Capitulo 20
Abro os olhos lentamente e vejo as ruas cheias, vários casais sorriam ao esperar na fila do cinema, o grande relógio que havia próximo a estação marcava 17h, na praça crianças corriam de um lado para o outro, alemães saiam da igreja sorridentes, tudo passava rápido, demoraram alguns segundos até eu perceber que me encontrava dentro de um taxi. Aaron estava à frente e parecia conversar com o taxista, eu estava com a mesma roupa de empregada, porém com a blusa de Brachmann.
- Aqui Senhor. - Brachmann apontou para uma grande casa que se encontrava em uma vila de classe alta.
Aaron saiu do carro e abriu a porta para me pegar, abriu um quase-sorriso ao ver que eu estava acordada.
- Precisa de ajuda?
- Estou bem - sorrio sem mostrar os dentes, minha cabeça ainda doía mas não tanto quanto antes. Ele oferecera-me sua mão e eu a tomo como apoio para sair do carro. Pagou o taxista e andou até mim.
- Essa é a casa que eu cresci. - ele apontou com a cabeça para a grande casa que estava diante de mim.
Ele abrira o portão e eu entrei. Subi as escadas e esperei para que ele abrisse a porta. Ele a abriu e eu entrei. A casa era bem detalhada e em um estilo mais velho, lustres de cristais caíam até o meio, grandes janelas e vidraças dominavam a grande sala que mais parecia um salão. Caminho até um quadro que me chama a atenção, o rosto da mãe de Brachmann era realmente parecido com o meu, em uma pose de madame, estava ao lado de seu marido que era igual a Brachmann. Ambos sorriam felizes. Mais quadros achavam-se pendurados pelas paredes da grande sala, tinha fotos do casamento, de sua mãe grávida, de seu pai e seu tio, de Aaron quando era pequeno. Sorrio ao ver aquela foto, Aaron pequeno sorria no colo de sua mãe, seus olhos verdes mesmo na foto em preto e branco, transmitiam seu brilho real. Olho para seus olhos que observavam-me ao tocar os antigos quadros.
- Todas essas coisas parecem fascinantes aos seus olhos. - Ele diz ao me observar.
- Para você não? Não te fascina estar livre, ver o mundo e sorrisos novamente? Se sentir... Normal.
- Não... Isso não me enche os olhos.
- E o que o fascina Aaron? - Pergunto olhando propositalmente com intensidade, agora ele estava próximo a mim.
- A mulher que me fez fazer a maior loucura de minha vida.
Meu corpo estremece com sua confissão.
- Temos que sair rápido daqui - Ele me encara - Eles sabem onde é a minha casa, logo estarão aqui também, vou pegar algumas coisas e iremos para outro lugar...
- Que outro lugar? - Pergunto sorrindo
- É uma surpresa - Ele abre um sorriso de lado um tanto tímido, seu olhar fica cabisbaixo por um instante - Sei que está cansada mas é preciso estarmos em um local realmente seguro, logo você descansará como merece, em belo lugar.
Assenti com a cabeça.
- Se quiser tomar um banho ou comer algo fique à vontade, irei arrumar nossas coisas.
Vou para o banheiro e faço minhas higienes, Aaron entregou-me uma roupa antiga do guarda roupa de sua mãe. Era ótimo sentir-me limpa, e com roupas limpas, meus cabelos estavam penteados, mas minha face ainda transparecia o cansaço. Aaron fez uma ligação e logo um homem apareceu a nossa porta, Aaron o entregou uma outra maleta com mais dinheiro dentro, o homem lhe entregou algumas chaves, ficaram conversando por um rápido tempo e logo um taxi chegou. Antes de sair daquela casa pego uma foto de Aaron, ele estava com sua farda, a foto foi tirada em sua formatura. Guardo no bolso do sobretudo e saio entrando no taxi.
•••
Duas horas se passaram e o carro não parava, eu dormira durante o percurso, acordei com buracos na pista quando percebi que adentrávamos cada vez mais no interior da cidade, fazendas e sítios se passavam, já estava de noite quando finalmente chegamos a uma grande casa em um bosque, estava no meio termo entre sítio e fazenda. Pelo pouco que vi pela escuridão da noite era linda, perfeita para nós e para vida tranquila que levaríamos daqui para frente. Aaron e eu descemos do taxi, ele o pagou, e veio até mim, depositou um beijo em minha testa.
