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Capítulo 1

Não há movimento nas casas, nenhuma pessoa nas garagens, os portões permanecem fechados, a rua dorme enquanto o vento forte agita as plantas e árvores da vizinhança. É uma piada que diante do clima fresco, a minha mente se fixe na minha varanda, que, a essa hora, se encontra coberta de terra.

— Papai! — Carmen grita assustada, as pequenas mãos lutam contra os cabelos que encobrem o seu rosto.

— Viu por que precisamos levantar mais cedo? — Alinho os fios como posso. — Não tive tempo de prender o seu cabelo hoje.

— Não quéo prende o cabelo.

— Que-ro. E se estivessem presos, não teríamos problemas.

— Depois eu arrumo — ela resmunga, contrariada.

— Sabemos que arruma. — Ri do jeitinho delicado de menina. A verdade é que enfrentaremos uma verdadeira tempestade no fim do dia, basta que ela veja o pente.

O corpinho infantil se move, agitado, e tenta me puxar com ele para a esquerda.

— Lupitaaa! — O gritinho agudo desperta a rua.

— Filha, não. Ela deve estar dormindo ainda.

— A Lupi dorme muito? — Os olhos brilham curiosos.

— Não sei, nós não a conhecemos.

Um papel branco voa por sobre os pés de Carmen, passa direto por mim e pousa sobre o asfalto.

— Fique aqui, filha. — Liberto a pequena mão.

— Onde você vai?

— Pegar aquele papel, acho que é da vizinha. — Eu me agacho diante da mancha branca sobre o cinza, o papel adere a aspereza do asfalto e dificulta as coisas para as minhas unhas curtas, até se render a pressão dos dedos e encaixar na curva da minha mão. Meus joelhos se esticam enquanto giro a palma em frente ao meu rosto.

— O que é, papai?

— Uma foto. — Volto para junto de Carmen. Uma Lupita adolescente sorri, cansada, ao lado de uma cadeira de rodas no antigo registro.

Dexa eu vê. — Meu punho é puxado para baixo pelas pequenas mãozinhas. — É a vovó da Lupi?

— Acho que sim. — A velha senhora tem um sorriso forçado em meio a tantas rugas e pele manchada. A imagem tem um ar triste, faz pensar em despedida.

Vamo dá pá Lupi. — Carmen tenta me puxar novamente em direção a casa da vizinha.

— Outra hora, filha, agora estamos atrasados. — Guardo a foto no bolso da camisa, tomo a pequena mão na minha e a faço andar comigo.

— A tarde? — Ela insiste.

— No dia em que nos encontrarmos com a vizinha.

— Por quê?

— Porque o papai vai guardar a foto e não precisa de pressa pra devolver ela.

— E se a Lupi quisé muito a foto da vovó dela?

— Ela deve ter muitas outras fotos.

— Essa foto é muito linda. A Lupi tá tiste.

— Triste.

— Papai. — O bracinho infantil se lança para baixo e força a minha mão, exigindo atenção. — A Lupi tá tiste!

— Ela não está triste, anjo. — Eu a faço a se mover novamente.

— Tá sim! — A pequena boca se pronuncia em um bico manhoso. — Ela tá muito tiste.

— Anjinho. — Eu me agacho em frente a ela e fixo os meus olhos nos seus. — Adultos guardam muitas fotos, prometo pra você que a Lupita não está triste por causa de uma só.

— Ela tem mais foto da vovó?

— Muitas fotos da vovó.

— Mas eu ela a foto da vovó, e a Lupi vai ficá muito feliz. — A pequena mente se dispersa.

— Vai sim. — Eu me levanto. A escolinha no fim da descida começa a perder movimento, há poucos pais em frente ao portão, a cabeça da inspetora parece avaliar a rua e, talvez, calcular o momento de poder deixar o seu posto.

— Eu fiz um desenho muito lindo na escolinha, mas a tia Denise não dexô eu levá casa. — Carmen retoma a conversa.

— O que desenhou? — Acelero o nosso passo.

— O papai, eu e um coração bem grande. — Ela estica o corpinho e força os braços abertos. — Desse tamanho.

— Deve ter ficado muito lindo.

