Acordando
Hinata correu para perto de mim, ainda com lágrimas nos olhos e eu continuei me perguntando, o que diabos aconteceu comigo.
— Meu amor, que bom que acordou... - sussurrou com a voz embargada pelo choro.
Ela se debruçou sobre mim e eu a envolvi em meus braços, fechando os olhos no processo para apreciar o momento. Toda aquela angústia que senti, por tê-la perdido, não passou de um maldito sonho? Aliás, pesadelo? Por que tudo foi tão real a ponto de eu quase sufocar de medo, ao constatar que nunca mais a teria?
— Hime, o que aconteceu? - perguntei e senti minha garganta coçar, parecia que minhas cordas vocais estraram em colapso.
Porém, Hinata não pôde responder, pois, no instante seguinte, minha mãe entrou no quarto feito um furacão.
— Meu filho! - exclamou também se debulhando em lágrimas.
Na sequência me abraçou apertado, enquanto meu pai fingia estar sereno, mas eu o conhecia, ele estava quase chorando também.
— Alguém me explica o que está acontecendo, por Kami? - pedi correspondendo meio desajeitadamente ao abraço de urso da dona Kushina.
— Você explica, querida? - meu pai pediu à Hinata e seu timbre soou falho, como se estivesse tentando forçadamente manter o autocontrole.
Hinata apenas fez que sim com a cabeça e se ajeitou ao meu lado, pegando minha mão.
— Vamos deixá-los a sós por um momento. - minha mãe informou e depositou um beijo na minha testa.
— Quando você cortou o cabelo? - indaguei franzindo o cenho. - No meu sonho ele ainda estava longo...
— Eu cortei tem uma semana, amor. - respondeu e crispou os lábios.
— Como assim? Por que não me lembro? - me exasperei e tentei puxar na memória qualquer lembrança de Hinata indo cortar o cabelo.
Porém, nada me vinha à mente, somente o sonho, ela e Toneri, Hinata me largando, eu indo para o Brasil.
— Vou contar tudo do começo, promete ficar calmo? - sua voz doce trouxe-me de volta das minhas divagações. Balancei a cabeça em concordância e ela continuou - Você foi para o Brasil e ficou quase seis meses lá, trabalhando com o seu padrinho em uma parceria comercial que beneficiária muito a empresa da sua família. - Hinata puxou o ar e percebi que seus olhos estavam constantemente marejados, eles cintilavam em minha frente. Em resposta acariciei sua bochecha macia e Hinata sorriu minimamente para mim. - Nós estávamos noivos e planejávamos nos casar, mas o acordo era muito importante e você, como gerente comercial, precisava estar presente para assinar alguns papéis. - assenti e Hinata prosseguiu. - No entanto, meu primo Toneri armou pra gente. - senti meus músculos enrijecerem à menção daquele nome e Hinata recomeçou a chorar copiosamente.
Um choro doido e engasgado, que vinha rasgado do fundo da alma. Parecia que ela estava expurgando algo de muito ruim.
— Vida, não chora. - eu tentei me levantar para ampará-la só que não consegui.
Eu estava preso? Por que não sentia minhas pernas?
— Não faça esforço. - ela ordenou enfática e tentou conter o choro por si só.
— Hina, estou ficando preocupado, o que aconteceu? - insisti sentindo o coração descompassado dentro do peito.
— Perdoe-me. - Hinata pediu aflita. - Por favor, perdoe-me!
— Por que eu deveria te perdoar, amor? - questionei afagando seu rosto angustiado.
— A culpa foi minha, foi toda minha. - falou desconexamente, parecia conversar consigo mesma. - Se eu tivesse sido mais responsável, nada disso teria acontecido. Se quiser me largar, eu entenderei...
— Amor! - exclamei e segurei seus braços, forçando-a a olhar nos meus olhos. - Seja lá o que tiver acontecido, eu estou aqui, jamais vou te largar, eu te amo, Hinata!
Ao me declarar, porém, pareceu que uma chavinha fora ligada em seu interior e Hinata desandou a chorar ainda mais.
Eu estava ficando desesperado já.
Naquele instante, meu pai entrou no quarto e tomou Hinata nos braços, acalmando-a. Coisa que eu queria fazer, mas, por algum motivo, não conseguia. Os comandos que eu mandava para o meu cérebro pareciam não funcionar.
— Pai, ajude-me a levantar, deixe-me confortar a Hinata. - pedi, aliás, praticamente ordenei.
— Kushina, leve a Hinata para tomar um copo de água. - ouvi a voz austera do meu pai e estremeci.
Algo muito grave acontecera, para Hinata nem conseguir me contar.
Vislumbrei quando minha mãe entrou no quarto, também com os olhos vermelhos e levou Hinata embora. Sem que eu nada pudesse fazer.
