja feito o que quer que tenha que ser feito.

Levou a mão ao peito e inclinou a cabeça, para complementar:

ㅡ Por obséquio.

Jungkook segurou um sorriso quando abaixou completamente a cabeça e ergueu as sobrancelhas, pasmo pela tamanha intelectualidade exprimida pelo rapaz desconhecido até então. Juntou as duas mãos em frente ao corpo e manteve a boca fechada, ao mesmo tempo que levava o queixo para baixo em um sorriso contido, como se tivesse a intenção de expressar o quão surpreso estava e como era compreensível que ele estivesse estressado em proporções absurdas; além de tudo, era engraçado.

E ele não se deixaria levar por um insulto tosco como ele. Estava bem, principalmente por ter se colocado no lugar do outro por um instante. Mas isso também poderia ser consequência do quão desgovernado estava, pois não tinha ideia do que se passava ali.

Monroe ficou em silêncio novamente, assim como tinha feito nos últimos segundos passados. Desviou o olhar algumas vezes, como se implorasse para alguma força superior, que não precisasse enfrentar seu problema desse jeito, tão descaradamente. Tinha cometido um erro grotesco pela primeira vez e a vítima era seu ídolo literário. Como ele esconderia o rosto nessa situação? Era incabível bater no peito com orgulho de uma falha absurda dessas.

ㅡ Senhor Park, eu sinto muito, muito, muito por isso. Eu me responsabilizo totalmente pelo ocorrido e vou me certificar de resolver isso agora mesmo. ㅡ Juntou as mãos em frente ao queixo, implorando por misericórdia de maneira muda.

ㅡ Alguém pode me explicar, tipo, o que tá pegando aqui? ㅡ Jungkook arriscou indagar entre a discussão, mas penitenciou quando recebeu a fuzilação de um olhar fervente em impaciência, engolindo em seco pelo temor.

Jimin, involuntariamente, encarou seu corpo dos pés à cabeça, acreditando num julgamento silencioso minimamente concreto sobre o garoto em questão. Ele parecia estar confuso e perdido, então imaginou que aquela bagunça toda não fosse proposital. Entretanto, não era óbvio o que estava acontecendo? O pescoço de Park virou no mesmo instante que ouviu a voz do suposto sufista, o encarando como se estivesse próximo de cometer o único crime de ódio que teve vontade de realizar em toda sua vida, mas não o faria. Só estava cansado e aquele garoto só parecia estar confuso. Estava tudo bem. Nem um dos dois tinha culpa.

ㅡ O quarto estava reservado para ele, mas acabou que o quarto também já estava reservado para você. Não tenho ideia de como isso aconteceu, mas sinto muito pelo transtorno. ㅡ Monroe explicou, aliviado ao que escutou Jimin suspirar e abaixar a cabeça, fechando os olhos pela concentração.

Precisava urgentemente de um analgésico para aliviar a dor de cabeça.

ㅡ Sério? Que chato, brother ㅡ resmungou, demonstrando decepção ao que olhou para o chão e negou com a cabeça. Jimin estava o olhando muito, então ele não se via com coragem o suficiente para encarar em frente com convicção. ㅡ E o que a gente faz agora?

ㅡ Eu irei até a recepção e encontrarei uma forma de tornar favorável para ambos. Senhor Park, você terá seu quarto, organizado e limpo, da forma que alugou. Jungkook, igualmente. ㅡ Intercalou os olhares enquanto falava, observando Jimin cruzar os braços e concordar com a cabeça, menos estressado dessa vez; estava confiante de que tudo seria resolvido e que ele teria um quarto só para ele em breve.

Não demorou para que Monroe pedisse, sem muito exagero na voz, licença para que pudesse deixar o aposento e caminhar com rapidez até o elevador, sem preocupação em olhar para trás e muito menos dizer qualquer outra palavra que fosse comprometedora para si; estava em local de risco, qualquer coisa poderia deixá-lo ainda mais encrencado e mal visto em seu emprego. Se isso chegasse aos ouvidos de seu superior, estaria oficialmente no fundo do poço.

Foi a brecha perfeita para Jimin ficar com o corpo totalmente na direção do centro do quarto, quase como se estivesse de frente para Jungkook e concentrado em não manter qualquer tipo de contato, tanto visual quanto verbal. Não o culpava pela situação, mas também não via necessidade em conversar quando tudo o que se precisa fazer era esperar e ver o que acontece, no final das contas. Os braços cruzados em perfeita relutância, demonstrando expressivamente, com clareza, sua falta de compreensão para toda aquela correria. O cenho visualmente pouco franzido em desgosto, movimentando os lábios ao sugar os interiores de suas bochechas até que tocassem seus dentes, parecendo puramente irado.

Jungkook, por outro lado, tinha a cabeça facilmente maleável naquele instante, abaixando a todo momento e olhando para qualquer lugar que não fosse o rapaz silencioso e misterioso na porta em frente. Juntou seus dedos em frente ao próprio abdômen, tratando de brincar com suas próprias unhas como forma de distração, deixando que os pensamentos à flor da pele tomassem conta de si. Passou uma das mãos nos cabelos menos úmidos que antes e jogou todos os fios para um lado só, quase como um costume de alisar o cabelo sem motivo algum. Estufou o peito para respirar fundo e agradeceu por seu suspiro quebrar um pouco o silêncio que tanto o incomodava. Não tinha ideia do que falar e muito menos como falar. Ele parecia inalcançável e a barreira que criou ao redor de si mesmo não deixava com que Jungkook se sentisse confortável para um certa aproximação ou troca de palavras; ele era inquebrável.

Mesmo com seu histórico recorrente de timidez em excesso além da compreensão, Jungkook via que seu único papel num momento silencioso, pelo desconforto, era falar, seja uma questão simples como Está tudo bem? ou uma afirmação sem fins flexíveis como O dia está lindo hoje. Sua vontade era abaixar a cabeça e esperar pelo momento certo, mas o silêncio só daria ao outro homem mais chances de julgá-lo e mais chances dele pensar com maior frequência.

O loiro coçou a nuca, pensativo e intrigado. Deveria mesmo falar alguma coisa?

