A consumação de uma alma
Arthur encerrou a escrita no diário de capa de couro, amarrou o mesmo e colocou-o dentro da gaveta de baixo da mesinha de cabeceira. Ajeitou-se na cama e aguardou sorridente a chegada de Valênia, o quê não demorou muito, logo a porta se abriu e a garota saiu vestida apenas com uma camisola branca de tecido fino quase transparente, e ainda com o véu que lhe cobria o rosto.
Arthur estava tão animado que não fez nenhuma pergunta, nem se atentou a nenhum detalhe, afinal, qual homem no lugar dele o faria? Estava ansioso e excitado, clamando aos deuses locais e agradecendo por aquilo, pois observava as silhuetas da esposa com admiração. A pele escura transparecida detrás da fina camisola, as curvas sinuosas em decidas ingrimes, as charmosas dobras ao andar que adornava o arbusto aparado como uma reta vertical.
— Você me parece bem animado — Valênia sussurrou, na língua nativa.
Arthur já estava acostumado com aqueles sussurros, desde que a conheceu, are assim que a garota se comunicava.
— Sim, estou animado! — disse ele despindo-se da camisa.
— Então não posso deixar você esperando, acho que a dança que planejei ficará para uma próxima!
Arthur gargalhou, mordeu os lábios e encarou aquele corpo perfeito caminhando em direção à cama.
— Claro que não — ele a interceptou —, por favor, minha esposa, faça a dança — pediu.
Conseguia ser educado, gentil e galanteador quando queria, assim camuflava bem a podridão que escondia na mente. Arthur não quis morar na colônia dos humanos exatamente para continuar se camuflando e fazendo o papel de bom moço, afinal estava numa cidade nova onde ninguém sabia sobre a vida depravada que tinha no passado, num planeta diferente onde ele podia ser quem quisesse ser, inclusive, ali o espertalhão abandonou o nome Arthur, e passou a se chamar Tarmur, estava disposto a realmente ter uma nova vida.
Valênia se movia no quarto com tanta graciosidade que mais parecia deslizar pelo piso frio de madeira escura. Não havia música ali, pois, realmente aquele planeta era semelhante à terra do século XV. Entretanto, a garota dançava como se ouvisse na mente a música mais sensual de todas, isso porque os movimentos eram dignos de profissionais das danças sensuais famosas da terra, tais como kizomba ou dança do ventre.
A menina se aproximava lentamente e subia na cama, logo descia outra vez e voltava a dançar de pé no meio do quartou, ou numa poltrona no canto do cômodo, deslizando a camisola para cima mostrando com mais clareza a pele negra, semelhante até a pele de Arthur. Num movimento e outro, Valênia se despiu da camisola, ficado apenas com o véu.
— Uau, que maravilha! — Arthur elogiou, notando a semelhança do corpo de Valênia, a um corpo humano.
— Pare de falar, e tire a calça! — sussurrou ela na língua natal, num tom de ordem — Quero ver aquilo que tem a me oferecer.
Arthur não perdeu tempo, e se despiu às pressas, mostrando-se ereto, vangloriando-se sem pudor, aguardando os beijos quentes da esposa, ansioso pelo abraço estreito da fenda orvalhada, úmida como as folhas das árvores pela manhã.
Vanlênia caminhou lentamente de volta para cama e ficou de pé frente ao marido.
— Eu sinto vergonha de mostrar meu rosto, o quê acha de eu lhe vendar, tirar o meu véu e apagar algumas velas? — perguntou ela — Assim ficarei mais confortável, e aproveitaremos maus um do outro.
Arthur sorriu e consentiu com aquilo, estava ansioso por aquele momento, por mais que não fosse algo de muito especial – além do fato de conseguir alguns privilégios sociais. Deixou que a esposa o vendasse, e se ajeitou na cama esperando a aproximação da mesma, e logo sentiu a respiração de Valênia bem próximo ao rosto, em seguida, sentiu os lábios da garota o beijar.
— Será que se lembra do meu beijo? — Valênia perguntou, porém, em português.
Arthur se espantou ao ouvir tais palavras em português, não sabia que Valênia conhecia tal língua falada na terra. Contudo, com um pouco de atraso até, notou algo de estranho naquela voz.
— Pensei que reconheceria minha voz com facilidade — Valênia sorriu.
E antes que Arthur pudesse dizer algo, sentiu algo gelado encostar no pescoço e deslizar rápido para o lado. Tentou falar, quis gritar, mas a voz não saiu. Levou a mão no pescoço e sentiu que estava sangrando, buscou então retirar a venda do olho, e naquele momento viu a garota ainda com o véu, feri-lo no peito com uma adaga, cravando-a profundo, até que o cabo impedisse o continuar da penetração.
— Ah, esse olhar — sussurrou Valênia, ainda em português —, vejo que reconheceu minha voz.
A garota retirou o véu, sorria ainda sentada sobre o colo do marido ensanguentado.
— Olá, Arthur — ela disse num tom cômico —, aposto que não esperava me encontrar, achou que eu estivesse morta? Foi mal, você não pode mais falar, o quê é bom né, assim eu não corro o risco de ser seduzida por suas belas palavras outra vez, como quando eu era criança.
Agarota de cabelos crespos trançados, encarava o homem que agonizava na cama sem ter forças para sequer levantar. Estava apavorado, mas não se sabia o motivo, a morte eminente ou o sorrido aliviado de Valentina.
— Eu tinha 16 anos quando viemos parar neste planeta, estávamos na praia antes disso — a garota se levantou —, eu era uma menina que pensava ter descoberto o quê é o amor, quando, na verdade, era só uma garotinha iludida por um predador desgraçado.
Valentina catou a camisola deixada sobre a poltrona e a vestiu.
— Você matou minha mãe e me convenceu de que aquilo era o certo, para que nós ficássemos juntos — ela continuou —, e só fui perceber o buraco onde entrei quando me vi aqui, num lugar desconhecido, convivendo com seres estranhos pra mim, tudo isso por sua causa, seu verme maldito.
A garota se limpou do sangue com uma toalha, e praguejou o algoz que sangrava na cama como inúmeros xingamentos.
— Eu tinha todo um discurso pronto para esse momento, no entanto, não quero dizer mais nada pra você — Valentina se sentou na cadeira —, vou só ficar aqui, esperando você morrer para entregar seu corpo aos sacerdotes, eles disseram que farão você sofrer pela eternidade, até a próxima geração dese universo.
Valentina ficou ali aguardando a morte de Arthur, que teve seu último suspiro encarando a garota. Morreu de olhos arregalados, parecia surpreso com o ocorrido, não teve tempo de dizer nada, e não que Valentina quisesse ouvir alguma palavra sair da boca daquele homem, pelo contrário.
Naquele momento a garota, que antes temeu realizar tal vingança, se preguntava porque não havia matado o malfeitor antes, porque não tinha se libertado daquele carma ainda, pois ao vê o cadáver de olhos arregalados, nu sobre a cama, ela sentiu o alívio que tando desejava sentir.
Viu ali uma parte de se morrendo junto ao crápula que tanto lhe fez mal, viu o encerramento de uma fase ruim da vida, não sabia como seria a próxima, mas estava confiante que conseguiria voltar para casa, voltar para a terra, só tinha que descobrir como fazer isso, o quê já não via mais como impossível, a saber que achava impossível matar alguém, e provou o contrário.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro