Capitulo 8
O apito soara mais cedo que o normal, com tudo que ocorrera ontem quase me esqueci que hoje o inferno seria ainda pior, era o aniversário no Senhor Schulz, com certeza haveria matança. Levanto-me, deparo Kyrie à minha frente, seu olhar estava desconfiado.
- Chegou tarde ontem... Pode me contando tudo - disse animadamente
- Trabalhei até mais tarde - respondi indiferente, ela notou encarando-me confusa por alguns segundos.
Viro-me antes de Kyrie ter a chance de dizer algo mais, acordo Audrey.
Todos saíram rapidamente para fora mantive Audrey perto de mim todo o tempo. Fomos para a grande área, todos os soldados estavam em forma, no meio em uma grande cadeira na sombra, general Schulz estava, sentado com um sorriso de orelha à orelha mostrava seus dentes brancos e bem alinhados, olhando-o ao longe com aquele sorriso aparentemente inocente não parecia o monstro que realmente era, todos os dias seu humor mudava, era radical como seu mestre Hitler, era doentio e sádico a maneira como vivia, às vezes passava rindo de nós como se estivesse se entretendo em um circo cheio de palhaços, outros dias passava com uma imensa irritação, olhava-nos com imenso ódio e chicoteava-nos, outras vezes ao se achar entediado atirava de sua sacada em algum judeu que passava em frente à sua mira, certa vez matou cerca de duzentas pessoas e como se não bastasse nos forçou a orar por zombaria ao nosso Deus, pedia para agradecermos por ele ter cometido tal ato, ele dizia que era bom conosco pois quanto antes morreríamos menos iríamos sofrer em sua mão, sem dizer sua fascinação por judias, as mais belas o agradavam eram escolhidas e arrumadas após isso entravam em seu quarto e não voltavam mais, quando voltavam eram corpos mutilados ou desfigurados. Antes de relembrar mais alguma coisa avisto ao seu lado capitão Brachmann que se encontrava imóvel, olho diretamente para seu par de olhos azuis esverdeados que pareciam estar petrificados, como sempre não mostrava suas emoções, avisto seus olhos moverem-se em minha direção, desvio o olhar. Os judeus se apertavam juntando-se no centro cada vez mais, mantive Audrey no meio junto a mim, Bryan estava ao meu lado e Kyrie ao lado de Herr. Klein, quando comemorações aconteciam o melhor era ficar no meio das pessoas, não nos lados, atrás ou à frente, o risco de ser baleado era menor ao ficar naquela posição. Sinto o corpo pequeno de Audrey abraçar-me, seus olhos verdes pareciam perdidos em meio à multidão, podia saber por suas expressões que ela sabia bem o que estava prestes à vir, a matança. Retribuo o abraço acariciando seus leves e soltos cabelos, não importava o que ocorresse eu estaria ali, com ela, posso sentir seu perfume natural invadir minhas narinas, era um cheiro doce, como das flores que despetalávamos quando éramos menores. Solto minhas mãos mas ela ainda se mantém agarrada a mim, olho para frente, sei que meu olhar transmite certa preocupação, afinal era o aniversário do desumano, nem ao menos sabia o que esperar de todo aquele movimento. Sinto mãos quentes preencherem as minhas, olho para Bryan que mostrava-me seu sorriso sem mostrar os dentes, seus olhos castanhos estavam mais claros hoje, devolvo-lhe o mesmo sorriso em forma de gratidão por aquele simples gesto de conforto. Olhava-me com a mesma ternura do dia em que nos conhecemos, lembro-me de Kyrie que estava muito bem arrumada, andava distraidamente no meio daquele grande salão, chamava a atenção de qualquer um com aquele vestido tão elegante vermelho sangue, o vestido não só ressaltava sua silhueta como a deixava mais alta, já eu não fazia questão de tantos olhares assim, vestia um elegante vestido na cor champanhe, Kyrie quase obrigara-me a comprar o azul, dizia que ressaltava minha pele clara e marcava bem minhas curvas, quase à matei quando comprara o vestido que estava usando naquele momento, lembro-me de sua reação, ela olhara para mim e revirara os olhos como sempre fazia ao ser contrariada, para mim aquela noite seria a especial noite de Kyrie, estávamos no salão da frente quando ele finalmente chegou, o fato de termos que espera-lo à deixou irritada pois fazia questão de se atrasar propositalmente, era seu charme. Mas sua irritação logo se dissipara ao ver o homem que lhe roubava suspiros, Herr. Klein um alto e reservado polonês, que era dono de uma grande mercearia, a qual eu sempre comprava e já o conhecia, eu era uma espécie de pombo correio entre os dois. Cumprimentei-o gentilmente quando percebo que ele não estava sozinho, um homem da mesma estatura, um pouco mais forte com olhar charmoso o acompanhava.