ㅡ Hmm...ㅡ murmurou antes de coçar a garganta, levando a mão ao pescoço quando ergueu a cabeça outra vez, recebendo o olhar de Park ao que conseguiu chamar minimamente sua atenção, insinuando que estava para falar algo. ㅡ Foi mal?

Seu pedido de desculpas mais soou como uma dúvida do que uma afirmação, justamente porque ele não se sentia culpado pelo ocorrido e sabia que não era, assim como Park também não era. Encarando o de cabelos pretos, ele engoliu seco novamente, tímido. Acariciou seus próprios braços em proteção, inseguro pelo efeito que suas palavras podem ter causado ao outro homem. Jimin nada expressou de primeiro momento, mas não deixou que aquela súplica ficasse sem uma resposta.

ㅡ Tu não precisas pedir desculpas, moleque ㅡ falou informalmente. ㅡ Não tens culpa de nada, sinta-se aliviado. ㅡ Um sorriso breve, mas olhares separados ligeiramente.

ㅡ Eu sei que parece assustador e uma péssima primeira impressão, tanto que tu parece muito bolado agora, mas eu posso garantir que eles raramente cometem erros assim, e que tu não vai se arrepender, belê?

O loiro focou seu olhar fielmente ao moreno em sua frente, sério até que recebesse o olhar mútuo de bom agrado. Ficou uns segundos em silêncio e de braços unidos ao corpo, deixando que seu torso ficasse suavemente inclinado para o lado, em um pedido sossegado e mudo de colaboração e piedade, mas para que, principalmente, Park o olhasse de volta por mais de dois segundos que fossem. Conquistando isso, foi preciso um piscar de olhos para um sorriso forçado e quadrado abrilhantar os lábios finos do surfista bronzeado, integralizado por dois polegares erguidos na altura da boca de seu estômago, formando uma expressão um tanto engraçada para alguém que estava na luta para encorajar o autor a dar mais uma chance para a organização que tanto lhe fazia bem.

O resultado do sorriso foi as sobrancelhas arqueadas sem que ele pudesse perceber, dando a ele um tom engraçado de alguém que queria agradar com os poucos recursos que tinha disponíveis no momento. Os polegares esticados foram comprimidos junto com suas mãos aos poucos, até que ficassem na altura de seu umbigo, fazendo Park franzir o cenho para a cena zombeteira diante de seus olhos, produzida e mantida por um garoto que ele sequer conhecia. De braços ainda cruzados e postura ereta, Jimin juntou seus pés e permitiu uma risada fraca, aquela que ele conteve no mesmo instante, mas nada que impedisse Jungkook de perceber que ele se alegrou com a situação.

Jungkook acabou rindo por ter ficado sem jeito, abaixando a cabeça no mesmo instante que levou as mãos para trás de seu corpo, escondendo o sorriso gigantesco em seu rosto. Concordou com a cabeça sem que algo pairasse no ar e exigisse alguma confirmação, logo encarando o moreno outra vez. Esperou por uma palavra vinda dele, mas nada relevante foi proferido por longos e longos segundos, aqueles que pareciam uma eternidade em meio ao silêncio.

Num silêncio em que se pode escutar o tic-tac do relógio, o tão almejado tempo passa a ser menos apressado que antes, pois não existe distração quando sua única informação dos arredores é a existência do tempo.

ㅡ Já veio pra Miami antes ou é a primeira vez? ㅡ perguntou o loiro, socando sua própria palma da mão, sem força, tal como um mísero ato de distração, afastando as mãos e unindo outra vez.

ㅡ Primeira vez.

ㅡ Ah, saquei... ㅡ Jungkook desviou o olhar ao finalizar, uma vez que não sentiu reciprocidade na conversa em questão.

Um bico formou-se em seus lábios enquanto ele olhava para o nada, pensativo sobre o que ele poderia falar a seguir. Desviou o olhar para o homem pouquíssimos centímetros mais alto que si, respirando fundo quando encarou o nada outra vez. Quais eram os assuntos que ele poderia adicionar ali? Ele realmente tinha que falar alguma coisa? Sobre o que ele aparentava gostar de conversar? Política, talvez. Jungkook não entendia muito bem sobre o assunto e nem tinha interesse em entender, por mais que esse fosse o seu futuro como cidadão numa sociedade comum. Entretanto, visto que ele não era muito focado em opiniões que pudessem ser criticadas com facilidade, ele não fazia questão de aprofundar sua mente nisso; deixava para os mais interessados e capacitados.

Parecia um homem de personalidade forte, bastante inteligente e muito recatado para alguém que não falaria sobre tópicos abertamente debatidos com facilidade. É, ele parecia gostar de conversar sobre política; Jungkook tinha essa idealização em mente.

Mas o que ele poderia citar sobre um assunto que não conhece?

Foi então, no calor do momento, que Jungkook mencionou:

ㅡ Loucura, né? Essas eleições...

Ele acariciou os próprios braços e ergueu as sobrancelhas em uma expressão falsamente estruturada para emitir total choque de sua parte, concordando com a cabeça lentamente, fingindo estar completamente pasmo com uma situação hipotética que sequer estava para acontecer. Park ergueu o olhar até ele com o comentário proferido, sabendo que uma interrogação imensa transpareceu sobre sua cabeça, entendendo pouca coisa do que aquele homem queria dizer com a menção de uma situação fora de órbita naquele ambiente. O que tinha passado em sua mente até que as eleições fossem um tópico aberto, afinal?

ㅡ O quê? ㅡ Jimin ousou questionar após alguns instantes de uma tentativa de entender o que ele quis dizer.

Antes que o de cabelos longos pudesse de fato deixar sua réplica no ar e prosseguir o assunto adentro, ambos foram interrompidos pela movimentação no corredor, que não demorou para estar encurralando a saída do quarto de hotel. Monroe finalizou seu caminho diante da mesma porta em que Park ainda se encontrava, agora, acompanhado do mesmo rapaz que prometeu ajudar com as malas do autor. Sendo empurradas por rodinhas de um carrinho do mesmo tamanho dos funcionários ao lado dele, as malas foram posicionadas do lado de fora do quarto e já preparadas para que fossem organizadas no interior dele, mas era preciso uma confirmação do que fora concluído com o planejamento mal estruturado.

