( 4 ) contrastes • Park Jimin
Música: To Me, Alina Baraz
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contrastes
Já ouviu essa de que não precisamos ser "certos" um para o outro para estarmos apaixonados? Eu não me lembro onde ouvi, mas tenho certeza de que se aplica perfeitamente a nós dois. O que poderia ser mais errado do que um cliente se apaixonar por sua advogada? O que poderia ser mais errado do que você aparecer na minha porta em um dia chuvoso dizendo que precisava conversar, que precisava de mim.
Ah, Jimin, não teste minha sanidade.
Eu não tive "escolha" a não ser abrir espaço para que você entrasse, você estava ensopado da cabeça aos pés. Afinal, havia uma tempestade acontecendo lá fora e, ironicamente, ela chegara até aqui quando seus olhos caíram sobre mim.
Você chegou a pedir autorização para entrar e eu só consegui soltar uma risada. Como se eu tivesse escolha. Como se eu quisesse mesmo ter alguma escolha. Você ficou com medo de se mover e os cabelos loiros estavam esticados para trás, a primeira coisa que você fez ao tirar o capuz escuro. Mesmo encharcado pela chuva, não deixava sua vaidade ceder nem um pouco, sem sequer se dar conta de que não era preciso muito para ficar bonito.
Estendi uma toalha em sua direção e, depois de secar o rosto, você puxou o moletom para fora do corpo exibindo uma camisa branca, agora transparente, que marcava todas as partes do corpo que, naquele momento, desejei marcar com as minhas mãos. Senti minhas bochechas esquentarem, era o calor de quem sabia que estava entrando em uma zona perigosa, na qual nossos passos pareciam cruzar sem qualquer esforço.
Te levei para os fundos para deixar suas roupas na secadora, mas você protestou e só se convenceu quando disse que deixaria com você um roupão quentinho. Não teria problema, a peça felpuda era o dobro do meu tamanho, então caberia você tranquilamente.
O problema foi quando você saiu do banheiro com o roupão e senti tudo se sacudir dentro de mim. Eu até conseguia imaginar você vestido assim em uma manhã de domingo, caminhando tranquilamente pela sala, trazendo as duas xícaras até o sofá, deixando uma comigo, eu até consigo sentir a minha bochecha formigar com o beijo que você me deu na minha imaginação. Que lugar bom de estar, aquele em que somos algo além de estranhos.
Minha cabeça conseguia construir facilmente várias histórias em que você encaixava perfeitamente como protagonista. E lá tudo parecia tudo tão mais fácil.
Fora da minha imaginação, os seus passos também ficavam belos no assoalho. Sabe, eu gosto do desenho dos seus pés no piso de madeira do meu apartamento, o que eu vejo aqui, agora, sentada no sofá e você vem até mim. O contraste da sua pele branca e o assoalho escuro. E, sem querer, já queria que esses passos pudessem desenhar mais vezes no piso da minha casa.
É uma coisa estranha para se apegar, não é? Assim como eu e você... Estranhos uma para o outro.
– Quer um chá? Ou prefere me dizer por que apareceu aqui antes? – seus olhos sorriem por você antes de você ocupar, ainda sem jeito, a outra ponta do sofá
– Eu prefiro o chá ou, quem sabe, um uísque. – você chegou a arquear a cabeça rindo da própria piada ou da minha expressão indignada. – Soju, certamente, seria mais adequado sunbae.
– Vou ficar te devendo... – disse descontraída, mesmo que reprovasse a sua mania de descontar frustrações no álcool, levantei do sofá e deixei você ali na sala, enfeitando meu apartamento solitário um pouco, sentindo falta dos dias que outras pessoas passavam por aqui e que eu não usava-o somente para me esconder do mundo lá fora.
Decidi por uma infusão de camomila e outras ervas, uma escolha mais sensata para uma quarta-feira à noite, para nós dois dividindo o mesmo espaço. Eu já nem me lembrava o que fazia antes de você cruzar a minha porta... Organizava a agenda de amanhã, pagava algumas contas? Talvez, mas certamente nada que fosse realmente conseguir me tirar de você. Depois que você passou pela porta, tudo virou resto.
Voltei à sala e você parecia mais relaxado no sofá, escorregando um pouco no assento fofinho, as pernas esticadas para frente, como se já fossemos amigos de bastante tempo. Mesmo que você me chamasse, não raramente, de nomes carinhosos e não poupasse elogios, eu não me deixava enganar, você estava inseguro e desesperado, era evidente que se apegaria a mim como a qualquer pessoa que se colocasse com estepe. Afinal, somos todos assim, só estamos procurando por alguém que nos apoie.
– Então, já devo colocar o timesheet para rodar? – brinquei fazendo referência a forma que ele me pagava "por hora trabalhada" e você fingiu indignação arregalando os olhos, enquanto pegava sua caneca de minhas mãos. – Mas então, me diga o que aconteceu...