As perninhas se movem rápido para poder me acompanhar.

— Muito lindo — a pequena concorda, eufórica.

— E por que a tia Denise não deixou levar o desenho pra casa?

— Éenfeita a sala. — Ela dá de ombros. — Aí, a Buninha me disse que tem medo do papai dela.

Eu a encaro, confuso.

— A Bruninha disse isso?

— Ela disse que o papai dela biga com ela.

— E por que ele briga com ela?

— Porque ela bagunça toda a sala com binquedo.

Os gritos infantis que ecoam do interior da escolinha se tornam audíveis por sobre o barulho dos carros que trafegam pela avenida que nos separa; o portão, completamente aberto, revela as professoras com os seus alunos no pátio.

— A Buninha quê bincá.

— Eu sei, meu anjo. O papai dela só deve estar tentando ensinar a Bruninha a guardar os brinquedos — amenizo o assunto.

— Você não biga comigo.

Observo o semáforo amarelo.

— Isso porque você é uma garotinha obediente que o papai ama muito. — A luz vermelha se acende. Carmen acompanha os meus passos enquanto investigo os carros impacientes que nos querem longe de sua avenida.

— Amo muito você, papai.

— Meu anjo. — Não resisto ao impulso de a tomar em meus braços e deixar um beijo apertado em seu rosto, mesmo sem deter o passo. — Amo você muito mais.

Em fila! — uma professora grita no pátio.

— Oi, tia Carla — Carmen cumprimenta a inspetora da escolinha. Aceno brevemente para a mulher ao portão, detenho o passo e dou passagem para uma professora e seus alunos. A poucos metros dali, a turma da minha menina se move ora em fila, ora em um bolo de crianças que falam ao mesmo tempo, já que a pessoa responsável por elas não faz nada para tentar controlar o grupo.

— Bom dia, Elio.

— Bom dia, Denise. — O pequeno corpo já não quer mais o conforto dos meus braços e se agita inquieto na tentativa de alcançar o chão.

— Oi, Carminha. — Denise se abaixa a tempo de receber um beijo apressado.

— É Psy! — Carmen grita, impaciente, poucos antes de correr para junto dos amiguinhos.

— Não adianta. — Denise ri. — Ela não aceita ser chamada de Carmen.

— Ainda vou mudar isso. — Eu a observo interagir com as outras crianças e abraçar a melhor amiga. — A Carmen me disse agora há pouco que a Bruninha anda dizendo que tem medo pai.

— Não deve ser nada de mais, não notamos nada diferente — Denise tenta me tranquilizar.

— Não é melhor investigar isso? — Eu a encaro.

— Ora, Elio. — Ela abana o ar. — Sabe como são crianças nessa idade, basta elevar um pouco a voz, que choram por horas.

— Me preocupa um homem impaciente a ponto de brigar com uma criança nessa idade.

— Nem todos são extremamente amorosos como você.

— Eu realmente não quero descobrir que a minha filha está exposta a qualquer tipo de violência — eu a alerto.

— Elio, sabe muito bem que nenhum pai tem contato com as crianças dentro do domínio escolar, a não ser por ocasiões especiais.

— Isso não impede que a Bruninha conte histórias para as outras crianças.

— Você se preocupa demais. — Os fios de cabelo loiro de tintura de farmácia balançam com reprovação. — Vou conversar com a Bruninha e descobrir o que aconteceu.

— Me avise qualquer coisa.

— Está bem. — Seu olhar impaciente tenta me atingir antes que se vire para a turma. — Vamos lá. Todos em fila!

As crianças se alinham em uma fila disforme. Denise se coloca em frente a elas e guia a turma em direção ao prédio sem nem mesmo tentar fingir alguma preocupação em relação a nossa conversa.

— Tchau, papai! — Carmen abana a mão para mim.

— Tchau, tio Elio! — Bruninha a imita, o sorriso aberto, a face corada e nenhum sinal de maus tratos aparente.

— Tchau, meninas.