Uma vez que Park estava de costas para Jungkook, o surfista aproveitou a oportunidade para resmungar consigo mesmo, debochando de sua própria fala. Percebeu que fora estúpido de sua parte inserir um assunto que ele não sabia nem mesmo o porquê pareceu certo inserir em algum momento, então infernizou a si mesmo por essa razão. Passou a mão nas próprias bochechas e deu voltas breves no lugar, andando como se estivesse dentro de uma bolha limitada de pensamentos que só o deixavam ainda mais inseguro pelo estado que se propôs a estar.

Uniu ambas as mãos em frente ao rosto, pensativo sobre o que tinha feito segundos atrás e como se atreveu a cogitar responder e prosseguir com um assunto sem cabimento algum para a circunstância em questão. Onde diabos ele estava com a cabeça?

ㅡ Perdão por deixá-los esperando, mas digo que não venho acompanhado de boas notícias. ㅡ Monroe disse após segundos em silêncio, o suficiente para transparecer coragem e falar algo.

Jimin respirou fundo e fechou os olhos para tranquilizar a si mesmo, uma vez que estava de frente para o gerente e sendo observado por todos os três homens no ambiente. Jungkook ainda estava em seu próprio mundo, ultrapassando inúmeros pensamentos que o faziam questionar sua própria existência, talvez uma opinião sobre como as uvas do hotel pareciam artificiais de tão frescas e bonitas ou, quem sabe, falas do filme pausado na televisão, o mesmo que ele ainda tinha vontade de terminar. Contudo, ele cogitava abrir a boca diversas vezes, deixar uma sugestão no ar e depois fingir que nada aconteceu, como fez segundos atrás com o assunto de política com o suposto senhor Park. O surfista levou as mãos até suas bochechas e as amassou com leveza, não tardando em acariciar seu rosto inteiro, como alívio de uma ansiedade que ele sequer sabia que estava sentindo. Suspirou fundo e ergueu os olhos até o gerente, segurando uma careta que demonstraria sua suposta falta de vontade de presenciar aquele momento; desconforto ou timidez? Os dois?

Jimin ajeitou a postura outra vez e voltou para o seu foco habitual, estreitando os olhos em um singelo sorriso imperceptível, a feição que ele tinha o costume de expressar por absolutamente nada; natural, ele diria. Era provável que essa era a sua única maneira genuína de transparecer bom humor, conforto ou a simples falta de quaisquer sentimentos ruins que ele estivesse carregando anteriormente. Juntou as mãos atrás de seu corpo para que pudesse prestar a atenção naquilo que seria dito, afinal, estava seguro de que teria seu quarto, de um jeito ou de outro; reembolso estava fora de cogitação. Ele não conhecia nada de Miami e já estava escurecendo, como arranjaria outro lugar para ficar? Sequer conseguiria pegar um táxi, e muito menos sabia lugares que alugassem carros.

ㅡ Fui até a recepção para saber quais eram os quartos disponíveis neste momento no hotel, mas em torno de oitenta por cento do hotel está ocupado. No verão, acabamos ficando sem muitas alternativas ou vagas para outros visitantes, por maiores que sejamos. Somos um dos poucos hotéis de frente para a praia e com o preço mais acessível em relação ao preço, imaginei que isso aconteceria. Checamos as vagas dos quartos presidenciais e, por serem em pouca quantidade, não existe nem um vago até então. A única previsão para uma hospedagem é em torno de três a cinco dias, sem certeza. Senhor Park, você tem olho lugar para ficar, caso não seja aqui? ㅡ Após escutar tudo que Monroe tinha para esclarecer, Jimin negou com a cabeça.

ㅡ Não, senhor. O único hotel com quem entrei em contato foi esse e não pretendo sair daqui. ㅡ Ele sorriu, convicto, deixando seu recado o mais claro possível.

ㅡ Puts, papo reto? ㅡ disse o loiro, baixinho, apenas para ele mesmo escutar.

ㅡ A nossa única alternativa é que um dos dois vá para um quarto comum, do primeiro andar. ㅡ O mais velho ali intercalou os olhares, apreensivo.

As sobrancelhas de Jimin caíram em fraqueza e total derrota, usando o indicador e o anelar para tocar o centro de sua testa ao que abaixou a cabeça com leveza, decepcionado e irado com a situação. Sabia que o outro garoto estava entusiasmado demais com o quarto, ele jamais teria chances de possuir uma noite agradável no quarto que pagou, ainda mais competindo com ele.

ㅡ Isso é ultrajante, inaceitável! ㅡ exclamou o autor.

Jogou os cabelos pretos para trás com a movimentação abrupta de sua cabeça, jogando-a para cima. Encarando em frente, sentiu sua respiração acelerar, juntando as mãos como se estivesse prestes a implorar por misericórdia aos céus, impaciente com toda a falta de compostura a qual não estava acostumado. Sabia que era simples trocar de quarto e prosseguir caminho sem estresse ou questionamento, mas era muito de seu dinheiro envolvido na questão. A princípio, nada deveria ser errôneo ao ponto de irritar o inabalável. Jimin sabia que não tinha esse tipo de postura com pessoas as quais ele não conhecia e não se via no direito de extravasar cansaço de forma totalmente contraditória, sem que tivesse escolha de suas próprias emoções. Respirou fundo novamente, encarando o gerente que fora tão gentil consigo ao adentrar o hotel. Não existiam dúvidas de que ele estava na tentativa de controlar suas emoções e apenas ser o mais paciente possível, afinal, não foi sua intenção.

