Sete
1.
O licor de pêssego faz seu estrago quando eu e Jimin estamos na saída do metrô. Eu o assisto vomitando as tripas enquanto fumo um cigarro encostado no muro multicolorido de pichações e, quando Jimin termina, ele está rindo e chorando ao mesmo tempo, passando as costas da mão pela boca molhada.
Desde os doze anos, quando tivemos nossa primeira ressaca juntos, eu sei que Jimin é o tipo de bêbado que fica idiota, então ele não consegue parar de rir, mesmo que ninguém esteja contando piadas, mas sei que, pelo menos dessa vez, ele está rindo da piada escrota que é a vida. Se você parar para pensar, há muita graça no fato de que um garoto de dezessete anos não tem problemas o suficiente para lidar, então um câncer na família é jogado em seu colo como uma nota ruim no boletim escolar.
Jimin está rindo porque sua mãe vai morrer e ele não tem a menor ideia de como processar isso enquanto a assiste ser consumida pela doença.
Ele se dobra em gargalhadas, tropeçando até mim até que sua mão esteja apertando minha camisa sobre o peito e então ele está se balançando de tanto chorar. Atiro o resto do cigarro fora e, tentando ajustar o peso dele nas minhas costas, eu o carrego pela rua escura em direção à minha casa.
Jimin soluça e solta um arroto sonoro na minha nuca. Ele acha engraçado. Pelo menos tem cheiro vômito com licor, o que resulta em algo que lembra iogurte de pêssego. É nojento, mas poderia ser pior, poderia lembrar pasta de atum.
"Se você vomitar em mim, vou torcer suas bolas até elas se destacarem do seu pau e vou pendurá-las na minha árvore de Natal."
"Vocês nunca armam uma árvore de Natal", ele geme. "Você odeia o Natal."
"Eu não odeio, só tenho preguiça de fingir que sou feliz nesse dia, porque todo mundo está estupidamente radiante. É, eu odeio."
É difícil subir as escadas com Jimin nas minhas costas, mas consigo. Estou suando em bicas ao chegar no topo, escoro Jimin no hall de entrada, ele grunhe algo ininteligível ao se dobrar para encaixar a testa na quina da parede e enfim consigo encontrar as chaves no bolso e enfiá-la na fechadura.
Harabeoji já está dormindo. Por mais que ele queira ficar de tocaia acordado para me pegar pela orelha assim que eu pisar em casa, ele não consegue, o que é um alívio, mas sei que amanhã terei de ouvir, como tenho ouvido todos os dias desde que comecei a trabalhar no Luxorine. Ele tem certeza de que estou saindo com marginais e fumando maconha na praça, e eu deixo que ele pense assim, porque é fácil ignorá-lo quando ele está gritando e agitando a bengala em cima da minha cabeça, mas vai ser difícil conseguir dinheiro para ajudar a salvar nossas contas e a padaria se ele for até o meu gerente pedir minha demissão.
Arrasto Jimin para o banheiro, ligo o chuveiro e mostro a ele onde estão as toalhas limpas. Entrego uma escova de dentes nova, verifico a temperatura da água e o cutuco nas costelas. Ele abre os olhos, respirando com dificuldade.
"Tome um banho, escove os dentes e vá para o meu quarto, ok? Jimin? Consegue fazer isso?"
Ele dá um tapa na minha mão com uma careta de impaciência, então chuta os tênis para longe e arranca a camisa. Saio do banheiro, fechando a porta enquanto Jimin resmunga. Sinto fome, mas meu estômago ainda não fez as pazes comigo depois que o massacrei com álcool até que ele estivesse sangrando para fora, então só me jogo no chão do meu quarto escuro e espero o que parecem horas para Jimin sair do banho.
E então, eu me lembro, tarde demais, que esqueci de dar roupas limpas para ele. Jimin surge no quarto completamente nu, uma toalha estendida sobre a cabeça como o manto de uma santa, olhos irritados porque com certeza ele deixou cair shampoo neles tentando lavar o cabelo.
"Ai, porra, Jimin", reviro minhas gavetas depressa, atirando para ele as primeiras peças que vejo na frente, uma bermuda comida pelas traças na perna esquerda e uma camiseta promocional do Limp Bizkit.
Jimin as embola distraidamente nos dedos antes de descartá-las e se jogar no colchão da minha cama, a bunda virada para cima, puxando meu travesseiro para abraçar.
"Você só pode estar de sacanagem", mas ele não está; ele está roncando baixo segundos depois, completamente apagado.
Coço a cabeça. Está escuro demais aqui para que eu enxergue em Jimin a quantidade de detalhes que vi no banheiro do vestiário da escola. A pele dele é clara no breu, um contorno suave como uma folha de papel em branco na noite. Não acendo as luzes; em vez disso tomo um banho, escovo os dentes e arrumo a bagunça que Jimin fez no banheiro. Reviro a pilha de roupas emboladas no chão do meu quarto, encontro um pijama limpo e o visto. Jimin está dormindo atravessado no meu colchão, de modo que tenho que empurrá-lo para que ele se encolha no outro canto, resmungando no meu travesseiro. Com algum custo, consigo puxar a extremidade para mim, então meu nariz está a centímetros dos cabelos úmidos de Jimin que cheiram a shampoo de erva doce.