As rodinhas do portão fazem barulho quando são puxadas. Eu me viro no banco e observo a escolinha pelo vidro do ponto de ônibus. Carla não nota o meu olhar; não sabe que se pudesse, levaria minha filha embora e nunca mais sairia do seu lado; que o silêncio formado depois que as crianças entram na sala me assusta, porque não me dá uma única dica do que ocorre atrás daquele muro. A partir deste instante até a noite, a minha menina estará aos cuidados daquelas pessoas.

Minhas mãos sobem no automático e castigam a minha face com um esfregar duro.

Biii!

O carro esportivo brilha novo e impecavelmente limpo, não se incomoda em parar bem em frente ao ponto de ônibus e escancarar a porta para mim.

— Você é um animal mesmo. — Ocupo o banco do carona e bato a porta fechada. — Precisa parar no ponto de ônibus e fazer todo esse barulho na frente da escola?

— Desculpa se atrapalhei a pintura a dedo. — Oscar gargalha, lança um breve olhar para o espelho retrovisor direito e acelera pela avenida.

Afivelo o cinto de segurança e abro o vidro, o cheiro de couro novo incomoda, de tão intenso.

— Por que somos amigos mesmo? — pergunto a ele.

— Porque sou a única diversão que restou em sua triste vida.

— Seu cu, que minha vida é triste.

— Ah, cara, nós sabemos que ama a Psy. É bacana essa coisa toda de pai, mas fala sério! Não faz nada além de trabalhar e ser pai, você só tem vinte e quatro anos, porra.

— Ser pai exige vinte e quatro horas do nosso dia, vai descobrir isso quando for um.

— Quando eu for pai, vou tratar de não ser tão paranoico.

— Não sou paranoico.

— Não, você só acredita que noventa e nove por cento das pessoas dessa cidade não tem credencial para conviver com a sua filha. Precisa aprender a relaxar.

— Não posso relaxar, tenho uma menina de quatro anos pra criar.

— É só uma criança, não a porra de um leão faminto que pode devorar você vivo a qualquer minuto.

O trânsito faz com que o Oscar tenha de reduzir a velocidade, seus olhos não desviam dos carros a nossa frente, o dedo indicador batuca o volante.

— A Linda ainda não se interessa por ela?

— Não chame aquela mulher de Linda na minha frente. — Desvio o olhar para a rua.

— Vou tomar isso como um não. — Ele se remexe no banco. — Entendo você, é uma merda isso, não entra na cabeça como ela ainda não se apaixonou pela Psy.

— E é pra mim que você vem dizer essa merda? Não estava comigo quando estendi aquele bebê tão pequeno para a Lindalva, e ela o recusou. Eu juro. Juro que até ali tinha esperança de que tudo mudasse, aquilo foi a porra de uma pedrada no meu peito.

— Não é possível, cara. Um dia ela vai se arrepender disso.

— Nem brinca com isso. Não faço ideia de como vou reagir se aquela mulher resolver ser mãe.

A mão grande abandona o volante e deixa um tapa amigo em minha perna. O olhar cúmplice do Oscar se prende brevemente ao meu.

— Faremos o melhor para a Psy. Nossa garotinha vem sempre em primeiro lugar.

Encaro o único amigo que não me deu as costas quando eu tinha uma faculdade em curso, dívidas a perder de vista, uma recém-nascida nos braços e nenhum rumo a seguir. Ele não se afasta por nada. Absolutamente nada.

— Já disse pra parar de chamar ela assim — rosno em sua direção.

— Vai se foder. A gatinha quer ser chamada de Psy, deixa ela.

O carro para em frente ao prédio que me acolheu ainda na época da faculdade. Todos os dias quando desço ali e encaro a fachada de vidro, um misto de gratidão e orgulho me invade.

— Ei, cara. — Oscar se debruça sobre o banco do passageiro vazio. — Esqueci de dizer pra você o mais importante.

— O que é mais importante?

— Arrume uma mulher, está precisando, você sabe, dar uma aliviada. — Ele faz um gesto obsceno com a mão. — Anda muito nervoso ultimamente.

— Vai se foder! — Bato a porta na cara dele. Ainda posso ouvir a sua gargalhada quando o motor do carro liga e parte dali.



Divisória



A forte claridade inunda os meus olhos quando deixo o prédio.

