Capitulo 1
Três meses haviam se passado mas aquelas imagens jamais sairiam da minha mente, aquilo estava marcado para sempre na minha vida, depois daquela noite tudo mudou, fomos obrigados a largar tudo que tínhamos e viver em um enorme campo de concentração. Onde fomos aprisionados como animais em cativeiro, torturados, assassinados, não importava a idade. No começo tínhamos esperança de que um dia a dor acabaria, mas com o passar do tempo percebemos que aquele inferno era real, e parecia não ter fim. Eu e minha mãe e minha irmã vivíamos em um alojamento onde habitava cerca de 625 pessoas, tínhamos que dividir a comida, que era escassa, e banho era um luxo que raramente tínhamos, usamos um tipo de uniforme estampados com listras que um dia foram azuis, de qualquer maneira tínhamos sorte, pois nosso campo era o mais próximo de Berlim e tínhamos suprimentos razoavelmente suficientes, conseguíamos ter uma refeição por dia o que era algo raro em outros campos, ouvia dizer que muitos estavam morrendo de fome em outros campos de concentração.
Vivíamos sob fortes muros e razoavelmente escondidos da sociedade. As pessoas e a mídia escondiam a verdadeira maneira como vivíamos, nas televisões alemãs mostrava-se muita comida, judeus felizes vivendo normalmente, com roupas descentes e até mesmo instituições de ensino para crianças e adolescentes. Porém a realidade era diferente, muito diferente. A realidade era cruel!
Tínhamos que saber viver, saber comer, saber agir, saber trabalhar, e mesmo assim estávamos sobre risco de morte. As mulheres principalmente, alvos dos soldados alemães que não tinham misericórdia, eram incontáveis as vezes nesses meses que fugi desses tipos de soldados, eles eram cruéis, parecíamos pragas para eles, tínhamos que sofrer.
Todos os judeus sabiam que a morte era uma certeza irrevogável, mas quando estávamos sob vigilância daqueles soldados sanguinários, sentíamos a morte sussurrar em nossos ouvidos.
- Judeus! - A voz de Herr Schulz soou nos alto-falantes fazendo com que eu me assustasse e parasse o que eu estava fazendo. - Todos na praça em 5 minutos. - Houve um chiado e logo depois o silêncio se instalou em todo lugar, os soldados se aproximaram e começaram a nos empurrar para a praça.
Corri até minha mãe e minha irmã e de longe avistei Kyrie, tivemos sorte por ficarmos juntas.
- Terei que trabalhar na casa de um general durante esses próximos dias. - Minha mãe, Liah, disse logo que me aproximei. - Por favor, cuida da sua irmã.
- Com a minha própria vida mamãe. - Puxei minha irmã para mais perto de mim e ela sorriu. Audrey estava sempre feliz, não importava o que acontecia, eu invejava sua inocência e faria de tudo para que a mesma continuasse.
Quando todos estavam na praça, todos os soldados se reuniram em nossa frente e alguns se dispersaram em nosso meio, colocando-nos em fila. A quantidade de pessoas reunidas era impressionante,e eu não conseguia imaginar quanto tempo conseguiríamos sobreviver naquele lugar.
Um soldado passou ao meu lado, ele usava um uniforme extremamente impecável com braçadeiras com o símbolo nazista, ele segurava sua arma e nos encarava com um olhar de afronta, desviei o olhar enquanto ele passava, pois eu sabia do que aqueles soldados eram capazes e não gostaria de instiga-los a fazer qualquer coisa contra mim. O corpo pequeno de Audrey espremia-se entre a minha mãe e eu e todos ao redor pareciam aterrorizados, o medo era presente em todos.
- HEIL HITLER! - Todos os soldados que estavam a nossa frente gritaram e segundos depois ouviram-se tiros vindos de todos os lados, as pessoas não se escandalizaram, de alguma maneira aquilo havia se tornado normal. Pouco a pouco os corpos iam juntando-se no chão, os soldados atiravam sem remorso e eu sentia as lágrimas se acumularem em meus olhos. Há alguns meses atrás eu me imaginava terminando meu aprendizado em medicina e ajudando feridos, daria uma vida melhor para minha família e nós seriamos felizes como nunca. Mas a minha realidade era tenebrosa e melancólica.
Após a matança terminar todos voltaram para seus afazeres, Herr Schulz nos vigiava duramente, ele era o homem mais cruel que havia visto até aquele momento, mas sabia que havia alguém pior, só não era capaz de imaginar o que poderia ser pior do que assassinar pessoas diariamente a sangue frio, sem arrepender-se ou entristecer-se, ele matava por prazer, mas já era esperado ninguém seria um Obergruppenführer, um general sem matar judeus, mas sei que havia pessoas piores, patentes piores. Além da cerca havia um mundo que eu pensava que conhecia, mas nunca havia presenciado atos tão bárbaros. Eu sempre soube desse movimento contra os judeus mas jamais poderia imaginar que isso desencadearia tal ato. Estava trabalhando junto com as outras mulheres, carregando pedras para a construção dos muros e coisas para guerra, as mulheres levavam até os homens que juntavam tudo em carrinhos e levavam até os soldados.
Assustei-me quando um soldado parou ao meu lado e observou-me, senti algo frio roçar em meu pescoço e virei-me lentamente, o soldado agarrou-me pelo cabelo e arrastou-me com ele, eu gritava pedindo para que ele parasse.
- Cale-se judia imunda! - Disse rispidamente e calei-me por medo de morrer. As lágrimas rolavam sem parar em meu rosto e eu pedia a Deus para que ele me salvasse e tivesse misericórdia, eu sabia que iria morrer, só não queria acreditar.
O soldado me jogou dentro de um dos alojamentos, que agora estavam vazios.
- Tire sua roupa, agora! - Seu tom autoritário amedrontava-me mas uma coragem desconhecida tomou-me e então eu cometi um ato que com certeza causaria minha morte, cuspi em seu rosto e ele logo limpou o mesmo.
- Você não fez isso, sua vadia! - Ele me pega brutalmente pelos cabelos e me arrasta até o centro do campo de concentração, aonde há um poste de madeira, ao ficar de pé recebo um soco e caio novamente. - Sua vadia imunda, aprenda a respeitar quem é superior a você! - Recebo mais um soco seguido de um chute, com minha visão periférica consigo ver a aglomeração de pessoas. -ISSO É PARA VOCÊS APRENDEREM, JUDEUS DESGRAÇADOS! QUE ISSO SIRVA DE EXEMPLO PARA TODOS! -Ele pegou minha cabeça e bateu no chão deixando-me tonta.
Meus olhos estavam quase se fechando quando vi alguém chegar ao lado daquele soldado e dizer algo para ele. Foi a última coisa que vi antes de perder a consciência.
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