O espaço é apertado como uma placenta. O cotovelo de Jimin pressiona meu peito e machuca, e não sei como ele não reclama do ângulo do meu joelho ossudo encaixado em sua coxa, mas quando meus olhos se acostumam com a escuridão, percebo coisas que não tinha visto antes, as linhas masculinas e delgadas da cintura de Jimin, a pinta solitária em sua nuca e, mais para baixo, vergões arroxeados atravessando seu dorso.
Minha mão paira sobre eles e toco as marcas com cuidado. Não é a primeira vez que vejo a pele de Jimin com marcas roxas. Quando éramos crianças, ele vivia machucado, e omma dizia que ele tinha a carne fácil de marcar como a de um bebê. Acontece que esses vergões não parecem resultado de um acidente, um encontrão de mau jeito com uma quina ou coisa do tipo. Estão alinhados em diagonal, vermelho magoado escurecendo do meio para fora num púrpura raivoso. Foram feitas a pouco tempo.
Minha cabeça começa a girar tentando encontrar explicações para isso, talvez ele tenha caído de uma escada? Essa desculpa é sempre tão patética, mas estou tão cansado que ferro no sono de qualquer jeito.
A sensação da pele nua de Jimin na minha é perturbadora, mas confortável. Está fresca do banho e é macia nos lugares onde nos encostamos, a carne interna do meu braço sobre suas costas, a minha panturrilha apoiada na dele. Em algum momento do sono ele se vira na cama, encaixando ainda melhor nos meus ângulos. Faz frio e ele está nu, então deixo que busque algum calor em mim. Apesar de nossos cérebros estarem encharcados de álcool e nosso sono ser tão estável quanto o Titanic naufragando, é um dos melhores sonos que lembro de ter tido nos últimos anos, com exceção da vez em que tomei uma overdose com os relaxantes musculares de harabeoji.
A pele de Jimin é deliciosamente macia, apesar dos músculos firmes. Não excessivamente macio como uma garota, mas liso e suave sobre tendões e rigidez.
Acordo várias vezes, ou porque o álcool atinge o ápice em meu sangue, acelerando meu coração, ou porque Jimin se mexe, então desisto de dormir quando começa a amanhecer. O bairro ainda está silencioso para esses lados, harabeoji ainda não levantou, o tac tac oco de sua bengala batendo no chão vai levar ainda algum tempo para irritar a moradora de baixo e ela irá começar a berrar e cutucar o teto de volta com um cabo de vassoura até que harabeoji esteja gritando pela janela num português brutal "enfiar na bunda, vassoura na bunda!".
Por enquanto há apenas silêncio. A respiração de Jimin é pesada, ele está tão, tão profundamente adormecido em mim e faz tanto tempo que senti algo próximo ao que sinto agora que tenho medo de me mover e empurrar essa sensação frágil para fora do lugar. Ela está mornamente aninhada embaixo do meu peito, um pássaro recém libertado com medo de voar.
Pode parecer simples dar o próximo passo, agora que eu sei o que está acontecendo aqui, mas não é. Eu posso beijá-lo nesse segundo, acordá-lo com minha língua tocando sua boca macia com reverência, entregando a Jimin seu primeiro beijo adequadamente, mas então eu o estaria chupando e nós dois cairíamos numa dimensão carnal que por mais tentadora que seja, é podre por dentro como uma linda maçã vermelha e envenenada.
Beijar Jimin não vai mudar o fato de que tudo é inútil. Não consigo pensar num depois, nem para nós dois, nem para apenas eu sozinho, ou para o mundo. Está tudo esmaecendo e as cores mais bonitas são escuras. Talvez o Yoongi que sonhava em entrar para uma das oito melhores escolas de música do mundo beijasse Park Jimin e tivesse coragem de contar tudo que vem sentindo por ele. Ele certamente o faria. Mas o Min Yoongi que tem ataques de pânico no banheiro porque não consegue nem ao menos superar a culpa pela morte da mãe não é capaz disso.
Sinto um medo aterrador, um medo que jamais senti antes, porque meu coração está disparando e cada vez mais alto e insaciável, faminto por Jimin e por tudo isso, e há o pavor de que essa agitação caótica dentro de mim esmague as sensações delicadas que ainda são tão, tão indefesas e inofensivas.
Eu fecho os olhos e escuto o silêncio. As ondas mornas do hálito de Jimin em minha garganta. É mais do que ouso merecer.
2.
A casa está vazia quando acordo. É domingo, mas isso não impede o cidadão filho da puta em alguma casa vizinha de furar a parede com a porra de uma britadeira, e as estocadas parecem perfurar diretamente meu cérebro.
Coço a cabeça e espalho meus cabelos descoloridos e bagunçados para longe dos olhos. Encontro meu celular embaixo da cama. São quase dez e meia. Harabeoji certamente saiu para fazer feira e Jimin não está em parte alguma, nem mesmo suas roupas vomitadas.