— Merda! — Eu trato logo de colocar os óculos, a lente escura amortiza os raios, leva embora a dor e revela o mundo de pessoas que transitam para lá e para cá. Não posso evitar o movimento do meu corpo, o olhar direto para o ambiente refrigerado que deixei para trás, as plantas técnicas que me aguardam sobre a mesa de um andar deserto pela hora do almoço, mas o buraco negro em meu estômago suga as minhas entranhas, as contorce sem piedade e leva embora qualquer pensamento lógico.

Enfrento o sol. Todos os passos ao redor parecem lentos, como se eu fosse o único faminto que não deseja voltar para o trabalho banhado de suor.

Um homem e uma mulher tomam a minha frente, o espaço entre eles é reduzido, desloco o ombro e forço passagem mesmo assim.

— Apressadinho — o cara reclama.

— Foi mal! — Jogo para ele sem me virar para um segundo olhar.

Uma senhora franzina me obriga a deter o passo, o movimento ao redor me impossibilita de desviar dela, o cara resmungão toma a minha direita e segue rindo, debochado.

— Fala sério... — praguejo baixo. A senhora se move desajeitada a minha frente, o corpo enrijecido tenta olhar para trás, os passos se tornam ainda mais lentos e atrapalhados quando ela decide liberar a passagem para mim.

Busco uma nova rota de fuga. A fachada do Querente se destaca do outro lado da rua, não desperta a lembrança de nenhuma boa refeição, mas as palavras "ar condicionado" pintadas no vidro são uma oferta de um oásis nesse deserto de pessoas.

Eu me lanço sobre o asfalto. Obrigo as pernas a uma curta corrida em frente ao carro, que desacelera ao me notar, e aceno para o motorista antes de saltar sobre a calçada e entrar no restaurante.

— Boa tarde, senhor. Mesa para quantos?

— Você por aqui? — Tiro os óculos que tornam o ambiente escuro demais e estudo a face pouco familiar, mas já reconhecível.

— Oi, vizinho. — O sorriso largo me confunde.

— Desde quando trabalha aqui? — Observo o ambiente intimista, as mesas escuras de madeira envernizada, o pequeno palco a direita, que sempre está vazio. — Não que eu frequente este restaurante, mas não me recordo de ver você aqui antes.

— Não tem nem um mês...

— Lupita! — O homem no caixa a nossa direita a interrompe, a voz rouca se arrasta mal-humorada. — Arruma uma mesa para o cliente.

— Sim, senhor. — Ela volta sua atenção para mim.— Queira me acompanhar, senhor.

— Corta essa de senhor. — Eu a sigo por entre as mesas.

— Não posso tratar você de outra forma aqui... — ela sussurra por sobre o ombro, puxa uma cadeira e gesticula para mim.

— Lupita, mais rápido! — A voz rouca cobra novamente. — Não se esqueça de oferecer o peixe.

O cardápio, que ela apertou o tempo todo contra o peito, toma a mesa a minha frente antes mesmo que eu possa terminar de me acomodar.

— É o prato do dia?

— Sim. — Sua face vacila, insegura. As mãos mergulham no bolso do avental preto, a única peça de roupa em seu corpo que pode ser chamada de uniforme, e voltam com uma caneta e bloco entre os dedos.

— É o que me recomenda?

Lupita se coloca de costas para o caixa e risca algo no bloco.

— Filé com fritas. — Sua voz soa tão baixa, que mal a compreendo, o olhar ríspido do senhor não deixa suas costas.

Abro a pasta de couro preto, corro os olhos pelo impresso protegido pelo fino plástico e giro a página com fingido interesse.

— Vou querer filé com fritas.

— Bebida, senhor?

— Suco natural de laranja...? — O pedido soa como uma pergunta.

— Suco natural de laranja. — Ela sorri para mim antes de seguir para o fundo do restaurante onde se encontra o balcão da cozinha.

— Lupita? — A boca do senhor se contrai insatisfeita. Ela passa novamente por mim e para em frente ao caixa. — O cliente pediu peixe?

— Não, senhor.

— Hoje é dia de peixe. Você tem que vender o peixe.

— Vou me esforçar mais, senhor.