ㅡ Imagino que não tenha sido sua intenção aborrecer seus hóspedes dessa tal maneira e nessa gravidade absurda, mas creio que não existam chances de eu mudar de opinião quanto ao meu quarto de preferência. Deixei claro quais eram as minhas intenções com a hospedagem em seus aposentos, senhor. Nada será capaz de mudar minhas exigências por agora, então, peço perdão. ㅡ Inclinou o corpo em direção ao rapaz, abaixando a cabeça na mesma proporção, em respeito. Levantou na mesma hora, suspirando. ㅡ Seria muito dinheiro meu posto fora, mesmo que vocês acabem me oferecendo outros tipos de serviços para não ocorrer o reembolso. Eu me vejo na necessidade de um quarto cujo qual paguei para ter, não apenas pelo meu trabalho e conforto pessoal. ㅡ Desviou o olhar para o surfista em seguida. ㅡ Creio que ele esteja com o mesmo pensamento que eu. ㅡ Olhos no gerente novamente. ㅡ Outras oportunidades podem surgir, mas gostaria de deixar claro...

O autor travou sua fala no mesmo instante em que fora interrompido por outra, sem que tivesse chances para prosseguir.

ㅡ Relaxa, eu fico com o quarto comum.

A fala do outro rapaz no quarto foi a brecha para chamar a atenção de todos, fazendo com que o de cabelos longos encarasse um por um, paulatinamente. Inflou as bochechas pelo silêncio que o incomodou, provavelmente pela forte sensação de que todos estavam pasmos por sua fala, por ele ter aceitado tudo com tanta facilidade, sem propagar sua opinião e muito menos lutar contra as exigências feitas em frações de segundos. Começou a desamarrar o roupão com destreza, desviando o olhar para a movimentação de suas próprias mãos, tentando não focar muito nas falas que os outros provavelmente diriam após um piscar de olhos afoito e descontrolado, julgo dizer trêmulo.

ㅡ Jungkook, tem certeza? ㅡ indagou Monroe. ㅡ Ainda podemos discutir isso.

Tendo pouca visão de seu rosto, ambos viram Jungkook concordar com a cabeça, com ela ainda baixa e focada inteiramente na visão de suas mãos abrindo o roupão com cuidado. Começando a se livrar da peça felpuda e macia, esbanjou seus trajes simples e sem estampas extravagantes, as roupas que usava por baixo do roupão.

ㅡ Claro que tenho certeza. Não vejo problema nenhum. ㅡ Ele sorriu largamente ao levantar a cabeça e encarar ambos, enquanto o carregador permanecia em silêncio contínuo.

Retirou o roupão dos ombros e o jogou sobre a cama, sem pressa ou força em seu movimento, fazendo com que ele caísse esticado, da melhor forma que conseguiu. Deixou visível as peças simples que usava, deixando aqueles que acreditavam que ele estivesse sem elas levemente impressionados, mas que foi ignorado no segundo seguinte. Para cobrir minimamente as pernas, uma bermuda num azul pastel, aquela que não cobria nada mais que até o final de suas coxas. Material simples, fino, acabamento perfeito para a forma leve com que ele amava se sentir usando as roupas de seu guarda-roupa, um azul tão claro que poderia ser branco quando visto de um ângulo diferente. No torso, a básica camisa branca que ele tanto prezava pelo uso; branco era sua cor favorita, sem dúvidas. Mangas curtas, mas não o suficiente para uma regata. Gola em V, sem estampas ou outros detalhes exclusivos; apenas ela, em sua mais pura e primordial versão. Deixando o roupão sobre o colchão e a bagunça que fizera na cama, andou até suas coisas e agarrou a alça da mochila, ao mesmo tempo que calçava seus singelos chinelos escuros, fazendo tudo com tanta tranquilidade que ninguém se viu capaz de questionar.

ㅡ Certo, eu vou te apresentar tudo sobre o quarto e te acompanho até lá. Ele te ajudará com as malas, senhor Park. ㅡ alertou Monroe, logo apontando para Roger, o carregador, que ainda estava parado ao seu lado. ㅡ Obrigado, Jungkook. E perdão, novamente, pela falta de comprometimento com ambos, não irá se repetir e prometemos recompensar.

ㅡ Monroe ㅡ chamou. ㅡ Não esquenta com isso, beleza? Eu tô suave, juro.

Ele sorriu largamente e riu fraco logo em seguida, como sua forma mais singela para tranquilizá-lo. Negou com a cabeça quando Monroe lhe encarou de volta, desviando sua atenção para o restante de suas coisas no segundo seguinte. Ainda pensativo sobre a situação, segurou firme na alça da bolsa com o formato de seu usual ukulele e a levou até o ombro livre, agora, ocupando ambos os ombros com o peso de suas coisas essenciais ㅡ pois resolveu não levar muitas delas. Antes de recolher sua prancha ao canto do quarto escassamente ensolarado, levou a mão e os olhos até o pequeno bolso lateral de sua mochila, começando sua busca por qualquer acessório que o ajudasse a prender os cabelos escorridos e louros.

ㅡ Primeira vez em Miami, seria injusto da minha parte deixar você começar assim. ㅡ Desviou o olhar para Park. ㅡ E foi só um campeonato pequeno, nada demais. ㅡ Riu breve, sozinho. ㅡ Nada que a gente não possa contornar.

Com os olhos em suas mãos outra vez, finalmente pôde encontrar o elástico de cor neutra para amarrar os cabelos num único penteado. Num movimento extremamente despojado de sua parte, juntou o maior número de mechas que foi capaz, coladas com sua nuca e sem precisar encostar no topo de seus fios naturais. Sem enrolação, voltas e mais voltas ou qualquer coisa elaborada, fez com que o elástico ficasse simplório em seus fios de ouro, formando um coque em uma curva feita pelo próprio elástico. Entretanto, algumas mechas caíam nos olhos acompanhados pela cabeça baixa, as mesmas que o surfista fez questão de colocar para trás da orelha por impulso, involuntariamente.

ㅡ É um quarto bom demais, mesmo que eu tenha ficado nele, tipo, o quê? Vinte ou trinta minutos? ㅡ Com uma careta em confusão, ele mais questionou do que afirmou. ㅡ Vai ser uma boa forma de começar, né? E já peço desculpa pela bagunça, de novo. ㅡ Riu outra vez, ajeitando as alças em seus ombros, as mesmas que tinham vacilado por um breve instante. ㅡ Estar aqui já é massa demais, relaxem!