Na cozinha, há um copo de leite cheio sobre a mesa e um prato com uma torrada. Alguém passou geleia nela, formando um smile feliz. Deixo-me cair na cadeira, cansado, zonzo e estranhamente quente por dentro, embora esteja frio lá fora e minha bermuda deixe minhas coxas magras expostas. Fico alguns segundos encarando aquilo, coçando o cotovelo, então percebo uma folha de papel dobrada sob o prato. Eu a pego, a desdobro e reconheço o papel impresso da inscrição da Royal Academy of Music de Londres. As ranhuras marcam a folha recém esticada como cicatrizes, e atrás dela leio a letra cuidadosa e redondinha de Jimin:
Encontrei isso no chão do seu quarto, o prazo está acabando, não seja idiota
Nos vemos no LIMBO
pj
:)
3.
A parte mais difícil de desenhar Yoongi é sempre o rosto.
Na escola militar, a psicóloga de apoio sugeriu que eu desenhasse para extravasar algo que ela chamava de "queima lenta". Segundo ela, reprimo muitas emoções em mim e, um dia, quando elas explodirem como o pavio de uma dinamite queimando até o talo, vou ter uma crise. Ela não achava normal que eu tivesse notas tão boas, comportamento tão bom e fosse amigo de todo mundo.
Bom dia, Park Jimin, como vai sua vida perfeita hoje?
O que ela falaria sobre toda a minha perfeição se soubesse que sempre a achei uma vadia irritante?
Mas a sugestão dos desenhos foi boa. Não levou muito tempo para que eu aprendesse como acertar as proporções, os traços, assistindo tutoriais no Youtube, e foi mais rápido ainda entender que gosto de desenhar pessoas. No começo, rostos aleatórios de revistas ou outdoors. O tempo passa depressa quando sento na calçada com meu caderno de esboços apoiado nos joelhos; é dia quando começo, é noite quando termino, e eu não preciso soluçar entre um turno e outro com meu pai no hospital, na beira da cama da minha mãe enquanto olhamos para a quantidade de fios drenando os pulmões dela.
Então, fiz meu primeiro esboço do Yoongi durante uma aula de revisão de química. Ele estava dormindo na carteira, como sempre, fones nos ouvidos, o cabelo desgrenhado cor de linho cobrindo os olhos.
Quando voltei para o LIMBO, estranhei o fato de que Yoongi é meio como uma figura mitológica aqui. Ele era um saco de pancadas quando fui embora, mas agora todos olham para ele com uma mistura de medo e admiração, como se ele fosse um sobrevivente do holocausto ou algo assim. Como você olharia para um soldado que volta da guerra sem uma perna ou sem um olho. Os professores fingem que não ligam se ele dorme em todas as aulas, talvez porque não seja novidade para ninguém que Yoongi precisa da bolsa de estudos para estar aqui e, afinal, ele não é um mal aluno. Ele é um aluno bem melhor do que essa escola merece. A média dele ajuda a manter a escola no topo do ranking das melhores instituições de ensino de São Paulo, e é só o que os diretores podem querer, então está tudo bem se Yoongi está abaixo do peso ou se as mãos dele tremem sem parar ou se ele não consegue dormir de noite por causa da ansiedade e tem que dormir de dia por excesso de exaustão.
Está tudo bem, porque o LIMBO continua sendo a melhor escolha para o seu filho passar no vestibular, entrar numa ótima faculdade e ser um merda desempregado para o resto da vida.
O segundo esboço que fiz dele foi numa aula de educação física, quando ele foi substituído na partida de basquete e sentou nas arquibancadas, do outro lado da quadra, de frente para mim. Yoongi é bom em basquete ele fica particularmente melhor ainda suado. E eu não estou sendo um amigo pervertido, é só que a pele dele é muito clara e lisa e parece porcelana brilhando de suor. Além disso, ele tem braços bonitos. Ele parece realmente bem em regatas, por mas que vê-lo usando uma seja um fenômeno da natureza.
Não existe uma forma fácil de desenhar Min Yoongi, encaixá-lo nas regras de proporção e, olha só, este é Min Yoongi. Levo algumas dezenas de esboços para perceber que não há como capturar esse garoto num desenho, nem algo próximo a isso.
Desenhar Min Yoongi é doloroso, cada ângulo afiado e o brilho dos metais de seus cordões e a raiva selvagem de seus olhos pequenos. Mas eu tento e tento, até me sentir convencido de que, pelo menos, tenho algo tão impressionante quanto ele.
É o meu sétimo esboço e ele é feito durante o primeiro intervalo, logo depois da aula de biologia, antes da orientação vocacional. Yoongi está jogado nas cadeiras embaixo da escada, sozinho e entediado, parecendo com sono e irritado ao mesmo tempo. Ele escuta música com uma perna dobrada que serve de apoio para um cotovelo. Os coturnos pesados estão sujos de lama, a parca verde exército que ele usa infla em torno das camadas de roupa e a calça jeans preta cheia de rasgos e deixa entrever pedaços da pele branca como leite de suas coxas e joelhos.