— Pai, pelo amor de tudo o que é mais sagrado, explica pra mim o que diabos está acontecendo! - gritei desesperado.
— Você precisa ser forte, meu filho. - ouvi em resposta.
Nos próximos minutos, meu pai passou relatando tudo o que tinha acontecido e o porquê de eu estar no hospital:
— Toneri, primo distante de Hinata, armou um flagra mentiroso, onde os dois se beijavam. - senti meu rosto esquentar inegavelmente ao ouvi-lo. Contudo, meu pai segurou minha mão e eu respirei fundo, para entender de uma vez por todas aquela história. - Hinata, temendo que não acreditasse nela, não contou que o primo a tinha agarrado à força enquanto você estava no Brasil. Ela queria explicar pessoalmente e como você já estava retornando de viagem, concordamos que seria melhor assim. Todavia, Toneri, aproveitando a oportunidade, mandou as fotos para você, enquanto ainda estava no Brasil. Assim que soube, você retornou ao Japão possesso, pensando que Hinata tinha te traído e foi atrás de Toneri tomar satisfações, que, consumido pelo ciúme e pelas recusas constantes de Hinata. Atirou em você, o tiro pegou sua coluna. - senti minhas mãos tremerem ao chegar nessa parte. Inclusive, meu pai fez uma pausa dramática e apertou os olhos com os dedos. - Sinto muito meu filho...
— Eu não poderei mais andar, é isso? - questionei serenamente, por mais incrível que pudesse parecer. - Tudo isso por que não confiei na fidelidade da Hinata... - falei para mim mesmo.
Então, todo aquele sonho maluco era apenas um reflexo do que tinha me acontecido na vida real. Era praticamente meu subconsciente que não descansou, enquanto meu corpo ficou inerte por algum tempo. Era por isso que eu sentia uma sensação horrível, como se tivesse dormido um sono muito conturbado.
— A culpa não é sua, filho. Foi uma fatalidade, o único culpado disso tudo é Toneri, que já está pagando pelo que fez. - meu pai tentou me consolar, mas estava obvio que eu era quem precisava confortá-lo. - Tem outra coisa... - ele respirou fundo, buscando forças para continuar. - Você é pai.
— O que? - perguntei, arregalando os olhos.
— Hinata descobriu a gravidez um pouco depois de você partir, ela já estava de uns dois meses. - confirmou e eu senti meu peito se encher de alegria por um momento. - Entretanto, quando você retornou, pensou que o filho fosse do Toneri, porque ela quis fazer uma surpresa e te contar em um momento apropriado, temendo que você voltasse correndo para o Japão ao saber da notícia. - completou e eu quase gritei de ódio.
Ódio de mim mesmo, como eu fui duvidar do amor da Hinata por mim? Como assim eu era pai e se quer conhecia meu filho?
— Pai, pelo amor de Kami, traga Hinata e meu filho aqui. - finalmente me permiti desabar.
Começando a chorar desesperadamente, eu tinha acordado, Hinata não escolheu o Toneri a mim. Mesmo assim, eu, de alguma forma, consegui estragar tudo... A realidade não era tão melhor que o sonho.
— Calma, filho. - meu pai disse afagando meus cabelos. - Tudo vai se ajeitar, estaremos ao seu lado para o que precisar.
— Por favor, pai. - supliquei, minha voz mal saia. - Traga Hinata aqui, traga meu filho!
Ele fez que sim com a cabeça e saiu do quarto, deixando-me sozinho com os meus demônios. Eu era quem precisava implorar o perdão de Hinata, não o contrário. Se eu tivesse confiado na palavra dela, não teria ido atrás do Toneri e estaria tudo bem. Estaríamos todos juntos, provavelmente casados agora. Mas não, eu tinha que fazer merda! A minha especialidade era essa, afinal. Eu era um homem feito, mas continuava com a mentalidade de menino, de quando prôpus que fugissímos juntos.
Naquele meio tempo eu chorei, chorei tudo o que podia chorar. Mas, não por estar aparentemente privado de andar pelo resto da minha vida. Não, eu chorava de angústia, por tudo o que certamente Hinata precisou passar, o quanto sofreu?
Fiz um esforço hercúleo para me lembrar do que tinha acontecido. E, como em um passe de mágica, às lembranças foram jorrando em minha mente.
Eu recebendo as fotos do Toneri e da Hinata se beijando em frente a um motel qualquer. Eu saindo do Brasil feito um louco e tirando satisfações com ela assim que cheguei ao Japão, acusando-a de ter me traído. Pior, duvidando até que o filho que Hinata carregava era meu. Depois, eu indo desvairadamente atrás do Toneri, ele sorrindo diabólicamente antes de atirar em mim pelas costas.
Por fim, eu mergulhando na completa escuridão...
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