ㅡ Obrigado pela compreensão. ㅡ Jimin respondeu de forma simples e educada, inclinando míseros centímetros de sua cabeça para frente, fechando os olhos em agradecimento.

Ao encará-lo outra vez, Jungkook já estava passando a mão em sua extensa prancha, ridiculamente maior que si, aparentemente incomodado com algo, deixando seu olhar percorrer por todo seu tamanho vasto.

ㅡ Caraca, que sujeira ㅡ resmungou o surfista.

A feição do rapaz entregou inteiramente seu desconforto com a imagem que teve, mas tratou de ignorar, pois sabia que não teria oportunidade de limpar em seu maior ápice. Tornou-se indispensável uma limpeza geral todos os dias, já que sempre andava carregada de areia e o sal predominante no mar, então, julgava um tanto inapropriado não fazer a higiene sempre que possível; contudo, esqueceu justamente hoje, pois estava empolgado demais para que pudesse focar em algo que não fosse o proveito de sua noite.

ㅡ Ah, não precisa me agradecer, é o mínimo que eu poderia fazer. ㅡ Ele respondeu quando Monroe deu meia volta e começou a conversar com o outro rapaz que estava encarregado pelas malas do autor, aparentemente dando instruções. ㅡ 'Bora fazer um trato.

Desmanchando seu sorriso e mantendo suas expressões corporais de alguém que claramente estava entusiasmado, Jungkook levou ambas as mãos até a prancha escorada na parede e carregou com cuidado junto consigo, não demorando para estar de frente ao moço que sequer tinha familiaridade. Segurou o objeto de surf com uma das mãos, pois sabia que acabaria gesticulando com a outra.

ㅡ Como eu te deixei ficar com o quarto e não fiz uma algazarra louca aqui, tu pode esquecer o que viu, sabe, quando entrou aqui. Pode ser? ㅡ Coçou a nuca ao finalizar, sabendo que o tom de sua voz tinha ficado menos audível com o passar das falas; sua timidez era demais para ignorar com facilidade.

ㅡ Que rapaz altruísta... ㅡ ironizou, cruzando os braços.

ㅡ Uma das minhas melhores qualidades. ㅡ Estufou o peito e sorriu largamente, orgulhoso, entrando na brincadeira.

Ao fim, Jungkook foi o único a rir de forma genuína.

ㅡ Mas, e aí? Fechado? ㅡ perguntou o loiro.

Olhando em seus olhos, Jungkook ergueu a mão em punho na altura de seu próprio peito, piscando um dos olhos em um convite dificilmente entendível, deixando com que seu clássico sorriso lateral florescesse com serenidade, esperando que ele retribuísse seu toque nada labiríntico de soquinhos unidos e velozmente separados. Esperou por longos segundos e observou o olhar do homem deslizar até sua mão fechada, pairando pelo ar, franzindo o cenho em imparcialidade diante de sua atmosfera reclusa e questionável.

ㅡ Como eu deveria responder a isso?

Entendendo pouco de suas intenções, Jimin aventurou-se em questionar. Por mais que não considerasse a si mesmo um completo acéfalo para coisas menos cotidianas em sua vida, ainda tinha muito o que aprender sobre coisas comuns entre jovens ou qualquer pessoa que se sentisse confortável com comportamentos que ele não criou o costume de praticar sempre que possível, desde de cumprimentos até esportes em grupo. Olhando a mão de Jungkook erguida, imaginou o que poderia ser, mas também cogitou que surfistas poderiam ter um outro meio de comunicação ou toques entre si; ele não conhecia nenhum e sequer conseguia criar hipóteses em sua mente.

ㅡ Bater, sacou? Só... toca aqui. ㅡ Incentivou outra vez, movimentando pouca coisa de sua mão na direção do turista, esperando por alguma resposta. Jimin nada contestou. ㅡ Assim...

Quebrando o contato visual com o homem mais alto que si, Jeon encontrou a mão de Jimin em seu campo de visão, baixa, encolhida e colada em seu corpo. Permitiu-se pegar em seu pulso com suavidade, mantendo a educação em primeiro lugar, pois sabia que ele poderia não se sentir confortável com o toque descarado de um desconhecido, ainda que tão repentinamente e com propósito.

Com a cabeça baixa, Jungkook sequer percebeu quando Jimin parou para encará-lo de perto. O olhar retraído e focado totalmente em seus atos ternurentos, baixos o suficiente para que parecessem oclusos daquele ângulo, junto das bochechas infladas e as imperceptíveis sardas cobertas pelo bronzeado de seu rosto, aquele que, por sua maioria, cobria de uma bochecha à outra, interligando o trajeto pelo nariz. O tom de pele tão brilhante quanto as águas cristalinas do lado de fora do hotel, bronzeada como um bom amante do dia-a-dia produtivo costumava ser. Os fios recentes de sua franja e, consequentemente, menores que os demais, caíam sobre seus olhos baixos. E, como uma cereja de bolo, um sorriso que não exibia seus dentes, mas exibia as covinhas nada fundas; traços pequenos e detalhados ao extremo, moldados para que só pudessem ser notados quando vistos com tamanha proximidade, propositalmente feitos para serem observados tão de perto, pois era assim que deveriam ser notados.

ㅡ Fecha a mão. ㅡ Jungkook pediu, ainda encarando sua mão. ㅡ Por favor.

Jimin fez o que o loiro pediu, encarando as mãos igualmente. Riu fraco ao que o outro hóspede em questão fez com que os punhos se tocassem, sem firmeza ou força envolvida, apenas um gesto tênue, não demorando para que o pulso de Jimin estivesse livre outra vez. Jungkook riu na mesma entonação, encolhendo os ombros quando segurou a prancha com ambas as mãos, agora, tornando a encarar o autor novamente. Jimin uniu as mãos em frente ao corpo, cruzando seus dedos em uma postura confortável, mudando de ideia ao que segurou um de seus pulsos, ainda mantendo o contato visual.

ㅡ Estamos quites, então. Alguém provavelmente vem limpar a bagunça mais tarde, não se preocupe com isso. ㅡ Sorriu com os lábios unidos outra vez.