Incluo alguns detalhes no meu desenho que não fazem parte do modelo real, luvas de couro que cobrem suas mãos, mas não os dedos, que eu traço com cuidado, um por um, as pontas quadradas e macias. Uma bandana para afastar os cabelos de seu rosto. Preciso escurecer o fundo para conseguir apagar fio por fio ao redor de sua cabeça para criar o volume dos cabelos claros. O nariz dele é tão fácil de errar, um pouco mais de força ou desleixo e aí está, um nariz grande demais.
Olho para meu esboço e para o verdadeiro Min Yoongi sentado nas sombras da escada a uma distância segura do resto do mundo. Suspiro de frustração.
Ele é bonito e imaterial. Comparo-o com meu desenho e então amasso meu sétimo esboço, que julguei ser bom o bastante.
Não há nada de impressionante no meu desenho. Eu lembro de uma tarde em que eu e Yoongi estávamos deitados na grama do parquinho, quando éramos crianças, e ele disse:
"O azul do céu, não existe essa cor."
"Chama-se azul celeste", explico, avaliando a profundidade do azul que parece se fundir em centenas de matizes mais claras e escuras nas bordas, um azul tão profundo e intenso que é impossível nomear, e sei imediatamente que fui enganado a vida inteira e que Yoongi está certo.
"Mas não é a mesma cor. É uma cópia falsa."
Nunca mais consegui pintar o céu de azul depois disso. Nunca mais acreditei no azul celeste sem ser o verdadeiro azul do céu real.
Yoongi é como esse céu, tons e tons e infinitamente profundo, impossível de capturar. Mesmo assim, eu não consigo parar de tentar acertá-lo, enfiá-lo nesse espaço de um A4 onde eu possa trancar na minha gaveta. No meu quarto. Só para mim.
Rabisco o caderno em meu colo enquanto o tempo da sessão com a psicoterapeuta passa. Ela não é uma vadia como a da escola militar, ela me deixa desenhar o tempo todo se eu quiser, e quando eu mostro meus desenhos, ela nunca pergunta diretamente quem é, embora seja evidente que é sempre a mesma pessoa. O mesmo garoto.
Hoje, ela está olhando pacientemente para mim enquanto escutamos música. É minha quarta sessão desde que voltei para a capital e eu sei que ela só está deixando que eu me sinta como se estivesse no meu quarto, para então me desarmar. É uma boa tática, admito, mas não acho que dará certo.
"Você gosta de azul?", eu pergunto, sem levantar os olhos do desenho. É um momento relaxante, a parte em que escureço as roupas de Yoongi, é sempre quando me deixo apenas deslizar o lápis pela folha criando texturas e vincos.
"Sim, eu gosto", ela responde.
"Por quê?"
"Você não gosta?"
"Responder com uma pergunta não vai funcionar, desculpe", lanço um sorriso simpático para ela. Deve ser tão escroto trabalhar com adolescentes, é por isso que meu pai levou dois meses para achar uma especialista aqui. Se eu tivesse 5 anos ou 30, seria mais fácil. Mas adolescentes são um labirinto confuso demais para se embrenhar. "E não, eu não gosto."
Ela retribui meu sorriso e suspira.
"Transmite paz", diz. "É uma cor que me acalma quando eu olho."
"E o cinza?"
"O cinza...", ela pondera. "As pessoas não costumam gostar de cinza."
"É", contorno a perna esquerda de Yoongi. Elas são longas e tonificadas por baixo dos jeans rasgados e quero criar exatamente a sensação de fluidez delas. Ele consegue parecer tão leve andando, mas tudo nele grita e é impossível não senti-lo. "Gosto de cinza. É sereno, é silencioso. Neutro."
A hora passa, eu termino meu desenho e o deslizo por cima da mesa até a terapeuta. Ela o olha, inexpressiva, antes de inclinar a cabeça e cruzar as pernas.
"Posso ficar com este?"
Dou de ombros. não é nem de perto meu melhor esboço, então tanto faz. Ela sorri e acena, indicando que a sessão terminou. Hora de voltar para minha vida perfeita.
Meu pai está me esperando no carro assim que saio pela portaria do prédio. Não trocamos uma palavra enquanto entro e coloco o cinto, e então rumamos para o hospital. O céu está cinza hoje. Vai chover e faz frio.
"Ei, Jimin", meu pai diz quando estamos no elevador subindo para a UTI, os adesivos com nossos nomes grudados em nossas blusas. "Tente sorrir, ok? Ela está mal e não vai ajudar olhar para essa sua cara assim, se esforce."
"Aham."
"Como está na escola?", ele força, cruzando os braços sobre o peitoral com um bufo de cansaço, mas não espera que eu responda. "Sei que está sendo difícil retomar, colegas diferentes, ambiente estranho. As coisas são diferentes agora, eu sei, mas mantenha suas notas. E sobre aquilo..."
Eu me encolho involuntariamente. Aquilo é o fato de que menti para ele sobre ter dormido em casa na noite anterior, enquanto ele passava a noite com mamãe no hospital. Ele ligou para nossa casa e ninguém atendeu. Ele não sabe onde passei a noite e isso o deixou realmente furioso.