"Este é meu primo Bryan mis. Rosenblantt"
Olhei para Kyrie que soltara uma risadinha ao me encarar, logo pegou no braço de Herr Klein deixando-me sozinha com um completo estranho.
" Ficarei lisongeado Mis Rosenblantt, se aceitasse minha companhia esta noite"
E lá assistimos o musical que mais fazia sucesso no momento, uma ópera dramaturga. Depois daquele dia sempre que Kyrie falava de Herr Klein alfinetava-me sobre Bryan.
Sorri ao ver que aquelas memórias ainda estavam frescas em minha mente.
- Atenção! - Um cabo gritou - Hoje é a grande cerimônia que comemoramos mais um ano completo do General Schulz, Um grande homem que ...
A partir dessa frase parei de ouvir o discurso que o homem estava prestes a dizer, olho em volta e vejo o olhar dos judeus, estavam estatísticos em meio a tal situação na verdade, pareciam fazer o mesmo que eu, estavam desligados daquele momento, rezavam por suas vidas porque sabiam o que os esperava. Antes de pensar em qualquer outra coisa ouço a estrondosa voz de General Schulz.
- Hoje como já sabem é a minha festa, mas que graça teria se os ratinhos da casa não participassem hã? - os judeus permanecem em silêncio - Como presente a vocês ofereço-lhes a minha bondade, tragam!
No mesmo instante que acabara de falar empregadas traziam bandejas e mais bandejas de comida ainda quente, um peru assado, um frango, um porco, todos os tipos de comida eram deixados nos balcões do local em que éramos servidos. Após um grande desfile de comidas e bebidas ele ordena.
- Comam! - os judeus entreolham-se, posso saber o que imaginam, estaria envenenada? - Comam - ele bradou ainda mais forte, de uma forma ameaçadora, por medos judeus e mais judeus pegam os pratos que são servidos pelas empregadas - Comam seus porcos imundos - ele sorria abrindo um grande sorriso, os judeus empurravam-me fortemente o que fez-me separar de Audrey, acabei ficando exposta à frente e pude ouvir o diálogo de Schulz.
- Essas imundas são lindas não é mesmo? - Ele conversava com Aaron, Então olhou para mim - tragam aquela!
Soldados pegaram-me arrastando-me pelos braços, eles fizeram com que eu ficasse de joelhos à frente do general, ele ergueu minha cabeça para olhar-me, não o encarei.
- Esta é bonita não é mesmo? - Perguntou virando meu rosto para Aaron, não o olhei. - Olhe para ele! - Levantei o olhar vagarosamente encontrando os seus. - Acredito que deve haver mais belas General - disse olhando em meus olhos, Schulz virou meu rosto de volta para ele parecendo analisar-me mais - É... deve ter mais bonitas - ele deu tapinhas em meu queixo - levem-na.
Soltei um suspiro ao estar de volta à minha irmã que comia aquele prato. Pensei no que acabara de acontecer, Aaron acabara de humilhar-me na frente de Schulz, seu comentário chateou-me profundamente.
- Tome. - Disse Bryan oferecendo-me um prato daquele almoço e automaticamente interrompendo meus pensamentos.
Depois de uma longa tarde de almoço General Schulz se retira obrigando os judeus à aplaudirem-no, mas antes de sua triunfal saída o vejo cochichar com o cabo. Segundos se passam e logo puxo Audrey para perto de mim, vejo os soldados levantarem as armas, Schulz ainda observava ao longe.
- Atirem! Atirem nesses imundos!
Ouço séries de tiros sendo disparadas, avisto corpos caindo por todos os lados, gritos tomaram o local, alguns segundos a mais se passam e vejo o chão ser tomado por sangue, Melissa corre mais é recebida com uma bala ao meio da cabeça, instantaneamente tapo os olhos de de Audrey que agora agarrava-se com força à mim. Bryan tampa meu campo de visão abraçando-se a nós duas, mais alguns segundos de terror se passam e finalmente posso ouvir um quase silêncio, quase pois agora apenas choro e soluços tomavam o local.
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