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ú n i c o • contemplar aviões

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airplane

{ ou contemplar aviões }

A vida tem dessas coisas. Era uma manhã de inverno quando acordei sozinha, sem despertador, sem nada. Ainda que tenha levantado com relativa facilidade, eu demorei a entender que eu estava diante de um sinal do universo dizendo que eu precisava dar uma sacudida na minha vida, lutando contra mim mesma e a inércia  que me puxava para baixo das cobertas, para transformar as manhãs em alguma coisa. Alguma coisa a mais do que acordar atrasada, tomar banho correndo, tomar um café andando pela casa,  bagunçar meu armário atrás de algo decente para vestir em poucos minutos e sair correndo para o trabalho. O dia sempre parecia começar atrasado, perdido antes mesmo que tivesse a oportunidade de ganhar. 

Mas naquele dia foi diferente em vários sentidos. Por alguma razão eu acordei sozinha e  não quis reprogramar o despertador em um cálculo que me permitiria dormir o máximo possível, deixando o mínimo de tempo para me arrumar. E, mesmo que não estivesse atrasada, eu decidi vestir uma roupa, colocar meus tênis que já estavam estacionados há meses no armário e sair para correr.

Não passava de sete da manhã quando pisei na calçada de concreto, ajeitando os fones no ouvido, me permitindo antes ouvir os sons da cidade que acordava. O canto convicto dos pássaros que viviam entre as árvores e a fiação dos postes desafiando com maestria a natureza, em um equilíbrio de resistência para sobreviver à cidade. Os carros e a imensidão de histórias encapsuladas em quatro rodas que já cruzavam a avenida. E a cada passada, sentia meu corpo dar corda a um sentimento curioso que nasceria naquele dia.

É sabido que as manhãs de inverno nos trópicos têm um ar diferente, mas são poucas as vezes em que é possível tocá-lo com a face do rosto. Denso e fresco, como se o frio da madrugada permanecesse suspenso no ar em uma disputa silenciosa com o sol recém acordado pelos movimentos da terra.

Não precisei andar muito, pois a alguns metros dali estava a orla. Escondida dentro do apartamento, no meu pequeno universo de paredes claras que buscavam dar a impressão de amplitude para cômodos apertados, eu nem me lembrava da sua existência, mas ela continuava ali.

São dois semáforos, luzes piscando, carros desacelerando, buzinas ocasionais para aqueles que já acordam estressados e sem tempo, até chegar. Lá onde é possível ver céu e sol sem o corte dos edifícios que, ao serem substituídos por coqueiros, desenham em um plano de fundo matizados de rosa e azul,  uma paisagem que poderia ter sido pintada por  alguém. E em todas as vezes, mesmo que na milionésima vez, eu ficaria encantada. Não deve haver ninguém imune à beleza dessa cidade despretensiosamente bonita. Tão bonita que chegava a me irritar às vezes. Afinal, como o caos pode conviver com o belo de forma paradoxalmente harmônica?

Ao pisar na pista em que as bicicletas dividem, nem sempre de forma tão harmônica, o seu espaço com os corredores, apertei play em qualquer música que, em outra circunstância, eu poderia dançar (esse é meu parâmetro para músicas animadas), e só corri. Meu preparo físico não era dos melhores para alguém que estava um ano mais próximos dos 30, um ano menos próxima dos 20, mas meu corpo pareceu se acostumar rápido. O ar entrando pelos meus pulmões, a brisa da manhã de quase-fim-de-inverno ou quase-início-de-primavera batendo em meu rosto, os cabelos presos em um rabo de cavalo alto se desprendendo a cada passo dado, enquanto assistia à paisagem ao largo, o filme do início da manhã, do início de alguma coisa em mim.

Naquele momento eu não sabia, mas se tivesse reparado com  um pouco mais de atenção, talvez tivesse notado que aquela não era qualquer manhã, não era uma segunda-feira.

Segundas-feiras são ruins. Esse é o meu "mood" de segunda-feira. Vou precisar de mais café, hoje é segunda-feira. Eu costumava dizer e sei que não estou sozinha nessa. Em uma sociedade que nos impõe que a vida seja vivida na janelinha estreita do fim de  semana, é inevitável amaldiçoar as segundas-feiras. Estas não passam de recusas verbalizadas em aceitar mais um começo frustrado, mais uma tentativa falha de começar diferente. Sempre o mesmo início de semana. Corrido, atrasado, atravessado.

Naquela segunda-feira, eu corri de tudo isso, corri do medo de ter a mesma semana: dos mesmos erros, dos mesmo atrasos, da mesma incompetência, da mesma inabilidade, das mesmas pessoas chatas, da mesma vida que eu não desenhei, das mesmas expectativas quebradas, dos mesmo sonhos frustrados que eu nunca tive coragem de admitir que eram meus.