– Bem... – respirou fundo e sorriu fraco. – Estávamos ensaiando hoje, aquelas premiações que você sabe estão chegando e... Eu não sei se consigo mais... Estou completamente saturado e o clima está horrível, ninguém parece me entender... Nem o Jungkook-ssi... Eu não sei noona, e se eu estiver sendo egoísta?
– Você não está sendo egoísta se está pensando na sua saúde, em você... Jimin, essa é a sua vida. Ela é só uma, se você não se permitir vivê-la agora, não vai poder fazer isso depois... Você tem conversado com a psicóloga? – disse com cautela, sabendo do quão difícil era para você romper o contrato e deixar o grupo.
– Sim... – seus olhos se fecharam devagar para que você sentisse o vapor do chá antes de, cuidadosamente, dar um gole. Eu tive vontade, como várias vezes, de abraçá-lo bem forte e dizer que isso já ia acabar, mas além de termos que manter certa "distância", infelizmente, eu não poderia assegurar que o processo se encerraria tão brevemente. – Mas eu queria falar com você...
Você ultrapassou mais uma vez a linha que, em tese, deveria servir para me alertar, mas que de tão invisível, quase sempre desapareceria aos meus olhos. Eu não fui só a advogada que deixou o cartão na bancada do bar, eu fui, desde de o início alguém que queria cuidar de você, mesmo que tenha deixado o nosso encontro ao sabor do acaso.
Afinal, até um ano depois, eu não tinha mesmo certeza se você tinha pegado o cartão ou abandonado sobre o balcão, deixando que caísse nas mãos de qualquer um ou fosse direto para o lixo.
Eu deveria ser a advogada que faria a rescisão do contrato e deixaria-o liberado para descansar e só. Não estava planejado que eu eu fosse me tornar a pessoa para quem você olha de forma aflita procurando por consolo e respostas. Eu não deveria ser alguém para quem você direciona esse sorriso genuíno, agradecendo pelo chá. Não deveria ser alguém que você pega na mão e acaricia devagar, dizendo que forma quase que confessional que gostava muito de conversar comigo.
Não deveríamos ser.
Acontece que as coisas, pessoas e sentimentos não estão condicionadas pelo que deveriam ou não ser, elas se entrecruzam e acontecem, e acabam sendo.
– Eu tenho sentido um vazio horrível, parece que mesmo que eu tenha vivido tantas coisas, eu não tive nada... – você confessou antes de deixar a caneca sobre a mesinha de centro.
– O que você sente que não viveu? Sabe, eu acho normal sentir que falta algo... E com o tempo vamos preenchendo.... Só não podemos nos angustiar tanto com isso. Não se angustie. – disse tendo plena consciência de que falar era bem mais fácil do que fazer, afinal eu também tinha os meus vazios e alguns pareciam impreenchíveis.
– E sabe o mais engraçado? – você disse depois de sorver minhas palavras em silêncio, deixando um sorriso escapar, o que fez com que o seus olhinhos sumirem, me dando vontade de sorrir junto. Perto da áurea de Jimin eu até me esquecia dos meus vazios. – Eu canto várias músicas sobre amor, mas nunca tinha amado ninguém... É como se eu estivesse fingindo todo esse tempo...
Sua postura relaxada sumiu e você se encolheu no sofá antes de pegar de volta sua caneca, e como se refletisse sobre o que acabara de dizer, ficou alguns instantes encarando a fumacinha que saia lá de dentro. Você não iria olhar pra mim, não agora que suas bochechas estavam coradas.
– Amor não é grandes coisas... – quis descontrair e bufei lembrando não do amor em si, mas da dor que fica quando se ama sozinho. Vi o seu sorriso desaparecer e me olhar desapontado. – Mentira, é sim... Você vai sentir isso uma hora ou outra, eu tenho certeza... – deve ser tão fácil amar alguém como Jimin, não pude deixar de pensar. Ele era sempre tão afetuoso, sensível e, ao mesmo tempo, intenso, era quase um convite irrecusável. – Você tem um coração enorme e muito tempo pela frente, vai encontrar alguém.
Ao menos eu o fiz rir e ver o seu sorriso era uma oportunidade ímpar, mesmo que não raramente você estivesse sorrindo por aí, alguns brilhos não podemos deixar passar.
Você empurrou meu braço com a mão livre, com cuidado para não derramar o seu chá ou o meu, e tive a impressão de que você queria deixar sua mão por lá, mas eu recuei, um pouco cansada de desviar das coisas que queria.
– Você que tem, noona, me deixou ficar aqui, faz chá pra mim. – você disse voltando a se concentrar na fumacinha do chá. – Me salvou.... Na verdade, me salva sempre...
