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Um comum caso de trânsito


Natasha não conseguiu esconder a confusão de sentimentos que a perturbava, após ouvir minha história. Claro que ela não disse nada, porém, eu conseguia ver nos olhos daquela que me encarava – perplexa – um misto de pena e repulsa, afinal, a bendita moral geralmente nos limita a um pensamento comum, a moralidade faz com que um grupo de indivíduos, despreze um cidadão solo que não pensa e nem aja como eles.

E naquele momento me vi digno de pena, em seguida digno de vaias e pontapés, por ter feito o quê muitos queriam, e querem eu diria – neste exato momento há um homem de trinta e poucos caindo de amores, paixão e tesão por uma garota de dezoito, ou uma mulher de quarenta pensando em largar o marido, que mais parece uma estátua em seu leito, por um garoto, jovem e viril, mas tais ações exigem a fuga dos olhos da moral, e poucos estão dispostos a serem apedrejados pelos moralistas.

— Todos aqui são assim — ela sorriu, encarando a água empurrando algumas pedrinhas pela areia branca —, todos os que estão nessa florestas, todos nós somos uns degenerados.

Não entendi o que ela quis dizer, então pedi que me explicasse. Natasha então me contou sobre alguns contatos que fez com outras pessoas, outros sobreviventes daquela selva maldita, e até eu que me considerava um cara forte, estremeci com as histórias ela sabia acerca de terceiros. E disse-me mais, supôs – hoje tenho certeza – que todos que são levados para aquele lugar, geralmente são pessoas que não fazem falta para ninguém. Criminosos, mendigos infames ou pessoas simplesmente mal caráter – pelo menos, aos olhos morais.

— Sendo assim — encarei-a pelo reflexo na água —, me diz, era uma mendiga inconveniente, uma criminosa inescrupulosa ou uma mal caráter comum.

Natasha olhou-me nos olhos, ainda pele reflexo da límpida água que se movia em ondas calmas.

— Já fui um pouco de cada — ela tombou a cabeça para trás, fitando o céu —, antes de chegar aqui, eu era uma desgraçada tentando consertar as merdas que fiz ao longo da vida...

Ela fechou os olhos, respirou fundo e sorriu, um sorriso triste até. Eu não disse nada, apenas esperei que ela estivesse pronta para falar, e nisso passamos alguns minutos em silêncio, contemplando o som da paz, aquele som que ouvimos as margens de uma cachoeira em meio a mata.

— Eu não conheci meu pai, o quê é bem comum no lugar de onde eu vim — ele iniciou. — Minha mãe deu um duro danado para cuidar de mim e meus cinco irmãos, mas eu, a do meio sempre fui a ovelha negra da família e invés de me orgulhar dos esforços da minha mãe e fazer de tudo para que ela tivesse uma vida melhor, virei foi uma adolescente rebelde...

"Comecei a me enturmar com uma 'galera livre', era assim que eles se chamavam, mais pra frente que fui ver que de livres não tínhamos nada. Antes dos dezoito, já tinha experimentado tudo quanto é tipo de droga, e claro, fiquei presa naquilo.

Lembro de quando fiz 17 anos, meus 'amigos' propuseram uma festa num sítio. A ideia era levarmos o que beber e comer, porém, nenhum de nós trabalhávamos, então qual foi a brilhante ideia?"

— Saíram para roubar? — deduzi.

— Exatamente! — ela confirmou — Conseguimos algumas armas e a ideia era explodir um caixa eletrônico, mas como queríamos apenas comida e bebida para passar o fim de semana no sítio, optamos pelo mais fácil, ou pelo que achávamos mais fácil...

"Decidimos que roubaríamos uma distribuidora de bebidas que tinha em nosso bairro, lá, além de bebidas havia também uma variedade de carnes e outras coisinhas para comer. Mas para não me alongar demais nisso, já adianto que havia um porão naquele lugar, e o estabelecimento era apenas uma fachada para um laboratório de drogas. Daí, fomos vistos pelo circuito interno, as portas automáticas se abaixaram e ficamos presos lá dentro."

— Caraca, que azar! — comentei.

— Éramos sete ao todo, os traficantes deixaram vivas apenas as garotas, os quatro rapazes que estavam com a gente morreram — Natasha deixou um sorriso escapar —, agonizaram durante o espancamento sendo chamados de fracotes e burros.

Aquele sorriso, porém, não era por achar graça na situação, creio que ela simplesmente – depois de adulta – perceber a gravidade das besteiras que nós fazemos quando adolescentes.

