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Capítulo XVIII

O templo ficava localizado próximo ao mar, o vento cheirando a salíto soprava a face de Aiala desprendendo algumas pequenas mechas de seu cabelo da trança, ela havia deixado seu cavalo solto e se dirigia para a entrada do templo. A garota admirava o mar enquanto caminhava, ela não odiava aquele lugar misterioso, profundo e as vezes perigoso, que era o oceano, assim como também não odiava o deus que o governava. Aiala não tinha motivos para guardar ressentimento para com o deus, ela tinha ciência de que ele não havia causado seu sofrimento, ele não tinha criado àquela profecia e não ganhava nada se prendendo a uma humana. Ela não sentia nada quanto a ele, nem gosto nem desgosto.

Antes de entrar no templo a garota fitou o oceano uma vez mais, aspirou, expirou o ar aproveitando a deliciosa brisa e entrou. Dentro do Templo era silencioso, apesar das poucas pessoas que haviam chegado antes dela e agora deixavam o locao, era iluminado apenas por tochas e era um pouco frio, algumas imagens remetentes ao oceano e enaltecendo o deus do mar tinham sido gravadas nas paredes e no decorrer do longo corredor haviam várias esculturas magníficas.

O altar para as oferendas ficava ao fundo do templo, o local era iluminado por velas e agora se encontrava vazio visto que a última pessoa presente além da garota tinha acabado de sair. Aiala retirou as coisas da sexta e depositou sobre uma mesa próxima ao fogo sagrado, caminhou até perto da chama e ficou alí parada olhando para ela.

- Feito, com isso não pode dizer que sou uma filha ingrata, velhote. - Falou para as chamas enquanto pensava em Pachis.

Vento frio soprou para o interior do templo agitando as chamas.

- Sabe, eu tinha esperanças de que poderia sentir algo além de agonia quando terminasse minha vingança e minha raiva se esvaisse, mas tudo que eu sinto é o vazio e o sentimento de algo inacabado...como se eu estivesse esquecendo de alguma coisa. - Falou. - Se você estivesse aqui... Eu não estava pronta pra te deixar ir.

Aiala ficou alí por cerca de dois minutos e se retirou, ainda no corredor, antes que ela alcançasse a saída ela notou de longe um homem entrando. Ele era alto e muito bonito, uma beleza que ela nunca tinha visto em lugar algum, algo inumano, no momento em que esse pensamento surgiu em sua mente a garota sentiu o ambiente esfriar, seus pelos se eriçaram e algo semelhante a uma corrente elétrica correu por todo o seu corpo, seu coração errou uma batida e em seguida acelerou como se ela tivesse corrido nos jogos olímpicos em Atenas. Enquanto tudo isso acontecia uma voz veio a sua cabeça: " Não por lábios ou contato entre corpos  acontecer irá, mas sim no olhar divino que a consumação estará.". A garota rapidamente desviou o olhar quase que por instinto e fitou o chão, fez o possível para não parecer afetada pelo homem alí presente e continuou a caminhar da melhor forma possível. Sua pele ardia como se estivesse em chamas e ela se forçava a respirar da forma mais normal possível, mas não foi capaz de evitar que predesse a respiração no instante em que passou pelo homem.

O homem passou direto por ela e sem lhe dizer uma única palavra avançou para o fundo do templo, ele não olhava para ela, seu olhar parecia distante e alheio a tudo à sua volta. Uma vez fora do templo a garota finalmente conseguia respirar melhor.

- É ele! - Sussurrou para si, recuperando o fôlego.

Ela não tinha certeza, mas não queria ficar alí tempo o suficiente para descobrir. Não tinha o menor interesse em se tornar prometida de um deus, nenhum humano inteligente iria desejar ter qualquer relação com divindades.

- Preciso dar o fora daqui. - Falou para si mais uma vez. - Onde deixei o meu cavalo? - Ela olhava em volta a procura dele, assobiou uma vez e o chamou.- Koráki?

Mas ele não apareceu, na esperança de que o belo animal de pelagem negra sugisse em seu auxílio a garota assobiou e o chamou uma vez mais.

- Koráki?

No momento em que o chamou Aiala fez menção de sair do lugar, mas foi impedida por uma mão que agarrava seu pulso.

- Você é muito barulhenta. - Disse uma belíssima voz grave à suas costas. - Eu estava tentando dormir.

- Me desculpe. - Disse Aiala com a voz baixa, não se atreveu a se virar pois sabia muito bem quem estava lá. - Não tive a intensão de perturba-lo, buscarei minha montaria e partirei imediatamente.

Fez-se silêncio por alguns segundos, então ouviu-se um pesado suspiro.

- É que agora é meio tarde. - falou. -  Você tem a minha atenção.