"Não me faça monitorá-lo, Jimin. Isso é cansativo, eu não quero lidar com mais uma merda agora, entendeu?"
"Aham."
"Só faça o que você tem que fazer, mantenha suas malditas notas, seja um bom garoto, não é difícil, é?"
Movo a cabeça.
"Responda com a boca, Park Jimin."
"Não."
"Não, não é. Então porque você não consegue? Achei que a escola militar ia resolver essa rebeldia da sua idade, mas nem a terapia está funcionando. Isso custa dinheiro. Sua escola, seus cursos, psicóloga. Você ao menos abre a boca nas sessões?"
"Aham."
O elevador chega e meu pai me lança um olhar azedo. Saímos, e então, antes que ele se vire para entrar na ala da UTI, ele toca meu ombro e eu ergo os olhos para encontrar os dele. Há a sugestão de algo neles, uma fragilidade pueril.
"Escute, filho, eu procurei essa psicoterapeuta para você porque sei que as coisas com sua mãe serão difíceis, mas você sabe que há coisas que não precisa contar, não é? Coisas que devem ficar em família."
É claro. Fujo os olhos para baixo, mas a mão dele aperta meu ombro e eu faço que sim depressa.
"Aham. Está tudo bem pai."
Ele molha os lábios, nervoso.
"Olha, não é hora nem lugar para falar disso, mas o que aconteceu não vai se repetir. Isso tudo está me deixando com os nervos estressados, Jimin, é só isso, as pessoas erram."
Elas erram. E eu estou aprendo que elas podem errar e errar muitas vezes seguidas, especialmente se forem nossos pais. Sempre haverá perdão.
"Está tudo bem, pai", toco a mão dele no meu ombro e espero que pareça um gesto de carinho, mas o peso dos meus dedos se enroscam nos dele e eu o estou afastando de mim. Eu odeio isso, a sensação de medo que começa a me consumir quando ele se aproxima assim. Mas ele é meu pai. E ele precisa ser amado agora. "Está tudo bem mesmo, eu não contei para ninguém."
"Vamos esquecer isso então, sim?"
"Aham."
Ele entra na UTI enquanto me jogo numa cadeira para esperar minha vez de ver minha mãe, porque só uma pessoa deve entrar por vez. Sinto minha garganta fechando e o sufocamento voltando, então engulo em seco sem parar, respirando depressa. Meu pai sai, eu entro e passo os dez minutos seguintes olhando para o monitor cardíaco ao lado da cama da minha mãe. Não preciso sorrir, porque afinal ela está dormindo, pálida e magra. Eu odeio estar aqui e isso me corrói porque eu deveria gostar de estar ao lado da minha mãe, é o que os filhos fazem. Mas é insuportável e eu quero sair correndo. Em vez disso, choro em silêncio, não muito, para evitar que meus olhos fiquem inchados e alguém perceba. Então, devo sair para meu pai entrar outra vez.
Vou até a ala do berçário e encosto a testa no vidro gelado. Uma enfermeira pinça um bebê de um dos berços e o leva até a outra extremidade do quarto, onde há uma balança de metal. Ela desenrola o pequeno pacote azul e o bebê surge dentro dele, a pele muito fina e sensível cheia de manchas vermelhas como uma linguiça crua. Ele agita as pernas no ar e berra tanto que começa a ficar azul. Não ouço nada, apenas um silêncio profundo como o interior de um útero e isso me acalma lentamente. Sempre funciona. A ala do berçário é um grande alívio para mim.
A enfermeira pesa o bebê, o manuseando com agilidade e coordenação e ele apenas berra e berra, irritado e magoado. Ele sente frio com seu corpinho nu desprotegido, as bolas ficando roxas e pesadas quando ele estica as pernas para cima como se quisesse chutar a enfermeira e se livrar dela de uma vez por todas. Ele parece estressado, sem a menor ideia do que está acontecendo, porque ele está passando por isso, esse frio, essa agressão, quando tudo estava indo tão bem no escuro da barriga de sua mãe e então ele está no mundo.
Eu olho para os bebês enrolados em pacotinhos azuis e rosas e sorrio contra o vidro porque, se Yoongi estivesse aqui, ele iria saudá-los com o dedo do meio, um sorriso doce e algumas palavras de boas vindas. Algo que soaria como durmam, porque se dormir é bom, imagina morrer, que é para sempre.
Yoongi e bebês. Por alguma razão, pensar nisso é engraçado.
Meu cérebro trabalha, buscando uma maneira de estar com ele mais uma vez. Mais vezes. Ultimamente, tudo que posso desejar são berçários e um pouco mais de Min Yoongi.
4.
"Corra comigo", Jimin diz do nada, atirando a tampa do refrigerante no meu peito.
Mastigo o chiclete gasto. Ele está na minha boca desde a primeira aula e gruda nos meus dentes feito borracha derretida, mas estou com preguiça de jogá-lo fora. Eu e Jimin nos acomodamos nas mesas do pátio externo depois do almoço, entediados e inertes demais para ir para casa. Faz uma manhã razoavelmente quente, o calor brando entra pelos furos do meu jeans e aquece minhas coxas, então vou ficar aqui até que o inspetor surja para nos expulsar para casa.
