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Quatro

1.

"Você tem experiência?", o gerente pergunta.

Eu olho para ele, de saco cheio. Que tipo de experiência ele espera que um garoto de 17 anos tenha? Quero dizer para ele que tenho experiência em odiar. Em não dormir, em sentir dor, em fumar até meus pulmões necrosarem e ser um merda. Mas ele não parece o tipo de cara para quem se pode ser franco, e é por esta razão que ele é o gerente numa filial de uma rede de hotéis de luxo.

"Você tem experiência em servir mesas?", ele repete pacientemente.

"Não", e, só porque não tenho escolha: "Mas posso aprender."

Ele me olha. Avalia a cor do meu cabelo descolorido, minhas argolas nas orelhas, meu rosto de olhos puxados e raivosos. Não tenho tatuagem, sei lá porquê. Todo mundo tem. Deve ser por isso que não tenho. Tudo em mim indica que serei um péssimo funcionário. Tudo em mim indica que estou com tanto sono que já nem estou nesse mundo. Acho que ele vê o desafio em mim, o mesmo que enxergo quando olho no espelho. Desafio você a suportar toda essa merda escrota. No fim, ele aceita me colocar no período de experiência. Afinal, ele já teve 17 anos. Ele sabe que é um sufoco.

Começo na sexta. Quatro às dez. Não tenho a menor ideia do que vou inventar para harabeoji para justificar chegar em casa todo dia depois das dez. Ele vai gritar em coreano. Eu vou me lixar em silêncio, o idioma dos zumbis.

Na manhã seguinte, chego mais cedo na escola com a intenção de pegar a carteira mais ao fundo, perto da janela, mas o professor de história já está na sala, conversando com a mãe de um aluno. Ele me olha com exasperação quando entro, e decido que não vai pegar bem se eu me embolar no moletom para dormir bem debaixo do nariz dele. Sem o mar de cabeças para me dar cobertura, ficarei muito exposto. Vou para o ginásio. Tenho certeza de que está vazio porque as aulas de educação física são sempre no último horário, mas Jimin está lá, calça jeans e camiseta aderindo ao seu corpo ridiculamente esculpido, acertando a bola de basquete na cesta.

Eu paro. A porta vai-e-vem do ginásio bate em minhas costas no mesmo instante em que a bola que Jimin jogou passa pelo aro e atinge o chão, mas ele não a pega. Está olhando para mim. Seus olhos estão vermelhos e inchados e ele funga. Eu espero que ele acene, diga alguma coisa. Ele deve esperar o mesmo de mim, porque fica completamente imóvel. Nossas respirações aceleram na expectativa de um reconhecimento, o resgate de uma familiaridade, e eu me sinto miserável por querer isso. Dou meia volta e vou embora.

Sou grande demais para caber no armário debaixo da escada, então volto para a sala, pego uma carteira qualquer e espero a aula começar.

2.

Uma garota da sétima série se matou ontem de noite. Não lembro o rosto dela. Essa escola tem cento e noventa e dois alunos, eu contei quando este ano começou, contei os nomes nas folhas no mural de avisos, no primeiro dia de aula, quando fui verificar em qual sala eu tinha caído. Cento e noventa e dois adolescentes e crianças. Ela tinha treze anos, eu a encaixaria na categoria criança, mas já não tenho certeza. Ela estava bêbada quando engoliu os comprimidos prescritos pelo psiquiatra da mãe. Não consigo imaginar que tipo de criança faça isso, mas também não consigo mais enxergar crianças neste mundo.

Eu tinha doze anos quando dobrei a esquina da rua e vi o fogo. Eu tinha doze anos quando perdi minha mãe e parei de sonhar.

Estão fazendo uma vigília para a garota suicida na porta da escola. Estou dentro da sala de aula, sozinho, esperando pela próxima aula que não sei se vai acontecer, porque os professores não param de chorar.

Está um clima de merda por aqui hoje. A escola inteira cheira a morte e acabo vomitando duas vezes no banheiro interditado do terceiro andar. Meu estômago dói. Quero ir para casa, e é exatamente o que faço, mas, quando chego em casa, quero estar em outro lugar. Saio andando pela rua, pego o metrô e vou até o MASP. Não entro, só fico na praça em frente a ele, olhando aquele envergamento de metal vermelho e vidro e a cidade refletida neles. A fome machuca minhas entranhas, mas minha boca está seca.

Quando volto para casa, Jimin está encostado no portão. São cinco horas da tarde e o céu tem aquele tom roxo azulado que torna tudo inacreditável e secreto. Ele parece ter chorado o dia inteiro, como todo mundo. Ele sempre suportou tão bem a existência, é estranho vê-lo assim. É estranho vê-lo.

"Oi", ele diz, fungando. Fico parado na calçada, os ombros pesados. Vai fazer frio essa noite e Jimin está usando um moletom azul de capuz que o faz parecer mais magro do que realmente é. Eu mal sinto a dor do frio em meus ossos anestesiados. Jimin fica desconcertado com minha falta de interação, então sorri um pouco. "Annyeong haseyo?"