Céus, como ele amava sorrir.

ㅡ Não estou preocupado. ㅡ Desviou o olhar para as uvas jogadas sobre o colchão atrás do surfista, podendo piscar pesado para a cena caótica diante de si. ㅡ Mas, em todo caso, obrigado.

ㅡ Vamos, Jungkook? ㅡ Monroe chamou de repente, fazendo o loiro olhar rapidamente para porta e, como resposta, erguer o indicador em sua direção, pedindo por um instante que fosse, focando no desconhecido mais uma vez.

Ele tinha coisas a dizer ainda.

Ele realmente tinha coisas a dizer?

Jimin ergueu as sobrancelhas, surpreso por sua persistência. Ele parecia puro, ingênuo e, claramente, tudo o que fazia aparentava carregar a mais pura humildade presente em seu ventre, como um anjo. Todos os movimentos eram suaves como pluma, qualquer sorriso era capaz de brilhar mais que o Sol, e os sons de seu coração traziam junto a si todas as suas mais puras intenções evidentemente não carnais. Era doce, sincero.

ㅡ Não sei por quantos lugares esteve antes de Miami ou quantas praias conheceu, mas posso te garantir que você não poderia ter escolhido lugar melhor. ㅡ Segurou na alça de sua mochila para ocupação da mão livre. ㅡ Se precisar de ajuda para conhecer o lugar, grita e eu apareço. ㅡ Riu. ㅡ Igual o Batman, tá ligado? Faz sinal e eu tô aí rapidinho.

Brincou com a situação, rindo genuinamente quando observou Jimin rir igualmente, mesmo que não tivesse muito conhecimento sobre super-heróis e sobre o porquê disso ter algum sentido; ele apenas conhecia super-heróis e, muito provavelmente, acabaria confundindo as aparências, caso fosse questionado sobre isso. No entanto, imaginou que não seria muita gentileza sua transparecer confusão outra vez, era crível que o surfista cogitasse que ele morasse em outro planeta ou sob uma pedra qualquer. Todavia, não queria deixá-lo desconfortável novamente, pois já estava insatisfeito com a conjuntura o suficiente; ele não precisava de outro motivo para desgostar de sua primeira impressão sobre o lugar, o novo ambiente.

Ele era divertido, não tinha como negar. Diferente de si, mas divertido. Por mais que Jimin tenha escutado seu nome diversas vezes, sabia que esqueceria na manhã seguinte, principalmente porque não estava interessado o bastante para guardá-lo consigo e que não o chamaria em outra ocasião, nem mesmo se quisesse, ou seja, não via motivos para tê-lo em mente.

O surfista deu uma última olhada para os funcionários ainda aguardando e conversando no corredor, a situação em que Roger parecia estar levando algum tipo de sermão por zero motivos aparentes, mas também, apenas escutando o desabafo de Monroe, que claramente iria chorar por dias por ter errado tão feio com alguém tão importante. E se ele decidisse levar isso à público? A imagem do hotel estaria acabada e sua carreira em risco.

Por sorte, Jimin não era assim e nem precisava ser.

Quando os olhos de Jungkook estavam focados no autor outra vez, Jimin não esboçou qualquer tipo de sentimento comprometedor ㅡ dúvida, por exemplo. Qualquer coisa que Jimin expressasse, até então, poderia facilmente demonstrar seu questionamento sobre o porquê de tanta conversa. Jungkook só estava sendo gentil, Park sabia disso.

Em uma bela surpresa, antes de passar por Jimin e deixar o quarto para seguir seu caminho, Jungkook finalizou sorridente:

ㅡ Bem-vindo à Flórida.

Aquele era o clichê. Um surfista padrão, como dos filmes românticos de uma sessão em família num domingo à tarde. Ele tinha forma para falar, postura para demonstrar presença e distintos sinônimos para conversar. Desde seu jeito de andar até sua forma para sorrir. Único. Poderia dizer que Jungkook era como um daqueles surfistas altos, sarados, mulherengos e arrogantes de filmes que somos obrigados a engolir como padrão social, mas ele não aparentava possuir nada dessas características. Educadamente, Jimin poderia ousar julgá-lo por sua aparência, uma primeira impressão singela sobre o que observou no primeiro contato visual intenso com o rapaz. Entretanto, tudo o que tinha de informações sobre ele não pareciam tão agradáveis para criar sua base de expectativa. Contudo, ele não buscava por motivos erroneamente admissíveis para prosseguir com sua pesquisa sobre o surfista. Era notório a eficácia do autor para observar tudo que constituía o mundo ao redor, em sua maioria, as pessoas que raramente pareciam ter as características perfeitas de um clichê.

Sabendo que ainda não tinha uma ideia fixa para o assunto que Além das Ondas traria consigo, ele não economizava na investigação. E se ela (obra) tivesse algum surfista envolvido? Ele via como apropriado observar quais eram as características exclusivas que eram capazes de diferenciar um surfista de um personagem de cinema, ou melhor, características que o faziam semelhantes ou até mesmo iguais a um.

Talvez aquele em específico fosse diferente. Ele poderia ser igual, talvez. Pequenas coisas diferenciando. Grandes características marcantes e idênticas. Quem sabe?

Bastante expressivo pela quantidade imensa de sorrisos para qualquer brecha que tivesse para sorrir, retraído pelo feitio sintetizado com que suas falas direcionadas a alguém soavam, abreviando o máximo que podia para não prolongar aquilo que não tinha mais noção de como prosseguir.

Ele poderia ser mulherengo, talvez o charmoso galanteador que não tirava tanto proveito de sua própria vida. Almejado, falsamente obcecado pelo oceano, não muito fã daqueles que questionam suas capacidades e impossibilitam o crescimento constante de seu ego. Poderia não ter capacidade para resolver soluções matemáticas com clareza e praticidade. Poderia não saber em que ano o Estados Unidos tinha sido encontrado pelos colonizadores. No colegial, por exemplo, poderia ser o simbolismo vivo do maior parceiro das líderes de torcida e, principalmente, reconhecido por sua jaqueta três vezes maior que seu número, com a logo do time de futebol americano da escola nas costas. Julgando pelo rosto jovial, ele parecia alguém que ainda cursava o ensino médio; ou não. Possivelmente, seria um daqueles garotos que seus maiores problemas eram os hormônios e festas de sábados à noite ㅡ não o julgaria por isso, jovens precisam de seus momentos próprios e descobertas de como viver a vida, experiências em geral.