Jimin parece partilhar da mesma filosofia, porque ele está jogado no banco em frente a mim, uma perna dobrada, a outra esticada para baixo, os dedos cheios de anéis batucando uma batida confusa no mosaico xadrez na mesa.
"Vamos começar a treinar amanhã", Jimin sentencia.
Tento fazer uma bola com o chiclete, mas ele está saturado demais de saliva para sequer esticar na ponta da minha língua.
Não faço que sim nem que não, mas pisco sonolento reorganizando minha mente para que o compromisso de me inscrever no campeonato esportivo no final do ano se encaixe em algum lugar entre dormir na aula de matemática e matar a de química amanhã.
"Achei que ia correr com Julian."
Jimin assente levianamente, e nós dois rimos.
"Hmmmnnn não?"
"Você é um filho da puta."
"Você corre melhor", ele aponta desnecessariamente para mim.
"Não tem como você saber", apanho a tampinha de refrigerante e a atiro nele de volta. Jimin desvia dela com um aceno elegante de cabeça.
"É física, garoto. Você é mais leve, menor resistência à gravidade, ganha velocidade mais rápido."
Abaixo a cabeça, uma fisgada de desprazer apertando minhas costelas. Jimin percebe e o clima muda, embora ele continue jogado displicentemente no banco, tilintando os anéis na mesa.
"Ei, quer comer alguma coisa?"
"Não estou com fome."
"Aham, ninguém nunca está. Você me deixou roxo, sabia?"
Faço uma careta. Jimin ergue as sobrancelhas, nossa comunicação ficando cada dia mais aprimorada.
"Seu joelho na minha coxa no sábado", ah, ok. A noite em que ele dormiu nu comigo momentos depois de quase nos beijarmos na escada de incêndio. Mas é claro que só falamos sobre o roxo que meu joelho ossudo deixou em sua coxa macia, é claro. "Não custa nada ganhar um pouco de peso", ele murmura suavemente, a mão esticando-se inconscientemente na direção da minha. Eu a retiro e enfio depressa no bolso do moletom e é nessa hora que o inspetor grita.
"Vocês não tem casa?"
"Não", murmuro de má vontade, mas Jimin está levantando e me puxando consigo pelo capuz do meu moletom.
5.
Almoço na padaria com harabeoji na quarta-feira e sinceramente não sei se estou vivendo ou apenas passando raiva. A tinta das cadeiras da parte da lanchonete estão descascando pela décima vez e, pela décima vez, harabeoji contratou um pintor para reformá-las com uma espécie de trabalho sujo que deixa as cadeiras com mais calombos que a minha perna nas viagens de acampamento da escola.
"É o que podemos pagar", ele resmunga quando eu e Ângela gememos juntos assim que o pintor chega.
"Apenas venda essas porcarias, junte algum dinheiro e compre novas!", grito de trás do caixa quando ele se afasta para o almoxarifado, então harabeoji volta, estica um dedo no ar e berra:
"Em Coreano!"
Eu repito em coreano, mas ele só abana a mão e se enfia em sua própria caverna.
Penso em fugir no meu horário de intervalo para o antro de cafeína de Kim Seokjin, mas me sinto culpado por estar compactuando com o inimigo e me conformo em fumar meu cigarro escorado na parede do lado de fora da nossa padaria, contando quantas pessoas passam pela rua, olham na direção da nossa loja e mudam de ideia antes de seguir em frente e irem tomar café no mercadinho da outra esquina.
Oito, no total. Em menos de dez minutos.
Esfrego o rosto com força, engolindo a vontade de gritar.
Não vai adiantar mesmo.
Ninguém escuta, nunca. Principalmente harabeoji.
6.
Eu e Jimin estamos largados no fundo da sorveteria, escolhendo o lugar em que vamos começar a treinar para o campeonato esportivo. A sorveteria está cheia a essa hora, os estudantes das escolas vizinhas, incluindo o LIMBO, costumam se reunir aqui e tomar sorvete entre mochilas e cadernos e celulares melequentos, mas eu e Jimin estamos apenas gastando o tempo até que nossas colunas estalem e criem hérnias de tanto sentarmos de mau jeito em cima delas.
"Ibirapuera", Jimin diz, lambendo o lábio superior molhado com sorvete de menta. "É o melhor lugar. A pista é regular e tem sombra."
"Todo mundo corre lá."
"E qual é o problema?"
"Todo mundo?"
Jimin deixa a cabeça pender contra a parede e me encara duramente. Desvio o olhar para os rasgos em meu jeans.
Existem três tipos de discurso que uma pessoa com fobia social ouve.
O primeiro: você precisa se animar e sair mais. A vida está passando, você é tão jovem.
O segundo: se não reagir, nunca vai melhorar.
E o terceiro: pare de viver uma vida fictícia e virtual e viva no mundo real.
Essa última é a que mais me dá vontade de rir, porque é tão hipócrita. Todos estão vivendo fora do mundo real, de um modo ou de outro, se entupindo de prazeres rápidos, estímulos eletrizantes que possam causar alguma sensação em seus corpos mortos. Ninguém está realmente aqui e, segundo Nietzsche, até mesmo Deus está morto, porque o ser humano não sabe mais como ser humano.
