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Capitulo 22

O almoço estava servido e eu sorria ao ver Aaron comendo minha comida com tanto gosto e apetite.
- Não sabia que cozinhava tão bem! - Ele cortava outro pedaço do frango assado que eu havia preparado. Sorri ao vê-lo animado daquela maneira com um simples frango, não era grande coisa, mamãe fazia um peru muito melhor, ela fazia questão de que todos os sábados um grande peru seria feito e distribuído na vila, as pessoas costumavam esperar desde cedo na porta pelo delicioso pedaço do peru, era a melhor cozinheira da região, mas para Audrey os bolinhos da Mrs. Melman ganhavam... Suspiro ao pensar nelas, queria que elas estivessem aqui, nesse lugar lindo onde o sol bate mesmo estando frio, onde temos comida de verdade, onde somos pessoas normais, onde somos livres. O garfo reluz na minha mão e eu o observo, não tinha mais apetite, levanto meu olhar e me deparo com os olhos de Aaron que me encaram observando meu semblante, seu olhar era algo extraordinário, o reconheceria de longe com aqueles olhos azuis esverdeados que olhavam para tudo com profundidade, percebia cada detalhe e nada passava por ele, ao mesmo tempo que era transparente era misterioso e sério, o que fazia qualquer um querer desvendar aquele homem. Era tão fácil perder-me em seu olhar. Desvio o olhos dos seus que me analisavam, olho para a comida que se encontra em perfeito estado.
- Minha mãe me ensinara a cozinhar... - digo sem expressão remexendo o frango que estava em meu prato.
Aaron pega uma grande quantidade de comida no garfo e põe em sua boca se levantando. Ele toma minha mão e eu me levanto automaticamente, ele anda pela casa.
- O que está fazendo? - sorrio com seu gesto, ele me surpreendia a cada minuto.
- Quero te mostrar uma coisa. - Ele para à minha frente olhando no fundo dos meus olhos, seu olhar queria dizer-me alguma coisa, ele continuava eufórico - Mas para isso, você terá que fechar os olhos.
Sorrio e fecho os olhos, sinto sua mão puxar a minha para me guiar mas não consigo resistir, entreabro um dos meus olhos e ele me pega em flagrante.
- Shaiya! Assim não vale - Ele diz sorrindo próximo ao meu rosto. Com aquela proximidade era impossível não beija-lo então assim eu o fiz, senti seus lábios sobre os meus que suplicavam a cada segundo mais por ele, afasto-me lentamente e ele abre vagarosamente um sorriso encantador.
- Vou perdoa-la... Mas agora como punição terá que usar isso - Ele diz pegando um echarpe negro que estava pendurado.
- Ah não - digo tentando fugir de seus braços rindo, ele me segura gentilmente e me venda.
Não vejo nada apenas sinto-o me puxar e ando para onde ele me guia, sinto um frescor e sei que estamos perto da porta, ouço o som da porta se abrindo e ele novamente toma minha mão, meus pés descalços sentem a grama macia ao chão, a venda fica vermelha o que significava que estava ao sol, o mesmo batia sob minha pele e eu sentia seu intenso calor, Aaron me guia por um tempo, eu não sabia o que ele queria tanto me mostrar mas nesse tempo eu nem havia saído de dentro daquela casa uma única vez, talvez seria medo de encontrar com algum alemão e voltar para o inferno novamente, ou seria simplesmente medo de ver as coisas belas que eu nunca mais havia visto, medo do que eu sonhava todas as noites: não estar sob cercas, eu, Audrey, mamãe e muitos outros sonhavam com aquilo, ver novamente, ou simplesmente pela última vez o que estava além da cerca.
Aaron para e eu paro também, ele me desvenda e eu fecho os olhos.
- Então agora você os fecha? - ele ri e eu o acompanho. - Abra-os
O sorriso de meu rosto se encurta e logo fico séria abro os olhos lentamente ao ver a imensa claridade que agora atrapalhava minha visão embaçada, logo que meus olhos se estabilizam entreabro os lábios ao deparar-me com aquela visão que me deixava sem palavras.
O sol batia na água de um imenso lago que estava à minha frente, patinhos nadavam nele e passarinhos cantavam nas árvores bem alinhadas ao lado, um píer atravessava até o meio do lago, onde um pequeno barco estava ancorado, um jardim esverdeado com vários tipos de flores nos cercavam.
- Eu pretendo dar um jeito nisso e...
- Não - o interrompo e olho em seus olhos - Está... - fico sem palavras - perfeito.
Ele sorri com satisfação ao ver minha reação.
- Vamos! Acho que eles estão com fome - ele diz erguendo uma sacola com migalhas e apontando com a cabeça para os patos que nadavam no lago.
Olho para ele com sagacidade e sorrio, Aaron sem me entender ergue a sobrancelha. Chego perto de seus lábios e lhe dou um beijo, mas sem perder tempo tomo a sacola de suas mãos e corro em direção ao lago rindo de sua cara de bobo, ele tenta me alcançar mas estou à sua frente, estou próxima do barco e preciso chegar antes de Aaron, que já estava me alcançando, ainda correndo tropeço em uma rede que estava no chão, o que me faz cair no lago. Aaron pula e me agarra.
- Você está bem? - Ele pergunta sorrindo
- Ah. ─ Murmuro com tristeza. ─ Eu estraguei tudo! - Respondo com um riso contido enquanto olhava para a sacola que boiava com as migalhas a nossa volta, os patos nadavam em nossa direção.
Ele não diz nada, apenas me olha, um olhar apaixonado, percebendo cada detalhe em meu singelo rosto.
- Você é maravilhosa. ─ Olho para ele que fala sério ainda analisando-me. - E eu te amo.
Seus olhos não mentem ao olhar-me. Contemplando sua sinceridade a retribuo.
- Eu amo você Aaron. - Digo tomando seu rosto em minhas mãos, ele me puxa para si e ali nos beijamos, no meio dos patos que comiam as migalhas que flutuavam e furavam a sacola em busca de mais.

•••

Já estava entardecendo quando decidimos sair do barco, depois que os patos comeram começaram a nos bicar então subimos nele. Entramos em casa, que agora parecia mais nossa do que nunca, em cada canto eu o via, e sei que em cada canto ele me veria.
Tomamos nossos banhos ─ um de cada vez. ─ e fizemos um breve lanche antes de irmos deitar.
Naquela noite entreguei-me a Aaron mais um vez, de uma maneira ainda mais profunda e avassaladora, estar nos braços dele era como andar ao ar livre e inspirar o perfume de todas as flores do mundo, era a sensação de paz mais profunda que poderia existir na terra. Nós nos completávamos, nós éramos a junção perfeita, a melodia mais bonita e a letra mais suave, éramos tudo, e ao mesmo tempo em comparação ao vasto mundo, éramos nada, mas quando estávamos juntos, apenas dois seres, éramos a personificação do que significa o amor. Dois diferentes formando apenas um igual.

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