"Você quer que eu te mande se foder em português ou em coreano? Por que não falou comigo ontem de manhã, no ginásio, caralho?"

Ou no vestiário, enquanto eu olhava para o seu pau?

Mas deletei esse episódio da minha mente, ele agora é como um arquivo fantasma na minha memória interna – está lá, em algum lugar obscuro, e me recuso a fazer um backup desse momento vergonhoso.

Jimin encolhe os ombros, as mãos enfiadas no fundo dos bolsos da calça. O que mais me irrita nele é seu olhar de criança crente que o mundo não consegue corromper.

"Eu não estava esperando você entrar naquela hora. Estava... pensando em outra coisa."

Eu olho para ele.

"Eu estava lá, na sala de aula, nos corredores, todo esse tempo, desde que você voltou, era só ter falado comigo."

Eu também poderia ter falado com ele, é claro, mas estou tão puto e minha voz soa tão agressiva que se Jimin cogita a possibilidade de rebater isso na minha cara, pensa duas vezes e desiste.

Além disso, não fui em quem foi embora, e a culpa no modo como ele desvia o olhar para a calçada deixa isso bem claro entre nosso silêncio.

Tem alguma coisa que Jimin não quer me dizer, mas está morrendo de vontade de falar. É incomum essa atitude nele, essa agonia em seus olhos inchados de choro.

Abro o portão e entramos. Quando estamos na cozinha, lembro que Jimin não conheceu esta casa, porque foi embora um pouco depois que nos mudamos. Sinto um pouco de vergonha porque nossa condição financeira vai de mal a pior e isso parece um cheiro ruim exalando dos encanamentos. Ele se encosta no balcão da pia e é tão esquisito o fato de que ele agora ocupa praticamente metade do espaço disponível, quando costumávamos dividir o abraço estreito da minha pequena omma. Bebemos chá gelado em silêncio até que eu pergunto o que estou querendo saber desde o dia em que eu o vi conversando com Julian no pátio da escola:

"Por que você voltou?"

Por ter um pai do exército, não era tão difícil para Jimin entrar numa escola militar, mas, uma vez lá dentro, não faz o menor sentido sair. Elas têm os maiores índices de aprovação nos vestibulares e estamos no último ano. As provas praticamente estão dançando nas nossas cabeças. Colégios militares são instituições modelo. Por mais que minha escola seja boa, não era boa o suficiente para lidar com o déficit de atenção de Jimin. Mas, seja qual for o método que as escolas militares usem para esterilizar adolescentes, deu certo; Jimin está tinindo. Tudo nele é impressionantemente impecável.

Até sua tristeza é elegante.

Ele coça o tríceps por cima da manga do moletom. Não está nada a fim de me responder e isso me irrita. Não somos mais amigos, aceito isso, mas não sei se quero aceitar o meio termo. Ele veio até minha casa. Estranhos não visitam estranhos.

"Quem te deu meu endereço?"

"O Sr. Wang", é como ele chama meu harabeoji. Como todo mundo o chama. "Passei na padaria e peguei. Ele ficou meio confuso quando me viu, mas depois reconheceu. Ele ainda não fala uma só palavra em português."

"Ele fala 'obrigado' e 'por favor', mas só quando está num dia bom."

Jimin parece desconcertado quando o assunto acaba. Terminamos o chá e eu o chamo para o meu quarto. Chuto as roupas sujas espalhadas pelo chão para um canto para que tenhamos espaço para circular, mas logo estou me sentando no colchão e encostando na parede, as pernas esticadas à frente, e Jimin me olha como se pedisse permissão para ficar ao meu lado da mesma forma. Tenho vontade de erguer o dedo do meio para ele por escarrar em cima da nossa amizade desse jeito, quando nossas peles já ficaram tão mais coladas do que isso, mas só dou de ombros. Ele entende como uma recusa, o que acho que é mesmo, e fica de pé no vão da porta.

"Não mudou nada no LIMBO", ele diz.

Procuro meu isqueiro nas dobras do lençol e o acendo. Vrum.

"Mudou tudo. Por exemplo, agora você e Julian são amigos", há rancor sólido em minha garganta, mas minha voz é ácido puro. O fogo dança entre meus dedos. O cheiro de Jimin é puro, como pele fresca depois do banho.

"Todo mundo é amigo."

"Amigo de quem? Seus amigos?"

Jimin não esteve aqui esse tempo todo, enquanto a solidão se instalava ao meu redor feito arame farpado. Ele é uma espécie de Bela Adormecida que ficou dormindo nos piores momentos e acorda quando o príncipe já derrotou a bruxa má e o dragão e o reino foi salvo.

"Eles gostam de você, Minie", é a primeira vez que ele diz meu apelido. Soa tão afável em sua língua, tão descomplicado e leve. É chocante que esse som esteja ligado a mim.