Então, eu apenas espero que a facada venha de Jimin; qual será o discurso que ele vai escolher? Aposto no primeiro, é mais o estilo dele.
No entanto, ele só me olha e olha e olha por tanto tempo que acabamos rindo do silêncio constrangedor na nossa mesa.
"Tudo bem", ele diz mansamente, a voz dócil. "Eu vou pensar num jeito."
Faço minha melhor cara de tanto faz, mas minhas mãos tremem e meu peito expande. Sinto-me cheio como um balão de gás. É boa a sensação de não ser pressionado. É maravilhosa.
7.
No sábado, o tempo fecha. A chuva desaba sobre a cidade, escurecendo o topo dos prédios. Eu ando pelas ruas debaixo da proteção do meu capuz, pego o metrô e faço o que mais gosto: me perco. Não exatamente. Sei para onde caminho: até o prédio mais alto de São Paulo. Pego os elevadores e saio na cobertura. O vento cortante dói em minha pele exposta nos rasgos da calça, mas é bom.
Olho para o horizonte repleto de concreto e aço sob o domo enegrecido das nuvens. A barriga delas é perolada, o sol por trás pulsa junto com os trovões e forma um arco-íris flutuante no meio do nada.
Respiro a chuva com força, sentindo-a limpar a fumaça e o carbono dos meus pulmões.
Há beleza nisso, aqui, em qualquer lugar. Às vezes, quase o tempo todo, é difícil demais enxergá-la, mas não posso simplesmente me cegar para ela. Eu preciso ficar de olhos abertos e respirar isso até que meu corpo esteja doendo, até que meu coração esteja pulsando com tanta força que eu me sinta grato.
Até que a chuva desenhe no meu rosto lágrimas que nunca tive.
8.
Jimin liga para mim domingo de manhã. Está cedo demais para que eu sequer comece a existir, mas mesmo assim atendo, rolando nos lençóis quentes da minha cama dura até estar encolhido contra a parede.
"O que é?"
"Vamos correr!", ele soa animado, a voz tremulando como uma bandeira.
"Jimin, vai se foder."
"Estou saindo agora. Ibirapuera, me encontre lá em vinte minutos."
"Eu já disse que não vou correr nessa porra, odeio o Ibirapuera", rosno. "Merda, está frio para caralho."
"Você tem vinte minutos ou vou ficar puto, Yoongi."
Suspiro. Sei que Jimin está falando sobre ficar puto no estágio três, o pior de todos. Solto um gemido impaciente, arrancando as cobertas e me esticando.
Troco o pijama por uma roupa de treino, shorts de lona e uma camisa dry fit por baixo do moletom. Harabeoji ainda está dormindo, então escrevo um bilhete e o prego na geladeira, não me importando com a quantidade e erros gramaticais do meu coreano. Sempre confundo as malditas partículas.
"Puta que pariu", está chovendo agulhas quando piso fora de casa, uma chuva ácida de tão gelada.
Quando chego no parque, Jimin está sentado num banquinho próximo à entrada, com um sorriso que não tem o menor cabimento. Ele se levanta quando me vê, está usando calças de lona e uma camisa de manga comprida. Está completamente ensopado.
"Você tem problema mental, porra?", grito ao passar por ele correndo, preciso extravasar minha raiva. Jimin não se abala, ele me alcança depressa e então estamos correndo no mesmo ritmo, lado a lado. Ele está rindo sem parar, todo convencido. "Está chovendo, fazendo um frio do caralho, não são nem sete horas da manhã de um domingo e eu falei que não queria correr nessa merda!"
Jimin está gargalhando. O filho da puta está gargalhando!
"Qual é a graça, arrombado?"
Ele enxuga as lágrimas dos olhos e dá um tapinha na minha nuca. Meu queixo cai. Ele não fez isso. Ele não pode ter feito isso.
"Está vazio", ele diz suavemente. "Totalmente vazio."
Minha respiração desregula quando olho ao redor e vejo que o parque está deserto. Nenhum ruído de crianças irritantes berrando, bicicletas atropelando transeuntes e carrinhos de algodão doce buzinando. Silêncio, o mais completo silêncio, exceto pela chuva batendo nas folhas das árvores e do eco distante do ronco constante da cidade.
Jimin ri apontando para a minha cara; eu o empurro, mas ele é forte demais para sequer perder o equilíbrio e eu acelero, ganhando alguma vantagem antes que ele me alcance de novo. Ganho outro tapa no pescoço, dessa vez seguido de um afago que se demora no meu cabelo. Estamos rindo, porque sou insuportável e acho que posso aceitar isso apenas dessa vez.
A chuva aumenta, assim como o frio, mas nossos corpos aquecem no ritmo da corrida e é bom, é tão bom ganhar velocidade e deixar os pensamentos livres. Jimin está bem ao meu lado, às vezes nos olhamos e rimos um da cara do outro, ou do que quer que esteja borbulhando em nossos ventres como uma calda quente.