— Lupi? — Uma funcionária loira se junta a eles. — Pode limpar a mesa dois pra mim? A criança derrubou o suco, e eu preciso atender outra mesa.

— Claro, faço isso antes que o meu pedido fique pronto.

— Obrigada.

As duas mulheres seguem para o fundo do restaurante. A loira se junta a uma outra garçonete que degusta a goles lentos um copo de água recostada no balcão, elas nem mesmo parecem notar Lupita, que entra direto em uma sala anexa e some de vista.


○○○


Os cabelos ridiculamente escovados de uma mulher dançam embalados pelo som de seus saltos contra o piso do restaurante.

— Amor, estou morrendo de vontade de comer camarão.

— Vamos ver o que eles têm aqui. — O homem ao seu lado acaricia suas costas com nítida satisfação de atender ao pedido da mulher.

— Mesa pra dois? — A loira os alcança em tempo recorde.

Lupita caminha entre as mesas.

— Lupi, pode ajudar na cozinha? — A garçonete da água pede a ela.

Ahn... — Seus olhos estudam a entrada do restaurante. — Tudo bem. — Ela faz o caminho inverso.

— Temos alguns pratos com camarão. — A loira conversa, algumas mesas a frente. — Mas, se me permitem, o peixe está delicioso hoje.

Tim!

O som da sineta ressoa, irritante.

— Mesa cinco! — Um homem grita do balcão da cozinha. Lupita se move rápido, alcança uma bandeja e recolhe o suco deixado ali.

A garçonete loira deixa a mesa do casal. O polegar ossudo faz as folhas do seu bloco de pedido deslizarem rapidamente pela pele clara, os pés se movem lentos, os olhos não perdem o alvo.

— Limpou a mesa dois? — Ela encara a Lupita.

— Sim. — Lupita deposita o suco a minha frente. — Já trago o seu almoço — ela avisa antes de se afastar.

— Mocinha. — Uma cliente a detém. — Meu filho derrubou o suco novamente.

— Tudo bem, já vou aí limpar. — Lupita sorri com gentileza para ela.

Tim!

A sineta torna a ressoar.

— Mesa cinco!

Eu me perco no fluxo de clientes que param na entrada do restaurante. A garçonete loira e sua companheira são ágeis em encaminhar todos para as mesas.

— Aqui. — Lupita deposita o prato de comida a minha frente. Seu olhar para a entrada do restaurante é agitado enquanto arruma os talheres para mim. — Bom almoço.

— Obrigado.

— Mocinha. — Até mesmo minha mente já reconhece aquela voz. Lupita lança um breve olhar para entrada do restaurante e deixa escapar um suspiro cansado.

— Estou indo, senhora. — Ela se afasta, derrotada, em direção à mesa da cliente e seu filho desastrado.

— Lupi, não esqueça da cozinha. — A garçonete da água a recorda.


○○○


Entrego o cartão do banco para o senhor no caixa. O movimento dele é brusco quando o toma de mim.

— A Lupita ofereceu logo o prato mais caro para o cliente. — A voz feminina às minhas costas é carregada de malícia.

— Não foi pelo valor, Bia.

— Você fez errado. — Outra voz feminina opina. — Sabe que a comissão do prato do dia é maior.

— Mas a comissão do filé ainda rende mais. Faz a conta. — A primeira aponta.

— Putz, é mesmo! — A segunda admira.

— A senha — o senhor me pede, impaciente.

— Desculpa. — Minha voz soa tão áspera quanto a dele.

— Quer passar a tarde de frente pra mim? — Ele empurra cartão e recibo em minha direção.

— Nem que me pagasse pra isso.

Eu me afasto do balcão a passos duros. Não perco tempo em busca da carteira e empurro cartão e recibo no pequeno bolso da camisa; o papel fino não resiste a pressão, se contrai em um bolo e faz com que ele e o cartão acabem emperrados. Eu os empurro com ainda mais força e observo o volume disforme, mas seguro, em meu peito.

"Enfrentei tanta coisa na vida pra me deixar enganar por um sorriso doce a essa altura do campeonato. É muita burrice! Onde estava com a cabeça quando resolvi dar um voto de confiança aquela maldita mentirosa?"

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