Vrum.

"Por que não sou mais espancado? É, essa é a melhor definição de gostar hoje em dia."

Jimin se recosta no batente da porta, enfia as mãos nos bolsos e ri, erguendo os ombros.

"O mundo gira ao seu redor", ele diz, soando como se soubesse de mistérios mais obscuros. Não é uma crítica. Jimin tem o dom de acariciar enquanto machuca. "A escola gira ao seu redor. Eles deixam você em paz porque sabem que é o que você quer, e este é um gesto altruísta."

Vrum.

No ano passado, duas garotas do quinto ano brigaram nos corredores. O Liceu tem regras rígidas quanto ao mau comportamento dentro de sala de aula e nas dependências do colégio, e ambas levaram advertência por isso. Mas o Liceu não se responsabiliza por brigas na calçada em frente à escola. As duas garotas brigaram no horário de dispensa até que uma saísse sem os dentes da frente e a outra, sem a blusa e metade dos cabelos. A que ficou sem blusa e metade dos cabelos saiu da escola. A outra ganhou de presente dos pais próteses dentárias importadas do Canadá e hoje é a garota mais popular do sexto ano. Não acho que alguma delas tenha ideia do que signifique a palavra altruísmo, ou metade da população deste planeta.

Às vezes, a ingenuidade de Jimin é um crime contra a imoralidade.

"Minha mãe está com câncer. Terminal.", ele diz de repente. Vrum. "Eu só queria... falar com você."

Desligo o isqueiro e o atiro na pilha de roupas sujas. Não consigo respirar. Lá fora, começa a cair uma garoa. Sinto fome. Nós ficamos quietos até a geladeira na cozinha estalar alto, nos lembrando de que precisamos fazer o tempo passar, empurrá-lo em alguma direção. Não sei o que dizer para Jimin, por mais que ele tenha vindo até mim para ouvir algo do garoto que tem apa e gonoe. Existe algo de terrivelmente cruel em perder a mãe. Você não pode entender isso, ou imaginar, a menos que, de repente, sinta. É um tipo de solidão inumana. Então, não existe outra pessoa no mundo de Jimin além de mim que possa dizer algo verdadeiro para ele agora, mas, justamente por isso, não consigo falar.

Por fim ele senta ao meu lado na cama e ficamos olhando para frente, em silêncio, as cabeças lado a lado encostadas na parede úmida. É o mais próximo que me permiti chegar de outro ser humano em muito tempo. A sensação da presença de Jimin tão perto, o cheiro dele, o calor de seu corpo e a forma como nossas pernas estão alinhadas lado a lado é um tormento. Faz com que coisas se movam dentro de mim, coisas quentes e estranhas e sufocantes.

Ele finalmente está aqui.

Eu me permito puxar o ar com alívio, mas não consigo soltá-lo. Meu coração está disparando e inchando.

Jimin começa a fungar. Eu finjo que não estou percebendo. Ele passa a mão pelos olhos muitas e muitas vezes. Eu murmuro o nome dele, e ele para.

"Eu só queria que você nunca tivesse ido", digo enfim, e isso é tão absurdamente difícil de confessar que dói fisicamente, realmente dói. Sou um filho de puta egoísta por querer algo de Jimin agora que ele está tão frágil, mas é o que sou. E é o que sei que ele quer que eu seja agora – só dele.

Jimin soluça alto, o corpo todo tombando para o lado, o rosto afundando nas mãos conforme seu peso pende sobre o meu colo. Eu me retraio com o contato íntimo demais depois de tanto tempo, a familiaridade dele sobre mim me deixando em estado de choque. Ele não é mais tão leve quanto eu me lembrava, agora há a sensação de músculos e ossos e ângulos que me pego olhando em espanto. A nuca aveludada e clara. A pintinha no meio dela, logo acima da gola do moletom.

Meus lábios pulsam, como se ela os chamasse.

Os ombros de Jimin estão encolhidos enquanto ele chora alto, os gemidos roucos cortando todo o silêncio à nossa volta, me ferindo tanto que me remexo no lugar, agoniado como um animal sendo açoitado.

Fecho os olhos e comprimo minhas costas contra a parede, forçando algum espaço entre nossos corpos. Apesar de ser tudo novo, é Jimin. Mas há algo diferente agora, uma quentura febril vibrando em meu peito com esse contato que nem sei como retribuir, então só apoio a mão nas costas dele, sentindo-o tremer, tão frágil. Jimin é a coisa mais frágil desse mundo, uma pluma perdida no ar.

Eu o afago nos cabelos, reconhecendo algo de humano na monstruosidade na qual me tornei.

Eu o odeio. Odeio Jimin por estar de volta, por ter sempre sido a minha melhor parte. Por me fazer sentir, por reabrir todas as minhas feridas e por não me permitir simplesmente morrer.

Eu o odeio por me fazer sentir tão vivo, quando tudo ao meu redor está apodrecendo.

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