Constatação
— Naruto! - Hanabi pulou em cima de mim, quase me desequilibrando totalmente.
— Oi, pentelha. - eu a abracei apertado, enquanto sorria. - Você cresceu!
— E você está um gato. - ela me deu um cutucão. - Não é, mana?
Hinata a encarou aturdida e, quando fez menção de responder, Toneri chegou cheio de pompa, enlaçando-a pela cintura. Me matando um pouco mais.
— Naruto, que bom ver você. - saudou-me, um tanto quanto sarcástico.
— O prazer é meu. - respondi austero.
— Fiquem à vontade. - Hinata quebrou o clima estranho que se formara, com a mesma voz melodiosa que eu tanto amava na infância.
Em seguida, virou-se e foi cumprimentar outros convidados. Enquanto isso, eu via mais e mais pessoas chegando, já meus pais mantinham uma conversa carregada de nostalgia com Harumi. Ela, por sinal, me abraçou como minha mãe o fez quando me viu novamente no Japão. Harumi sempre gostou de mim, inclusive, era por causa dela que Hinata e eu éramos tão próximos. Visto que Hiashi não fazia muita questão de que eu me aproximasse de sua filha além do necessário, para manter a cordialidade. Pois, nossos pais eram muito amigos na adolescência, portanto a amizade perdurou até o conflito e, posteriormente, à sua morte.
Enfim.
Eu me sentia um peixe fora d'água por estar ali, cercado de familiares e amigos de Hinata. Por este motivo, praticamente esqueci a presença de Hanabi ao meu lado.
— Vem cá, me conta tudo o que aconteceu no Brasil. - ela me puxou pela mão, até o jardim enorme e muito bem cuidado da casa.
— Bom, eu estudei, fiz novas amizades, acho que é isso, Hana. - desconversei, assim que estávamos a sós, não havia muito o que dizer sobre mim.
— E por que foi embora do nada? - questionou em um tom de represália. - Minha irmã sofreu muito com sua ausência!
Eu entendi bem?
— Sua irmã sofreu? - indaguei confuso.
— Sim, ela chorou dias sem parar, tentou falar com os seus pais, só que eles eram sempre evasivos. - explicou mexendo nos cabelos lisos e escuros. - Me lembro de noites em que minha irmã mal dormia e eu a ouvia chorar baixinho quase sempre.
— Mas isso não faz sentido. - retruquei inconformado. - Como, se ela estava com Toneri?
— Naquela época Hina não estava com aquele cara pálida, não oficialmente, ela estava apenas confusa! - exclamou de pronto. - Toneri a rondava e enchia a cabeça da minha irmã com minhocas; sobre meu pai querê-los juntos e blá blá blá. Apesar de eu ser pequena, me recordo muito bem de uma conversa que ouvi entre ela e minha mãe. - assenti, encorajando-a. - Hina dizia que meu pai ficaria feliz se eles namorassem, por isso ela estava tentada a dar uma chance aos dois, mesmo te amando.
— Me. Amando? - inquiri pausadamente.
Era informação demais para mim.
— Sim, Hinata te amava muito, tanto que minha mãe a aconselhou a ouvir o próprio coração e ela disse a Toneri que eles não poderiam ficar juntos... - Hanabi fez uma pausa antes de concluir a frase. - Porém, quando te procurou, disposta a reparar o erro, você já tinha ido para o Brasil.
— Do que está falando, Hana? - eu quase gritei. - Eu os vi juntos!
— Toneri rondava minha irmã feito um urubu, ele encheu a cabeça dela de coisas idiotas sobre o nosso pai, que ele ficaria feliz aonde quer que estivesse, quando os dois ficassem juntos. - despejou parecendo aflita. - Nem eu nem minha mãe suportamos esse Toneri e sua família, mas você foi para o Brasil do nada, jogando minha irmã diretinho para os braços dele!
— Eu joguei?