Aiala emudece.

- Preciso me apresentar? - perguntou o deus.

- Não. - respondeu Aiala.

- Eu estava disposto a ignorar nossos ocasionais encontros, fingir que não estava te vendo era bastante conveniente para mim e acredito que pra você também, mas você tinha que vir ao meu templo? - Perguntou suavemente. Não houve hostilidade na voz do deus em momento algum.

- Eu não tinha intensão de encontra-lo. Não poderia figir que não me viu uma vez mais? - Perguntou a garota.

- Infelizmente não posso fazer. - Disse o deus suspirando cansado.- Fiz um acordo com os outros para atrasar o inevitável: eu não iria até você, mas não a deixaria ir se viesse até mim.

- Alguém poderia ter me avisado. - sussurrou para si, mas o deus escutou. - Deixe-me ir e nunca mais me verá.

- Não sei que tipo de deus encontrou por aí, mas eu posso ser várias coisas e mentiroso não é uma delas. - Respondeu calmamente porém levemente ofendido.

Vendo que ela não respondia descidiu ele mesmo romper o silêncio.

- E então? Como vai ser? Vai vir comigo ou vai resistir inutilmente? - Perguntou com tranquilidade.

A voz do deus era grave, bela e sedosa, aquilo teve mais efeito no corpo de Aiala do que ela queria admitir. Aiala abriu a mão que o deus segurava e deixou seu corpo amolecer fazendo menção de ceder, mas no momento em que o deus afroxou o aperto ela se movimentou em velocidade e se livrou das mãos dele. Aiala sabia que não tinha chances contra um deus, mas tomada pelo seu espírito rebelde, ela não poderia simplesmente aceitar o destino que lhe foi imposto.

A garota correu para longe e chamou outra vez seu cavalo, ele surgiu galopando a toda velocidade na direção de sua dona, Aiala correu ao encontro dele. O cavalo estava perto dela e sua esperança aumentava a cada passo quando derrepente Koráki parou, ele parecia inquieto, parecia tentar ir para sua dona, mas algo o empedia, vendo aquela cena a garota vacilou por milésimos de segundo e então sentiu um braço laçar sua cintura fazendo-a parar de correr. Ela se debatia inutilmente e não era capaz de se soltar.

- Quem você acha que criou os cavalos? - Perguntou Poseidon.

Ele começou a arrasta-la para a praia rumo as águas, o cavalo tentava com zelo ir até sua dona sem sucesso, Aiala se debatia tentando se soltar.

- Por favor! Por favor, deixe-me ir. - Implorava, mas o deus a arrastava com cuidado e sem sequer demonstrar nenhuma reação aos movimentos da garota.

Poseidon entrou no mar e a medida que entrava cada vez mais fundo,  Aiala se desesperava. "Esse maluco vai me matar afogada. Vou morrer de uma forma tão idiota e o velhote vai rir de mim." pensava a garota. O deus avançou mar a dentro sem exitar e quando a água cobriu totalmente seus corpos, Aiala prendeu a respiração, ele não precisava nadar... A corrente movia seu corpo de acordo com sua vontade. Depois de quase cinco minutos Aiala não conseguia mais prender a respiração e notando que algo estava errado o deus parou.

- O que está fazendo? - Perguntou olhando-a como se ela fosse um espécime raro. - Porque prende a respiração? Humanos não morrem se fizerem algo assim?.

Aiala não respondeu.

- Pare de prender a respiração ou vai acabar morrendo. - Exortou Poseidon.

Aiala não ouvia mais nada, aos poucos tudo ficou escuro e ela perdeu a consciência.

Aiala abriu os olhos lentamente mas não parecia estar na água se afogando, ela estava em um enorme quarto, deitada em uma cama de corcel incrivelmente cheirosa e confortável. Ela se espreguiçou e olhou melhor a sua volta, foi quando algo lhe ocorreu.

- Onde, em nome do Olimpo, eu estou? - Perguntou para si mesma levantando rapidamente e se arrependendo logo em seguida.

Sua cabeça latejou e ela ficou tonta, isso fez com que ela caísse outra vez deitada na cama. Ela ficou alí por alguns poucos minutos e tentou se erguer outra vez, o quarto possuía paredes de tons claros e olhando através da janela feita de vidro ou cristal a sua direita via-se que ainda era dia. Um belíssimo carpete felpudo se estendia no chão próximo a cama, os móveis  selecionados com requinte enfeitavam o cômodo de modo a deixá-lo charmoso e aconchegantes, a sua esquerda tinha um enorme guarda-roupas feito com uma madeira que a garota nunca tinha visto antes. Ela estava sentada na cama quando ouviu um clik na porta e a viu se abrir lentamente.

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