Presumivelmente, um garoto louco pelas pequenas coisas, amante da arte, apaixonadamente próximo de seus avós já bem velhinhos. Aquele que colhe flores pelo caminho para casa, que sempre estaria ao redor de garotas tão tímidas e carentes quanto si; inteligentes, em todo caso. Admirador das falas inspiradoras, o único participante empolgado em palestras de assuntos questionáveis, o único a bater de porta em porta às nove da manhã para perguntar a ti se tens interesse em salvar o meio-ambiente de alguma forma prática e saudável para ambos. Ele poderia gostar de partir o cabelo ao meio e deixá-lo sem volume algum, enquanto, em seu guarda-roupa, uma coleção de suéteres estampados e broches de todos os tipos esperam por si para começar mais um produtivo dia. Aos fins de semana, encontro com seus amigos para nadar e surfar até que a tarde chegue ao fim. Quem sabe, pescar um pouco com o pai que acredita ter sorte por estar presente em seus momentos de sobrevivência.

Ele poderia ser mais velho do que aparenta fisicamente, garoto pouco produtivo e mascarado por uma face repleta de sentimentos pouco questionados por todos à volta. Não muito conhecido, nada sociável, nem mesmo expressivo como aparentou ser. Ele poderia ser feliz, poderia ser triste, raivoso, intolerante ou pouco questionador; normal, ele poderia ser normal. Alguém com sentimentos, sentimentos que alteram, gradativamente elevam seu nível, murcham em situações cujas quais ele não sente necessidade em demonstrá-los, emoções distintas e comuns, ao mesmo tempo que, com todo seu vínculo harmônico no círculo social em que possa habitar, ele está integrado com as expectativas que as pessoas criam sobre ele. Se aquele grupo está animado, por que ele seria o único contrário deles? Pouco natural, puro, genuíno. Totalmente o contrário do que aparentou ser.

Mas, ao mesmo tempo que ele poderia ser tudo, ele poderia não ser nada.

Isso estaria visualmente ligado às formas com que ele se porta no ambiente, mas também pode não estar.

Ele poderia não ter nada similar com as características hipotéticas acima, mas também, poderia ter todas elas, concomitantemente.

Mas, em particular, Jimin não via necessidade em concretizar algo a partir de expectativas falsas.

Afinal, tudo o que tinha de informação sobre ele constituía em uma prancha que ele carregava sob o braço.

A curva perfeita do sorriso ladino floresceu em Jimin a incessante vontade de sorrir de volta, algo que ele não pôde e nem quis controlar. Com o sorriso singelo e de rosto limpo de timidez, Jimin permaneceu encarando os olhos de caramelo do surfista que deixava o quarto aos poucos, até que estivesse no corredor, conseguindo chamar a atenção de Monroe com sua simples movimentação e presença no local. O momento estressante fora deixado de lado, tudo estava resolvido e, agora, Jimin tinha seu quarto inteiramente para ele. Seria precipitado de sua parte dizer que nada mais poderia abalar suas estruturas nos próximos dias, pois sabia que turismo num lugar totalmente inexplorado nem sempre era as mil maravilhas, muito pelo contrário.

Jimin levou ambas as mãos para seus fios pretos, jogando-os em conjunto para trás, ao mesmo tempo que seus passos lentos introduziam seu corpo até o centro do quarto. Um suspiro exausto esvaziou o peito do autor e escapou por seus lábios, demonstrando o mais puro cansaço de alguém que claramente precisava não só de um banho, mas de uma boa noite de sono estendido igualmente. O olhar inchado expressava a feição abatida de alguém que, claramente, não dormira nada nas últimas ㅡ no mínimo ㅡ vinte e duas horas. Enquanto isso, suas vestimentas estavam impecáveis, já que ele não se privou em manter a boa aparência, mesmo com tanto cansaço pesando em suas costas.

ㅡ Senhor, posso deixar suas malas próximo ao closet ou à janela? ㅡ Roger, o carregador, questionou enquanto estava parado na porta.

Jimin virou em sua direção com suavidade, concordando com a cabeça em uma confirmação silenciosa e bastante pacata, logo sorrindo gentilmente em sua direção. Ele estava pacífico outra vez, sem preocupações ou dúvidas ㅡ daquelas que sobrecarregam ㅡ aparentes. Seus olhos voltaram a notar os detalhes do quarto, os mesmos detalhes em que ele não se preocupava muito em ir a fundo.

Em sua frente, uma janela extensa, a mesma que chega aos seus pés, mas não alcançava o teto. Cortinas finas, mas diversas camadas para que não tornasse a utilização delas completamente inútil. Ao lado, próximo da cabeceira da cama, mais uma janela, desta vez, com uma porta de correr de vidro, a mesma que direcionava até uma varanda com vista direta para a imensidão azul em frente ao hotel. A televisão posicionada na parede, esticada na direção da cama. No canto do quarto, a porta de saída ou entrada. Ao lado da porta, um miúdo cômodo que ousavam nomear como closet, para guardar pertences que os hóspedes traziam. Um pouco mais a frente do closet e de frente para a cama ao centro do quarto, a porta que levava ao banheiro gigantesco, preenchido por uma banheira que, aparentemente, já fora utilizada pelo surfista antes que Jimin fosse capaz de apreciar sozinho. Teria que relaxar num banho de chuveiro comum, afinal. Tapetes felpudos, iluminação no teto e nas paredes, uma pequena penteadeira sob a televisão suspensa na parede, uma pequena mesa para refeições ou afins feitos dentro do quarto, outra mesa pequena e cadeiras acolchoadas na varanda, algumas flores, mesas de cabeceira, cardápio, abajures, quadros e qualquer outra coisa comum que preenchiam quartos que fossem o básico do que foi exigido. Jimin estava satisfeito, era o suficiente para passar meses ali. Aconchegante, bonito.