— Jogou sim, sem que minha irmã conseguisse notícias suas por seus pais e ainda menos por você. Hinata acabou se deixando levar pela lábia daquele cara pálida e agora vai se casar com ele por culpa tua! - ralhou apontando o dedo em riste pra mim.
Senti até uma vertigem.
— Pelo amor de Deus, Hanabi! - me exasperei. - Não brinca comigo, eu já sofri demais por causa da sua irmã... - eu sentia meu coração apertar e o ar me faltar.
— Pois é, vocês são dois idiotas. - resmungou novamente. - Eu sei que minha irmã te ama, principalmente agora que já sou crescida, só que vocês são umas antas ambulantes!
— Eu não tenho culpa. - falei quase sem forças. - Eu os vi juntos e resolvi sair de cena, não aguentaria ouvir da boca dela que não me queria mais.
— Você não pode desistir da minha irmã, ela vai ser infeliz a vida toda se casar com aquele Toneri. - sua voz soou um bocado triste ao terminar a frase.
Eu dei um beijo em sua testa e me virei, fazendo o caminho de volta para a casa.
— Aonde vai? - perguntou aflita.
— Conversar com a tua irmã! - objetei decidido.
— É assim que se fala, se quiser raptá-la eu dou cobertura! - ouvi em resposta.
Hanabi era mesmo uma peste. Todavia, eu nunca ousei ter tanta esperança, quanto agora.
Sorri comigo mesmo, sentindo meu peito se encher de alegria, se havia alguma chance de Hinata ainda me amar, eu lutaria. Lutaria até o fim por ela! Passei apressado por entre às pessoas, visualizando meus pais em uma nova roda, conversando, eles eram muito extrovertidos e se enturmavam rápido. Olhei ao redor, tentando achar o alvo do meu afeto, até que a vi. Hinata estava conversando animadamente com alguns amigos, que eu não conhecia, até que, para a minha tristeza, Toneri a beijou na boca, foi um beijo rápido e direto. No entanto, bastou para me desestabilizar ao máximo. Respirei fundo, fechando os olhos, enquanto estalava todos os dedos da mão direita, tentando manter o autocontrole. Nesse instante, os olhos de Hinata me viram e sua expressão, antes sorridente, mudou. Toneri estava tão absorto, a exibindo para os colegas, que não notou, quando eu fiz um sinal sutil com a cabeça, para que Hinata me seguisse.
Ainda vi quando ela desvencilhou-se do aperto de Toneri e veio em minha direção. Claro, para não gerar fofocas, eu fui me afastando na frente. Já Hinata, como conhecia meu jeito e minhas manias desde que eu era pirralho, entendeu o que eu estava fazendo imediatamente. E, quando estávamos afastados o suficiente dos olhos de todos, me virei, encontrando àqueles grandes olhos de lua em mim. Estremeci, ela estava deslumbrante.
— Quer falar comigo, Naruto? - questionou de um jeito educado, porém frio.
Senti meu coração quebrar um pouco mais, se é que isso era possível. Entretanto, me recompus e dei inicio ao assunto que queria tratar.
— Hinata, sei que não deveria revirar o passado em busca de respostas para o que aconteceu conosco. - puxei o ar, reunindo coragem para prosseguir. - Mas, conversei com Hanabi há pouco, eu queria entender... - não consegui concluir, minha voz falhou.
— Naruto, acho melhor não remexermos no passado. - foi curta e grossa. - Eu estou feliz por vê-lo novamente, depois de tantos anos, mas agora eu sou noiva. - sua voz soou convicta. - Eu achei que você tivesse me esquecido, por isso te convidei para o meu noivado. Em contrapartida, não queria que viesse, se fosse para sofrer.
— Eu jamais vou te esquecer, Hinata. - afirmei, sentindo que seria minha última chance de expressar o que sentia.
Suspirou.
— Não deveria dar ouvidos à Hanabi, ela odeia Toneri, não sei porque. - respondeu pesarosa.