– É só chá, Park Jimin... E, bem, eu não poderia deixar você na rua, com essa chuva, nesse frio... – disse e lembrei da sua imagem mais cedo na minha porta, cabeça coberta por um casaco de moletom duas vezes o seu tamanho, encharcado pela chuva que caía lá fora, a franja caindo sobre a testa e, nem sei se eu deveria estar olhando pra lá, mais seu lábios estavam roxos de frio e ainda sim continuavam lindos.
– Eu queria que fosse só chá... – largou a caneca branca na mesa escura, os contrastes que eu gostava, ainda mais quando se relacionavam com ele. – Na verdade, eu estava torcendo para que você me mandasse pra casa, fechasse a porta na minha cara... Aí eu não pensaria que... – você se moveu no sofá, alguns centímetros mais perto e eu estremeci, prevendo suas palavras que, paradoxalmente, temia e desejava.
Eu quis perguntar o que as minhas ações representavam para ele, mas eu já sabia exatamente o que elas traduziam e, além disso, nenhuma palavra sairia da minha boca.
– Que você também gosta de mim, noona... – apenas alguns milímetros de distância, o som das suas palavras já quase tocava os meus lábios, as quais eu quase não ouvia, devido a disputa acirrada com as batidas do meu coração.
– Você não acha isso errado? – a pergunta era retórica, eu sabia o que deveria ser respondido e feito, mas nada fiz. Eu não sabia o que fazer com os meus sentimentos.
A algumas coisas, porém, não há resposta, assim como ao toque da sua mão no meu pescoço, a sua aproximação lenta, ao contato entre os nossos narizes por segundos, a sua respiração sobre o meu lábio e, finalmente, ao encontro. Não há nenhuma resposta pra tudo isso.
Também não havia nada se passando por entre meus pensamentos, apenas concentrados no encontro meio desajeitado dos nossos lábios, recém-conhecidos, que iam se entendendo melhor a cada novo toque. Aquele beijo tinha gosto de algo que deveria ser, mesmo que todo o resto indicasse o contrário, que não deveríamos.
O barulho da chuva ao fundo trazia uma paz incomum ao meu coração e o mundo se tornou, enfim, um lugar calmo, onde eu e Park Jimin poderíamos, mesmo que só por algumas horas, ficar juntos.
Parti o beijo para encarar sua expressão um pouco envergonhada, mas eu sabia que agora nos víamos de uma forma completamente nova, deixando para trás os papéis antes determinados para cada um de nós: advogado, cliente, idol. Tudo isso agora desimportante, eram o que queriam dizer os seus pequenos gestos. A forma que ele afagava meus cabelos e que seus olhos escuros afundavam sobre os meus.
Ambíguo era como, mesmo com os meus sentimentos em erupção, eu me sentia em paz. O paradoxo perfeito dos amantes.
Voltamos a nos beijar, aproveitando a presença um do outro; você sugeriu uma música deixando minha casa com a sua cara e eu, tão rapidamente, estava me acostumando com isso de tê-lo em minha casa; de simplesmente tê-lo. E, como sempre, conversávamos com facilidade, uma empatia inexplicável entre nós desde o início, mostrando que questões profissionais eram quase que uma desculpa para desembocar nos mais variados tipos de assuntos e, principalmente, para estarmos juntos.
Eu estava absolutamente absorta nessa atmosfera – nossas pernas entrecruzadas sobre o sofá, a luz amena da sala ofertada pela luminária no canto do cômodo, as músicas da playlist do Jimin tocando nos meus alto falantes, nossas conversas, – que me esqueci que, até agora pouco, não poderíamos ser.
Eu já não me lembro mais onde ouvi que não precisamos ser "certos" um para o outro para estarmos apaixonados e também não me importo muito em sermos "errados" um para o outro. Tudo virou só resto quando as peças de roupas passaram a enfeitar o chão da sala, com trilha sonora de chuva. O mundo se diluindo do lado de fora para que pudéssemos ser aqui dentro.
Afinal, o que poderia ser mais certo do que o desenho dos meus dedos por seu rosto, descobrindo delicadamente a sua substância?
Já era quase dia quando senti seu braço, sobre o qual minha cabeça estava apoiada, se mover devagar no sofá. Você se levantou com cautela, recostando minha cabeça na almofada que antes adornava o sofá. E quando, finalmente, consegui despertar, ao abrir meus olhos, a primeira coisa que vi foram os seus passos no meu assoalho, vindo até mim. O tão sonhado contraste que eu queria ver todas as manhãs: claro-escuro; certo-errado; ser-ou-não-ser; eu-e-você.
🌹
hello, essa é uma das histórias que eu gostaria de deixar como presente super atrasado ao Jimin e a VitoriaKreve ❤️ eu só não podia deixar que a vida de pessoas especiais passasse em branco!
Além disso, queria aproveitar para desejar um feliz ano novo a todos! Deixei uma mensagem no meu mural pra vocês, caso possam dar uma olhadinha eu ficaria imensamente feliz. Esse ano vai ser melhor!
Deixem aqui seu amor em forma de voto e comentário ✨
Beijos da Maria ❤️
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