Uma pena que esteja uma bagunça.

Ele riu fraco e sozinho pelo pensamento, lembrando do motivo para estar uma bagunça. Poderia ter ficado uma fera no início de tudo, mas jamais negaria que teve graça, fora uma situação engraçada. Daria boas gargalhadas quando contasse para SeokJin no fim do dia.

Enquanto isso, a alguns andares de distância, Jungkook conversava animadamente com Monroe e ambos apenas brincavam com a situação recente, sabendo que isso acabaria se tornando uma grande piada interna mais tarde. Jeon poderia arriscar perguntar pelo homem do outro quarto, saber o porquê ele soava tão diferente, o que ele tinha de especial para deixar Monroe tão nervoso e inquieto, saber seu nome com detalhes, o que ele faz da vida ou qualquer informação útil que o levaria até ele outra vez. No entanto, não viu necessidade. Esperaria por ele, caso ele precisasse de sua ajuda para conhecer Miami um dia.

Como prometido, Jungkook estaria ali caso preciso.

Admirando as cortinas abertas e a vista esbelta que tinha do lado de fora, pôde encontrar o prédio ao lado iluminado pelo já fraco raiar do Sol, que estava quase cem por cento desaparecido. As nuvens alaranjadas davam um toque deslumbrante para o céu já em um azul menos claro que antes, similar a uma pintura à óleo, carregada pelos significados que os pincéis são capazes de transcrever através de pinceladas. Poderia fazer uma pintura baseada naquela visão que pouco tinha, mas seria incapaz de expressar todas as cores que gostaria de expressar, uma vez que não tinha equipamentos, costume ou habilidades suficientes para tal feito. As palmeiras dançantes tornavam-se cada vez mais inabaláveis, ao ponto de transformarem-se em meras sombras, já que o Sol as impossibilitava de portarem seu mais belo brilho. Mesmo podendo encarar pouco daquela visão, graças ao edifício em sua frente, estava contente do que tinha para aproveitar, mesmo em sua forma um tanto limitada. Capaz de acompanhar a velocidade com que o Sol estava se pondo à Oeste pelo entardecer, Jimin teve seu momento para refletir um pouco sobre tudo que fosse preciso naquelas condições, nada que pesasse tanto ao ponto de afastar o cansaço e perder o sono. O dia foi cheio de surpresas e ele ainda estava perdido sobre tudo o que precisava e, provavelmente, aconteceria em Miami a partir de agora.

Mas, o mais importante:

Qual seria o foco de Além das Ondas?

Sobre o que ela falaria? Um surfista? O ambiente? A natureza?

O que Jimin gostaria de expressar com a obra e por quê?

Uma estória cheia de vida, significado, conjunturas inexplicáveis, o mais puro sentimento que lhe restara em seu interior perdido e pouco experiente. Aquele romance bem pensado era proveniente de uma mente que não tinha ideia de sua raiz, de uma experiência clara, apenas baseada em estereótipos e intenções frias, um pouco egoístas, tendo, como base, apenas o que ele imaginava que era o amor e por que ele era tão importante para construir uma vida, tornar vivo. Era isso que aquela obra deveria representar, afinal?

Olhando além dos oceanos, além do que ele tinha capacidade de observar, além de seus próprios sentimentos, além de sua vasta mente, diante de seu único meio para prosseguir tendo sua inspiração viva, sua mente tinha, como intuito único, transparecer clareza objetiva.

Além das Ondas seria seu lugar de paz?

"Bem-vindo à Flórida".

Bem-vindo, Jimin. De seu lugar de paz.

De novas experiências, descobertas, emoções.

Como esperado, Flórida está lhe dando as boas-vindas.

❝ ㅡ Atire-me num calabouço, enforque-me até que não me reste ar para expressar minha própria dor, deixe-me para morrer na fria masmorra como seus antepassados fariam ao presenciar o sombrio pavor do amor. Faça isso, eu lhe imploro, faça agora. Acreditei estar completo, deixei a ganância para trás quando cogitei não precisar de mais. Antes do amor de sua filha, meu senhor, eu estava tão perdido quanto a Lua distante de seu Sol. Era desprovido de brilho, pois sabia que não possuía o meu próprio, sozinho, desamparado. Nunca presenciou isso, meu senhor? O amor em sua mais pura forma, com todas as letras que fui incapaz de traduzir e, desgostoso, fui insolente ao negar. As exigências de colocar o ouro pesado em seus bolsos tornaram-se meros grãos, levados pela brisa fria que deixara meu corpo naquela tarde em que encarei os cabelos longos e olhos castanhos de sua querida filha, minha amada mulher. Seria tolo de minha parte não sentir medo do que pensariam, mas seria ainda mais tolo pôr o agrado de gregos e troianos acima do mundo que eu tinha em mãos. Seu ouro pode pagar seu pão de cada dia, mas nada está além do valor do amor, meu senhor. Minhas boas ações, feitas com muito esmero, não seriam capazes de pagá-la um imenso banquete, mas serei aquele disposto a acomodar os batimentos apressados do coração de sua filha ao sorrir em meio ao caos da humanidade. Diga-me, caro Deus, eu mereço tamanho sofrimento de privar-me de amar? Diga-me, caro senhor, as riquezas estão acima do amor?

As últimas palavras de Hector ditas ao meu pai antes de ter sua vida tomada, libertas de sua garganta contraída e do coração oprimido, ainda pairavam sobre meus dias monótonos, agora, não sendo mais rematados por meu benquerer. Ainda sinto-me tocada por suas mãos, abraçada por seu calor, abalada por sua ausência.

E jamais, Hector. Jamais algo estaria acima de nosso destino de amar, querido.❞

ㅡ "Frutos do Destino", de Park Jimin.

🔸️

d

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o que acharam do capítulo? espero que tenham gostado, dei meu melhor e me esforcei o máximo que eu pude!

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o próximo capítulo virá só depois de abril, pois vou focar um pouquinho em finalizar outra obra

obrigado pela leitura e por ter me acompanhado até aqui, nos vemos na próxima!

🌴 aloha.

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