— Você o ama? - me aproximei em um acesso de coragem. - Eu os vi juntos um pouco depois que seu pai faleceu, por isso eu fui embora, achei que estivessem namorando. - confessei, dando outro passo em direção à Hinata.
— Eu errei, Naruto. - ela me olhou nos olhos e, por um momento, era como se meu mundo tivesse parado. - Não sabia que você tinha nos visto juntos, eu deveria ter aberto meu coração naquela época, te contado que me sentia culpada pela morte dele. - respirou fundo. - Eu era infantil e ingênua, não sabia o que fazer e estava sofrendo. Contudo, quando quis corrigir as coisas, você tinha partido e nunca mais consegui notícias tuas.
— Eu pensei que vocês estavam namorando e que tinha ficado de escanteio. - confessei, me sentindo um otário por ter sido tão covarde.
— A culpa foi minha se pensou dessa forma, eu que me afastei. - ela tocou meu rosto sutilmente e eu fechei os olhos, apreciando aquele toque tão raro. - Entretanto, eu nunca te trai, eu se quer beijei Toneri antes de você viajar... Sei que não justifica minhas ações, mas, quero que saiba.
— Por que, hime? - questionei, sentindo meus olhos lácrimejarem. - Por que nos afastamos, se nos amávamos tanto!
— A vida é complicada, nem sempre o amor é suficiente. - Hinata contrapôs.
— Não aceito isso, ainda dá tempo de sermos felizes juntos. - insisti, sentindo meu coração rachar, por tê-la tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim.
— Naruto, eu sempre irei te amar, só que não desse jeito. - respondeu. - Estou feliz que esteja de volta, espero que um dia possamos voltar a ser amigos como antes.
— Do que está falando, Hinata? - retruquei. - Como posso ser seu amigo, se eu ainda te amo com todas as minhas forças?
— Como pode me amar depois de tanto tempo?
— Por que não amaria? Você foi a melhor coisa que me aconteceu, hime. Nós nos conhecemos desde que eu me entendo por gente, crescemos juntos, meu primeiro beijo foi com você! - quase gritei, frente ao desespero que sentia.
— Preciso ir. - anunciou e fez menção de afastar-se.
Porém, eu a impedi, segurando sutilmente em sua cintura.
— Só me responde uma coisa antes? - era minha última cartada.
— Sim. - concordou ainda muito próxima de mim.
Eu sentia que ela estava com o coração tão acelerado quanto o meu.
— Você não me ama mais?
— Já disse que te amo. - afirmou, apenas.
— Como amigo, é isso? - minha voz soou baixíssima, quase um chiado.
Hinata só fez que sim com a cabeça.
— Entendi. - eu me afastei. - Bom, nesse caso, desejo felicidades ao casal. Agora que já dei os parabéns, posso ir embora. - deixei um beijo rápido em sua bochecha. - Tchau, Hinata.
Dito isso, eu fui seguindo em direção à saída daquela casa enorme, que mais parecia um mausoléu para mim. Ou o próprio inferno na terra. Eu só queria ir para o mais longe possível, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Eu a perdi.
— Naruto, aonde vai? - meu pai perguntou, quando passei batido por ele.
— Não estou me sentindo bem, já vou indo. - eu lutava contra as lágrimas que queriam cair.
— Eu te levo. - ouvi em resposta.
— Prefiro ficar sozinho, pai. - nem esperei um contra argumento, só segui meu caminho.
Vendo diversos pares de olhos em mim, por sorte minha mãe não estava por perto. Uma a menos para me fazer questionamentos.
— Naruto, deu certo? - ouvi a voz animada de Hanabi.
— Espero que sua irmã seja feliz, pentelha. - apenas ignorei sua pergunta, dei um beijo em sua testa e a deixei para trás.
Eu deixaria tudo para trás, de uma vez por todas, inclusive o Japão.
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