- Bem-vinda a sua nova casa Shaiya. - ele disse encarando o portão de nossa casa.
Com olhos marejados o encaro e ele sorri, com o sorriso mais sexy e belo que já vira na vida. Tudo que me restara era o dono daquele sorriso que deixava minhas pernas bambas, o dono do olhar que tirava-me de mim. Olhando minha reação e as lágrimas que caíam ele secava com seus dedos calejados.
- Deixe isso para depois... O que está esperando para entrar?
Invado a casa que era perfeita para nós. Cada centímetro daquele lugar era perfeito, a casa não era tão luxuosa quanto a casa de Aaron, porém era melhor do que tudo que havia possuído durante a minha vida. Olhava tudo com encanto em meus olhos, Aaron estava ao meu lado e sorria calmamente, pela primeira vez durante todos àqueles meses de sofrimento sentia-me em paz. Sabia que os traumas que havia adquirido não iriam embora facilmente, mas sabia que conseguiria conviver com aquilo, conseguiria guardar apenas as lembranças boas e esquecer dos momentos de dor, no fim seria como um ferimento que apesar de ter sarado a cicatriz ainda estaria ali.
- Venha comigo. - Aaron tomou-me pela mão e nós subimos alguns degraus, chegamos até um pequeno corredor com duas portas do lado esquerdo e uma do lado direito. Ele abriu a segundo porta à esquerda e adentramos o local, havia uma cama extensa assim como outros móveis, eram poucos porém suficientes. Aaron mexia em alguns móveis, abrindo gavetas e portas.
- Precisarei comprar algumas coisas amanhã. - Ele diz enquanto abre o guarda-roupa e vê os cabides vazios. - Preciso lhe mostrar algo.
Nós descemos as escadas e andamos até a cozinha, um lugar simples como os outros, ele abre uma porta e entramos em um depósito de vassouras e panos velhos, ele bate na parede de madeira até achar um lugar que era oco. Observo tudo sem dizer uma palavra.
Aaron empurra e depois afasta o pedaço de madeira e vejo escadas a nossa frente. Ele liga uma luminária e me puxa para o compartimento secreto. Nós descemos as escadas íngremes e chegamos à um porão sujo e mal iluminado. Vejo uma cama com um colchão fino e alguns móveis simples.
- É aqui que nos esconderemos caso algo aconteça. Sei que não é um lugar aconchegante, porém é escondido. Ninguém sabe da existência deste lugar, exceto o antigo dono. Ele é judeu, está fugindo para a Holanda agora. - Aaron encara-me profundamente, mas sua expressão era serena. - Creio que não precisaremos usar este lugar.
- Espero que não. - Sorrio com os lábios. Aaron se aproxima e sua mão acaricia minha bochecha, meu corpo amolece com seu toque.
- Estou feliz por estar aqui com você. - Ele diz enquanto olha em meus olhos, a imensidão azul a minha frente deixa-me tonta, meu corpo se arrepia e sinto minhas pernas fraquejarem. Respiro fundo e tento concentrar-me nos olhos de Aaron, porém meu olhar cai sobre seus lábios sedentos, não suporto olha-lo por mais tempo e afasto-me de seu corpo. Antes que ele possa me segurar eu corro pelas escadas e ando rapidamente pela casa, subo as escadas que levam até o quarto e entro no mesmo. Ouço os passos de Aaron na escada e meu corpo entra em pânico, não conseguia entender o que estava acontecendo comigo.
Aaron abre a porta e para no mesmo lugar, ele apoia seu corpo no batente e encarou-me com um sorriso deslumbrante.
- Não entendo porquê está sorrindo. - Eu digo e acabo rindo logo depois.
- Não entendo porquê está sorrindo. - Ele tenta imitar a minha voz e eu rio ainda mais. Olho para o rosto de Aaron e um desejo indescritível me invade, olho para seus lábios e sinto aquele desejo me invadir por completo, não havia como explicar o que sentia, e sinceramente, não queria entender.
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