Corremos e corremos e corremos, metros transformando-se em quilômetros, e então eu não consigo mais dar um único passo. Estou encharcado, a roupa grudando nas minhas costas, meus cabelos pingando nos meus olhos. Minha pele inteira queima e eu me sinto prestes a explodir e derreter. Estico o braço para puxar a manga da camisa de Jimin, sem fôlego para conseguir chamá-lo e avisar que chega, estou morto. Meus dedos entrelaçam seu pulso e eu o puxo. Jimin freia bruscamente, segurando a parte da frente do meu moletom para se equilibrar, o peito colidindo com o meu e nossas respirações de repente emboladas uma na outra.
Não existe um momento de hesitação. Não existe um momento de euforia que antecede algo grande que muda uma vida inteira, não existe nada, existe só a boca de Jimin na minha de um segundo para o outro, uma, duas vezes, três, e eu estou capturando as gotas de chuva presas em seu lábio inferior.
Meus pulmões rasgam, aspiro o ar com a boca escancarada, os lábios roçando os de Jimin, que suga meu fôlego e aperta os dedos em meu peito. Ele gira a cabeça para tentar encaixar o beijo, os lábios dele resvalam nos meus sem precisão. Não conseguimos respirar, nossas mentes giram e nosso sangue ferve. Murmuro um palavrão porque simplesmente não consigo beijá-lo e tentar respirar ao mesmo tempo, é como viver enquanto me afogo, e nós dois estamos quase morrendo de vontade de enlaçar as línguas até que Jimin segura meu rosto com força e elas finalmente se chocam. Gememos em alívio, o choque expulsando o fôlego que se restabelece e eu não sei se consigo respirar porque Jimin expira diretamente em meus pulmões ou porque estou beijando-o. Jimin.
É um soco de vida. Estou sendo empurrado bruscamente para o alto, meu coração pulsa na minha garganta.
Eu o puxo pela cintura, sem saber como apertá-lo mais, Jimin aninha as mãos em meu pescoço e o beijo começa descoordenado e sem ritmo, mais lábios e dentes do que língua, mas é o suficiente para nos deixar duros e paralisados de torpor. Saímos da pista e tropeçamos na grama; quero mais, preciso de mais, mas não consigo me mover. Meus ossos, meus órgãos, minha mente e meus sentidos estão em pane.
"Jimin", seu nome é a única coisa que faz sentido agora. Ele assente, entendendo do que preciso, do que precisamos.
"Seu avô está em casa?", ele fala com dificuldade, a boca ainda roçando na minha, tentando chupar meu lábio e chiando quando a ponta da minha língua desliza na sua. Levo meio segundo para processar a pergunta.
"Não."
A resolução molda nosso olhar e nos afastamos apenas para esbarrar nossas bocas novamente, nos puxando pela parte da frente das roupas. Não conseguimos nos soltar, por mais que aqui não seja o lugar e estejamos ficando tontos por causa da falta de oxigenação. A chuva engrossa, inundando nosso cabelo e se infiltrando por entre nossos lábios, as gotas frescas mesclando à nossa saliva, tornando o deslizar ainda mais fácil e fluido. É um beijo que não consegue encontrar ritmo nem parar, então ofegamos e encaixamos as bocas em estalos e sucções estabanadas, até que seguro os pulsos de Jimin e cambaleio para trás. Ele engole em seco, a boca inchada, a expressão torturada e os olhos brilhando e não devo estar muito diferente disso.
Eu quero dizer a ele que é meu primeiro beijo em um garoto e quero perguntar a ele se ele acha que esse beijo é o bastante para ser o primeiro beijo dele também. Eu acho que as pessoas deviam escolher qual é o primeiro beijo delas, mesmo que elas tenham beijado outras pessoas antes. Eu já beijei muitas, mas eu quero que esse seja o meu primeiro e ele será.
Nossas bocas estão abertas e a chuva rabisca o ar entre nós. Eu abro a boca, mas não consigo achar as coisas certas para dizer. Eu o beijei e, meu deus, eu o beijei. Meu amigo.
Dou mais um passo e ele me acompanha, nossos olhos arregalados cravados um no outro, sem piscar. Não acredito que fizemos isso. Não acredito que faremos mais.
Porque, então, estamos correndo outra vez, em direção à saída.
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eu tenho um carinho tão grande por esse capítulo. Ele começa a mostrar um pouco mais do Jimin e ele é tão, TÃO precioso :( e também, o beijo, o que vcs acharam?
eu acho que mereço um comentário, já que foi um sufoco postar esse cap hj, ele realmente quase não sai kkkk
eeee eu estou feliz com a decisão que tive de postar Al Fine aqui, porque me sinto mto mais livre para seguir com a história, e ela será doce, eu prometo, apesar de toda a angústia
isso foi uma coisa que fiquei em dúvida enquanto plotava a história, se ela seria classificada como "angst", e confesso que ainda estou na dúvida kkkkkkk eu acho que sim, a tradução correta seria angústia? É o que sinto escrevendo Al Fine, além de muito amor por Yoongi e Park Jimin :)
<3
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