E talvez seja por isso que as passadas gradativamente se tornaram mais rápidas, quando decidi deixar tudo aquilo em suspensão. Eu só corria, sem querer chegar a lugar nenhum e da mesma forma parei, quando já estava próxima à subida que dava acesso ao deck de madeira. A ideia era tomar fôlego, prender o cabelos que insistiam em cair sobre meus olhos e voltar a correr. Quando levantei os olhos, ao ajeitar os cabelos novamente em um rabo de cavalo, fui capturada pela vista. 

A orla da praia era encerrada por um dos aeroportos da cidade que cortava a baía,  e dali era possível ver aviões decolando e pousando, pintando rapidamente a tela azulada como um pequeno detalhe que sumiria em breve como se tivesse sido  encoberto por pinceladas  de tinta azul, enquanto eram engolidos pelo horizonte.

Meus pensamentos flanavam pelas matizes de azul, algo entre o turquesa e o azul piscina que contrastava com o azul denso do mar. A paisagem precisava dos seus matizes para ser perfeita e eu, sem saber, precisava do contraste azul das manhãs para respirar.

Tirei os fones e me permiti ouvir o silêncio daquela manhã misturado com o barulho discreto dos motores ganhando força para elevar os aviões até o céu, em uma atmosfera que foi capaz de soletrar p a z nos meus ouvidos. Como se estar em paz fosse tão simples quanto parar por alguns minutos para contemplar o céu.

Me aproximei do deck de madeira para assistir à investida das aeronave pela tela azul e, quando tirei meus olhos dela por um momento para descansar sobre o deck,  notei que eu não era a única a fitar o céu. E como se tivesse materializado os meus pensamentos lá estava ele: descansando de forma relaxada seu corpo sobre as tábuas de madeira, as pernas compridas cobertas por um jeans claro, vestido em uma camiseta branca, a cabeça, levemente inclinada e os braços esticados para trás do corpo, como se fosse o seu suporte para elevar a cabeça em direção ao céu para contemplá-lo. E era isso que ele efetivamente fazia, ao seus olhares compenetrados pareciam não escapar nenhum detalhe daquele céu, como se cada milímetro azulado fosse indispensável à tela que pintava com as íris escuras.

Me sentei um pouco atrás dele, no lado oposto do deck, e éramos os únicos que andavam pela orla a encarar por tanto tempo o céu. Ainda que, no seu caso, não parecesse só uma pausa para respirar. Ele parecia pausado ali no seu estado contemplativo.

Minha cabeça certamente se ocuparia com divagações sobre o quê, exatamente, o garoto de cabelos escuros, olhos puxados, bochechas discretamente arredondadas e maxilar fino, estaria fazendo ali, se aquilo era o seu caminho de ida para o trabalho ou a volta de alguma festa que se desenrolou madrugada afora, isso caso eu não tivesse visto o seu sorriso nascer como o sol na medida em que o próximo avião se desprendia do solo rumo ao céu.

O seu sorriso era tão amplo que me fez acreditar que aquele era o espetáculo mais bonito da terra e talvez fosse mesmo.

Eu perdi a conta de quantos aviões vi no reflexo do sorriso do garoto ao lado, mas lembro de ter me levantado já atrasada para o trabalho. E, por mais que minha boca tenha silabado muitas questões, nós não chegamos a trocar uma palavra sequer. Não havia nada que os seus olhos não pudessem explicar sobre contemplar a "mágica" de quando os homens alcançam o céu, desenhando infinitos caminhos por entre as nuvens.

Eu caminhei pela orla mais algumas vezes naquele ano, mas também não cruzei novamente com o "garoto dos aviões", que é como passei a chamá-lo na minha cabeça. Havia sempre uma esperança em encontrá-lo no deck e, mesmo que todas elas tenham sido frustradas, eu sempre ganhava o céu que se reinventava a cada manhã em tons mais belos, mesmo nos dias de nublados havia algo para ser contemplado.

Eu posso não ter visto novamente o garoto dos aviões, mas depois daquele dia nunca mais fui capaz de andar de avião do mesmo jeito, que não fosse contemplando essa magia, mesmo quando era encaixada em vôos corriqueiros a trabalho, de meros cinquenta minutos, ou as longas viagens de dez horas. Nunca mais foi a mesma coisa.

E agora, sentada nessa poltrona, encarando o mundo ficar em miniatura lá embaixo penso como aquela segunda-feira me ensinou sobre desenhar caminhos nas nuvens.

Eu estou prestes a mudar toda a minha vida e ele nunca vai saber disso, é verdade. Mas agradeço ao garoto dos aviões que, em sua contemplação, me ensinou em silêncio, através dos seus olhos, a beleza de estar suspenso entre nuvens.

Tomei os seus olhos emprestados e hoje me permito sonhar dentro desse avião que se desprende do chão em rumo a céus mais distantes. Espero que dali de baixo ele possa me ver decolando.

✈️

Hello!

Muito obrigada por estar aqui desenhando sonhos em nuvens comigo! 

Quero muito saber o que acharam!
Deixem aqui seu voto e comentário para incentivar a autora!

Espero vocês em outras histórias minhas!

Beijos da Maria ❤️

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