— E basicamente foi naquele dia que um pedaço de mim foi arrancado — as lágrimas voltaram aos olhos de Natasha —, naquele dia, descobrir o quê sou capaz de fazer para me salvar, para me manter viva... E aprendi que entre a vida e a morte, a moralidade se ausenta do confronto, e seus instintos se afloram, te transformando em algo semelhante a um rato acuado, que notando não haver outra saída, ataca o gato com toda voracidade possível.

Ao ouvir aquilo me entristeci ainda mais, isso por prevê o quê estava por vir. Três garotas mantidas em cativeiro por traficantes, que ainda poderiam usar a invasão e tentativa de roubo, para cometer atrocidades sem serem julgados pela comunidade. Afinal, eu vive boa parte da vida em comunidades na região do Barreiro, em Belo Horizonte, e falo com propriedade que, há bandidos que reclamam do abuso de poder dos policiais, porém, usam do mesmo tipo de abuso para com os moradores do gueto – já vi pessoas sendo espancadas por pouca coisa, ou nada, casas sendo tomadas e pessoas expulsas da favela, dentre outras barbáries.

— Eu e minhas amigas fomos levadas para o porão — Natasha continuou com o relato —, pensei que seriamos estrupadas por todos os homens ali, mas não aconteceu, pelo menos não comigo.

"Obviamente apanhamos um pouco, na verdade, apanhamos muito, só de lembrar posso sentir os tapas e puxões de cabelo. Lembro-me que um deles disse: 'Vamos comer elas, depois colocar no micro-ondas',

— Está louco? Se o Gordão souber ele mata a gente fi — disse outro.

Porém, um terceiro argumentou dizendo que o tal Gordão não estava lá, e que se todos ficassem de boca fechada poderiam se divertir."

Há cada palavra que saía da boca de Natasha, meu coração acelerava mais os batimentos, se fosse possível aferir minha pressão, com certeza provaria que estava bem alto, e subindo.

— Eu lembro de ver um dos homens, era jovem como eu não época — continuou ela —, tirando a calça e me encarando com o olhar mais malicioso do mundo...

"Entrei em desespero

Comecei a gritar e chorar descontroladamente, e repetir: 'Eu falei que não era uma boa ideia, por que me arrastaram pra isso?'

A maioria dos homens riram de mim, porém, um deles – o mais velho eu acho – apenas ficou me olhando de longe, observando meu suro. Ele então se aproximou e me perguntou se eu fui obrigada a participar daquilo, e a resposta era não, mas notei que ele estava com certa pena de mim e cria cegamente no meu choro.

E o quê era um surto de medo genuíno, transformou-se num plano. Algo que não me orgulho, algo que carrego em minha consciência mesmo sem querer, algo que me fere mais e mais todos os dias, me dilacerando por dentro.

— Eu não queria fazer isso, eles que insistiram, hoje é o meu aniversário de 17 anos, eles queriam fazer uma festa mesmo eu tendo dito que não queria nada...!

O homem me interrompeu e me parabenizou. Lembro de ouvi-lo gargalhar e dizer que me daria um presente, disse que pouparia minha vida, mas que me daria uma lição para aprender que as ações têm consequências."

— Qual o presente? — perguntei curioso — E quais foram as consequências?

— Tive de assistir minhas amigas serem abusadas, espancadas e por fim as levaram dali — respondeu Natasha —, no mesmo dia, as colocaram em pneus e atearam fogo.

Era nítido o peso daquelas lembranças, o semblante de Natasha havia mais tenso, os ombros sobrecarregados caíram, como se estivesse exausta.

— É foda dizer, mas eu não estava pronta para morrer, menos ainda estava pronta para me sacrificar por alguém, e quando vi a chance de me salvar, eu não quis pensar se era certo ou errado, tudo que me importava era minha sobrevivência, e obvio que falando assim você deve estar me achando uma aberração...

— Claro que não! — a interrompi — Entendo perfeitamente como é isso, fazer o quê tem de ser feito às vezes, é fazer o imoral, que no fim das contas qualquer um no seu lugar faria o mesmo.

Natasha se levantou, secando as lágrimas com as costas das mãos, e caminhou de volta para água.

— Frequentemente sonho com aquele dia — disse ela, encarando o reflexo na água —, nunca consegui esquecer os gritos das duas garotas, o quanto elas tentaram argumentar dizendo que eu estava mentindo, o quanto choraram e pediram misericórdia... E o quanto me amaldiçoaram — mergulhou.

Mantive-me sentado à beira do rebojo, por medo de me afogar outra vez, mas também fiquei pensativo acerca do que me foi dito. Percebi ali que Natasha havia sido sincera comigo ao se abrir e falar da podridão da alma, enquanto eu, bem... Eu contei apenas a parte que me convinha contar, não havia sido totalmente sincero, e naquele momento nem sabia se queria me abrir por completo, e expor a sujeira debaixo do meu tapete.

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